Terceira Margem – Parte DCCXLI - Jornada Patriótica – 2ª Perna - Hiram Reis e Silva - Gente de Opinião

Sexta-feira, 17 de maio de 2024 | Porto Velho (RO)


Terceira Margem – Parte DCCXLI - Jornada Patriótica – 2ª Perna


Canal S. Gonçalo - Farol - Gente de Opinião
Canal S. Gonçalo - Farol

Bagé, 17.05.2024

 

 

Relato Pretérito ‒ Lagoa Mirim

 

Domingos de A. e Silva (1865)

 

Mirim (Lagoa –). Grande Lagoa situada na costa do Oceano Atlântico, além do Albardão, e no extenso areal do Município do Rio Grande, Estado Oriental ([1]) e Municípios de Jaguarão, Piratini e Pelotas; recebe as águas de alguns Rios pertencentes ao Estado Oriental e dos Rios Jaguarão, Bretanhas, Chasqueiro, etc, e deságua na Lagoa dos Patos por um canal natural denominado Rio de S. Gonçalo: tem 41 léguas de comprimento, a contar da Barra do Arroio de S. Miguel até a Boca do Canal de S. Gonçalo; 8 de largura máxima, contadas da Barra do Rio Canoa até a Foz do Jaguarão; e 9 braças de profundidade média no canal. É navegada por grande número de embarcações de calado regular, e o podia ser por navios de grande calado se o sangradouro de S. Gonçalo lhes concedesse passagem.

 

O território Ocidental compreendido entre o Arroio de S. Miguel e o Rio Jaguarão, que pertencia à Espanha, foi tomado pelos portugueses; porém, quando com a doença do Tenente-general Sebastião Xavier da Veiga Cabral, então governador da Província, e sua morte a 05.11.1801, a confusão e a insubordinação lavravam nas nossas tropas, os espanhóis consegui­ram retomar esse território que presentemente ainda faz parte do Estado Oriental. (SILVA)

 

Ponta Alegre ‒ Foz do Rio Jaguarão (17.03.2016)

 

O Juiz Federal Itagiba Catta Preta Neto, da Seção Judiciária Federal do Distrito Federal, atendeu a uma ação popular e suspendeu, em caráter liminar, ou seja, temporário, a posse do ex-Presidente Luiz Inácio Lula no cargo de novo Ministro-chefe da Casa Civil ou em “qualquer outro que lhe outorgue prerrogativa de foro”. (Alex Rodrigues ‒ Agência Brasil, Brasília, DF, 17.03.2016)

 

Partimos somente às 06h40, o tempo nublado enganou-nos e atrasamos a alvorada. Novamente as condições meteorológicas favoreciam a progressão e aportamos no mais belo Monumento dos Mares de Dentro – o Farol da Ponta Alegre, às 07h40. Subi no majestoso Farol e comuniquei-me com a Rosângela que me informou que o Lullarápio tinha sido nomeado ontem, pela PresidAnta, Ministro da Casa Civil com o objetivo explícito de deslocar a competência do seu julgamento para o Supremo Tribunal Federal. Na janela mais alta do Farol encontrei aninhada uma robusta tamanduá mirim que não me deu qualquer atenção, quando passei por ela, continuando encolhida como se estivesse procu­rando proteger sua pequena cria ou em trabalho de parto. Não quis dirimir minha dúvida importunando o pequeno animalzinho e deixei-o em paz. O Tamanduá mirim, Tamanduá de colete ou Melete (Tamandua tetradactyla: tetradactyla, em grego, significa “quatro dedos” que é o número de dedos que esta espécie possui nas patas dianteiras). O Mirim, curiosamente, apresenta cinco dedos nas patas traseiras sendo que o quinto dedo e sua garra passam quase despercebidos, pois, são pequeninos, atrofiados mesmo. A gestação varia de 5 a 6 meses gerando somente um filhote que é protegido pela mãe até a próxima prenhez.

 

Fizemos uma segunda parada, por volta das 13h00, ao Sul da Foz do Arroio Bretanha onde contatei, novamente, a Rosângela que me informou que o Lullarápio já não era mais Ministro. Pobre país, seria apenas mais um hilário lance proporcionado pelos nossos desastrados gestores se isso não estivesse dando mostras ao mundo das mazelas de uma caótica política e desmesurados desmandos próprios de uma tragicomédia tupiniquim de 5ª categoria.

 

Continuamos nossa navegação rumo SO enfrentando ventos de proa. Abandonei a ideia inicial de acampar na Foz Arroio Juncal e resolvi acampar na Foz do Rio Jaguarão. Fiz mais uma parada ao Sul da Ponta Negra a um quilometro da costa, a água não me chegava à cintura e não valia a pena desviar-me da rota alongando o trajeto. Reboquei o caiaque por uns 400 m procurando exercitar as pernas, montei no meu incrível “Argo II” ([2]) e prossegui aproado para a Ponta do Juncal de onde seguiria direto para a Foz do Rio Jaguarão.

 

Aportamos 17h15 na Foz do Jaguarão onde acampamos à sua margem direita.

Tinha percorrido 62,2 km, desde a Ponta Alegre à Boca do Jaguarão.

 

²  1° Perna Total =          349,1 km.

 

²  2° Perna Parcial =        161,1 km.

 

²  Total Parcial =             510,2 km.

 

Rio e cidade de Jaguarão (18 a 20.03.2016)

 

Expressões Chulas de Grampos Telefônicos de Lula Reproduzem Preconceitos

 

Entre queixas e negociações, as ligações do ex-Presidente e atual Ministro Luiz Inácio Lula da Silva interceptadas pela Polícia Federal são recheadas de um linguajar que passa longe do politicamente correto. O ex-Presidente perguntou onde estão “as mulher de grelo duro” do PT e brincou que a diretora do Instituto Lula, Clara Ant, acordou achando que era “presente de Deus” quando cinco homens entraram em sua casa ‒ até descobrir que eram policiais federais. (Paula Ferreira e Renato Grandelle ‒ O Globo, Rio de Janeiro, RJ, 18.03.2016)

 

Em Brasília, outra multidão se aglutinou em frente ao Palácio do Planalto com cartazes contrários a Dilma, enquanto parlamentares de oposição cobraram aos gritos a renúncia no plenário da Câmara. O protesto começou por volta das 17 horas já para protestar contra a nomeação de Lula para Ministro da Casa Civil. Cresceu depois da liberação dos áudios pela Justiça. Milhares de pessoas se concentraram, erguendo bandeiras do Brasil e faixas onde se lia “Fora Dilma”, e réplicas da Constituição.
(Gustavo Moniz e Afonso Benites ‒ El País, São Paulo, SP e Brasília, DF, 19.03.2016)

 

O advogado de Lula, Roberto Carlos Martins, disse em uma conversa telefônica do dia 8 de março que, na sua avaliação, o ex-Presidente será condenado pelo Juiz Sérgio Moro. A declaração apareceu em um dos grampos feitos pela Polícia Federal. Assim, o advogado sugere a Lula que aceite o cargo no governo de Dilma Roussef. (Redação ‒ O Tempo, Contagem, MG, 20.03.2016)

 

Partimos, 18.03.2016, desta feita, embarcados no veleiro Corais, às 06h35, da Foz do Rio Jaguarão e aportamos, às 10h40, no Iate Clube Jaguarão, onde pernoitaríamos graças ao apoio do amigo Roberto Borges Couto. Nosso objetivo era abastecer e descansar, por um dia, pelo menos, dependendo das condições meteo­rológicas. Instalamo-nos confortavelmente no salão do Iate Clube Jaguarão onde a esposa do amigo Washington Moreira presenteou-nos com saborosos bolinhos de arroz.

 

O Comandante do veleiro “Sumiço”, Dr. Ermo Machado, deu uma carona ao Norberto para que o mesmo abastecesse os camburões de combustível e mais tarde trouxe-nos, de presente, uma saborosa linguiça para o almoço. Aproveitamos o tempo bom para secar e limpar nossos equipamentos.

 

À tarde, fomos fazer compras para complemen­tar nossos gêneros alimentícios e produtos farmacêu­ticos. De volta ao Iate Clube Jaguarão, encontramos nosso caro e jovial amigo o veterano canoísta Antônio Buzzo, parceiro de nossa primeira Circunavegação pela Lagoa Mirim, com quem ficamos conversando longas horas.

 

Sábado, 19.03.2016, tempo ruim, muita chuva, vento forte e frio forçaram-nos a permanecer acantona­dos no Iate Clube Jaguarão. De manhã ficamos conversando longamente com o Sr. Moreira que me presenteou com dois livros do escritor Roberto Burgos Benedetti, o “Lagunero” e o “De La Laguna a La Antártida” que degustamos avidamente durante toda a jornada. Benedetti reproduz no “Lagunero” um pensa­mento que norteia a todos amantes da natureza que empreendem jornadas similares à nossa:

 

Y es realmente difícil hacer entender al no iniciado, o al que realmente no Le gusta el contacto directo con la naturaleza agreste, lo que pasa por el espíritu del devoto cuando se aleja del mundo “civilizado”. Pasa, tal vez, por algo intrínseco, profundo, una herencia ancestral, pero va más allá. Va mas allá también de la simple contemplación de cosas y paisajes que nos gustan, porque si los viéramos en una película no sería lo mismo. Hay una especie de comunión de los sentidos con el entorno, y estos se agudizan. Observamos detalles que en trajín cotidiano pasarían inadvertidos, escuchamos sonidos a los que normalmente no daríamos importancia.

 

Yo describiría la sensación como entrar en frecuencia con la naturaleza. Hasta podemos llegar a sentir placer por el simple hecho de sentir la tierra húmeda bajo los pies, el Sol en la piel o lo viento en el rostro. Le damos un giro radical a nuestra actividad física, pero sobre todo la intelectual, ya que dejamos de lado, momentáneamente, todo el cúmulo de preocupaciones cotidianas para ocuparnos de cosas más básicas y vitales, como protegernos del Sol, la lluvia, o el viento; conseguir agua limpia y leña seca para el fuego, cocinar, armar el “dormitorio”, entre otros.

 

Nos concentramos en la navegación, en elegir el mejor camino, en atender las cañas de pescar, en perseguir una presa o en obtener las mejores condiciones de luz para una fotografía, dándole otro uso al cerebro, que lo libera de la presión habitual. Pasa también por una suerte de reafirmación de valores. Nos enfrenta a nuestras propias capacidades, despertamos habilidades olvidadas y hasta extendemos nuestros límites personales. Creamos o reafirmamos lazos con los compañeros ocasionales de aventura. (BENEDETTI)

 

Almoçamos com o Buzzo e depois fizemos uma rápida incursão à cidade de “Rio Branco” no Uruguai. Em 30.10.1909, o Barão do Rio Branco, protagonizou o “Tratado de Fronteiras da Lagoa Mirim” que cedia parte do território nacional e Lagoa Mirim ao Uruguai. Como sinal de reconhecimento, em 1915, o governo uruguaio alterou o nome da cidade para Rio Branco. Atravessamos a bela e maltratada Ponte Mauá. A reportagem de Zero Hora, de 1996, publicou:

 

A Dívida Virou Ponte

 

A histórica Ponte Mauá, que liga Jaguarão à cidade uruguaia de Rio Branco, não custou um centavo aos cofres do Império. A obra ficou como pagamento por uma dívida assumida no século passado. Naquele tempo, o General argentino Juan Manoel de Rosas ameaçava a liberdade do recém-emancipado Uruguai. Para auxiliar o país amigo, vários empréstimos foram concedidos por Dom Pedro II. O Uruguai salvou-se. Em compensação, devia 5 milhões de pesos, em 1919. Para acertar as contas, as duas nações fecharam o “Tratado da Dívida”. Depois de três anos de obras, em 30 de dezembro de 1930, a dívida virou ponte. (FARRAPOS)

 

Em 19.02.1927, foi assinado, na cidade de Montevidéu, o Acordo Relativo à Ponte Internacional – “Tratado da Dívida” – reza o Anexo A, N° 18A:

 

[...] Nota da Legação do Brasil, em Montevidéu, ao Governo uruguaio [...]

 

Em aditamento às conversações que tenho tido com Vossa Excelência sobre a construção da ponte no Jaguarão e em resposta à Nota 513-21, com que ontem fui honrado, é-me grato comunicar que o Governo do Brasil concorda no seguinte:

 

1. Um engenheiro, designado pelo Ministério da Viação e Obras Públicas do Brasil, acompanhará os trabalhos de construção da ponte, desde seu início até sua inauguração.

 

2. Não só o representante do Ministério das Obras Públicas do Uruguai, que dirigir a construção, como o empreiteiro, facilitarão a esse engenheiro tudo que estiver a seu alcance para o desempenho de sua missão. (MRE)

 

Bibliografia

 

BENEDETTI. Lagunero – Uruguai – Montevideo – 2013.

 

SILVA, Domingos de Araujo e. Dicionário Histórico e Geográfico da Província de São Pedro ou Rio Grande do Sul ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ Casa dos Editores Eduardo & Henrique Laemmert, 1865.


 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);

Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);

Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);

Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)

E-mail: [email protected].



[1]   Estado Oriental: Uruguai.

[2]   Argo: a embarcação original foi assim batizada em homenagem ao engenheiro naval Argos que a projetou e construiu orientado pela deusa Palas Atenas. A nau comandada pelo grego Jasão partiu, com outros heroicos Argonautas, em busca fantásticas aventuras. (Hiram Reis)

Galeria de Imagens

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