O lúpus é uma grave doença autoimune, que pode afetar múltiplos órgãos e tecidos. A comunidade médica ainda luta para obter informações sobre essa doença, já que suas causas, assim como as de todas as enfermidades autoimunes, ainda não são totalmente compreendidas.
Em vista disso, um grupo de pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, mostrou que determinadas combinações de proteínas antivirais podem ser responsáveis por certos sintomas do lúpus – chegando até a afetar os resultados do tratamento. As conclusões foram publicadas no periódico Cell Reports Medicine nesta segunda-feira (13).
A pesquisa constatou que certas combinações e níveis elevados de proteínas do sistema imunológico, chamadas de interferons, estão ligados a sintomas específicos do lúpus, como erupções cutâneas, inflamação renal e dores articulares.
Os interferons são elementos essenciais no sistema imune, participando do controle da replicação celular. Acontece que os pacientes com lúpus sofrem com uma hiperatividade dessas células – causando os sintomas já conhecidos.
A ideia para o estudo partiu da observação da ineficiência de medicamentos no tratamento de alguns pacientes. “Durante anos, acumulamos conhecimento de que os interferons desempenham um papel no lúpus”, afirmou Felipe Andrade, professor na Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, em comunicado. “Vimos casos em que o paciente surpreendentemente não melhorou – nos perguntamos se certos grupos de interferon estavam envolvidos”.
Determinados tratamentos para a doença buscam inibir um tipo de interferon, nomeado como interferon tipo 1. Nos casos onde os pacientes não apresentavam melhora mesmo com altos índices de interferon tipo 1 em seus organismos, foi posto que outras classificações da proteína, como o tipo 2 e o tipo 3, poderiam estar ligados a essas respostas fracas ao tratamento.
Em busca de entender esse processo, os pesquisadores coletaram 341 amostras de 191 participantes diagnosticados com lúpus. Então, por meio de testes, eles descobriram que a maioria se encaixava em quatro categorias: aqueles com aumento apenas do interferon tipo 1; indivíduos com aumento de uma combinação dos interferons 1, 2 e 3; pessoas com acréscimos de uma combinação dos interferons 2 e 3; ou aqueles com níveis normais de interferon.
Foi possível associar essas categorias a certos sintomas da doença. Por exemplo, em pacientes com altos níveis de tipo 1, o lúpus estava principalmente associado a sintomas de pele, como erupções cutâneas ou lesões. Já indivíduos que apresentaram níveis elevados de tipo 2 e 3 também mostraram ter formas mais graves do distúrbio, com danos significativos em órgãos internos como os rins.
Porém, nem todo sintoma pôde ser associado a interferons elevados. Esse resultado indica que essa doença é muito mais complexa do que havia se pensado, com outros mecanismos biológicos envolvidos.
Além disso, o estudo revelou que os testes dos genes associados a esses grupos de interferon – ou seja, suas “assinaturas” – nem sempre mostravam níveis elevados de interferon. Agora, os pesquisadores buscam aplicar esses conhecimentos para obter uma melhor compreensão da doença em cada paciente, objetivando assim traçar o melhor plano de tratamento possível.