A ficção científica baseada em best-seller com mais de 5 milhões de cópias vendidas, na Netflix Divulgação / Columbia Pictures

A ficção científica baseada em best-seller com mais de 5 milhões de cópias vendidas, na Netflix

A esperança é o que nos faz humanos, diz Cassie Sullivan, a protagonista de “A 5ª Onda”, na derradeira sequência do filme de J. Blakeson. Paródia envergonhada sobre o fim do mundo, Blakeson despeja num mesmo caldeirão pedaços de diversas histórias sobre a “extinção da humanidade como a conhecemos” obtendo daí uma massa amorfa que, estranhamente açucarada, desanda no segundo ato.

O roteiro de Akiva Goldsman, Susannah Grant e Jeff Pinkner, adaptação do livro homônimo de Rick Yancey, publicado em 2013, galvaniza uma certa tendência de escritores voltados à literatura para jovens adultos quanto a capturar o interesse desse público pelos contos apocalípticos, subgênero bem-representado por “Amor e Monstros” (2020), de Michael Matthews, onde quando menos se espera, quem assiste tem diante de si um grandioso espetáculo de sequências perturbadoramente ágeis, temperadas com a emoção do típico herói perdido numa terra em que não mais se reconhece, de outras violências, com as quais ainda não consegue lidar. Em que pese o elenco afinado, “A 5ª Onda”, na Netflix, deriva para um romance juvenil que não cabe num enredo que se pretendia tão cheio de som e fúria, com um “Romeu e Julieta” pouco convincente.

Depois de uma corrida em desespero por um bosque fechado, Cassiechega a um galpão abandonado onde um homem agoniza. Ele aponta uma pistola para ele, ela o tem sob a mira de um fuzil, e um movimento inesperado é o bastante para que uma nova tragédia a assombre. O diretor se socorre de um flashback para retratar o lar feliz em que ela morava com os pais, Oliver e Lisa, e Sam, o irmão caçula, até que uma peste desconhecida cai do azul e dizima a população dos Estados Unidos, a começar por Ohio, onde eles viviam.

Lisa, a médica intensivista de Maggie Siff, é a primeira entre eles a morrer, e alguns dias mais tarde, Oliver, de Ron Livingston, é dado como morto após uma confusão envolvendo os adultos mantidos sob a tutela do exército e os soldados que patrulhavam o acampamento. Ao passo que outros episódios se abatem sobre o clã — ou, melhor, sobre o que restou do clã, Sam e Cassie , Blakeson aproveita para explicar a que se refere, afinal, o título.

À primeira onda, um desequilíbrio eletromagnético que faz com que aviões despenquem do céu, segue-se outra, durante a qual tsunamis varrem as regiões litorâneas de todo o planeta. Com a terceira, a que matou Lisa, uma praga se dissemina e provoca mortes em massa; e a quarta, de um realismo mais sangrento, é liderada por atiradores perseguindo os sobreviventes. A quinta, por óbvio, é um segredo que perdura até a conclusão.

A boa química entre Chloë Grace Moretz e Zackary Arthur proporciona momentos de genuína emoção, bem como a entrada em cena de Liev Schreiber na pele do ambíguo coronel Vosch, o oficial imbuído de tomar conta das crianças. Não obstante, o bom encaminhamento de Cassie como uma heroína corajosa e romântica fica severamente comprometido com a dança das cadeiras protagonizada por Ben Parish e Alex Roe, os aspirantes a mocinhos encarnados por Nick Robinson e Evan Walker. Essa mistura de “O Nevoeiro” (1980) e “A Guerra dos Mundos” (1898), os volumes de Stephen King e H.G. Wells (1866-1946) de que nasceram os filmes de Frank Darabont e Steven Spielberg, respectivamente, acaba sem prévio aviso, sem solução e sem rima.


Filme: A 5ª Onda
Direção: J. Blakeson
Ano: 2016
Gêneros: Ficção científica/Ação
Nota: 7/10