ENTREVISTA A BOLA Blomqvist recorda o Triplete do Manchester United e «o maior jogo da carreira» | Abola.pt
Blomqvist recorda o Triplete do Manchester United e «o maior jogo da carreira»
Jesper Blomqvist no Manchester United-Bayern da final da Liga dos Campeões de 1998/99 (Imago)

ENTREVISTA A BOLA Blomqvist recorda o Triplete do Manchester United e «o maior jogo da carreira»

INTERNACIONAL15.05.202410:00

Jogador sueco relembrou a sua época de estreia em Inglaterra, que terminou com a conquista dos três troféus mais importantes do país, e a final da Liga dos Campeões, onde foi titular

Em sessão do lançamento do documentário sobre o triplete do Manchester United na temporada de 1998/99, que vai ser lançado no dia 17 de maio (disponível na Amazon Prime), Jesper Blomqvist concedeu uma entrevista, com a presença da A BOLA, onde falou sobre essa icónica época, a sua de estreia nos red devils, entre outros temas.

Acabado de chegar ao clube, o sueco, que não era um titular indiscutível no onze de Sir Alex Ferguson, teve os seus momentos ao longo da época, incluindo a presença na equipa titular da final da Liga dos Campeões, frente ao Bayern, o jogo que daria o primeiro Triplete a um clube inglês.

A grande oportunidade de golo de Blomqvist, que atirou por cima da baliza de Kahn (Imago)

Os bávaros ganhavam desde o minuto seis, mas os ingleses acabaram por sair vencedores desse encontro, com uma reviravolta nos descontos, sendo ambos os golos foram marcados na sequência de um canto e, curiosamente, pelos dois jogadores que entraram no decorrer da segunda parte.

- Como lidaste com a pressão de saber que ias começar a final da Liga dos Campeões, provavelmente o jogo mais importante da história do clube, após teres falhado os últimos jogos da Premier League e a final da FA Cup?

- Sim, não foi fácil, foi o maior jogo da minha carreira, definitivamente. Ele foi um pouco encurtado, por me ter lesionado, mas era o jogo mais importante da minha carreira e eu estava muito, muito nervoso antes do início do jogo. Normalmente não tenho dificuldades em dormir antes dos jogos, mas este era muito, muito especial e tentas dizer a ti próprio que é apenas um jogo normal, mas não era. Tudo o que acontecia à tua volta nesses três, quatro dias antes do dia do jogo continuava a lembrar-te que era enorme, portanto estava com dificuldades.

- Sobre os minutos finais da Liga dos Campeões, o que pensas sobre a substituição de Matthaus, ao minuto 81, que mudou a aura da equipa no campo? E onde estavas quando foi marcado o 2-1?

- Acho que essas coisas são muito importantes nesses jogos, se mudares o jogador errado, mandas o sinal errado para a equipa. Eu não sei se ele estava lesionado ou se tinha outro problema, mas podes mandar o sinal errado para os teus jogadores se tiras o teu melhor, mais importante e experiente jogador do relvado. Ele teria sido capaz, definitivamente, de lhes dar mais experiência nesses minutos finais e decisivos. E relativamente à minha posição no último golo, estava em pé como todos e depois, quando marcámos, corremos para os abraçar, mas não estávamos sentados, não (risos).

Lotar Matthaus e os seus colegas de equipa, desiludidos com a reviravolta nos minutos finais (Imago)

- A fazer este documentário de 99 do Manchester United, recordaste esses tempos dessa icónica temporada. Para além dos troféus que ganharam, quais são as tuas lembranças dessa época?

- São muitas memórias, mas quando olhas para trás é que percebes… claro que tiveste vários jogos com um pouco de sorte, mas não pode ser apenas sorte. Havia algo que desenvolvemos durante toda a temporada, uma crença em nós próprios e na equipa, a união… claro que se olhares para a final da Liga dos Campeões, o Bayern foi a melhor equipa nesse dia, não há dúvidas, mas no final conseguimos recuperar esse resultado. Tivemos alguns desse tipo de jogos, tal como a meia-final… portanto encontrámos alguma união e crença, aquele sentimento que nos deu essa força extra. Não é apenas sobre conhecimento futebolístico, sobre conseguir jogar melhor, mas também precisas desse sentimento entre os colegas.

- Podemos voltar ao momento em que o Sheringham marcou o golo do empate, em que podes ver que os jogadores do Bayern estavam incrédulos... não podiam acreditar no que tinha acontecido. Ver o Matthaus no banco, completamente surpreendido. Na altura olharam para eles e pensaram, não queremos ir para o tempo extra, queremos continuar neste ritmo e acabar com eles?

- Sim, havia tão pouco tempo restante, mas, sim, quando marcas aquele golo e ganhas aquela energia, acho que isso mostra um pouco do carácter e a mentalidade da equipa. Sentimos que tínhamos a oportunidade para ganhar e não ficámos atrás à espera do tempo extra e dos penáltis. Talvez outra equipa com menos confiança podia ter ficado atrás e esperado, até porque, como eu disse, o Bayern era a melhor equipa, mas tentámos ir para outro golo.

Teddy Sheringham a celebrar o golo do empate frente ao Bayern (Imago)

No dia 8 de maio de 2024, os alemães perderam com o Real Madrid (também com dois golos nos minutos finais da partida), que acabariam por virar a eliminatória e afastar a possibilidade de uma final da liga milionária entre dois clubes da Bundesliga. Blomqvist assistiu com atenção a esse encontro e admite que trouxe algumas memórias de volta à sua cabeça...

- Como seguiste a reviravolta do Real Madrid frente ao Bayern e quais foram os teus pensamentos nesses minutos finais?

- Eu estive a ver o jogo todo e tive um pequeno déjà vu nesse jogo. Foi uma derrota pesada para o Bayern, mas houve muita conversa sobre o Real Madrid ser a equipa que recupera sempre na Liga dos Campeões e esse foi o caso novamente. Eles têm algo especial nessas noites. Nós não o fizemos todos os anos, fizemo-lo apenas uma vez, mas…

- Quando é que achas que a vossa equipa do Manchester United começou a mudar para melhor, dado que no início da época tinham muitos problemas?

- Não consigo dizer que houve um certo momento em que tudo mudou, mas ao longo do tempo foste ficando mais forte. Em janeiro mudaste de ano e começaste a ganhar mais jogos, Ferguson deu também mais momentos de pausas aos jogadores nessa altura, em que estávamos a trabalhar no duro para encontrar a forma certa para o resto da temporada.

- Se tivesses de escolher um troféu, qual escolhias e porquê?

- Para mim foi a Liga dos Campeões, porque é tão complicada. A Premier League é fantástica, mas é relativamente a toda a temporada… podes ter alguns momentos menos bons e ganhares na mesma, mas se tiveres um mau momento na Liga dos Campeões estás fora. Também envolve alguma sorte e por isso é que a torna tão especial… e claro, porque defrontas as melhores equipas da Europa.

Jogadores do Manchester United a celebrar o icónico Triplete de 1998/99 (Imago)

- Quando chegaste ao Man. United, a Premier League não era o pináculo do futebol, como é agora… como foi essa mudança do Parma para Inglaterra e o que encontraste em Manchester?

- Eu mudei-me da Suécia para Itália e quando cheguei senti que tinha chegado à melhor equipa da Europa, o Milan… senti dificuldade em adaptar-me ao futebol italiano. Estive dois anos em Itália, não foi assim tanto tempo, mas quando cheguei a Inglaterra, as pessoas perguntavam-me sobre Itália. Isso deu-me mais confiança para dar um salto na Premier League e ajudou-me bastante o facto de ter vindo de Itália e não da Suécia, apesar de ter sido apenas um ano e meio. Lá tive também dois dos três melhores treinadores do mundo, Ancelotti e Capello.

- No Manchester United tiveste o Sir Alex Ferguson. Como é que ele segurou a equipa, apesar dos grandes nomes e personagens no plantel, e como achas que ele se compara com os nomes da atualidade, como o Guardiola e o Klopp?

- Para mim é um dos melhores, ele era tão bom a lidar num um para um. Ele conseguia convencer-te a sentares no banco de suplentes, porque depois era a tua oportunidade de jogares a seguir. Ele dava-te um papel importante na próxima partida e fazia-te acreditar que isso era o melhor para ti e para todos. Como jogador queres jogar todos os jogos e, normalmente, ficavas chateado, mas ele era tão bom que te convencia disso. Ele tinha abordagens diferentes de todos os treinadores, no final ele colocava sempre a equipa e o clube à frente de tudo e todos. A outra coisa que era fantástica sobre ele era a sua habilidade de se adaptar a situações diferentes… desenvolveu-se tanto como treinador, durante os vários anos com os seus diferentes treinadores assistentes. Claro que teria sido espetacular vê-lo novamente a liderar o Manchester United e a jogar contra uma equipa treinada por Pep Guardiola, por exemplo.

Sir Alex Ferguson e Jesper Blomqvist após o apito final do Man. United-Bayern (Imago)

- Como é que o triplete do Manchester United em 1999 se compara com o triplete do Manchester City, no último ano? Achas que o vosso foi mais desafiante ou mais icónico por ter sido o primeiro?

- Eu acho que é muito, muito complicado comparar. Por um lado, sentes que gostavas de ser o único, mas quando vês outra equipa a realmente consegui-lo, hoje em dia, percebes o quão complicado foi e aprecias ainda mais o teu triplete. Por um lado, foi complicado vê-los a ganhar, mas por outro lado aprecias as tuas conquistas ainda mais. E para responder à tua pergunta, sobre qual é maior… acho que, em geral, o futebol está-se a tornar cada vez melhor, mas… pronto.

- E sobre o Manchester United da atualidade, que tem vários problemas, onde pensas que eles podem melhorar?

- É uma pergunta complicada… tenho visto praticamente todos os jogos, esta época. Às vezes têm acontecido jogos fantásticos e depois uns muito desapontantes, mas acho se deve a todos os problemas que revolvem à volta do clube. O próprio clube demorou algum tempo a encontrar a direção certa e agora estão mesmo a tentar, mas como jogador, tentas jogar, mas também és um ser humano e estás sempre afetado por todas as outras coisas. Se não vês um caminho definido para o clube é mais complicado de encontrar essa consistência, mas estamos todos à espera de uma época melhor no próximo ano. Também acho que as lesões têm tido bastante impacto nesta época, em vários jogadores que têm um papel muito importante no clube… é um grande problema.