Quem é Zebrinha? Jurado da Dança dos Famosos estudou na Holanda e nos EUA

Desde que Luciano Huck assumiu a Dança dos Famosos, ele fez algumas mudanças para se afastar do formato comandado por Fausto Silva. Além de inserir novos ritmos, como a kizomba, o comunicador determinou que o júri técnico seria sempre o mesmo. Assim, Ana Botafogo, Carlinhos de Jesus e Zebrinha ganharam cadeira fixa no quadro.

Boa parte do público já conhecia Ana, considerada o principal nome da dança clássica brasileira. Ela virou até atriz e interpretou a bailarina Elisa na novela Páginas da Vida (2006) --além de fazer participações em outras tramas como ela mesma. Carlinhos, por sua vez, ganhou destaque como passista no Carnaval e, depois, ao coreografar a comissão de frente da Mangueira.

Já Zebrinha tem sido uma agradável surpresa para quem assiste ao Domingão com Huck. O baiano, nascido José Carlos Arandiba, é bailarino como Ana Botafogo e coreógrafo como Carlinhos de Jesus. Também mistura a doçura da jurada com as cobranças do rei do salão em suas críticas.

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Aos 69 anos, ele tem mais de 50 de carreira. Zebrinha deu seus primeiros passos ainda na adolescência, em seu colégio em Salvador, como parte do Grupo Folclórico Exaltação à Bahia. Chegou a pensar em cursar Medicina Veterinária, mas a vocação falou mais alto.

"Era a minha obrigação entrar na universidade, porque a minha família era pobre. Mas, na mesma época, comecei a me envolver com a dança. Eles nem tiveram tempo de processar quando eu ganhei uma bolsa de estudos e fui para os Estados Unidos", contou ele à revista GQ no ano passado.

Na terra do tio Sam, porém, o dançarino não se deu bem com os colegas norte-americanos. "Eu era só um número e ninguém olhava para mim", desabafou. Decidiu ir para a Holanda, onde ganhou outra bolsa de estudos e estudou dança clássica e moderna em um conservatório do país europeu.

Zebrinha acabou se saindo melhor no estilo moderno --ele aponta um certo racismo na sua relação com o clássico. "Eu fui coibido de praticar essa modalidade [no Brasil], e a desculpa era que eu tinha a bunda grande, o que é mentira porque sempre fui muito magro", contou.

"Só fui perceber na Holanda que o meu corpo era apto para a dança clássica, porque lá ninguém nunca questionou minha cor. Não que não exista racismo lá, mas meu talento falou muito mais alto", valorizou o coreógrafo.

Depois da Holanda, Arandiba passou por companhias de dança de países como Alemanha, Bélgica, Canadá, França e Suécia. "As pessoas dizem que eu fiz uma carreira genial, mas para mim é supernormal. É a carreira que eu merecia, que eu lutei para ter. Sempre achei barreiras e lidei com o preconceito e o racismo, mas o meu talento sempre foi mais forte", falou ao G1.

Ele se aposentou dos palcos aos 38 anos, mas nunca deixou a dança e se tornou coreógrafo. Há mais de duas décadas, atua na direção artística do Balé Folclórico da Bahia --lá, se dedica a formar outros jovens que, como ele no passado, têm o sonho de se juntar a grandes companhias de dança.

Zebrinha ainda trabalhou em produções do teatro, do cinema e da TV. Na Globo, ajudou nas novelas Lado a Lado (2012) e Segundo Sol (2018) e como coreógrafo da série Mister Brau (2015-2018).

Foi Taís Araujo, aliás, quem convenceu o bailarino a topar o convite para ser jurado da Dança dos Famosos --que ele já havia negado antes por não se sentir à vontade na frente das câmeras. "Sou um homem de teatro, trabalhei na TV só atrás das câmeras, nunca botei a cara no Sol", disse ao G1.

A mulher de Lázaro Ramos conseguiu fazer Zebrinha mudar de ideia. Ele entendeu a importância de ter um homem preto no júri de um quadro com tamanha visibilidade. "Isso passa uma mensagem ao Brasil. Não tenho a intenção de ser o melhor jurado, mas emitir a minha opinião faz diferença. O meu sonho é que um dia sejamos três pretos", resumiu para a GQ.