Em uma carreira tão extensa, é difícil pensar em apenas um decisivo papel de Brad Pitt. O astro de 60 anos tem trabalhado arduamente em diversos projetos desde a década de 1980, e nunca sequer decidiu tirar umas férias, nem pensou em se aposentar. Entre tantos personagens no currículo, citar apenas um é tortura; a menos que você seja um fã de carteirinha e tenha o seu favorito. Chris Hemsworth, o intérprete do deus Thor, contou como possui um tipo do astro para chamar de seu. Não por acaso, acabou batizando seu filho fazendo homenagem a ele. Para o astro da Marvel e a esposa, é impossível esquecer Tristan do clássico moderno 'Lendas da Paixão', de 1994.
Em uma recente entrevista à Vanity Fair, o australiano de 40 anos revelou sua relação de carinho com um dos maiores sucessos de Brad Pitt, e como o filme teve forte impacto em sua vida pessoal — começando mesmo antes que ele se tornasse ator. Hemsworth contou à revista americana que 'Lendas da Paixão', filme de Edward Zwick que estrela uma lista de celebridades da maior qualidade, é uma obsessão sua que vem desde a adolescência, quando assistia ao drama ao lado dos irmãos, Luke e Liam Hemsworth, em sua terra natal.
Quando a esposa, a modelo e atriz Elsa Pataky, engravidou de gêmeos, prestou, então, uma homenagem imortal ao personagem de Pitt. O seu Tristan tem hoje 10 anos.
"Nunca existiu homem mais bonito na tela", admitius. A obsessão não é só do astro australiano de quase dois metros de altura; na verdade, o mundo todo se lembra muitíssimo bem de todo o 'Lendas da Paixão', desde sua estreia - um total sucesso de bilheteria.
Com apenas 30 milhões de orçamento, o filme de Ed Zwick levou milhões para a frente das telonas, arrecadando um total de 160 milhões de dólares mundialmente, após sua estreia.
Contando com a participação de nomes como Anthony Hopkins ('O Silêncio dos Inocentes'), Henry Thomas ('E.T - O Extraterrestre), Kenneth Welsh ('Twin Peaks'), além do próprio Pitt, um dos maiores galãs da década de 1990, 'Lendas da Paixão' virou um clássico filme de drama da época, e até hoje é relembrado como um dos queridinhos entre aqueles que sempre estão afim de ver um bom drama romântico.
No filme, acompanhamos a família Ludlow em um de seus momentos mais difíceis. Durante a Primeira Guerra Mundial, o pai William (Hopkins), ao lado de seus dois filhos Tristan (Pitt) e Alfred (Quinn) recebem a devastadora notícia de que o caçula, Samuel (Thomas) faleceu em combate na Europa.
Devastados pelo luto, os irmãos acham em Savannah, a noiva do falecido irmão, um conforto para passar os dias de dor. Apaixonados pela mesma pessoa, Tristan e Alfred entram em conflito pela moça, e a ruptura da família se torna iminente.
Ainda que todos os atores estejam interpretando seus personagens maravilhosamente bem - incluindo o próprio Pitt, é necessário dizer que o clima no set de gravações de 'Lendas da Paixão' foi, por vezes, bastante desagradável. E por incrível que pareça, a culpa foi dividida entre o próprio galã e o diretor, Edward Zwick.
Em seu livro de memórias, 'Hits, Flops, and Other Illusions: My Fortysomething Years in Hollywood' (ou em bom português, 'Sucessos, Fracassos e Outras Ilusões: Meus Quarenta e Tantos Anos em Hollywood), o cineasta discorre sobre sua extensa e intensa carreira dirigindo filmes e atores de sucesso na indústria mais popular do mundo.
Autor de obras como 'O Último Samurai', 'Diamante de Sangue', 'Amor e Outras Drogas', e 'Coragem Sob Fogo', Zwick já esteve entre incontáveis estrelas e dividiu momentos bastante pessoais com muitas delas. Em seu livro, até conta sobre um episódio envolvendo Tom Cruise e como o astro chorou de saudades do próprio filho no meio do set.
Com Brad Pitt, entretanto, a história é outra, e é bastante interessante. Segundo conta o diretor, o atorpassou a se mostrar bastante desconfortável entre os colegas de trabalho desde o início. Dias após um ensaio informal, o agente do astro foi conversar diretamente com o estúdio para contar-lhes que o seu cliente estava pensando seriamente em pedir demissão do projeto.
"Coube [ao produtor] Marshall [Herskovitz] tentar convencer Brad a ficar. Nunca mais foi mencionado, mas foi o primeiro mau presságio da bagunça de emoções que ele sentia. Pode parecer fácil de início, mas ele fica bastante volátil quando fica irritado", declarou em seu livro.
Ainda que a desistência tenha passado, Brad Pitt não esteve confortável quase em nenhum momento. "A ansiedade dele pareceu nunca ter ido embora completamente", relembrou o cineasta.
E não é apenas uma questão de puro achismo, Zwick e Pitt caíram em esquentadas discussões por inúmeras vezes no set. Para o diretor, geralmente um ator começa uma briga porque "se sente com medo. Insegurança se manifesta como arrogância, e medo antecede mau comportamento".
Ainda, ele confirma que as ideias dele e de Brad sobre o personagem Tristan conflitavam bastante, criando mais um motivo para que as coisas fossem de mal a pior. "O Brad cresceu rodeado de homens que reprimiam suas emoções. Quanto mais eu pedia para que o Brad liberasse as suas emoções, mais ele se fechava. Então eu pressionava e o Brad se encolhia", completou.
Edward Zwick ainda reconta um momento específico das filmagens, quando ele e o ator discutiram feio após o diretor lhe dar uma chamada de atenção um pouco mais agressiva que o comum.
"Eu estava com raiva de Brad por ele não confiar em mim para influenciar a sua performance. Além da relutância durante o ensaio", disse. "Eu não lembro quem gritou primeiro, quem xingou, quem jogou a primeira cadeira. Eu, talvez? Mas quando olhamos para cima, a equipe tinha desaparecido. E essa não foi a última vez que isso aconteceu. Eventualmente a equipe se acostumou com nossos desentendimentos e saía, para nós extravasarmos. 'Nós odiamos quando os pais brigam', disse um membro da equipe."
No final, eles sempre faziam as pazes. Zwick ainda condecora a interpretação de Brad e se orgulha de seu trabalho. Mesmo depois das gravações, entretanto, o ator não estava feliz com o resultado final.
"Ele sentiu que eu diminuí a insanidade de seu personagem. Eu só tinha, na verdade, cortado um trecho de uma cena em que o Tristan está fervendo de ódio, gritando enquanto as ondas passam por cima dele. Mas era um trecho que ele amava muito. E seria mínimo ter deixado [no corte final]. Eu deveria ter deixado", arrepende-se o diretor nas suas memórias. "Me perdoa, Brad", completa definitivamente.
Para Edward Zwick, grandes discussões entre atores e diretores fazem bons filmes. Para ele, a relação entre George Clooney e David O. Russell em 'Três Reis' é o maior exemplo. "É um ótimo filme", disse afinal. Com a conclusão, dá para entender bastante claramente que o cineasta tem a plena certeza que 'Lendas da Paixão' é um superfilme — e boa parte por conta de seus desencontros com Brad Pitt, sua estrela de maior apreço naquela produção.
E os fãs (incluindo Hemsworth) concordam: é um filmaço. E é possível que nunca tenha havido um homem mais lindo enquadrado pelas câmeras.
Assista ao trailer de 'Lendas da Paixão'.
*Com edição de Luís Alberto Nogueira