Dentista suspeita de causar infecções em pacientes após lipos de papada apresentou diplomas falsos, afirma Polícia Civil | Minas Gerais | G1

Por Fernando Zuba, Leonardo Milagres, Márcia La Marca, g1 Minas — Belo Horizonte


Dentista Camilla de Andrade presta depoimento à Polícia Civil

Dentista Camilla de Andrade presta depoimento à Polícia Civil

A dentista suspeita de causar infecções em pacientes durante cirurgias de lipoaspiração de papada, Camilla Groppo, entregou diplomas falsos à Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG). A corporação começou a investigar o caso depois que 20 mulheres denunciaram a profissional, dona de uma clínica em Belo Horizonte.

Segundo fontes ligadas às investigações, ao menos dois documentos apresentados por ela são falsificados. Um deles é o certificado de um curso de "lipo de papada mecânica", do Centro de Treinamento em Anatomia (CTA), com duração de 50 horas; o outro, uma certidão de especialização da mesma faculdade.

Certificado de curso de especialização apresentado por Camila Groppo é falso, segundo investigações — Foto: Reprodução/MG2

Conforme as apurações, a instituição de ensino emitiu uma declaração negando a autenticidade das certificações e registrou um boletim de ocorrência.

"O instituto declarou que ela nunca cursou lá, inclusive foi feito um boletim de ocorrência no estado de São Paulo, em que ela é acusada do uso de documento falso", disse o delegado Alessando Santa Gema.

Depoimento na delegacia

Camilla Groppo prestou depoimento em uma delegacia da capital nesta quinta-feira (16) — Foto: Reprodução/TV Globo

Camilla Groppo prestou depoimento em uma delegacia da capital nesta quinta-feira (16). Acompanhada de uma advogada, ela não quis gravar entrevista.

A dentista é investigada pelos crimes de lesão corporal e uso de documento falso. O caso foi revelado pela TV Globo em março, quando pacientes relataram complicações de procedimentos estéticos, como fortes dores e deformações no rosto.

Mulher teve complicações após procedimento de lipo de papada — Foto: TV Globo/ Reprodução

Algumas vítimas ainda tiveram que passar por internações, intervenções de emergência e tratamentos para combater infecções. Após as denúncias, a Vigilância Sanitária constatou irregularidades na clínica odontológica e interditou o lugar.

De acordo com o delegado, a dentista reconheceu que, antes da fiscalização, a esterilização dos instrumentos cirúrgicos era feita no estabelecimento e não seguia alguns padrões exigidos pela lei.

A Secretaria de Saúde de Belo Horizonte também confirmou um surto de micobactéria associado às cirurgias.

"De 23 casos notificados, cinco tiveram infecção confirmada por Mycobacterium abscessus", afirmou a pasta.

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Mudanças de protocolo

O Conselho Regional de Odontologia (CRO-MG) informou que um procedimento administrativo foi aberto contra Camilla Groppo. Para realizar os procedimentos oferecidos por ela, como lipo de papada e retirada de gordura das bochechas, são necessárias especializações.

"Apuradas as devidas responsabilidades e dando direito à defesa da profissional, evidentemente, pode haver, sim, a suspensão do seu exercício profissional por um tempo e pode culminar, sim, em uma cassação, se houver um dolo intencional", destacou o presidente do CRO-MG, Raphael Castro Mota.

O caso também levou a mudanças nas recomendações do CRO. Para a Câmara Técnica de Bucomaxilofacial, as cânulas usadas nas lipos de papada são difíceis de serem esterilizadas e, por isso, devem passar a ser descartadas depois de cada cirurgia.

"Tem todo um protocolo que a Anvisa recomenda, mas infelizmente, mesmo seguindo o protocolo mais moderno, ainda há um risco. Reunimos especialistas para que, a partir dessa análise científica, os profissionais passem a uso único, ou seja, descartem aquele instrumental pra evitar complicações", explicou Antônio Luiz Custódio, membro da Câmara.

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