A
essência doutrinária de Wesley
Odilon
Massolar Chaves
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Odilon Massolar Chaves é pastor metodista
aposentado, doutor em Teologia e História pela Universidade Metodista de São
Paulo.
Sua tese tratou sobre o avivamento metodista
na Inglaterra no século XVIII e a sua contribuição como paradigma para nossos
dias.
Foi editor do jornal oficial metodista e
coordenador de Curso de Teologia.
É escritor, poeta e youtuber.
Toda glória seja dada ao Senhor.
Índice
·
Introdução
·
O desafio metodista hoje
·
O Espírito Santo no Movimento metodista
·
Santidade, a base do Movimento metodista
·
Amor, a principal marca da santidade
Introdução
“A
essência doutrinária de Wesley” é um livro que aborda profundamente sobre o
metodismo praticado por Wesley e pelos primeiros metodistas na Inglaterra, no
século XVIII, e a perda de identidade ao longo dos anos.
Wesley
pode até não ser considerado um teólogo sistemático, mas ele e os primeiros
metodistas sabiam muito bem no que criam e praticavam. Inclusive, a Conferência
Anual definia as práticas e os conteúdos teológicos do metodismo, desde 1744.
Em 1744, a “Conferência tinha em sua ordem do dia
três perguntas:
1.O que ensinar?
2.Como ensinar?
3.Como regulamentar a doutrina, a disciplina e a
prática?”[1]
Na segunda Conferência, realizada em 1º de agosto
de 1745, a santificação continuou sendo o principal assunto.[2] Foi discutido "o que
pregar" e as doutrinas básicas com ênfase na perfeição sem negligenciar a
justificação. Ficou estabelecida a prática de uma Conferência Anual.[3]
Era
um Movimento dirigido pelo Espírito Santo, que movia os primeiros metodistas.
Mas
qual é a essência do metodismo de Wesley?
É
o que nos propomos mostrar nesse livro.
O
Autor
O
desafio metodista hoje
“Parte
do desafio para o Metodismo hoje é reapropriar a visão e a práxis de Wesley.”[4]
O
metodismo no tempo de João Wesley tinha especialmente como fundamento e prática
o Espírito Santo, a santidade e amor a Deus e ao próximo. Para a salvação,
praticava e promovia o livre arbítrio.
Por
ser uma Igreja bem antiga, por ter se espalhado por muitos países e ter passado
por tantas crises e transformações no mundo, o metodismo também sofreu influências
e mudanças. Perdeu a sua essência wesleyana.
Foi
assim com a questão da escravidão, que proporcionou a Guerra de Secessão (1861-1865), que dividiu o país em Norte e
Sul e, na Igreja Metodista, os que eram a favor da escravidão e os que lutaram em
defesa da liberdade dos escravos. Surgiu assim a Igreja Metodista Episcopal e
Igreja Metodista Episcopal, Sul.
O fato é que “com o tremendo aumento da
produção do algodão, criou-se um argumento tanto filosófico como a Bíblia que
apresentava a escravidão não como um mal, senão como bem positivo. Foi só de
1830 em diante que o movimento de abolição começou a crescer; e nesta luta
muitos metodistas participaram plenamente. Mas a tragédia foi que a Igreja como
um todo não aderiu logo ao movimento. As grandes denominações chegaram até a se
racharem, resultado em Igrejas “do Norte” e “do Sul”. Isto atingiu o Metodismo
em 1844, nascendo a Igreja Metodista Episcopal do Sul. No Norte do país, frequentemente
os abolicionistas metodistas eram também seus melhores evangelistas; no Sul,
infelizmente, a defesa da escravidão foi como um cunho, separando as coisas
consideradas espirituais das seculares. Esta infeliz dicotomia iria influenciar
o pensamento e a ação das missões destas Igrejas no Brasil (Metodistas,
Presbiterianas, Batistas). Aliás, parte do desafio para o Metodismo hoje é
reapropriar a visão e a práxis de Wesley.”[5]
Passou
a surgirem Igrejas de santidade, como a Igreja do Nazareno[6], a Igreja Holiness, Igreja
Metodista Livre[7], etc. Surgiu ainda a Igreja
Metodista Episcopal Africana.
Por
causa da questão da escravidão, a Igreja Metodista Wesleyana foi
organizada nos Estados Unidos em 13 de maio de 1841. A Igreja Metodista
Wesleyana e a Igreja da Santidade Peregrina se fundiram em 1968 surgindo a
Igreja Wesleyana que tem hoje 600 mil membros em 99 países.[8]
E
assim têm surgido diversas denominações wesleyanas no mundo.
No
Brasil, a Igreja Metodista Wesleyana surgiu em 1967 com o propósito de
retornara às práticas do metodismo primitivo de Wesley. “Nasceu de um
despertamento de alguns pastores. Cada um desses pastores em suas respectivas
igrejas começou a viver e praticar o Metodismo primitivo, intensificando as
reuniões de oração, vigílias etc., com o decorrer do tempo o efeito desse
trabalho foi recebendo o impacto do poder do Espírito Santo”.[9]
São
Igrejas de cunho wesleyano que procuraram salvar o que estava se perdendo de
essência/ identidade metodista.
Além
da Igreja Metodista Unida, agora surge a Igreja Metodista Global por causa das
questões relacionados ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.
“A
nova denominação defende a teologia tradicional e conservadora Wesleyana, mas
funciona em uma infraestrutura mais leve e enxuta”.[10]
As
revoluções culturais, influência dos movimentos pentecostais e da Mídia, etc, têm
levado a Igreja Metodista à perda da identidade.
Além
disso, as nossas tendencias teológicas nos levam a procurar na longa vida e
ministério de Wesley fundamentos, informações e fatos que justifiquem nossa
teologia e prática.
Mas
qual é a base, o fundamento da teologia e ação do metodismo liderado por Wesley
na Inglaterra, no século XVIII?
Em
seu tempo, Wesley restaurou a doutrina do Espírito Santo e da Santidade.
Restaurou ainda a essência do amor ágape. Promoveu o livre arbítrio.
Há
uma sequência natural: o Espírito Santo na vida daquele que nasceu de novo proporciona
santidade, que nos leva a amar a Deus e ao próximo.
E
dentro dessa visão, Wesley acreditava que Deus havia concedido ao metodismo o
“depositum” da santidade. Para ele, “a perfeição cristã, cria Wesley,
era o “depositum” que Deus havia entregue aos metodistas como sua
responsabilidade especial.”[11]
Era
uma concessão extraordinária da providência de Deus ao metodismo.
Wesley acreditava ter sido o metodismo levantado por Deus para mudar a situação vigente, ou seja, para: “(...) reformar a nação e, particularmente, a Igreja (...) e espalhar a santidade bíblica sobre a terra.”[12]
João Wesley considerava que o movimento metodista era uma Dispensação Extraordinária da Providência de Deus:
“Wesley aceitou os argumentos de um ´chamado extraordinário, reconhecendo que não apenas a pregação leiga, mas também ´todo o trabalho de Deus chamado Metodista´ era uma ´dispensação extraordinária.” [13]
Para ele, “a perfeição cristã, era o “depositum” que Deus havia entregue aos metodistas como sua responsabilidade especial.”[14]
Para Wesley, a Dispensação extraordinária da Providência de Deus compreendia a doutrina da Perfeição Cristã,[15] o Ministério Feminino[16] e o surgimento do próprio metodismo.[17]
Em 1771, numa carta para Mary Bosanquet Fletcher, João Wesley disse:
“É claro para mim que toda a obra de Deus chamada Metodismo é uma dispensação extraordinária de Sua providência. Portanto, não me pergunto se várias coisas ocorrem nele que não se enquadram nas regras normais de disciplina.” [18]
Para Wesley algumas mulheres possuíam "chamada extraordinária" de Deus que as isentava das regras normais de disciplina.[19] Aqui Wesley escrevia uma carta à Maria Bosanquet sobre Sarah Crosby (1729-1804), que foi a primeira mulher metodista autorizada por Wesley para pregar.[20]
Muitas outras pregaram. “Em 1787, apesar da oposição de alguns pregadores do sexo masculino, Wesley autorizou Sarah Mallet a pregar também, contanto que ela concordasse em manter a doutrina e disciplina metodistas”.[21]
Wesley afirmou: “Não creio que todas as mulheres são chamadas para falarem em público, nem que todos os homens o são para serem pregadores metodistas; porém, algumas têm um chamado extraordinário para isso, e ai daquela que não o obedece" (documents, 4:171). Wesley aceitou o argumento de um "chamado extraordinário" reconhecendo que não apenas a pregação leiga, mas também 'todo o trabalho de Deus chamado metodismo, era uma 'dispensação extraordinária da providência de Deus.” [22]
Todo o trabalho de Deus chamado metodismo era uma “dispensação
extraordinária da providência de Deus”. Os ministérios de Susanna, João e
Carlos Wesley estavam dentro do chamado de Deus.
Wesley conviveu e sofreu influência do anglicanismo, puritanismo, pietismo e moravianos. Ele viu e reteve o que considerava bom para o movimento metodista.
“Os morávios influenciaram a forma como Wesley organizou os Metodistas. Por exemplo, os morávios se reuniam em pequenos grupos chamados classes, onde seus adeptos perguntavam após o progresso espiritual um do outro. Essa divisão em classes, além da pregação de campo, tornou-se a marca da organização metodista”.[23]
Importante considerar o chamado “Quadrilátero wesleyano”: Bíblia, tradição, razão e experiência, que se refere ao fundamento do pensamento teológico de Wesley. Um equilíbrio necessário para chegarmos à verdade.
Para os metodistas, a Bíblia é a fonte básica e o padrão para a doutrina
cristã.
Uma doutrina que Wesley defendeu foi o livre
arbítrio. Em seu tempo, “enquanto a maioria dos calvinistas se agarrava à dupla
predestinação, Wesley promovia uma visão arminiana da salvação”. [24]
Quando foi preciso, para o bem do Reino de Deus e
para a salvação das pessoas, Wesley foi um radical. Retirou o que de melhor
havia nos 39 Artigos de Religião do Anglicanismo e deixou apenas 25 artigos.
“A relação religiosa mais difícil de Wesley era com
a Igreja da Inglaterra por causa de sua pregação de campo. Outras religiões
existiam na Inglaterra na época — marginalizadas na sociedade inglesa — mas um
ministro anglicano considerando toda a Inglaterra como sua paróquia, como
Wesley fez, violou as leis da Igreja. Além disso, Wesley permitiu que aqueles
que não foram ordenados ministros anglicanos pregassem o Metodismo”.[25]
A teologia de Wesley é considerada por alguns como uma teologia do
caminho, pois foi estabelecida na caminhada do metodismo, das necessidades e
realidade social e espiritual na Inglaterra.
O
Espírito Santo no movimento metodista
“O
mesmo Espírito que conduz o pecador arrependido a Cristo e lhe permite
confessar ´Jesus é Senhor´ (1Co 12.3) faz-nos não apenas andar uniformemente
como Cristo andou (1Co 11.1) como também ter o mesmo sentimento que nele houve,
a saber, o de esvaziar-se a si mesmo e identificar-se com a nossa humanidade,
nossa miséria, nosso pecado e nossas contradições, a fim de nos remir (...).”[26]
(Wesley)
A
experiência de 24 de maio de 1738 trouxe a Wesley a segurança da salvação, mas
a experiência do poder de Deus, na madrugada da vigília iniciada, no dia 3l de
dezembro do mesmo ano, trouxe a Wesley profunda reflexão sobre o derramar do
Espírito Santo.
“Tais demonstrações da obra do Espírito
levaram Wesley a refletir sobre sua própria condição e, em poucos dias, teve
novamente uma oportunidade de escrever notas de autorreflexão.”[27]
A
ação do Espirito Santo passou a fazer parte da vida diária de Wesley. Em 1749,
ele registrou em seu Diário: “Preguei (como de costume), às cinco horas e às
quinze, com convicção e poder do Espírito.”[28]
Wesley
restaurou a doutrina do Espírito Santo em seu tempo. Eram um tempo do
Cessacionismo: “O cessacionismo é a visão de que os "dons milagrosos"
de línguas e cura cessaram, ou seja, que o fim da era apostólica trouxe um fim
aos milagres associados a esse período. A maioria dos cessacionistas creem que,
embora Deus possa e ainda faça milagres hoje, o Espírito Santo não mais usa
indivíduos para realizar sinais miraculosos”.[29]
“É
importante notar antes de tudo o cessacionismo (a crença de que os dons
cessaram depois que os apóstolos morreram), foi generalizada durante o tempo de
Wesley, apesar da falta de evidências bíblicas para esta
posição. Portanto, Wesley foi um dos precursores ao declarar a necessidade
de que os dons sobrenaturais de Deus sejam vivenciados hoje. Wesley
acreditava que não era possível apenas
que as pessoas em seu tempo falassem em línguas e
experimentassem os outros dons milagrosos do Espírito Santo, mas que
era necessário!”[30]
Ele afirmou:
"Não parece que esses dons extraordinários do Espírito Santo fossem comuns
na Igreja por mais de dois ou três séculos ... A causa disso não era porque não
havia ocasião para eles porque todo o mundo se tornou cristão. A
verdadeira causa foi [que] "o amor de muitos", quase todos os
cristãos, assim chamados, estavam "gelados". Esta era a verdadeira
razão pela qual os dons extraordinários do Espírito Santo já não se encontravam
na Igreja cristã, porque os cristãos voltaram a ser pagãos e só restavam uma
forma morta”.[31]
A
ação e o poder do Espírito passaram a fazer parte da vida e ministério e
Wesley. Em 1739, Wesley escreveu alguns versos num volume de Hinos e Poemas
Sagrados onde ele revela sua necessidade do poder do Espírito Santo e do amor
de Deus:
“(...) Senhor, fortifica-me com o poder do Teu Espírito,
Posto que sou chamado pelo Teu grande nome
Em Ti todos os meus pensamentos errantes se unem,
De todas as minhas obras seja Tu o alvo;
O Teu amor me assista toda a vida
E a minha única ocupação seja o Teu louvor (...)”. [32]
Segundo
o historiador metodista Richard Heitzenhater, tais experiências levaram Wesley
a autorreflexão e a registrar que tinha dúvidas sobre si em relação ao amor,
paz e alegria. Em sua avaliação, o cristão é alguém que tem o fruto do
Espírito. Nesse sentido, ele não se considerava um cristão.[33]
Após
longa experiência com as pregações e com as sociedades metodistas, seu
conceito, em 1761, era: “(...) onde não se encontra o poder de Deus, o trabalho
enfraquece.” [34]
Multidões
vinham ouvir as pregações dos metodistas. Em 20 de maio de 1752, Wesley
registrou em seu Diário: “Preguei em Beddick a grande multidão de Coliers
(mineiros de carvão), ainda que chovia durante a pregação.”[35]
A
teologia e os métodos de Whitefield e Wesley passaram a ser atacados pela
imprensa local, mas o pai de Metodismo passou a ter consciência de que Deus o
havia chamado para pregar além das fronteiras da paróquia.[36]
As sementes do
avivamento estavam brotando no meio do povo chamado metodista de uma forma que
Wesley e os primeiros metodistas não haviam pensado ou experimentado antes. Com
o avivamento, muita gente simples do povo passou a frequentar as sociedades
metodistas.[37]
Wesley e os
metodistas foram chamados de entusiastas,[38]
ou seja, pentecostais, para os dias de hoje. Wesley não aceitava essa
acusação. Ele orava a Deus para livrar as pessoas dos gritos, que revelavam que
sua alma estava em profunda agonia.[39]
As manifestações físicas
passaram a ser algo natural nos cultos em que Wesley e Whitefield pregavam.
Certa vez, Wesley foi impedido de pregar em Epworth e o pastor local pregou um
sermão o acusando de entusiasta.[40]
Alguém convidou Wesley para voltar ali e pregar às 6 horas da manhã. Ele
ficou no lado oriental do templo, sobre o túmulo do seu pai e pregou durante
uma semana no mesmo lugar.
“Neste local, algumas vezes, sua voz era
abafada pelo choro e clamor dos ouvintes e diversos caíram como se estivessem
mortos. Ele disse: Meu pai trabalhou aqui durante quase 40 anos; mas houve
pouco fruto. Eu sofri também entre este povo, e parecia que os meus esforços
eram feitos em vão, mas os frutos aparecem agora.”[41]
Os que eram
alcançados pelo mover do Espírito Santo estavam dependentes de Deus: o povo
simples, sofrido, que vivia miseravelmente. Eram os mineiros, os criados, os
tecelões desempregados, as crianças pobres, etc. Eles experimentaram a graça de
Deus e eram transformados. [42]
Para Wesley: “O
mesmo Espírito que conduz o pecador arrependido a Cristo e lhe permite
confessar ´Jesus é Senhor´ (1Co 12.3)
faz-nos não apenas andar uniformemente co mo Cristo andou (1Co 11.1) como
também ter o mesmo sentimento que nele houve, a saber, o de esvaziar-se a si
mesmo e identificar-se com a nossa
humanidade, nossa miséria, nosso pecado
e nossas contradições, a fim de nos
remir (...).”[43]
Em 10 de julho de 1767,
Wesley mostra em seu Diário que a manifestação do Espírito acontecia também
pela oração. Deus não era indiferente ao clamor dos metodistas: “(...) Deus
respondeu às nossas orações. Parecia que as portas do céu foram abertas.”[44]
Em algumas
ocasiões, como em 9 de outubro de 1768, as orações eram incessantes para Deus
manifestar sua graça. Havia uma certeza de que Deus era poderoso e
misericordioso para os atender: “(...) não cessaram de clamar a Deus enquanto
não foram atendidos. Deus lhes transbordou o coração de alegria.”[45]
Wesley descreveu a
mudança que o Espírito do Senhor realizou em suas vidas e, consequentemente,
nas fábricas: “Não mais impudicícia ou profanação foram encontrados, pois Deus
havia colocado uma nova canção em seus lábios, e as blasfêmias se transformaram
em louvor.”[46]
Para João Wesley,
o Pentecostes, missão e santidade estão interligados: “Nosso Pentecoste
finalmente chegou’, disse em 1762, ao contemplar os progressos da obra
missionária. Somente em Londres, mais de 400 membros das sociedades
testificaram que foram libertos de todo pecado. Em Liverpool, a sociedade
passou por uma verdadeira metamorfose em sua perfeição.”[47]
Em 1781, Wesley
publicou na Revista Arminiana um texto do metodista Joseph Benson, que disse:
“Admitindo que (eu penso) nem a Razão, nem as Escrituras nos proíbem de aceitar
que Deus pode, e que Ele frequentemente o faz instantaneamente assim batizar
uma alma com o Espírito Santo, e com fogo, de maneira a purificá-la de toda
impureza, e refiná-la como ouro; de maneira a renová-la no amor, no amor puro e
perfeito, como ela nunca fora antes.”[48]
Para Wesley,
Pentecostes é amor entronizado no coração. “Em seu sermão “Sobre o
Zelo” (1781), Wesley disse: “Esta é aquela religião que nosso Senhor
estabeleceu sobre a terra, desde a descida do Espírito Santo no dia de
Pentecoste … amor entronizado no coração”[= inteira santificação]. Wesley
acreditou que a inteira santificação não se tornou uma possibilidade, até o dia
de Pentecoste.”[49]
Diversos
metodistas experimentaram o poder do Espírito. Wesley, como cita a madame
Guyon: “Creio que ela não era somente uma boa mulher, mas até mesmo virtuosa em
grau eminente, profundamente consagrada a Deus e muitas vezes favorecida por
comunicações extraordinárias com o Espírito Santo.”[50]
Alguns dons do
Espírito Santo eram evidenciados no meio do povo metodista. João Wesley dizia
que o dom de curar é um dom que havia sido destinado a permanecer na Igreja.[51]
Ele dizia também que Deus dava sonhos divinos, êxtases e visões para
fortalecer e animar aos que creem.[52]
Pentecoste era uma
expressão utilizada por Wesley para falar da vinda do Espírito Santo. Apesar de
toda a ação Espírito que acontecia, ele declarou em 1762: “O dia de Pentecostes
não chegou ainda na sua plenitude; mas não duvido que venha (...).”[53]
O progresso da
obra missionária foi um fruto reconhecido por Wesley que revela a chegada do
Pentecoste. Ele sabia que o Espírito poderia realizar coisas maiores. Neste
mesmo ano, Wesley disse: “Nosso
Pentecoste finalmente chegou’, disse em 1762, ao contemplar os progressos da
obra missionária. Somente em Londres, mais de 400 membros das sociedades
testificaram que foram libertos de todo pecado. Em Liverpool, a sociedade
passou por uma verdadeira metamorfose em sua perfeição.”[54]
O avivamento era
resultado do trabalho espiritual que as sociedades desenvolviam na busca da
perfeição cristã. O avivamento havia começado mesmo em 1761 e o objetivo era
buscar a santidade.
“O grande avivamento que apareceu no âmbito das sociedades em 1761 era a melhor
prova de que elas levavam muita a sério essa missão”.[55]
Wesley estava
feliz com o que presenciava. Era o coroamento de todo um trabalho. Ele disse:
“Aprouve a Deus derramar Seu Espírito em todas as partes, tanto na Inglaterra
como na Irlanda, e de uma maneira tal que nunca sequer vimos antes, pelo menos
nestes últimos vinte anos.”[56]
O avivamento em
Dublin foi o mais notável para Wesley. Teve início com um pregador chamado João
Manners, pessoa singela e sem eloquência, mas que parecia destinada a essa
obra. João Wesley descreveu o que viu: “Essa gente está tomada pelo fogo
divino; nunca presenciei dias como o domingo passado. Enquanto orava na
sociedade, o poder de Deus tomou conta de nós completamente, e alguns
exclamavam em voz alta, ‘Senhor, já posso crer.” [57]
Wesley presenciou
a chama do avivamento não somente entre os jovens e adultos, mas também entre
as crianças por volta do ano de 1781.[58]
Em Epworth, a industrialização havia instalado quatro fábricas de fiar e
tecer. Diversas crianças foram empregadas. Algumas delas entraram por acaso em
uma reunião de oração e foram tocados no coração.
“Alguns deles
entrando por acaso em uma reunião de oração foram tocados no coração. Seus
esforços entre os companheiros mudaram então as condições em três fábricas.”[59]
Nisto tudo vemos
que o metodismo foi uma expressão dinâmica da espiritualidade, em seu início,
onde a ação do Espírito Santo foi fundamental: “A expressão de uma
espiritualidade dinâmica pessoal e comunitária. A plenitude da manifestação do
Espírito na vida da pessoa e da comunidade testifica o lugar fundamental do
Santo Espírito no movimento. Ele não seria apenas o Consolador, mas o
Sustentador, o Fortalecedor, o Inspirador, o que nutria todos no caminho da
verdade, o que possibilitaria a experiência da graça, o recebimento do dom e o
frutificar da nova vida.”[60]
Santidade, a base
do movimento metodista
Sobre a santidade ou perfeição
cristã, Wesley diz: “(...) é aquele em que existe a mente que houve em Cristo e
que anda como Cristo andou; um homem que tem as mãos limpas e um coração puro,
que foi lavado de todas as impurezas da carne e do espírito; aquele que não é
motivo de tropeço para os outros, e aquele que de fato não comete pecado. A sua
alma é realmente todo amor, cheia de entranhas de misericórdia, bondade,
magnanimidade e tolerância. A sua vida está de acordo com estas qualidades,
cheias das obras da fé, da paciência, da esperança e das obras do amor”.[61]
Wesley iniciou sua busca pela santificação
por volta do ano de 1725. Neste ano, ele leu alguns livros sobre este assunto:
“O viver santo e o morrer santo” (Jeremias Taylor) e “A imitação de Cristo”
(Tomás de Kempis).
Disse Wesley: “Desejo
entregar-me a Deus de todo o coração. Isto é exatamente o que eu entendo agora
perla santificação. Eu a busquei desde aquela hora”.[62]
Por volta de 1727, ele leu os livros
“Perfeição Cristã” e o “Chamado Sério” (William Law).
Wesley registrou em seu diário: “(...)
resolvi explicitamente ser devotado inteiramente a Deus de corpo, alma e
espírito”.[63]
No ano de 1733, Wesley publicou: “Coletânea
de formas de oração”. Diz ele: “Falei explicitamente em dar totalmente o
coração e a vida a Deus. Esta foi, então, como é agora, a minha ideia a
respeito da perfeição”.[64]
Não somente nos livros, porém, Wesley teve
fundamentado o seu entendimento sobre a santificação. Ele encontrou na Bíblia
bastante base para a sua compreensão sobre este tema. Entre os textos bíblicos,
estão estes:
Mateus 5.48: “Sede vós perfeitos como é
perfeito o vosso Pai que está nos céus”.
Hebreus 12.14: “Se, e ao amor fraternal a
caridade”.
Este texto da epistola me Pedro “se tornaria
a chave para Wesley na sua compreensão da natureza da santidade, a saber, a
progressiva, a co-participação da natureza divina”.[65]
Wesley, apesar do Clube Santo, apesar de ser
pastor anglicano, não se considerava um cristão, no verdadeiro sentido da
palavra, antes de 1738.
Em seu diário, antes da experiência do
coração aquecido, ele diz: “Encontrei-me de novo com Pedro Bohler, que me
surpreendeu mais e mais com a explicação que me deu a respeito dos frutos das
fé viva, a santidade e a felicidade que ele afirmou acompanham tal fé”.[66]
Pedro Bohler havia convencido Wesley de que
ele não tinha uma fé real. Mais tarde Wesley diria: “Por um cristão quero dizer
alguém que crê em Cristo der tal maneira que o pecado não mais tenha domínio
sobre ele; e neste sentido obvio da palavra, eu não era um cristão antes de 24
de maio próximo passado”.[67]
Para Wesley. “os cristãos são santos...amam a
Deus...são humildes...são servos...tem a mente que havia em Cristo”.[68]
João Wesley utilizou algumas expressões bíblicas para explicar o que é a perfeição cristã, dentre elas, santidade, circuncisão do coração, inteira santificação e perfeição em amor.
Ele explicou e fundamentou o que ele entendia por circuncisão do coração pregando na Universidade, na Igreja de Santa Maria 1º de janeiro de 1733.
Ele disse: “Em 1º de janeiro de 1733, preguei na Universidade, na Igreja de Santa Maria (Oxford), sobre “a circuncisão do coração” [Deuteronômio 30: 6; Romanos 2:29; cf. Deuteronômio 10:16; Jeremias 4: 4]; um relato que fiz nestas palavras:
É
aquela disposição habitual da alma, que nas escrituras sagradas é
denominada santidade e que implica diretamente ser purificado do
pecado; de toda imundície tanto da carne quanto do espírito; e, por
consequência, o ser dotado daquelas virtudes que estavam em Cristo
Jesus; ser tão “renovado na imagem de nossa mente” [Efésios 4:23], a ponto
de ser “perfeito como nosso Pai que está nos céus é perfeito” [Mateus 5:48.][69]
No livro, “Um relato claro da perfeição cristã”, ele continuou a explicar no sermão “circuncisão do coração”:
No mesmo sermão que observei, “O amor é o cumprimento da lei” [Romanos 13:10], “o fim do mandamento” [ 1 Timóteo 1: 5 ]. Não é apenas o primeiro e grande mandamento [Mateus 22:38], mas todos os mandamentos em um: “Tudo o que é justo, tudo o que é puro, se houver virtude, se houver louvor” [Filipenses 4: 8], todos eles estão incluídos nesta palavra, amor. Nisso está perfeição, glória e felicidade! A lei real do céu e da terra é esta: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de toda a tua mente e de todas as tuas forças” [Marcos 12:30; Lucas 10:27; cf. Deuteronômio 6: 5]. O único bem perfeito será o seu fim último. Uma coisa desejareis por si mesma - a fruição d'Aquele que é tudo em todos. Uma felicidade que vocês devem propor a suas almas, sim, uma união com Aquele que as criou; o “ter comunhão com o Pai e o Filho” [1 João 1: 3]; o ser "unido ao Senhor em um só espírito" [1 Coríntios 6:17] Um desígnio que vocês devem seguir até o fim dos tempos - o desfrute de Deus neste tempo e na eternidade. Deseje outras coisas na medida em que elas tendam a isso: ame a criatura, pois ela conduz ao Criador. Mas em cada passo que você dá, seja este o ponto glorioso que encerra a sua visão. Que toda afeição, pensamento, palavra e ação sejam subordinados a isso. O que quer que desejem ou temam, tudo o que busquem ou evitem, tudo o que pensem, falem ou façam, seja para sua felicidade em Deus - o único fim, bem como a fonte, de seu ser.[70]
Mas o que é santificação?
Santificação é o processo para se chegar a um
estado de graça, que Wesley dava vários nomes: perfeição cristã, santidade,
cheio do Espirito, perfeição em amor, inteira santificação e ter a mente que
havia em Cristo.
A santificação se inicia no momento em que a
pessoa é justificada. A regeneração, o novo nascimento não é o mesmo que
santidade. O novo nascimento é o começo da santificação.
Sobre a perfeição cristã, Wesley diz:” (...)
é aquele em que existe a mente que houve em Cristo e que anda como Cristo
andou; um homem que tem as mãos limpas e um coração puro, que foi lavado de
todas as impurezas da carne e do espírito; aquele que não é motivo de tropeço
para os outros, e aquele que de fato não comete pecado. A sua alma é realmente
todo amor, cheia de entranhas de misericórdia, bondade, magnanimidade e
tolerância. A sua vida está de acordo com estas qualidades, cheias das obras da
fé, da paciência, da esperança e das obras do amor”.[71]
Aquele que alcançou a santidade pode dizer:
“Já não sou eu que vive, mas Cristo vive em mim”.
“A compreensão de Wesley sobre a vida
santificada está fortemente ligada à compreensão bíblica do amor (...). Assim,
o que a santificação acaba sendo é um processo de se tornar melhor no amor”.[72]
Duas são as condições básicas para sabermos
se uma pessoa alcançou a inteira santificação: primeiro, deve ter amor a Deus e
aso próximo. Segundo, deve ter a libertação do pecado. Enquanto a pessoa não é
santificada inteiramente, a semente do pecado permanece nele.
Mas, podemos ser salvos de todo o pecado?
Para mostrar que sim, Wesley citava vários
textos bíblicos (Sl 130.8; Ez 36.25-29: Ef5.25-27; Rm 8.3-4).
Para Wesley, a perfeição “é a circuncisão do
coração cortando toda a impureza interior e exterior. É a renovação, no
coração, de toda a imagem de Deus, da completa semelhança com aquele que o
criou”.[73]
Wesley diz mais: “Tanto meu irmão, como eu,
sustentamos que a perfeição cristã é aquele amor a Deus e ao nosso semelhante
que implica em libertação de todo pecado”.[74]
Libertos de todo pecado e tendo o perfeito
amor, voltaremos a ser realmente imagem e semelhança de Deus. Imagem esta que
foi distorcida pelo pecado.
Mas é possível provar isto?
Wesley conheceu em suas Sociedades várias
pessoas que haviam alcançado a santidade. “Eis os procedimentos de uma senhora
que a alcançou:
·
Trabalhava
para os pobres;
·
Tinha
ardente amor;
·
Tinha
grande alegra;
·
Estava
pronta para morrer;
·
Não
gostava de faltar aos cultos;
· Sentia que a sua vontade era a vontade de Deus”.[75]
A santidade, então, para Wesley não é algo
que nos leva ao isolamento do mundo. Não é viver dentro de um mosteiro, nem no
“Monte da Transfiguração” ou dentro das quatro paredes da Igreja. Perfeição
cristã é libertação do pecado e amor em ação! Wesley a resume assim: “É o amor
que exclui o pecado; amor que enche o coração”.[76]
Nós
fomos criados à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26-27).
João
Wesley detectou três aspectos de imagem dos seres humanos com seu Criador:
“•
A IMAGEM MORAL – ao ser criado, o ser humano possuía a santidade, a pureza e o
amor de Deus. Sua verdadeira natureza é ser santo, misericordioso, puro, livre,
incorruptível e eterno.
•
A IMAGEM NATURAL – isto significa que Deus criou o ser humano com perfeita
liberdade de escolha não só em pequenas questões da vida, mas também naquelas
que determinam seu destino. No estado de inocência ele poderia escolher
obedecer a Deus ou não, sem qualquer interferência sobre sua capacidade de
escolha (Gn 2:15-17).
•
A IMAGEM POLÍTICA – Deus delega poderes aos seres humanos quando ordena o
domínio sobre os habitantes do mar, dos céus e da terra (Gn 1:28) e a
incumbência de dar nomes às outras criaturas (Gn 2:19-20; Sl 8:6-7)”.[77]
Numa outra explicação, temos: “Em seu sermão 'O
Novo Nascimento' ... João Wesley três frases para marcar essas dimensões de ser
criado à imagem de Deus: imagem natural (somos seres humanos
espirituais com liberdade de vontade); imagem política (somos
governantes do mundo criado e nos relacionamos com os outros); e imagem
moral (pretendemos ser santos e justos).
Esta imagem perfeita, este reflexo ininterrupto de
Deus, foi destruída pelo pecado humano. Foi necessária a perfeição de
Jesus Cristo para restaurar a imagem”.[78]
Amor, a principal
marca da Santidade
“Vá e veja o pobre
e doente em suas pobres choupanas. Tome a sua cruz, mulher! Lembre-se da fé!
Jesus foi adiante de você e irá ao seu lado.”[79]
Wesley resgatou a essência da palavra “amor”
em sua época. A palavra grega ágape estava sendo traduzida como caridade.
Ele foi muito crítico sobre a inclusão da
palavra caridade na Bíblia em lugar de amor. Para ele foi algo infeliz e
negativo. Ele disse que as primeiras Bíblias publicadas na Inglaterra tinham a
palavra “amor”. Segundo ele, a palavra amor estava na Bíblia de William
Tyndale, na Bíblia publicada na autoridade do Rei Henrique VIII e durante o
reinado do Rei Eduardo VI, da Rainha Elizabeth e do Rei James I.[80]
Wesley afirmou: “As primeiras Bíblias que vi
em que a palavra foi mudada foram as impressas por Roger Daniel e John Field,
impressas para o Parlamento, no ano de 1649. Por isso, parece provável que a
alteração tenha sido feita durante a sessão do Longo Parlamento; provavelmente
foi então que a palavra latina caridade foi colocada no lugar da
palavra inglesa amor. Foi em uma hora infeliz que essa alteração foi
feita; os efeitos negativos disso permanecem até hoje; e estes podem
ser observados não apenas entre os pobres e analfabetos; - não apenas
milhares de homens e mulheres comuns não compreendem mais a palavra caridade do
que o grego original; - mas o mesmo erro miserável se difundiu entre os
homens de educação e aprendizado. Milhares destes são enganados assim, e
imaginam que a caridade tratada neste capítulo se refere principalmente, se não
totalmente, às ações exteriores, e significa pouco mais que esmola! Eu
ouvi muitos sermões pregados sobre este capítulo, particularmente antes da Universidade
de Oxford. E eu nunca ouvi mais do que um, em que o significado disso não
foi totalmente deturpado. Mas se a velha e apropriada
palavra amor tivesse sido retida, não haveria espaço para
deturpação”.[81]
E o amor se tornou
marca da identidade metodista.
A descrição de
Wesley sobre ação do Espírito Santo revela a evidência do fruto do Espírito no
movimento metodista. O avivamento se tornou parte da identidade metodista. Numa
das reuniões, em 13 de outubro de 1747, a chama do amor marcou a vida dos
presentes: “(...) uma chama de amor se manifestou de tal maneira como nunca se
tinha visto antes.”[82]
Em outra reunião,
em 9 de fevereiro de 1750, o fruto do Espírito descrito por Wesley foi a
alegria: “(...) a voz de louvor subiu ao trono de Deus, e foi grande o nosso
regozijo perante o Senhor.”[83]
Já na reunião de
18 de fevereiro de 1750, uma semana depois, houve a experiência com o poder de
Deus: “Hoje, também, onde nós nos reunimos, Deus manifestou Seu poder.”[84]
A ação do Espírito
proporcionava a mudança do caráter. Não era apenas a evidência dos dons
espirituais, como em 28 de abril de 1762, quando houve transformação nas
pessoas presentes: “Deus derramou abundantemente Seu Espírito sobre nós. Muitos
ficaram cheios de consolação (...) Deus restaurou o homem à luz da Sua face, e
deu à jovem moça a convicção clara do Seu amor.”[85]
Wesley nasceu numa
Inglaterra doente. Alguns autores chegam a afirmar que a Inglaterra estava à
beira de uma revolução semelhante a que aconteceu na França em 1789,[86]
ou seja, três anos antes de Wesley falecer.
“Foi um século,
cuja poesia não tinha romance, cuja filosofia não tinha penetração, e cujos
políticos não tinham caráter; século de luz sem amor, cujos próprios méritos
eram da terra, terrenos.” [87]
A influência do
Metodismo foi vital para mudar a situação vigente na Inglaterra. Wesley não foi
um reformador de estruturas e nem via o indivíduo como agente de transformação
social, mas sua contribuição, dentro da visão da época, foi fundamental para mudar
a situação social. Alguns se entusiasmam tanto que chegam a colocar o metodismo
até como o remédio para aquela época na Inglaterra: “O evangelho de Wesley era
o remédio para aquele século enfermo. Não somente abrasou corações, esclareceu
inteligências, expulsou temores, acalmou os nervos, repreendeu pecados
específicos e estimulou o amor ao próximo, mas expressou-se em atos de
caridade.”[88]
Desde o princípio,
Wesley estava interessado numa pergunta: “Você ama e serve a Deus?” [89]
Wesley tinha um
cristianismo prático. Não lhe agradava um avivamento enclausurado. O avivamento
deveria levar a um compromisso social. A fórmula de Wesley era: Avivamento traz
santificação,[90]
que é igual a amor perfeito.[91]
O amor perfeito inclui amar a Deus e ao próximo.[92]
Em seu sermão Os quase cristãos, pregado em Santa Maria, Oxford, em 25 de julho
de 1741, Wesley afirma que aquele que é totalmente cristão, além de amar a
Deus, ama também ao próximo: “A segunda coisa em que implica o ser totalmente
cristão é o amor ao próximo.”[93]
O mover do
Espírito Santo e a santificação, necessariamente trazem atos concretos de amor
a Deus e ao próximo.
“Visto que a
santificação é amor, ela é necessariamente santificação social. Por mais que
Wesley pareça, algumas vezes, concentrar-se na experiência do indivíduo na
vivência de sua santificação, o horizonte da santificação sempre é o da
comunidade; o esforço pela comunhão perfeita com Deus inclui o reto
relacionamento com os outros homens.”[94]
Em 1742, Wesley
escreveu sobre O Caráter de um metodista, cuja marca principal era o amor a
Deus e ao próximo. Wesley começa este texto dizendo o que não são as marcas de
um metodismo: “As marcas distintivas de um metodista não são as suas opiniões
de qualquer sorte. O seu assentimento a este ou aquele esquema de religião ou o
seu abraçar de qualquer grupo particular de noções ou o seu esposar o
julgamento de um ou outro homem, estão completamente fora de discussão.”[95]
Mas qual é, então,
a marca?
Wesley pergunta e
responde que a sua principal marca de um
metodista é o amor: “Um Metodista é
alguém que tem o amor de Deus em seu coração, pelo Espírito Santo que lhe foi
dado; é alguém que ama ao Senhor seu Deus, ‘com todo o seu coração, com
toda a sua alma, com todo o entendimento
e força’(...). Ele faz o bem a todos, amigos e inimigos, ao próximo e ao
estranho, e isto em todas as espécies: não só aos seus corpos, vestindo os nus,
dando de comer a quem tem fome, mas muito mais do que isto, procurando o bem de
suas almas, de acordo com os dons que vêm de Deus (...).”[96]
O escritor
metodista Richard Heitzenhater interpreta o que Wesley afirma sobre as marcas
de um metodista: “A ação filantrópica dos metodistas, muitas vezes, foi a nível
pessoal. João Wesley procurou envolver a comunidade na expressão de atos de
misericórdia. Ele dizia que as pessoas que se enriquecem devem
proporcionalmente aumentar seus atos de misericórdia, caso contrário, serão
avarentos.” [97]
Uma das formas de levantar dinheiro para ajudar aos necessitados era através de
"pregações de caridade".[98]
“As sociedades
religiosas, na tentativa de ajudar a melhorar essa situação, acharam necessário
assumir uma atitude apologética que sustentasse programas tais como o
desenvolvimento das escolas de caridade, destacando, com muito cuidado, que
tais escolas não eram o berço de descontentes ou revolucionários (...).” [99]
Em termos
teológicos, contudo, a visão de Wesley para que ajudássemos o necessitado pode
ser encontrada em seu sermão O Mordomo Fiel escrito em 1768. Para ele, somos
despenseiros da alma, corpo, bens materiais e dos vários talentos dados por
Deus.
Baseado em Lucas
17, Wesley afirma que um dia o Juiz nos julgará: “Foste consequentemente, um
benfeitor geral da humanidade, alimentando o faminto, vestindo o nu,
confortando o enfermo, abrigando o forasteiro, consolando o aflito, segundo
suas várias necessidades? Foste os olhos do cego, os pés do estropiado? Foste o
pai dos órfãos e o marido da viúva? E trabalhaste por levar a efeito todas as
obras de misericórdia, como meio de salvar as almas da morte?” [100]
Enfim para termos
a essência da doutrina metodista é preciso voltar às práticas de Wesley sem ser
tendencioso.
Isso certamente é
um grande desafio, pois somos influenciados pelo meio em que vivemos, por
teologias e pelas nossas próprias tendências.
Durante um bom
tempo houve um radicalismo no metodismo brasileiro entre os chamados
carismáticos, os da Teologia da Libertação e os conservadores.
Nesse meio,
encontravam-se os que praticavam os atos de piedade, os que praticavam os atos
de misericórdia e os que praticavam os atos de justiça.
Era só unir as
três correntes e teríamos o metodismo de Wesley original.
O desafio
continua.
[1] A
Conferência, que se reuniu na capela de uma antiga fundição, foi precedida, na
véspera, por um culto solene de Santa Ceia, e, na manhã do dia da abertura, por
um sermão de Carlos Wesley (LELIÈVRE, Mateo. João Wesley - Sua vida e obra. São
Paulo: Editora Vida, 1997.p. 140.
[2]
WESLEY, João. Explicação Clara da Perfeição Cristã. São Paulo: Imprensa
Metodista, 1984, p.41.
[3] HEITZENHATER, Richard
P., Wesley e o Povo Chamado Metodista, Editeo-Pastoral Bennett, 1996, p p. 152.
[4]
www.metodista1re.org.br/o-metodismo-nos-estados-unidos/
[5]
www.metodista1re.org.br/o-metodismo-nos-estados-unidos/
[6] “A Igreja do Nazareno
(em inglês:Church of the Nazarene) é uma denominação cristã protestante surgida
nos Estados Unidos na década de 1900 e derivada do Movimento de Santidade do
século XIX, sendo a maior denominação a ter como base os princípios do
Wesleyanismo e do Metodismo”. https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_do_Nazareno
[7] “Historicamente, a
Igreja Metodista Livre foi organizada em Pekin, Nova York, em 23 de agosto
de 1860”. www.imel.org.br/por-que-metodista-por-que-livre.
[8]
https://www.wesleyan.org/about/our-story
[9]https://igrejametodistawesleyanabarradaestiva.blogspot.com/2010/08/como-surgiu-igreja-metodista-wesleyana.html
[10]https://comunhao.com.br/metodistas-conservadores-lancam-igreja-metodista-global/
[11] REILY, Duncan
Alexander. Wesley e sua Bíblia. São Paulo: Editeo, 1997, p.39.
[12] HEITZENHATER, Richard
P., Wesley e o Povo Chamado Metodista, Editeo-Pastoral Bennett, 1996, p. 230.
[13] Ibidem, p.248.
[14] REILY, Duncan
Alexander. Wesley e sua Bíblia. São Paulo: Editeo, 1997, p.39.
[15] REILY, Duncan
Alexander. Fundamentos doutrinários do Metodismo brasileiro. Ibidem, p.61.
[16] HEITZENHATER, Richard
P. Ibidem, p. 248.
[17] Ibidem, p. 230.
[18]
https://hannahadairbonner.com/tag/john-wesley/
[21]
https://www.seedbed.com/key-leaders-of-the-wesleyan-movement/
[22]HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 248.
[23]https://rsc.byu.edu/vol-9-no-3-2008/john-wesley-methodist-foundation-restoration
[24]
Idem.
[25]https://rsc.byu.edu/vol-9-no-3-2008/john-wesley-methodist-foundation-restoration
[26] REILY, Duncan
Alexander. “João Wesley e o Espírito Santo”
em História, Metodismo, Libertações, Ibidem, p. 18.
[27] HEITZENHATER, Richard, Ibidem, p. 90.
[28] WESLEY, João. Trechos do diário de João Wesley. Ibidem,
p.82.
[29]
https://www.gotquestions.org/portugues/cessacionismo.html
[30]Andrew Williams.
Publicado por Duke Lancaster. John Wesley e o sobrenatural.
http://www.vineyardjackson.org/blog/wesley.
[31]E. H. Sugden. The Standard Sermons of John Wesley'
por Vol. I '. https://www.cai.org/bible-studies/scriptural-christianity-john-wesley. cf.
http://enrichmentjournal.ag.org/201103/201103_000_holy_sp.cfm
[32] ______.______.
Explicação clara da perfeição cristã.
Ibidem, p.13-4.
[33] HEITZENHATER, Richard,
Ibidem, p. 90.
[34] WESLEY, João. Trechos
do diário de João Wesley, ibidem, p.115.
[35] Ibidem, p.73.
[36] LELIÈVRE, Mateo. João
Wesley - Sua vida e obra. São Paulo: Editora Vida, 1997, p. 86.
[37] HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 127.
[38] O Bispo Joseph Butler
foi um dos que chamou os irmãos Wesley e
Whitefield de “ entusiastas” (REILY, Duncan Alexander. “João Wesley e o
Espírito Santo” em História, Metodismo, Ibidem, p. 19).
[39] Ibidem.
[40] Quando havia prática
contrária ao ensinamento bíblico, Wesley não deixava de orientar ou até
repreender aos que agiam assim, mesmo sendo pregadores, como aconteceu com
George Bell, que marcou o fim do mundo para 28 de fevereiro de 1763. Ele acabou
deixando o metodismo, juntamente com Maxfield. Wesley chegou a mandar Bell a
parar de falar em línguas (HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 209-0).
[41] FISCHER, Harold A. Avivamentos que avivam.
Ibidem, p.102.
[42] HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 90.
[43] REILY, Duncan
Alexander. “João Wesley e o Espírito Santo”
em História, Metodismo, Libertações, Ibidem, p. 18.
[44]______.Trechos do diário
de João Wesley, Ibidem, p.99.
[45] Ibidem.
[46] Ibidem.
[47] LELIÈVRE, Mateo. João
Wesley - Sua vida e obra. São Paulo: Editora Vida, 1997.p.217.
[48]http://www.johnwesley-izildabella.com.br/2016/01/27/john-fletcher-redescoberto/Laurence W. Wood, Ph. D.Frank
Paul Morris Professor of Systematic
Theology Asbury Theological Seminary.
[49] Idem.
[50] LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p. 302.
[51] BAILEY, Keith. Cura Divina. Editora Betânia, 1988, p.
200.
[52] WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem,
p. 134.
[53] WESLEY, João, Ibidem, p.130.
[54] LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.217.
[55] Ibidem, p.216.
[56] Ibidem, p.217.
[57] Ibidem, p.218.
[58] HEITZENHATER, Richard P.,
Ibidem, p. 277.
[59] Ibidem.
[60]LEITE, Nelson Luis Campos. As Marcas Básicas da Identidade
Metodista, [s.ed],1993, p.10.
[61] BURTNER, Robert W.
– CHILES, Robert E. Coletânea da Teologia de João Wesley, SP, Imprensa
Metodista, 1960, pela Junta Geral de Educação Cristã da I.M.B. p. 210.
[62] WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley. São
Paulo: Imprensa Metodista, 1965, p.215.
[63] Idem, p.215.
[64] Idem.
[65] REILY, Duncan Alexander. Expositor Cristão, março;1978,
p.11
[66] WESLEY, João. Trecho do Diário de João Wesley. p.22.
[67] REILY, Duncan Alexander. Expositor Cristão, março de
1978, p.11
[68] Sermões de Wesley. 2v. São Paulo: Imprensa Metodista,
1981, p.218.
[69] https://finestofthewheat.org/plain_account_01/
[70] Op.cit.
[71] BURTNER, Robert W. – CHILES,
Robert E. Coletânea da Teologia de João Wesley, SP, Imprensa Metodista, 1960,
pela Junta Geral de Educação Cristã da I.M.B. p. 210.
[72]
https://wideandhigh.com/blog/2007/09/18/john-wesley-and-sanctification/
[74] WESLEY, João. Sermões, v.VI, p.500.
[75]CHAVES, Odilon Massolar. Nossa fé, Nossa Crença. Publicado
pela Mecanografia do Instituto Metodista Bennett, p.46.
[76] WESLEY, João. Sermões. V.II, p.348.
[77]https://www.metodista1re.org.br/doutrina-da-criacao-do-ser-humano-e-o-pecado-original/
[78]https://www.umc.org/en/content/ask-the-umc-what-is-meant-by-the-term-image-of-god. Este conteúdo foi produzido por Ask
The UMC, um ministério das Comunicações Metodistas Unidos.
[79] Coletânea da Teologia de João Wesley, ibidem, p. 252.
[80] William
Tyndale ( Tyndale , Tindall , Tindill , Tyndall ; c. 1494 - c. 6
de outubro de 1536 ) foi um erudito inglês que se tornou uma figura
proeminente na Reforma Protestante no Reino Unido . anos que antecederam
a sua execução. Ele é bem conhecido por sua tradução (incompleta) da Bíblia para
o inglês .
https://en.m.wikipedia.org/wiki/William_Tyndale
[81] http://www.wbbm.org/john-wesley-sermons/serm-091.htm
[82] BURTNER, Robert W.; CHILES, Robert E. Coletânea da
Teologia de João Wesley. JGEC. São Paulo: Imprensa Metodista, 1960, p.97.
[83] Ibidem, p.101.
[84] Ibidem, p.103.
[85] Ibidem, p.105.
[86] Edward P.Thompson afirma que o metodismo talvez tenha
inibido a revolução (A Formação da Classe Operária Inglesa. 2 v. Ibidem,
p.264). Já o historiador francês Elie Halévy (1870 -1938), no livro História do
Povo Inglês no século XVIII, afirma que a Inglaterra tem uma dívida com o
metodismo porque ele impediu a Revolução semelhante a da França, em 1789.
[87] JOY, James Richard. O Despertamento Religioso de João
Wesley, Ibidem, p. 96.
[88] Ibidem, p.97.
[89] “O amor de Deus está no coração da tradição wesleyana.
Ele é a base de sua teologia, é o ímpeto para sua missão, e é a razão de sua
organização” (HEITZENHATER, Richard P.,
Ibidem, p. 321).
[90] WESLEY, João. Trechos do diário de João Wesley. Ibidem,
p.130.
[92] Ibidem, p.52.
[93] ______. Sermões de Wesley. 1 v, Ibidem, p.53.
[94] KLAIBER Walter;
MARQUARDT, Manfred, Ibidem, p.302.
[95] WESLEY, João. As marcas de um Metodista. São Paulo:
Imprensa Metodista, [s.d], p.1
[96] Idem.
[97] HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.252.
[98] Ibidem, p.127.
[99] Ibidem, p.23-
[100] WESLEY, João. Sermões de Wesley. v.2, ibidem, p.509.
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