Mãe encontra no rock um caminho para integrar o filho com autismo: 'Lá ele pode ser quem é', diz | São Carlos e Araraquara | G1

Por Amanda Rocha, g1 São Carlos e Araraquara


Ícaro e a mãe Monique são parceiros em shows de rock em São Carlos e Araraquara — Foto: Amanda Rocha/g1

O cabelo comprido e a camiseta de banda já entregam que Ícaro de Camargo Bernardo, de 11 anos, gosta de rock. E foi por meio do gênero musical que a enfermeira Monique de Camargo, de 40 anos, encontrou um caminho para integrar o seu filho com autismo em espaços de Araraquara e São Carlos (SP).

Neste domingo (12), Dia das Mães, veja como a paixão pela música ajudou Monique a melhorar a socialização de Ícaro.

'Ser quem ele é'

Frequentadora assídua de shows do underground na região, a enfermeira não mede esforços para incluir Ícaro nos rolês.

Riffs distorcidos de guitarra, vocais guturais e rodas de pogo encantam o garoto, que é fã de punk rock e grindcore. Bad Brains, Hellside, S.U.C , Cólera e Ratos do Porão são algumas das bandas que ele curte.

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A enfermeira araraquarense conta que percebeu nos eventos de rock independente mais acolhimento e integração do que em espaços tidos como típicos. Ícaro tem autismo de suporte nível 1, que não têm a presença de deficiência intelectual e em muitos casos possuem nível cognitivo bastante alto. (veja outros níveis).

“Por ele ser atípico e por estar em espaços underground, ele se sente a vontade por ter tanta diversidade. E nos show de rock, ele pode ser quem ele é, roqueiro, cabeludo e falar do que ele quiser. Nunca sofremos julgamento ou preconceito em espaços alternativos”, apontou.

A mãe desabafou que por ser "cabeludo", Ícaro já sofreu preconceito com perguntas do tipo: "'Você é uma menina?'. Isso o magoa muito, estou sempre o defendendo, de guarda levantada", contou.

Ícaro foi diagnosticado como autista aos dois anos, após a mãe e uma professora da creche desconfiarem dos comportamentos. Ele regrediu na fala e começou a rejeitar alimentos que comia.

Mãe roqueira

Monique disse que desde os nove meses levava Ícaro para shows, com a devida distância do palco e do som alto. Ela acredita que ao frequentar esses espaços juntos concilia a maternidade sem abandonar a sua individualidade. A enfermeira é mãe solo.

“Acredito que não tenho que deixar os espaços que conquistei e ocupei por ser mãe. Já abrimos mão de muita coisa maternando, sendo mulher e com toda carga que nos é imposta. É muito importante ele ter contato com música e cultura”, refletiu.

Ícaro é muito inteligente e comunicativo, adora conversar com as bandas e o público presente nos shows.

Em um evento recente em São Carlos, uma banda da Itália se apresentou e o garoto gastou o inglês conversando sobre pizzas com a vocalista. Ele estava curioso em saber se a italiana gostava dos recheios brasileiros, um tanto "exóticos", comparados ao de seu país.

"Eu gosto muito de ir nos shows, sou roqueiro igual a minha mãe! Nesse show eu conversei com a vocalista que era da Itália e perguntei se ela gostava de pizza de abacaxi", disse.

Ícaro é fã de punk rock e mostra o disco da banda italiana "Matrak Attakk" que tocou em São Carlos. Ele gosta de conversar com as bandas e público. — Foto: Amanda Rocha/g1

Cumplicidade e luta

Uma das características do autismo é o hiperfoco - um estado de concentração intensa onde a criança se detém em um assunto específico. Tecnologia, carros e a língua inglesa são seus temas preferidos.

“O Ícaro tem dificuldade de socialização com pessoas da idade dele, por ter hiperfoco os assuntos dele, às vezes, não são de interesse da faixa etária. É mais fácil para ele conversar com adultos, se sente mais a vontade e acolhido”, explicou.

Como entende muito sobre carros, ela costuma o levar ao mecânico. "Entende tudo e sabe desenrolar as peças. Me ajuda muito!", disse.

A enfermeira completou que ser uma mãe atípica é uma luta constante. Já enfrentou equívocos na escola, e em ambientes diversos.

“Muitas vezes ele não consegue se expressar, as crianças não entendem e há adultos que não sabem e não querem lidar. Mas apesar de toda luta com o meu filho, eu entendi que o amor é poderoso e transformador. Estou sempre pronta para defender ele”, conclui.

Uma tatuagem em formato de coração em homenagem ao filho estampa ainda mais o amor e cumplicidade entre os dois. Dentro do coração uma mão pequena segura em uma maior.

Monique fez uma tatuagem em homenagem ao filho que reflete todo o seu amor e cuidado. — Foto: Amanda Rocha/g1

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