Jardim Cinema: Michael Mann - "Colateral" / “Collateral"

domingo, 12 de maio de 2024

Michael Mann - "Colateral" / “Collateral"


Michael Mann
"Colateral" / “Collateral"
(EUA – 2004) – (120 min. / Cor)
Tom Cruise, Jamie Fox, Mark Ruffalo,
Peter Berg, Javier Bardem, Jada Pinkett Smith.

“Colateral” é um filme de acção, onde a psicologia do assassino nos é oferecida de forma fria e genial fazendo-nos recordar Tom Ripley, essa personagem criado por Patrícia Highsmith, que também já vimos no cinema, como devem estar recordados, tendo sido interpretado por Dennis Hopper, Matt Damon e John Malkovich. Mas Vincent (Tom Cruise), o assassino que cumpre os seus contratos de forma eficaz, veste um fato Armani, oferecendo-lhe esse toque “chic” que nunca foi visto no cinema, ao mesmo tempo que os seus movimentos são um verdadeiro bailado em busca dos alvos a abater.


No início de “Colateral” encontramos um homem de cabelo grisalho a chegar ao Aeroporto de Century City em Los Angeles e a trocar de mala de forma eficiente com alguém que o espera e depois a acção do filme leva-nos para a outra margem, para conhecermos um taxista chamado Max (Jamie Foxx), que no seu táxi se prepara para enfrentar mais uma noite de trabalho, que de imediato nos faz recordar o “Táxi Driver”, de Martin Scorsese. Ele é um taxista que cuida do seu carro e gosta de conversar com os clientes, ao mesmo tempo que vai alimentando o seu sonho de um dia vir a ter uma empresa de serviço de limusinas, para transportar os ricos e famosos. E o seu primeiro cliente dessa noite inesquecível será uma Procuradora (Jada Pinkett Smith), que revela a sua eficácia no controle das coisas ao indicar o percurso que deseja fazer para chegar mais rapidamente ao seu destino estabelecendo-se um longo diálogo entre ambos, que inevitavelmente convida ao conhecido “flirt”. Desta forma eficiente, Michael Mann faz-nos esquecer do homem de cabelo grisalho, que vimos no Aeroporto, até chegar esse momento em que o reencontramos a entrar no táxi de Max.


Este homem, que Max confunde com um executivo de uma empresa, necessita de ir a diversos locais em Los Angeles para tratar de uns assuntos prementes e propõe ao taxista que ele o acompanhe ao longo da noite, esperando por ele enquanto recolhe umas assinaturas de que necessita. Ao ver-se aliciado com um bónus extra, Max decide aceitar e ficar por conta deste homem afável, que lhe começa a falar sobre o sentido da vida e da forma como hoje em dia somos perfeitamente anónimos nas grandes cidades, falando-lhe do caso do morto que viajou várias horas no metropolitano de Los Angeles até alguém descobrir que ele tinha falecido. A empatia entre os dois instala-se e quando Max (Jamie Fox) aguarda num beco que Vincent (Tom Cruise) regresse do primeiro encontro, um homem morto com diversos tiros irá cair no tejadilho do seu carro, percebendo assim Max que se encontra afinal perante um assassino, que o irá obrigar a seguir com ele no carro até cumprir a missão para que foi contratado.


Michael Mann oferece-nos a sua visão do mundo do crime na sociedade contemporânea, com uma eficácia que deixa perfeitamente deslumbrado o espectador, ao mesmo tempo que ficamos maravilhados com o trabalho de contenção de Tom Cruise, que mais uma vez nos revela todo o seu talento.

À medida que as mortes se vão sucedendo, Max utiliza diversos expedientes para se ver livre do assassino, mas tudo em vão, conseguindo este surpreendê-lo quando ele menos espera: a visita à mãe de Max que se encontra no hospital; a ida ao clube de jazz para escutarem um pouco de música enquanto esperam pelo próximo assassínio, revelando-se os diálogos entre os dois uma verdadeira batalha psicológica, em que se vão testando, à medida que as horas passam e as mortes se sucedem, alertando a polícia que parte no seu encalço.


“Colateral” oferece-nos uma viagem na noite, que irá ter o seu ponto culminante quando Max percebe que o seu derradeiro trabalho se prende com a Procuradora que ele transportara horas antes, nascendo assim esse duelo final entre o bem e o mal, que conduz o filme a um moralismo que não estávamos à espera de encontrar em Michael Mann, pensando-se sempre num final verdadeiramente diferente.

Apesar de ser esta a opção do cineasta, “Colateral” oferece-nos sequências onde a habitual eficácia do criador de “Miami Vice” se revela fenomenal, ao mesmo tempo que a inevitável parábola irá surgir nesse duelo final no metropolitano.


Michael Mann, ao realizar “Colateral”, elabora de forma perfeita mais uma pérola da sua filmografia, envolvendo o espectador numa viagem à beira do abismo pelo interior da noite de Los Angeles, fruto de uma certa memória ou homenagem, se preferirem, ao denominado “film noir”.

Rui Luís Lima

Sem comentários:

Enviar um comentário