O romance épico inspirado em clássico da literatura francesa está na Netflix Pascal Chantier / Arte France Cinéma

O romance épico inspirado em clássico da literatura francesa está na Netflix

Miguel de Unamuno (1864-1936), pensador espanhol, pontuou com precisão que a vida consiste em esquecimento. Optamos por recordar certos momentos, enquanto outros aspectos menos agradáveis de nossa existência são relegados ao esquecimento. Inspirado pelo romance “Jacques, o Fatalista e seu Amo” (1778) de Denis Diderot, Emmanuel Mouret explora a figura de uma mulher precursora e inovadora em “Mademoiselle Vingança”, ambientado num período onde conceitos como feminismo e autoestima eram meras fantasias para as mulheres, vistas como inferiores socialmente, até que uma delas decide insurgir-se.

 Esta narrativa sobre aristocratas que se distraem com adultérios e jogos emocionais no século 18 reflete a imagem de uma elite degenerada, escondida sob vestes e adornos extravagantes, um tema que Anne Bochon destaca em sua meticulosa recriação da moda da época. Na era anterior à internet, nobres de variados extratos sociais manobravam uns contra os outros, como retratado em “Ligações Perigosas” (1782), de Choderlos de Laclos, obra que tem sido reinterpretada na cultura pop, como em “Segundas Intenções” (1999) e “Justiceiras” (2022).

Madame de La Pommeraye, a figura central, é uma viúva abastada que abandona a corte de Luís XV para viver em uma grande propriedade rural. Cécile de France traz à personagem a complexidade requerida, inicialmente mostrando uma mulher marcada por relações quase trágicas e resistindo com dificuldade às tentativas de sedução de Edouard Baer, que interpreta o Marquês d’Arcis, um notório sedutor que manipula suas conquistas com destreza. A narrativa avança permitindo que o Marquês prolongue sua presença na propriedade, com Madame de La Pommeraye percebendo-o como um homem transformado, levando-a a sucumbir a seu charme.

À medida que a trama se aproxima de seu clímax, Mouret traz personagens adicionais que elevam a intensidade do roteiro, fiel ao estilo de Diderot. Destaca-se Madame de Joncquieres, interpretada por Natalia Dontcheva, uma mulher outrora respeitável que enfrenta a desgraça ao ficar grávida de um nobre, e sua filha, Mademoiselle de Joncquieres, papel de Alice Isaaz, que assume um papel crucial no desenvolvimento da história.

“Mademoiselle Vingança” mantém a atmosfera de um drama do século XVIII, culminando em reviravoltas marcantes, com De France reafirmando sua presença, sem ofuscar os demais personagens. Críticos que consideram tais narrativas datadas são frequentemente contrariados pelos desenvolvimentos diários que desafiam essa noção.


Filme: Mademoiselle Vingança
Direção: Emmanuel Mouret
Ano: 2018
Gênero: Drama/Romance
Nota: 8/10