Francis Ford Coppola, o ‘Poderoso Chefão’ do cinema americano - ISTOÉ Independente

Francis Ford Coppola é um dos cineastas americanos mais venerados, conhecido por ser o autor da épica saga mafiosa “O Poderoso Chefão” e de um dos filmes de guerra mais impactantes da história, “Apocalypse Now”.

Aos 85 anos, ele gerou grande expectativa no 77º Festival de Cannes, onde apresentou seu filme “Megalopolis” nesta quinta-feira (16).

Coppola esteve na vanguarda do movimento conhecido como Nova Hollywood nas décadas de 1960 e 1970, ao lado de outros gigantes do cinema, como Steven Spielberg e Martin Scorsese. Juntos, eles desafiaram os limites dos grandes estúdios, que dominavam o negócio cinematográfico há décadas.

Esse ítalo-americano criado no distrito de Queens, em Nova York, é conhecido por ser combativo, difícil e, às vezes, frustrado por sua própria ambição. Aos 36 anos, já havia ganhado cinco Oscars.

– Uma infância solitária –

Nascido em 7 de abril de 1939 em Detroit, pouco antes de os Estados Unidos entrarem na Segunda Guerra Mundial, Coppola é filho de um músico e uma atriz.

Na infância, ele ficou confinado em sua cama pela poliomielite e desenvolveu sua imaginação criando espetáculos de marionetes e experimentando com filmes de 8 mm.

Coppola se formou em teatro na Universidade de Hofstra, em Nova York, e depois fez pós-graduação na Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA).

Foi lá que ele conheceu o rei dos filmes B, Roger Corman, que lhe deu sua primeira oportunidade de dirigir com “Dementia 13”, um filme cult.

Começou a trabalhar como roteirista e obteve seu primeiro sucesso significativo em 1968 com “O Caminho do Arco-Íris”, uma adaptação de um musical da Broadway.

Porém, desconfiado da influência dos grandes estúdios, que considerava muito conservadores, Coppola, junto com George Lucas – que mais tarde faria “Star Wars” – fundou sua própria produtora, a American Zoetrope, em 1969.

Um ano depois, ele colaborou no roteiro de “Patton, Rebelde ou Herói?” e conquistou seu primeiro prêmio da Academia.

– A máfia e o Vietnã –

Seu grande golpe cinematográfico veio em 1972: “O Poderoso Chefão”, uma epopeia sobre a família do crime Corleone, adaptada do sucesso literário de Mario Puzo.

Filmar o longa não foi fácil. Coppola teve que lutar para ter sua visão concretizada e resistir à pressão das “Cinco Famílias” de Nova York, as principais facções do crime organizado, que queriam eliminar as palavras “máfia” e “Cosa Nostra” do roteiro.

O elenco se tornou uma lenda do cinema: Marlon Brando, Al Pacino, Robert Duvall, James Caan e Diane Keaton.

O filme ganhou três Oscars, incluindo melhor filme, melhor ator (Brando) e melhor roteiro para Coppola e Puzo.

Em seguida, vieram o suspense psicológico “A Conversação”, vencedor da Palma de Ouro em 1974, e “O Poderoso Chefão II”, que levou seis Oscars, três deles para o próprio Coppola, incluindo o de melhor filme.

O cineasta, então, assumiu o que seria seu projeto mais difícil.

– “Meu filme é o Vietnã” –

“Apocalypse Now” é uma reinvenção do romance de Joseph Conrad “O Coração das Trevas” pelo prisma da guerra do Vietnã.

“O sucesso de ‘O Poderoso Chefão’ subiu à minha cabeça como uma lufada de perfume”, disse Coppola ao The New York Times em 1988. “Pensei que nada poderia dar errado”, confessou.

A realização do filme foi um inferno. Estendeu-se por muito tempo e ultrapassou o orçamento. O ator Martin Sheen, que sofria de alcoolismo, tentou agredir Coppola durante uma tomada e acabou sofrendo um ataque cardíaco.

Brando ameaçou suicídio. Um tufão destruiu todos os cenários e adereços. “Meu filme não é sobre o Vietnã, é o Vietnã”, declarou Coppola na época.

Ele acabou investindo 16 milhões de dólares (R$ 82 milhões, na cotação atual) do próprio bolso para concluir a obra. Ganhou uma segunda Palma de Ouro no Festival de Cannes e, no Oscar, o filme venceu duas das oito indicações que recebeu.

– Trabalhos recentes –

Embora Coppola possa ter desfrutado de seus maiores sucessos na década de 1970, ele permaneceu uma figura proeminente e de referência no cinema por muito mais tempo.

Nos anos 1980, apresentou ao mundo uma geração de jovens atores – Tom Cruise, Rob Lowe, Patrick Swayze – em “Vidas sem Rumo”.

Na década seguinte, voltou aos Corleone com “O Poderoso Chefão III” e dirigiu “Drácula de Bram Stoker”, sua versão do famoso vampiro, aplaudida pela crítica.

Depois de um período relativamente tranquilo na década de 2000, durante o qual recebeu um Oscar honorário, voltou ao desenvolvimento de sua épica utopia “Megalopolis”, que foi adiada por muito tempo.

Coppola é talvez o membro mais reverenciado de uma prolífica família comprometida com o cinema: seu pai, sua irmã, sua filha, Sofia, e seu filho trabalharam no mundo do entretenimento.

Três gerações dos Coppola – seu pai compositor, Carmine, ele mesmo, Sofia e seu sobrinho, Nicolas Cage – são vencedores do Oscar.

Nos últimos anos, o cineasta se dedicou também a outra paixão, o vinho, comprando vinhedos no Vale de Napa, na Califórnia. Propriedades que ele precisou empenhar para realizar “Megalopolis”.

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