Como o “príncipe” do Hamas se tornou um espião de Israel
Preso em 1996, Mosab Hassan Yousef virou o maior e mais
valioso informador de Israel sobre atividades do grupo fundado pelo seu próprio
pai, Hassan Yousef
Mosab Hassan Yousef tinha tudo para se tornar o próximo
líder do Hamas, movimento de resistência palestiniano: é o filho mais velho de
Hassan Yousef, chefe do grupo na Cisjordânia e um de seus históricos
fundadores. Mas o destino levou-o para uma direção totalmente contrária.
Mosab foi preso várias vezes por agentes do serviço interno
de inteligência de Israel, conhecido como Shin Bet. Em 1996, contudo, a sua
história dá uma reviravolta na qual ele termina por se tornar um dos maiores
aliados de Israel na luta contra o grupo idealizado pelo próprio pai. Na época, tinha apenas 17 anos.
A história, digna de um livro de suspense, é contada no
documentário The Green Prince. Dirigido por Nadav Sherman, o nome do
filme refere-se ao apelido dado pelas forças israelitas ao jovem Mosab.
Ele estava sendo treinado para se tornar o próximo líder do
Hamas, explicou Sherman para a rede de notícias americana CNN. Como sua consciência mudou e
evoluiu durante o processo de trabalho com Israel, então o seu maior inimigo, é
algo fascinante, ponderou o diretor.
No documentário, Mosab revela que colaborar com os israelitas
era a coisa mais vergonhosa que alguém como ele poderia fazer. Mesmo assim,
colaborou.
Na prisão, ele conta ter ficado especialmente incomodado com
a violência com a qual outros presos, também membros do Hamas, conduziam
interrogatórios com aqueles que acreditavam estar cooperando com o governo de
Israel. Passou então a questionar quem, afinal, era seu verdadeiro inimigo.
E é neste momento que entra em cena o agente israelita Gonen ben Yitzahk,
o responsável pelo seu recrutamento. Num primeiro momento, logo que Mosab foi
convidado a trabalhar para Israel, a sua motivação era alimentada por vingança.
A ideia era simular que estava trabalhando por Israel e,
mais tarde, agir contra seus novos chefes. Mas isto não aconteceu.
Mais tarde, passei a ter uma perceção diferente das coisas,
revelou. Meus olhos abriram para o facto de que um homem-bomba não diferencia
americanos de israelitas ou cristãos de muçulmanos. Ele não liga para a própria
vida. E isso tinha que acabar.
Se para a família, a mudança foi inaceitável, para Israel,
foi valiosa. Quando o recrutamos, sabíamos muito pouco sobre o Hamas, o que
era, como funcionava, a sua política interna e a sua ideologia, contou ben
Yitzahk ao The New York Times.
Mas ele deu-nos uma visão especial: o seu pai tinha contato
com todos os líderes do Hamas em Gaza, Cisjordânia e Síria. Era como se
estivéssemos dentro de sua mente. Mosab trabalhou infiltrado no Hamas por cerca
de 10 anos e era um dos principais informadores da atividade do grupo que
Israel tinha em mãos.
As informações fornecidas por ele colaboraram para evitar
dezenas de ataques suicidas, assassinatos de israelitas e expôs numerosos
grupos terroristas. Segundo o Shin Bet, Mosab Yousef foi considerado a mais
confiável fonte infiltrada na liderança do Hamas, recebendo a alcunha de
“príncipe verde”, em uma referência à cor usada pelo grupo.
Em 2007, ele deixou a região e mudou-se para os Estados
Unidos, onde procurou asilo político e converteu-se ao cristianismo. Mosab
nunca mais falou com a sua família. Eles agora repudiam-me, contou à CNN.
Fonte: Exame, 17 de outubro de 2014
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