O dólar à vista exibiu valorização consistente frente ao real, um dia após a decisão não consensual do Comitê de Política Monetária (Copom) em cortar as taxas de juros no ritmo de 0,25 ponto percentual. Na leitura dos operadores e estrategistas a divergência entre os integrantes do colegiado afetou a credibilidade do Banco Central e, hoje, um prêmio de risco foi embutido nos ativos brasileiros. Não à toa, o real teve hoje a pior performance do ranking de 33 moedas mais líquidas acompanhadas pelo Valor.
Terminadas as negociações do mercado à vista, o dólar comercial fechou em alta de 1,01%, cotado a R$ 5,1422, depois de ter tocado a mínima de R$ 5,1365 e encostado na máxima de R$ 5,1768. O euro comercial, por sua vez, teve valorização de 1,35%, a R$ 5,5439. O real também sofreu frente moedas emergentes, caindo 1,84% frente ao peso mexicano e perdendo 1,24% contra o peso colombiano.
Perto das 17h05, o dólar futuro para junho avançava 1,12%, a R$ 5,1535. Enquanto isso, o índice DXY exibia depreciação de 0,31%, aos 105,220 pontos.
A sessão de hoje mostrou os mercados locais mais estressados por conta da decisão de juros do Copom de ontem. A decisão, em si, não deveria resultar em desvalorização do câmbio doméstico. Pelo contrário, com um corte menor da Selic, o estreitamento do diferencial de juros tende a ser mais lento, o que costuma beneficiar o real frente ao dólar. Mas a forma como a decisão foi alcançada ontem preocupou os participantes do mercado. Dos nove integrantes do colegiado, cinco votaram pelo corte de 0,25 ponto percentual e quatro, por uma redução de 0,50 ponto.
Por conta dessa fragmentação e incerteza em relação à política monetária futura é que os ativos brasileiros foram penalizados na sessão de hoje, segundo Luis Garcia, diretor de investimentos da SulAmérica Investimentos. “Sem dúvida, o que estamos vendo é uma precificação para um cenário mais incerto, com a credibilidade da instituição Banco Central diminuindo na margem”, diz o executivo. “Essa é a grande mensagem que a movimentação nos preços dos ativos passou para nós nesta quinta-feira — o que fica ainda mais evidente porque hoje os ativos no exterior estavam mais calmos.”
O chefe da mesa de operações do C6 Bank, Felipe Garcia, também observa a dificuldade do real em acompanhar os pares, hoje, mas diz que o movimento de apreciação do dólar pode se acomodar com uma possível internalização de capital por meio de exportadores. “O nível do dólar acaba chamando atenção do exportador, o que pode tirar um pouco da pressão. Mas, para um movimento mais consistente, é fundamental que o mercado entenda como se deu esse dissenso”, afirma. “O comunicado foi bem enxuto; até tentou construir uma unanimidade em torno dos próximos passos, embora não tenha explicitado as divergências. Isso vamos tentar entender na ata.”
Para o executivo do C6, o prêmio embutido no câmbio com a divergência no Copom até pode se desfazer um pouco depois da divulgação da ata, mas deve permanecer enquanto houver incerteza em relação à condução da política monetária. “Até sabermos quem vai ser o novo presidente do Banco Central, quem vai ser o indicado pelo governo Lula para a vaga, vai haver dúvidas sobre como o combate à inflação vai ser conduzido. Depois disso, pode ser que o prêmio se desfaça ou até aumente.”