Você irá rir até domingo: desligue o cérebro e aproveite o filme mais divertido da Netflix Sabrina Lantos / Netflix

Você irá rir até domingo: desligue o cérebro e aproveite o filme mais divertido da Netflix

Dois indivíduos bastante diferentes têm seus caminhos cruzados quando um deles acaba na casa onde o outro já se encontra — um enredo aparentemente confuso, mas esclarecedor. Equívocos banais frequentemente evoluem para situações complexas, repletas de tensão e perigo. Pessoas comuns, cuja simplicidade ofende até mesmo o mais ingênuo dos homens, são confundidas com assassinos profissionais, indivíduos implacáveis que levam seu trabalho a sério, sem tempo para brincadeiras ou interações sociais supérfluas. Inevitavelmente, surgem momentos cômicos em meio a esse caos, especialmente quando um dos criminosos cita poetas do século 19, utilizando seus versos como um código de identificação. O outro, por sua vez, apenas domina a arte de vender planos de academia, mas começa a perceber que pode ir além se conseguir assimilar a estranheza daquele universo diferente, grotesco e ao mesmo tempo fascinante.

A absurda coincidência desse encontro casual se desdobra em dimensões incontroláveis em “O Homem de Toronto” (2022), uma comédia dirigida por Patrick Hughes que reúne temas aparentemente desconexos, mas interligados pelo absurdo das situações que se desenvolvem gradualmente. Teddy Nilson, o desajeitado anti-herói interpretado por um Kevin Hart naturalmente engraçado, decide passar um tempo em um chalé rústico em Onancock, Virgínia, sudeste dos Estados Unidos. No entanto, devido a um defeito na impressora, ele não distingue o número da casa especificado no contrato. Acaba batendo à porta de Randy, um vilão de personalidade instável, interpretado por Woody Harrelson, que vê na coincidência uma chance de se aposentar milionário, livrar-se da chefe obsessiva (interpretada por Ellen Barkin) e abrir seu restaurante cinco estrelas. Obstáculos inevitavelmente surgem: Teddy não é exatamente um exemplo de coragem, mas sua falta de bravura choca o pragmatismo sanguinário de Randy, que precisa ensinar o básico da máfia ao novo aspirante a discípulo.

Hughes constrói o filme de forma a transformar o desconforto entre os personagens de Hart e Harrelson em uma amizade genuína, apesar do temperamento antissocial de Randy, que só demonstra carinho pelo seu Dodge Charger 1969 440 R/T, apelidado de Debora. Teddy, por outro lado, é o típico americano pacato, inabalável em sua fé na humanidade e satisfeito com um emprego medíocre que lhe permite viver confortavelmente com sua esposa, Lori (interpretada por Jasmine Matthews). Mesmo assim, eles se unem para enfrentar os criminosos mais bem treinados do mundo, começando pelo Homem de Miami, interpretado por Pierson Fodé (um nome a ser lembrado) numa transição impressionante de galã para papéis mais exigentes. Maggie, a melhor amiga de Lori, vivida por Kaley Cuoco, entra como uma coadjuvante de luxo, enriquecendo a narrativa com suas tiradas cínicas sobre o relacionamento de Lori, que sempre passa o aniversário de casamento sozinha.

No segundo ato, o roteiro de Bremner e Fox faz uma menção desnecessária a Sebastián Marín, interpretado por Alejandro de Hoyos como o corrupto presidente da Venezuela, talvez para atenuar uma possível futilidade — como se um filme não pudesse ser meramente divertido, sem pretensões maiores, e fosse obrigado a incluir um tema sério para ser considerado para premiações. Felizmente, “O Homem de Toronto” retorna ao seu curso, mostrando a que veio com suas inúmeras reviravoltas, perseguições, trocas de socos, dublês bem ensaiados e criminosos que leem Yeats.


Filme: O Homem de Toronto
Direção: Patrick Hughes
Ano: 2022
Gêneros: Ação/Comédia
Nota: 8/10