'Bodkin', série produzida por Obama para a Netflix, vale a viagem?
PUBLICIDADE
Por

Lançada há poucos dias pela Netflix, “Bodkin” já escalou a lista das séries mais vistas da plataforma no mundo. Ela chegou rapidamente ao terceiro lugar, ficando atrás somente da imbatível “Bebê Rena” e de “Thank you next”. Criada por Jez Scharf, a série tem produção executiva de Barack e Michelle Obama. Entre altos e baixos, ela tem belas paisagens e elenco eficiente. A ação se passa numa cidadezinha rural fictícia da Irlanda chamada Bodkin.

A ação começa em Londres. Acompanhamos a protagonista, a repórter do The Guardian Dove (Siobhán Cullen), até um apartamento onde ela encontra uma fonte sua assassinada. Na cena seguinte, ela tem uma conversa dura com seu editor. Ele a afasta do caso. Quer protegê-la de uma possível investigação da polícia. Entendemos que há algo no passado da moça que pode prejudicá-la. Dove reage, mas ele, irredutível, exige que ela vá para a Irlanda, participar de um podcast de true crime de sucesso, apresentado por um americano.

Gilbert Power (Will Forte) e Dove seguem bússolas profissionais opostas. Ela é quase uma caricatura da repórter investigativa. Antipática, aguerrida e incansável, entrevista emparedando seu interlocutor. Embora muito respeitada pela sua competência, ela não tem jogo de cintura. Já Gilbert se especializou em true crime e pratica um jornalismo que se aproxima do entretenimento. Não busca denunciar ou desenterrar alguma verdade. Está sempre atrás do que chama de “boas histórias”, mesmo que elas sejam só pura distração. Defende que é preciso construir uma sintonia com o entrevistado. Tudo em nome do charme das gravações.

bodkin — Foto: netflix
bodkin — Foto: netflix

Os dois se antagonizam assim que se conhecem. Através do embate dos personagens, a série discute alguns caminhos do jornalismo. O sucesso dos podcasts e a multiplicação de conteúdos sobre true crime está no centro da história. A manipulação das fontes para obter uma história “saborosa” em detrimento da informação correta é outro ponto nevrálgico que puxa o enredo. Há também uma pretensão de fazer isso com humor, mas os roteiristas fracassam.

Em entrevistas, Scharf declarou que sua intenção foi “exaltar a cultura irlandesa”. Porém, quando a trama desembarcou por lá, houve uma chuva de críticas ao abuso de estereótipos, coisa que não vai incomodar o espectador brasileiro — e isso é uma vantagem. Porém, não é preciso ser um “irlandólogo” para notar que o roteiro se esforça bastante para mostrar hábitos locais, música típica e comportamentos estereotipados, como o gosto exagerado por cerveja.

As paisagens são lindas e encantam mais do que o suspense. Em certos momentos, a história recorre ao sobrenatural, o que puxa o resultado para baixo. No cômputo geral, é um enredo bobinho, com muitos exageros caricaturais, mas com bonita fotografia e qualidade de produção. São sete episódios de pura distração.

Mais recente Próxima 'O museu', no Star+: ótima comédia da mesma dupla de 'Meu querido zelador'