Escrever à mão ou digitar? O que é melhor para o cérebro na aprendizagem. Maria Alice Fontes – Clínica Plenamente

Escrever à mão ou digitar? O que é melhor para o cérebro na aprendizagem. Maria Alice Fontes

Atualmente, não importa qual a idade da criança, todas parecem ter nascido com a habilidade de dominar o teclado e realizar as mais diferentes atividades pelos aparelhos eletrônicos. E com isso, o bom e velho papel e caneta acabam ficando de lado. Essa troca, porém, pode ser considerada benéfica? 

Segundo um estudo de cientistas da Universidade de Ciência e Tecnologia da Noruega (NTNU) a resposta é NÃO. Publicado na revista científica Frontiers in Psychology, o resultado do monitoramento de 36 estudantes universitários que repetidamente escreveram ou digitaram uma palavra dentro de um conjunto selecionado previamente de forma aleatória, apontou que escrever com lápis ou caneta aumenta a conectividade cerebral em diferentes regiões do órgão

No teste, os estudantes usaram um computador e uma caneta digital. A escolha dos pesquisadores pela escrita manual com uma caneta digital buscou destacar que não necessariamente é necessário renegar os avanços tecnológicos. 

A professora Audrey van der Meer, pesquisadora do cérebro na universidade e autora do estudo, afirmou que, com a escrita à mão, os padrões de conectividade cerebral são muito mais elaborados, o que é crucial para a formação da memória e codificação de novas informações.

Isso indica que a escrita à mão pode potencializar o aprendizado. “As diferenças na atividade cerebral estão relacionadas à formação cuidadosa das letras ao escrever à mão e ao mesmo tempo fazer maior uso dos sentidos”, explicou a cientista. 

Van der Meer ressaltou ainda que a escrita manual requer coordenação motora das mãos e exige que as pessoas prestem atenção no que estão fazendo. Já a digitação demanda movimentos mecânicos que são realizados repetidas vezes, nesta situação o foco é substituído pela velocidade.

A pesquisadora norueguesa ainda ressalta que as crianças devem receber formação de caligrafia nas escolas e, paralelamente, serem ensinadas quanto ao uso do teclado.

Desta forma, deve-se desenvolver uma consciência de quando utilizar a escrita manual ou um dispositivo móvel, seja para uma simples anotação ou para escrever textos mais longos.

Um outro estudo, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, publicado em 2012, já havia confirmado a eficácia da escrita manual na aprendizagem das letras, em comparação a métodos como visualização e digitação, durante a idade pré-escolar.

Em uma era com tantos vídeos e bombardeamento de informação a cada segundo, manter o foco e a concentração é um desafio. A escrita à mão exige um nível de atenção que pode ser extremamente benéfico para as crianças, ajudando-as a desenvolver uma capacidade de foco mais aguçada.

Já os movimentos delicados ajudam no fortalecimento dos músculos da mão e na melhoria da coordenação mão-olho, essenciais para tarefas como a alfabetização e a fluência na compreensão de um texto.

Além disso, a escrita à mão é uma forma de as crianças expressarem a própria identidade, emoções e criatividade. Isso não apenas enriquece o desenvolvimento emocional, mas também fortalece a autoestima.

Como estimular essa prática?

Já que ficou provado que escrever à mão é excelente para o desenvolvimento infantil, como é possível estimular esse hábito em casa? Veja abaixo algumas ideias simples: 

  • Criar um ambiente propício: uma mesa em algum cantinho da casa, uma lousa em destaque na parede, com lápis, caneta, giz de cera e papel de diferentes tipos e texturas.
  • Escrever tarefas da casa: fazer um bilhetinho, ajudar a redigir a lista de compras, escrever cartões de aniversário ou anotar recados mostram à criança a utilidade da escrita em situações reais.
  • Promover jogos e brincadeiras: forca, Stop (ou adedonha), cruzadinhas, criar histórias em quadrinhos, fazer um livro artesanal, adivinhar o filme com mímica escrevendo a resposta no papel.
  • Investir em elementos de papelaria divertidos: canetas coloridas, borrachas com carinha, cadernos estampados podem tornar a escrita mais atraente para as crianças.
  • Criar um momento de escrita durante o dia: manter um diário antes de dormir ou fazer um pequeno livro com histórias com as crianças.
  • Incentivar brincadeiras manuais desde o começo: desenhar, brincar de massinha, montar lego ou quebra-cabeças estimulam a coordenação motora fina e podem facilitar o processo da criança de aprender a escrita à mão.
  • Celebrar o progresso: celebrar os esforços e avanços é fundamental para reforçar a autoconfiança e o interesse da criança, além de entender que cada uma vai ter um ritmo diferente na aprendizagem.

Conclusão

Suportes de escritas digitais como computadores, smartphones, notebooks e tablets possibilitam novas aprendizagens, mas criaram desafios, principalmente quanto à escrita. 

A digitação é uma atividade mais passiva e menos envolvente para o cérebro do ponto de vista cognitivo, em comparação à escrita. 

A escrita à mão, exige que a criança se concentre na forma de cada letra, coordene o movimento da mão com o que vê e lembre-se das regras de ortografia e gramática. Isso estimula o cérebro a manter um nível de atenção sustentada e ativa áreas como processamento visual, memória e controle motor.

Por isso, a dependência excessiva da digitação e da interação com dispositivos digitais em idades precoces pode resultar em oportunidades perdidas para o desenvolvimento do foco, atenção e outras habilidades cognitivas durante o período crítico de desenvolvimento cerebral. Assim sendo, o equilíbrio entre a digitação e a escrita à mão é a chave para um desenvolvimento cognitivo e motor saudável nas crianças.

Colaboração: Mônica Merlini

Fontes:

https://www.frontiersin.org/news/2024/01/26/writing-by-hand-increase-brain-connectivity-typing

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25541600/