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Sobradinho

Natureza responde a erros do homem com chuva, calor e seca

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José Seabra - Foto Maurício Tonetto/Via ABr

O primeiro aviso em rede nacional veio nos anos 70 do século passado. Foi no folhetim ‘Sobradinho’, da Vênus Platinada. O ‘sertão vai virar mar’ é um dos versos da trilha sonora de Sá e Guarabyra para a novela Mar do Sertão. O tom, crítico, diz da ação do homem confrontando as forças da natureza.

Como o assunto, ontem como hoje, é água em abundância, seja represada ou em corredeiras invadindo cidades, mantém-se aqui a mesma entonação. A citação à hidrelétrica erguida na Bahia, engolindo cidades e florestas, não é um mero acaso. E sugere que depois da tempestade, nem sempre vem a bonança.

Sobradinho, música lançada há mais de 40 anos, é sempre lembrada pelo verso ‘sertão vai virar mar’. A frase tem uma história por trás – “o homem chega, já desfaz a natureza, tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar”. Os primeiros versos da canção já mostram em que direção vão as críticas de Sá e Guarabyra.

Não se pode encorajar, no vasto teatro da natureza, que a humanidade continue desempenhando um papel ambíguo. Ao longo dos séculos, erguemos maravilhas, exploramos terras distantes e desvendamos os segredos do universo. Contudo, em seu despertar, esse trajeto de descoberta também deixou um rastro de destruição e desequilíbrio.

É sabido que nos confins mais remotos, onde as montanhas tocam o céu e os rios fluem com uma calma eterna, a natureza guarda sua própria sapiência. Uma sabedoria que agora parece despertar em resposta ao fardo que impusemos sobre ela.

As mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e a poluição desenfreada parecem soar como gritos silenciosos da Terra, com o planeta protestando enquanto suporta as consequências de nossas ações. À medida que avançamos, transformando florestas em concreto e céus límpidos em fumaça tóxica, a própria Terra se prepara para nos lembrar de sua presença.

As tempestades furiosas, os incêndios devastadores e as secas implacáveis são como advertências. Servem como um lembrete da capacidade da natureza de reagir diante das ameaças que lhe impomos. Não é uma vingança calculada, mas sim uma reação natural a um desequilíbrio que criamos.

Neste jogo de causa e efeito, somos os jogadores imprudentes, esquecendo que nossas ações têm consequências além de nossos interesses imediatos. A Terra é paciente, mas não infinitamente tolerante. Ela demonstra que pode responder às nossas agressões com uma serenidade imperturbável, uma recordação de que somos parte de algo maior do que nossa própria existência.

No entanto, mesmo em meio às sombras da devastação, há esperança; há de se evitar que o sertão vire mar, e vice-versa. A resposta da natureza não é apenas uma reprimenda, mas também um convite para a reflexão e a ação. Nos escombros de nossa insensatez, podemos encontrar a inspiração para mudar nosso curso, para cultivar uma nova relação com o mundo que habitamos.

Basta de brincar de ‘Sol com chuva, casamento de viúva” e “Chuva com Sol, casamento de espanhol”. Os tempos mudaram. É hora de reconhecermos nossa responsabilidade como guardiões deste planeta; o homem precisa restaurar o equilíbrio quebrado e honrar a preciosa teia de vida da qual faz parte.

Só assim – é nosso entendimento -, quando aprendermos a viver em harmonia com a natureza, é que poderemos verdadeiramente encontrar um Jardim do Éden. Se não for desse jeito, o lar que compartilhamos continuará a desabar sobre nossas cabeças, a nos sufocar a respiração e a deixar nossos pés rachados de pisar em solo seco.

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