Especial Ayrton Senna: título de 1990 o solidifica como um dos maiores pilotos da história

Especial Ayrton Senna: título de 1990 o solidifica como um dos maiores pilotos da história

Em 1990, Ayrton Senna conquistou seu segundo título mundial de Fórmula 1, solidificando sua posição como um dos maiores pilotos do automobilismo. Correndo pela equipe McLaren, Senna demonstrou uma combinação de destreza técnica e mental que o destacou dos demais competidores. A temporada de 1990 foi marcada por momentos intensos e uma rivalidade acirrada, especialmente com Alain Prost, que agora estava na Ferrari.

O brasileiro Ayrton Senna conquistou seu segundo título mundial pela McLaren-Honda, e novamente o Campeonato Mundial de Pilotos foi decidido numa colisão em Suzuka, no Japão. Depois de Prost se sagrar campeão em 1989, desta vez, Senna levou a melhor e eliminou as chances de Prost conquistar o tetra com seu Ferrari 641. O piloto francês precisava vencer a prova, mas nove segundos depois da largada, antes de completarem a primeira curva do autódromo japonês, os dois se encontraram numa colisão e ambos acabaram atolados na caixa de brita.

Além de conquistar o título, Senna conseguiu dez poles positions, somando a 52ª da carreira, uma marca incrível que até os dias de hoje fica difícil alguém ameaçar. Além disso, venceu seis corridas, conquistando sua 26ª vitória na Fórmula 1, superando Jim Clark e Niki Lauda, chegou ainda duas vezes em segundo lugar e três em terceiro.

O tricampeão Nelson Piquet, que não vencia uma corrida desde Monza em 1987, deixou a Lotus e assinou com a Benetton, reencontrando o lugar mais alto do pódio por duas vezes em 1990, ao vencer os GPs do Japão e Austrália, penúltima e última provas da temporada.

Para a felicidade dos brasileiros, além do título de Senna e das vitórias de Piquet, outro brasileiro fez a festa em Suzuka com a segunda colocação, Roberto Moreno, companheiro de Piquet na Benetton. Moreno substituiu Alessandro Nannini na equipe, após este ter sofrido um sério acidente de helicóptero, no qual teve sua mão direita decepada. O italiano não pôde mais sentar num cockpit de F-1, apesar de sua mão ter sido reimplantada numa cirurgia. Nannini voltou a pilotar, só que optou por provas de turismo, pilotando para a Alfa Romeo no DTM alemão.

A Ferrari venceu seu 100º grande prêmio na Fórmula 1 em 1990, esta histórica vitória aconteceu no GP da França, em Paul Ricard, conquistada pelo francês Prost, 39 anos depois da primeira, na Inglaterra em 1951.

O italiano Riccardo Patrese voltou a vencer, agora na Williams, no ano em que comemorou seu 200º GP.

Pela primeira vez, um filho de um ex-campeão da Fórmula 1 alinhou num grid de grande prêmio. O piloto foi David Brabham, filho do tricampeão australiano Jack Brabham, que fez sua estreia pela ex-equipe da família, no GP de Mônaco, abandonando a prova na décima sexta volta, com problemas no câmbio de seu BT59-Judd. Seu irmão mais novo, Gary, também tentou mas não conseguiu classificar seu Life F 190, nos treinos do GP dos EUA.

Pela primeira vez também um piloto japonês conquistou um pódio na categoria máxima, foi Aguri Suzuki com seu terceiro lugar no GP de seu país.

O campeonato terminou com três brasileiros entre os dez melhores do mundo. Senna em primeiro com 78 pontos, sete à frente de Prost. Piquet conquistou a terceira colocação com 43 pontos e Moreno foi décimo colocado com seis pontos conquistados. Maurício Gugelmin enfrentou problemas com seu irregular March-Judd e terminou na 18ª posição, com apenas 1 ponto, do sexto lugar conseguido no circuito belga de Spa-Francorchamps.

Além dos irmãos Brabham, só mais dois pilotos estrearam em 1990, os italianos Gianni Morbidelli e Claudio Langes.

A nota triste da temporada foi o terrível acidente de Martin Donnelly com seu Lotus partindo-se em dois, durante os treinos do GP espanhol, em Jerez de la Frontera. O piloto irlandês de 26 anos escapou por milagre, mas ficou muito tempo hospitalizado para se recuperar totalmente.

Algumas das corridas mais significativas da temporada de 1990:

1. Grande Prêmio dos Estados Unidos (Phoenix)
Senna conquistou a vitória, porém a primeira metade da prova foi dominada pelo jovem Alesi, que surpreendentemente manteve-se à frente dos McLaren-Honda de forma consistente. Alesi superou Berger logo na largada e rapidamente se distanciou, causando surpresa. Contudo, mesmo após Berger sair da pista, a pressão sobre o piloto francês não diminuiu, pois Senna, que assumiu o segundo lugar, decidiu atacar apenas ao perceber que Alesi não trocaria de pneus. A resistência de Alesi foi o ponto alto da corrida.
Boutsen garantiu mais um pódio, mesmo enfrentando problemas no motor, e Piquet foi o melhor entre os que trocaram de pneus, chegando a estar em terceiro lugar, seguido por Prost, Boutsen e De Cesaris, que havia assumido a terceira posição logo após a largada. Modena terminou a corrida colado a Piquet, e Nakajima foi o último piloto a pontuar.
“Estou surpreendido por ter ganho esta corrida. Quando vinha para o circuito não estava à espera que o carro fosse tão competitivo, pois tinhamos começado a testá-lo apenas há duas semanas e não se tinha mostrado muito equilibrado. Por outro lado, arrancar em quinto era quase uma novidade para mim, uma vez que nas últimas 24 corridas tinha ficado 22 vezes na “pole” e as outras duas em segundo. E isto aconteceu numa pista de cidade, onde é sempre difícil ultrapassar”, disse Senna.

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Foto: XPB Images

2. Grande Prêmio de Mônaco (Monte Carlo)
Ayrton Senna controlou a corrida do início ao fim, liderando em ambas as largadas, dado que a prova foi interrompida logo após a primeira, devido a um acidente envolvendo Prost e Berger na curva de Mirabeau, que também afetou Modena. Prost ocupou a segunda posição nas primeiras trinta voltas, mas após seu abandono, Alesi assumiu essa posição, constantemente pressionado por Berger. Patrese, que havia se distanciado de Boutsen, também teve que abandonar, e Boutsen, que inicialmente perdeu posições para Mansell após um pit stop, recuperou o quarto lugar quando Mansell desistiu perto do final.
Quase no fim, Warwick perdeu o quinto lugar ao rodar nas Piscinas, o que beneficiou Caffi. O último lugar a pontuar foi para Bernard, que ultrapassou Foitek quando este foi forçado a sair para a área de escape da chicane do porto após um toque na traseira.
“Para mim, a principal dificuldade era a largada, pois queria chegar à frente na primeira curva. Fiz um bom arranque, por isso não me agradou nada ter que fazer uma segunda largada. E quando vi que a interrumpção tinha sido provocada por uma colisão entre o meu companheiro de equipa e o Prost, nem queria acreditar… Tivemos que repetir tudo, e voltei a largar bem”, disse Senna.

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Foto: XPB Images

3. Grande Prêmio do Canadá (Montreal)
Senna foi o vencedor da corrida, embora Berger tenha liderado a maior parte das voltas. No entanto, Berger foi penalizado em 1 minuto por ter largado antecipadamente. Aproximadamente 44 minutos antes da largada, começou a chover novamente, fazendo com que a pista, que estava quase seca, voltasse a molhar, obrigando todos os pilotos a usar pneus de chuva.
Senna tomou a liderança, seguido por Berger, Nannini, Alesi e Piquet. No entanto, as trocas de pneus e vários incidentes quase simultâneos causaram grandes alterações na classificação. Após Nannini liderar brevemente, Senna estabeleceu uma vantagem de cerca de meio minuto sobre Prost, e simplesmente administrou essa margem, mesmo com Berger tecnicamente à frente dele devido à penalização.
Na disputa pelo segundo lugar, a competição entre Piquet, Mansell e Prost foi o destaque da segunda metade da corrida. Problemas nos freios atrasaram Prost, que acabou perdendo o quarto lugar para Berger por menos de um segundo. A última posição a pontuar foi para Warwick, que superou Patrese, que também enfrentava problemas nos freios.
“Dentro do carro não pude compreender, obviamente do que se passou atrás de mim. Lembro-me de ver qualquer coisa, como um ‘flash’, mas depois fiz um arranque mais progressivo e pude colocar-me à frente, mas sem saber se a partida tinha sido regular ou não. Depois fui informado da penalização do Gerhard (é para isso que serve o rádio ligado às “boxes”), mesmo antes de me ultrapassar, por isso não estava preocupado com ele e sim com os que vinham atrás de mim: o Prost, o Nelson e o Mansell. O resultado deste ano compensa o que não tive o ano passado, apesar de ter dominado a corrida quase até ao fim”, disse Senna.

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Foto: XPB Images

4. Grande Prêmio da Alemanha (Hockenheim)
Ayrton Senna largou bem e, aproveitando sua pole position, rapidamente assumiu a liderança à frente de Berger, com o pelotão atrás mantendo praticamente as mesmas posições de largada. Senna, Berger, Prost e Mansell conseguiram distanciar-se de um grupo formado por Patrese, Piquet e Nannini, de onde Piquet se desgarrou após sair reto na primeira chicane ao tentar ultrapassar Patrese.
Justo antes das trocas de pneus de Berger e Prost, que ocorreram na mesma volta, Mansell teve um pequeno acidente que danificou a asa dianteira esquerda do seu carro, levando-o a abandonar a prova. Após liderar sozinho por duas voltas, Senna também foi aos boxes para trocar os pneus.
Quando retornou à pista, Senna encontrou Nannini à sua frente, que então liderou a corrida por 16 voltas. Senna reassumiu a liderança a 12 voltas do fim, enquanto Nannini manteve-se à frente de Berger. Prost, por sua vez, permaneceu isolado no quarto lugar, distante de Patrese e Boutsen.
“A combinação de pneus “C” com tanque cheio tornou bastante difícil manter o ritmo no início da corrida, quando o Gerhard estava perto de mim. Ele era pressionado pelos Ferrari e, por sua vez, me pressionava também, por isso fui obrigado a manter um ritmo mais elevado do que gostaria, para poder manter o comando, mas forçando o menos possível os pneus. Quando o ‘box’ me avisou que o Berger e o Prost tinham parado, os meus pneus também já não estavam bem, por isso decidi mudá-los, mas quando voltei à pista vi uma bandeira azul e deixei passar o Nannini, pois não convinha forçar com os pneus ainda frios. Pensei que não teria problemas para o ultrapassar, mas não foi isso que aconteceu”, disse Senna.

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Foto: XPB Images

5. Grande Prêmio da Itália (Monza)
Ayrton Senna manteve-se na liderança desde o início, com Berger e Alesi próximos. Alesi abandonou a corrida cedo, permitindo que Prost diminuísse a diferença para os líderes e ultrapassasse Berger. No entanto, Senna já havia construído uma vantagem significativa, que Prost não conseguiu reduzir.
Mansell permaneceu em quarto lugar, sem atacar os líderes, mas mantendo Nannini sob controle até a parada nos boxes do italiano. Posteriormente, Patrese ficou muito distante para ameaçar Mansell, e o último ponto pontuável foi para Nakajima, beneficiando dos abandonos de Boutsen, Gugelmin e Capelli, bem como das paradas nos boxes da equipe Benetton.
“Agora estou com 16 pontos de vantagem, o que é melhor do que ter 13, e também é preferível ter 6 vitórias do que 5… Daqui saio com uma posição mais confortável, no entanto o campeonato ainda está completamente aberto. Por isso, tenho que continuar a trabalhar como até agora e visar resultados do mesmo nível dos que tenho conseguido. As duas próximas corridas, em Portugal e Espanha, irão ser duras, mas veremos”, disse Senna.

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6. Grande Prêmio do Japão (Suzuka)
A corrida em Suzuka foi o clímax da temporada, onde Senna e Prost colidiram na primeira curva. Este incidente controverso efetivamente garantiu o campeonato para Senna, uma vez que Prost foi forçado a abandonar, enquanto Senna continuou na corrida por mais algumas voltas antes de se retirar. Foi dia também de dobradinha do Brasil com Nelson Piquet e Pupo Moreno nos dois lugares mais altos do pódio.
Na segunda volta, no mesmo local, Berger também saiu da pista. Isso deixou Mansell na liderança, controlando a corrida até sua parada nos boxes. No entanto, sua transmissão quebrou ao voltar para a pista, o que permitiu que Piquet e Moreno, substituindo Nannini, assumissem as duas primeiras posições de forma definitiva, sem a necessidade de trocar de pneus, ao contrário dos demais concorrentes.
Suzuki garantiu o terceiro lugar logo após a metade da corrida, quando Patrese teve que fazer uma parada nos boxes, apesar de estar usando pneus mais duros do que Boutsen, que perdeu muito tempo durante a parada. No entanto, nenhum deles conseguiu se aproximar de Suzuki no final da corrida, mas ambos conseguiram segurar a pressão de Nakajima, que também terminou na zona de pontuação após uma batalha bem-sucedida contra os carros Lotus-Lamborghini.
“É formidável voltar a ganhar, e ainda mais agradável por ter comigo no pódio o meu amigo Moreno! Não pensávamos poder bater os McLaren e Ferrari, pois não dispunhamos de potência suficiente para isso, então nos concentramos na luta pelo terceiro lugar no Mundial de Construtores, contra a Williams”, disse Piquet após a vitória.

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Foto: XPB Images

7. Grande Prêmio da Austrália (Adelaide)
Senna liderou por 61 voltas antes de Piquet assumir o comando nas últimas 20 voltas, devido a um erro de passagem de marcha que levou Senna a sair da pista e abandonar a corrida. Nas primeiras 30 voltas, Senna enfrentou forte pressão de Mansell, enquanto Piquet ultrapassava Berger e Prost, que estavam logo atrás, mas não conseguiam acompanhar os líderes.
Quando os pneus do Ferrari de Mansell começaram a perder aderência, ele teve um leve deslize e foi ultrapassado por Piquet, Prost e Berger. No entanto, Mansell fez uma recuperação espetacular e, nas últimas voltas da corrida, ameaçou seriamente a liderança de Piquet.
“Foi uma ótima vitória para mim e para todos os que confiaram em mim dentro da equipe. Já há muito tempo que esperava poder ganhar uma corrida assim, pois em Suzuka tive muita sorte. Agora pude demonstrar que o meu carro é muito competitivo nestes tipos de circuitos em que a potência do motor não é muito importante”, disse Piquet.

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Foto: XPB Images

A temporada de 1990 foi uma demonstração da mestria de Ayrton Senna, não apenas como um piloto rápido, mas como um competidor astuto e resiliente. Seu segundo título mundial foi conquistado em meio a desafios intensos, mas foi a sua determinação e foco que o separaram dos demais pilotos. Senna não apenas venceu corridas; ele capturou a imaginação de fãs ao redor do mundo, consolidando sua lenda no esporte.