Muanza Emanuel – de zungueiro a engenheiro Manuel Emanuel – De zungueiro a engenheiro, Angop - Agência Angola Press

Muanza Emanuel – de zungueiro a engenheiro

     Economia           
  • Luanda     Segunda, 20 Maio De 2024    01h04  
Linhas de serviços, bordado e costura
Linhas de serviços, bordado e costura
Herlander Massaqui

Cacuaco – O jovem Muanza Maquiesse Emanuel “MME”, de 34 anos de idade, notabilizou-se como um exemplo de sucesso capaz de inspirar muitos outros a desenvolver o espírito de empreendedorismo.

Por Serafim Canhanga e Claudete Ferreira, jornalistas da ANGOP

Com uma simples impressora e um computador a imprimir e digitalizar documentos, em pleno Mercado do Kikolo, MME tornou o sonho em realidade ao fazer forte aposta num projecto que agora oferece emprego a 90 outros jovens.

Tudo partiu de um investimento de 10 mil kwanzas, há cerca de 10 anos, quando este valor equivalia a 100 dólares americanos, hoje equiparados a 100 mil kwanzas.

Além do Kikolo, MME calcorreou outros pontos da cidade na “zunga” (venda ou serviço ambulante), incluindo bairros como Augusto Ngangula, Gesso e Paraíso, onde imprimia, fotocopiava e digitalizava documentos de vizinhos, amigos e outros clientes.

Com o apoio do pai, transferiu-se para um espaço maior, junto à Estrada Nacional (EN) 100, que atravessa a vila sede de Cacuaco, e de lá conseguiu mais dois computadores e impressora, que o galvanizaram a fazer trabalhos ambulatórios gráficos no percurso Paraíso-Kikolo e vice-versa.

Mas, essa rota era temida na altura, dada a fama da criminalidade associada ao bairro Paraíso. Alguns dos seus clientes sofreram assaltos, quando o procuravam e, por isso, eles próprios aconselharam o seu prestador de serviços a procurar um local mais seguro, contou.

Inconformado com a insegurança, mas determinado a alcançar uma maior clientela, tomou de arrendamento um outro espaço maior na vila sede do Cacuaco e, acto contínuo, de arrendatário passou a proprietário do imóvel, onde viria a criar uma estrutura maior.

Alargamento dos serviços prestados

Na nova estrutura criada, Maquiesse Emanuel alargou o seu raio de actuação a áreas como imobiliária e segurança privada, entre outros serviços da marca MME.

A estrutura, actualmente com um capital social acima dos 50 milhões de kwanzas, assegura emprego aos 90 outros jovens com idades compreendidas entre os 18 e os 34 anos.

Mais tarde, estendeu essas áreas também às províncias do Bengo, do Cuanza-Sul, do Huambo e do Bié e prevê avançar com o mesmo objectivo para as províncias do Zaire e Uíge, sua terra natal.

O jovem Emanuel é hoje engenheiro informático e empreendedor de referência, no Cacuaco, prestando os seus vários serviços, que garantem sustento aos agregados de muitos chefes de família.

Num dos eventos promovidos pela Administração Municipal do Cacuaco, foi eleito o “Melhor Empreendedor do Ano de 2023” na circunscrição, onde é tratado carinhosamente por MME nas lides administrativas locais.

Por via disso, impôs-se como uma das fontes de inspiração para muitos dos seus seguidores.

Aliás, o título de Melhor Empreendedor de 2023 do Cacuaco valeu-lhe um “Trófeu de Mérito” cujo certificado exibiu aos jornalistas com um “sorrizo radiante” durante a reportagem ao seu empreendimento.

Diz não querer envaidecer-se ou baixar a guarda, mas da gráfica, onde foi designer gráfico, e de uma linha industrial de costura, tenciona alargar a sua acção com a construção de um Instituto Médio de Saúde.

Após a sua formação em engenharia informática e outras capacitações ligadas a área de designer, estabilizou-se no empreendedorismo com a criação de uma gráfica maior, terciarizando os serviços de costura a outras fábricas.

Com uma gestão sólida e maturidade financeira, a sua equipa conseguiu investir primeiro nas máquinas e, depois do início do trabalho, surgiu a ideia da criação de uma empresa de segurança privada, num projecto que passou a ser detido em contitularidade com o seu pai.

À semelhança do primeiro do imóvel, o dono do espaço ocupado pela empresa de segurança propôs-lhe a sua venda, em 2022, desafio prontamente abraçado por MME, que passou novamente de inquilino a proprietário.

“Dizia sempre ao senhor administrador municipal, um dos mentores da juventude, alguém que trouxe muita experiência para nós, a camada juvenil, que é mesmo aqui, no Cacuaco, onde iria fazer uma coisa sem igual”, recordou.

Diz ter acreditado no seu projecto e reconhece ter tido muitos apoios, sobretudo da Administração Municipal, “que quer trabalhar para ajudar a sociedade”, pelo que as portas foram-lhe abertas “sem nenhum obstáculo” na hora de cumprir com os pressupostos legais e “sem burocracias”.

Neste momento, o jovem projecta construir, a partir do ano em curso, uma Escola de Saúde de 16 salas de aulas, com capacidade de acolher mais de mil alunos, prevendo-se a sua inauguração, em Setembro de 2025.

Desafio da crise económica com pandemia da Covid-19

MME considera que o grande desafio enfrentado foi a queda do sistema económico com a pandemia da Covid-19, registada recentemente, que forçou ao encerramento parcial da empresa, durante cerca de um ano.

“Após a Covid-19, a empresa reabriu as portas”, disse, realçando que, durante a pandemia, foram celebrados vários contratos importantes “que nos permitiram ter outras portas abertas” com a confecção de máscaras, com as quais apoiavam sectores como o Ministério do Interior, a Saúde, a Total, as Universidades, a Televisão Pública de Angola (TPA) e algumas famílias vulneráveis.

“Os desafios são enormes, tivemos várias barreiras, que têm a ver com a queda do dólar e a paragem do fornecimento da matéria-prima para a facilidade do nosso exercício, mas a esperança foi a última coisa a morrer. Conseguimos mantermo-nos firmes (…)”, enfatizou. 

Além de Luanda, a rede MME está implantada no Bengo, no Cuanza-Sul, no Huambo e no Bié, onde fornecem materiais de bordados a alguns institutos de saúde locais.SEC/COF/IZ





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