MORANDO COM O CRUSH | Crítica do Neófito
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Críticas

MORANDO COM O CRUSH – Um festival de vergonha alheia | Crítica do Neófito

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É até difícil para este colunista de cinquenta e poucos anos fazer a crítica de Morando com o Crush, novo filme nacional produzido pela Paris Filmes, Paramount Pictures, com distribuição do Telecine, dirigido por Hsu Chien (Desapega, 2023), e estrelado por Giulia Benite (Turma da Mônica: Laços e Lições), Vitor Figueiredo, Marcos Pasquim e Carina Sacchelli, com participação especial de Juliana Alves.

Isto porque, do ponto de vista técnico – roteiro, fotografia, direção de arte, montagem, direção de atores, atuações etc. – o filme é uma bomba total, primário mesmo.

No entanto, parece que o filme – pertencente ao gênero Comédia Romântica Adolescente – é voltado especificamente para o público da Geração Alpha (nascidos a partir de 2010), uma vez que os “conflitos” e todo o entorno dos acontecimentos estão permeados pelos símbolos desta geração, ou seja, smartphones, aplicativos de mensagens e de chamadas online, redes sociais, “draminhas” tolos e vazios que ganham dimensão intergaláctica, tudo embrulhado num pacote de vergonha alheia absoluto, arrematado com um laço de “politicamente correto” (reparem nos beijinhos comportados do casal central).

De modo que, talvez, o filme cumpra bem seu objetivo de entreter esse público em específico e possa viralizar no meio dessa galerinha, a qual se identifique com os medos, inseguranças e situações embaraçosas/constrangedoras que afetam a vida dos protagonistas adolescentes.

Mas, vamos lá, analisar um pouco mais as coisas.

A história de Morando com o Crush mostra a jovem órfã materna Luana (Benite) vivendo uma paixão platônica pelo colega de classe Hugo (Figueiredo). Quando finalmente parece que o casal dará um passo para além do flerte, o pai de Luana, Fábio (Pasquim) anuncia, totalmente de surpresa que, não só precisarão mudar da capital carioca para o interior do Estado por razões profissionais, como passarão a morar com a namorada dele, Antônia (Sacchelli), que também tem um filho de 15 anos.

E quem é o filho de Antônia? Claro que é Hugo, o crush de Luana.

Foto: Divulgação (irmãos-namorados, mas sem nada a ver com Game Of Thrones!)

Tudo bem que comédias românticas não são exemplos de primor de roteiro, abusando de situações inusitadas para ou unir ou criar uma situação de tensão entre o casal principal, mas a primariedade da presente construção chega a ser ofensiva, afinal, que tipo de pais-solo de filhos de 15 anos anunciaram, de supetão, que estariam namorando às escondidas, que iriam se mudar para outra cidade e que passariam a morar juntos, sem qualquer aviso ou sinal prévio e, tipo assim, no dia seguinte ao anúncio?

Daí pra frente o roteiro – se é que isso pode ser chamado de roteiro – ignora qualquer tipo de lógica temporal ou circunstancial para trocar logo de cenário, passando a história para uma fictícia cidade serrana do Rio de Janeiro, na qual Luana e Hugo – que logicamente esconderam dos pais que estão apaixonados – terão que se passar por irmãos gêmeos e despertarão o interesse amoroso/rivalidade dos também adolescentes filhos dos novos vizinhos – Priscilla (Júlia Olliver) e Edu (Ryancarlos de Oliveira), mais a caçula Tetê (Sara Alves) – cuja mãe é vivida por Juliana Alves (Karina), que também é a diretora da única escola particular da cidade, a qual possui uma limitação de vagas para alunos, a não ser – claro! – que sejam irmãos gêmeos.

O roteiro é de uma previsibilidade irritante: o garoto não sabe o que quer fazer no futuro, mas adora olhar para as estrelas com sua luneta (jura?); a mocinha quer ser médica, já que a mãe falecida era médica (será?); a menina com perna quebrada ganha uma câmera com teleobjetiva e dorme num quarto com janela de frente para os quartos dos vizinhos (homenagem à Janela Indiscreta de Hitchcock, que deve ter se contorcido no túmulo!); a garota conta um segredo para o garoto que, logicamente, vai fazer mal uso daquilo (novidade!); a escola promove um concurso tradicional somente para competidores irmãos (que criativo!!); a mãe do garoto gosta de comida saudável, enquanto o pai da garota adora uma comida gordurosa (nossa, que conflito!); tem o “faz tudo” da cidade, Cleidir (vivido por Ed Gama) – cópia escrachada (e piorada) do Ramone (Oscar Nunez) do filme A Proposta (2009) –; tem a disputa de “macheza” entre os jovens rapazes…

Putz! Dá para antecipar cada acontecimento do filme, das “reviravoltas” ao final, sem qualquer esforço, porque tudo é esquemático e burocrático, além de jogado na cara do espectador em letreiro gigante em luzes neons!

Sem falar que os “dramas” são mais artificiais que o rosto atual de Donatella Versace e rasos como folha de seda! Mas, mesmo assim, os personagens dizem que aquilo representa uma bagunça completa nas suas vidas, fazendo-os perderem o rumo (mesmo que tenham apenas 15 anos).

No tocante às atuações – indo do pior ao menos ruim – Marcos Pasquim continua no esforço de se descolar da imagem de “galã descamisado da novela das 7” que tanto marcou sua carreira. Para isso, entrega-se ao pastelão absoluto em Morando com o Crush, ostentando barriga acentuada e cenas cômicas (com direito a “defeitos especiais”) que fariam os esquetes do antigo Os Trapalhões soarem como teatro shakespeareano!

Carina Sacchelli circunscreve-se a sorrisos forçados e ao estereótipo da mãezona-mulher-moderna, que trabalha fora em cargo de chefia, cuida da saúde da família (portanto, cozinhando mal) e das coisas da casa.

Foto: Divulgação (com pais como estes, a terapia é garantida!!)

O cast adolescente faz o que pode, mas seus personagens são muito bidimensionais e rasos, como stories do Instagram! Passam de adversários a melhores amigos com a mesma velocidade que um beija-flor bate suas asas.

O belo Vitor Figueiredo – com 19 anos – consegue encarnar com competência o adolescente de 15 – bonito, simpático e desejado pela maioria das garotas – mas não tem mais nada o que fazer, senão ficar sorrindo e dando piscadelas (com direito a efeito sonoro).

A única que entrega alguma coisa menos que o medíocre é a cada vez mais bela Giulia Benite, que consegue arrancar alguma naturalidade e emoção genuína da sua Luana, ainda que o roteiro não lhe ofereça quase nada com o que trabalhar e compor a personagem.

Em termos técnicos, há falhas de continuidade, de direção de arte e de montagem que qualquer um com algum conhecimento de cinema conseguirá detectar. A fotografia da fictícia cidadezinha onde se passa a trama é a única coisa bonita, afinal, é quase impossível não conseguir boas locações, iluminação e cores naturais deslumbrantes em cada canto do país.

Divertida Mente (2015) trabalha o mesmo tema de Morando com o Crush – adolescente(s) tendo que se subitamente se mudar para outra cidade/vida – de forma duzentos por cento mais competente e profunda, o que comprova que o tema, em si, poderia render uma boa história, o que não é o caso desta produção nacional.

Do jeito que ficou – somado ao protagonismo de Giulia BeniteMorando com o Crush poderia muito bem ser um derivado de Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo (outra mega-bomba do atual e declinante cinema nacional).

É preocupante pensar que o cinema do Brasil esteja cada vez mais circunscrito a este tipo de produção “enlatada”, feita para preencher catálogo de plataforma de streamings; a comédias físicas e escrachadas; ou a filmes “cabeça”, sempre de baixo orçamento e ambientados no “mundo cão”.

Para encerrar, fica o desabafo de dizer que foi bastante custoso encarar a uma hora e meia desta comédia adolescente.

Mas, talvez, este colunista é que esteja datado e sem compreender as novas demandas da Geração Alpha e o filme seja adorado por este público. Vai saber?

Até a próxima viagem, passageiros Nerdtrip!

Foto: Divulgação (sonhando com roteiros melhores!)


Nota: 1,5 / 5 (ruim)

 


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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