Apenas este ano, cabos furtados da Light equivalem à extensão da Ponte Rio-Niterói e representam prejuízo de R$1,7 milhão
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Por , e — Rio de Janeiro

Quem precisou pegar o metrô nas primeiras horas da manhã desta terça-feira encontrou o sistema paralisado em 16 estações da Linha 2, da Pavuna à Cidade Nova. A suspensão das viagens entre 5h e 6h20, que afetou 30 mil pessoas a caminho do trabalho e de outros compromissos, foi provocada por um roubo. Durante a madrugada, ao menos 12 criminosos, armados com pistolas e revólveres, entraram na subestação de energia da concessionária em Colégio, na Zona Norte, fizeram funcionários reféns por quase quatro horas e levaram cerca de 160 metros de cabos.

Pouco depois das 5h, na Glória, na Zona Sul, policiais militares passavam pela Avenida Augusto Severo quando flagraram criminosos furtando 300 quilos de cabos de cobre da rede da Light. O grupo usou um machado e equipamento para cortar o material conectado a um gerador de energia portátil.

Na Glória, Almir Santos Silva, Italo dos Santos Silva, Cristiano Vitor de Paula, Vagner Dias Firmino e Ainah Taimah de Azevedo Pinheiro foram presos em flagrante e encaminhados à delegacia. Os cabos furtados, e recuperados, foram avaliados em R$ 9 mil — não houve dano perceptível ao abastecimento de energia. Na subestação de Colégio, o estrago foi maior. A polícia estimou o valor dos fios roubados em R$ 144 mil, mas o Metrô ainda vai calcular o tamanho real do prejuízo. Há controvérsias sobre a quantidade de material surrupiado: seriam 80 metros, segundo agentes da 27ª DP (Vicente de Carvalho), ou 160 metros, de acordo com o MetrôRio.

Infográfico — Foto: Editoria de Arte
Infográfico — Foto: Editoria de Arte

Crimes recorrentes

A conta do descalabro de ontem, que atrapalhou a vida de milhares de usuários, soma-se à de episódios anteriores. Só este ano, a concessionária registrou mais sete casos de furto de cabo na rede — a operação, no entanto, ainda não tinha sido afetada. A subestação de energia de Colégio, que fica ao lado da favela Para-Pedro, é cercada por arame e avisos sobre a presença de fios de alta tensão, além de muros que podem chegar a 8 metros de altura. Segundo o depoimento de um funcionário, os bandidos forçaram a porta e convenceram as vítimas a permitir o acesso, dizendo que não fariam nada contra elas.

— Durante a madrugada ninguém fica por essa rua, muito menos em frente ao portão. É perigoso, não tem policiamento. O guarda, geralmente só um por turno, fica lá na frente — disse um funcionário ao GLOBO, enquanto apontava para uma curva cerca de 200 metros distante da subestação.

A PM foi acionada às 5h, quando os criminosos já haviam deixado o local e os reféns foram liberados. Além dos cabos, televisões, computadores, ferramentas, refletores, TVs e micro-ondas foram levados. Policiais da 27ª DP (Vicente de Carvalho) ainda não identificaram os suspeitos.

Equipes do 41º BPM (Irajá), que fica a poucos metros da subestação, fizeram ontem uma operação emergencial na comunidade Para-Pedro, com o objetivo de recuperar o material, além de prender os autores. Durante a ação, foram retiradas barricadas que obstruíam ruas da comunidade. Na localidade conhecida como Caixotaria, informou a PM, “os agentes foram alvo de disparos efetuados por um homem armado”, que foi preso após um “cerco tático”, e uma pistola calibre 40 foi apreendida. Cabos roubados em outras ações criminosas — mas não os do metrô —também foram recuperados.

Medidas de prevenção

De acordo com Leonardo Bersot, gerente de operação e manutenção da rede subterrânea da Light, essa estrutura é a mais visada pelos criminosos por ser mais robusta e ter valor maior. Para inibir a ação desses bandidos, a concessionária tem trocado os cabos de cobre por equivalentes de alumínio, e as tampas de ferro fundido vêm sendo substituídas pelas de fibra.

— Também fazemos reuniões com o comando (de Polícia Militar) de cada local, para passarmos a nossa experiência e o modus operandi dos criminosos — observa Bersot, que ainda destaca a importância de a companhia registrar as ocorrências na Polícia Civil.

Através de convênio com a PM, a Light também tem suas equipes acompanhadas por policiais em caso de necessidade. A concessionária informa que foram registradas 105 ocorrências de furto de cabo nos quatro primeiros meses deste ano. O número aponta aumento de 164% em comparação ao mesmo período do ano passado. O prejuízo em 2024 chega a R$ 1,7 milhão: já foram levados 12.845 metros de cabo — que, esticados, chegariam quase de uma ponta a outra da Ponte Rio-Niterói. Centro, Copacabana e Ipanema aparecem no topo do ranking de furtos, seguidos por bairros da Zona Oeste: Barra da Tijuca, Recreio e Anil.

Carro usado pelos criminosos, com partes dos cabos sobre o veículo — Foto: Reprodução / X
Carro usado pelos criminosos, com partes dos cabos sobre o veículo — Foto: Reprodução / X

No dia a dia da Companhia de Energia de Tráfego da cidade (CET-Rio), o problema se repete. Na Zona Sul, 515 metros de cabo e até um controlador semafórico — que faz o sinal de trânsito operar — foram furtados neste ano, causando prejuízo de R$ 52 mil. Na Glória, onde um grupo foi flagrado levando material da Light ontem, houve aumento de 50% de ocorrências, na comparação de janeiro a abril de 2024 com o mesmo período do ano passado.

A cada três horas e meia, um furto de equipamento de concessionária de serviço público ou de empresa de telefonia é registrado no Estado do Rio. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) obtidos pelo GLOBO, na comparação do segundo semestre de 2022 com o de 2023, verificou-se um aumento de 108% nas ocorrências: foram 1.490 registros no ano passado, contra 716 em 2022.

Para onde vai a carga?

Furtos e roubos como os de ontem se repetem, e resultam em grande prejuízo material. Os crimes recorrentes também levantam a discussão sobre o destino da carga desviada, e as atenções se voltam para os ferros-velhos. No ano passado, o GLOBO revelou o caminho feito por metais roubados, que acabam entrando na cadeia legal da reciclagem e chegando a siderúrgicas. Leis estaduais proibiram ferros-velhos de receber, armazenar e vender hidrômetros e fios de cobre de origem desconhecida. A legislação também determina o controle de compradores e vendedores, através da emissão de nota fiscal e do uso de câmeras de monitoramento.

Cabe à Delegacia de Roubos e Furtos cadastrar esses estabelecimentos. Segundo a Polícia Civil, houve 341 pedidos e 188 receberam o Certificado Estadual de Reciclagem (CER). A corporação não informou se já multou ou aplicou sanção administrativa contra alguma empresa irregular. Em nota, disse que investiga toda a cadeia criminosa. Em 2021, o governo estadual anunciou uma força-tarefa contínua com diversas secretarias para coibir o furto de fios. Procurado, o Palácio Guanabara não informou os resultados desse trabalho, nem se o grupo permanece ativo.

Na capital, a Secretaria municipal de Ordem Pública (Seop) também foca na fiscalização. Desde 2022, apreendeu 115 toneladas de fios de cobre em visitas a 210 ferros-velhos. A pasta também realizou demolições de estabelecimentos que ocupavam áreas públicas irregularmente.

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