10 mulheres famosas que foram vítimas de abuso sexual infantil ou na adolescência
Por , redação Marie Claire — São Paulo (SP)


Anitta, Xuxa, Shantal Verdelho e mais famosas que já falaram abertamente sobre o abuso que viveram na infância ou adolescência — Foto: Reprodução/Instagram
Anitta, Xuxa, Shantal Verdelho e mais famosas que já falaram abertamente sobre o abuso que viveram na infância ou adolescência — Foto: Reprodução/Instagram

A ocorrência do abuso infantil é ainda um assunto velado na sociedade brasileira, por mais que aconteça em larga escala. Ao longo dos anos, falar se tornou uma maneira necessária de expor essa ferida.

Muitas mulheres famosas já deram depoimentos corajosos e falaram francamente sobre a violência sexual que passaram quando eram crianças ou adolescentes. Romper o silêncio foi a maneira que muitas delas encontraram para poder visibilizar a questão e, assim, encorajar que vítimas peçam ajuda ou que adultos consigam detectar quando essa violação está acontecendo.

A cada uma hora, seis crianças ou adolescentes são vítimas de violência sexual no Brasil – por ano, são 51.971 vítimas entre zero e 17 anos. É o que apontam os dados da 17ª edição do Anuário de Segurança Pública, divulgado em 2023 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). A maior parte delas são meninas pretas e pardas.

Dados projetados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indicam que apenas 8,5% dos casos são denunciados. Um boletim divulgado pelo Ministério da Saúde em maio de 2023 mostra que, nos casos em que as vítimas têm entre zero e nove anos, 68% dos autores do crime são familiares e pessoas conhecidas.

A seguir, veja testemunhos dados por mulheres famosas, que se abriram sobre o abuso infantil que viveram e os impactos em suas vidas.

Xuxa Meneghel

Símbolo máximo da infância para diversas gerações de brasileiros, Xuxa causou comoção em 2012 ao revelar ao Fantástico, da TV Globo, que foi vítima de abuso infantil. Na época, ela afirmou que os abusos eram cometidos por um professor, um amigo do pai e um homem que se casaria com a avó dela, e que só conseguiu se livrar da situação quando completou 13 anos. "Quando lembro que tudo isso aconteceu e não pude fazer nada porque eu não sabia, não tinha experiência... O que uma criança pode fazer? Tinha medo de falar para o meu pai e ele achar que era eu quem estava fazendo isso", afirmou.

Procurada por Marie Claire, Xuxa relembrou o que viveu e afirmou que não superou a dor, mas se acostumou com ela. "Um abusador ou um pedófilo chega como um amigo muito próximo a alguém, que brinca, faz cosquinha, fala carinhoso. E aí é que acontece", afirmou.

Ela também fez um apelo para que as pessoas ouçam seus filhos. "Às vezes, sem palavras, ele diz muita coisa. Por favor, preste atenção nos seus filhos. Hoje sou uma mulher que não posso dizer que superei, mas posso dizer que me acostumei com essa dor e com tudo que vivi e passei. E gostaria muito que pelo menos uma ou duas crianças agora, depois de ouvir esse relato, que vocês consigam salvar, observar e deixar que isso não aconteça com elas também."

Anitta

Em 2020, a cantora falou abertamente sobre o abuso sexual que sofreu aos 14 anos na série documental Anitta: Made in Honório, da Netflix. Sozinha e se gravando com uma câmera, ela afirmou que se envolveu com um "homem autoritário" e que tinha "medo das reações dele quando ele estava estressado". Assim, ela aceitou se relacionar com ele por receio do comportamento dele.

"Quando eu cheguei lá, eu realizei que não era certo fazer aquilo por medo nem nada. Eu falei que eu não queria mais, mas ele não ouviu. Ele não falou nada. Ele só seguiu fazendo o que ele queria fazer. [...] Quando acabou, ele saiu, foi abrir uma cerveja, eu fiquei olhando para a cama cheia de sangue", narrou. Em seguida, ela afirma que só tinha parado de pensar que a culpa era dela há pouco tempo.

A cantora, cujo nome verdadeiro é Larissa Machado, afirma que foi ali que aconteceu o start para criar a persona Anitta.

"Peguei isso que eu vi e transformei em uma coisa para me fazer sair por cima e melhor. Para todos vocês que se perguntam da onde nasceu a Anitta, nasceu daí: da minha vontade e necessidade de ser uma mulher corajosa, que nunca ninguém pudesse machucar ou fazer chorar, que sempre tivesse uma saída para tudo."

Monique Evans

Em entrevista concedida em 2015 a Marie Claire, a apresentadora, ex-modelo e atriz afirmou que foi vítima de violência sexual quando tinha 14 anos. Um dos autores do crime foi seu primeiro marido, o empresário Oswald Evans.

"Uma amiga da Praia de Ipanema me chamou para almoçar com a família e, ao chegar lá, estavam apenas o namorado dela e outro rapaz. Eles deviam ter uns 16, 17 anos. Zombaram de mim de um jeito agressivo, dizendo que me viam no Posto 9 com uns biquínis escandalosos e que mulher que se vestia daquele jeito queria outra coisa. Então me atacaram", lembrou na ocasião.

"Não lembro ao certo o que fizeram, são apenas flashes que tenho na memória. Sei que não houve penetração, mas passaram a mão pelo meu corpo, me mandaram fazer umas coisas neles... Um desses rapazes era o Oswald."

Evans afirmou que se casou com Oswald porque, seis anos depois, ele pediu perdão. "O Oswald voltou tão arrependido, queria cuidar de mim... Acreditei que, se aceitasse seu afeto, fecharia meu ciclo de sofrimento", lembrou. O abuso impactou a vida sexual de Evans. "Só tive coragem de transar pela primeira vez aos 18, com um namoradinho que estava comigo havia dois anos. Não deixava que me tocasse direito e às vezes chorava depois de ir para a cama com ele."

Gabriela Prioli

A advogada e apresentadora contou ao jornal O Globo em 2023 que foi abusada sexualmente quando tinha sete anos, por um adolescente que frequentava a casa de sua família.

"Ele era mais velho que eu, e tocava minhas partes íntimas. Não contei para ninguém na época, achava que era uma brincadeira", contou, afirmando que só percebeu que a questão era séria quando passou a se sentir incomodada com a memória.

Mesmo depois de anos, Prioli afirmou que se sentia culpada e como se tivesse "menos valor" pelo que aconteceu. "Você não entende direito o que aconteceu e em alguma medida pensa que, por não ter contado para ninguém, ou resistido com firmeza, a culpa é sua. Mas não é, você era uma criança. É um assunto que eu ainda trabalho em terapia.

Alice Wegmann

Após finalizar as gravações da série Justiça 2, disponível no Globoplay, a atriz fez um longo desabafo em suas redes sociais sobre ter sido vítima de abuso sexual infantil – assim como sua personagem, Carolina, que é abusada pelo tio, vivido por Murilo Benício.

"Me despedir das personagens é sempre mais difícil do que entrar nelas. Talvez porque dentro eu esteja desde sempre, ou elas dentro de mim. Carolina me trouxe desafios e enfrentamentos muito íntimos, a história dela cruza com a minha e com a de milhares de meninas e mulheres do nosso país. A maioria esmagadora de nós já sofreu abusos, dentre eles estupros, assédios e outros tipos de violência. Eu já sofri. Contar essa história que a [autora] Manuela Dias botou no papel é contar a história de um Brasil real", escreveu Wegmann.

Ela afirma que vê o papel de Carolina e o seriado como "uma denúncia". "Dar vida à Carolina foi como dar também um tanto mais de vida a mim mesma. [...] Que 'Justiça 2' chegue no coração de vocês para questionar, transformar e mudar o curso da história."

Karol Conká

A rapper, cantora e compositora revelou que foi vítima de importunação sexual quando tinha 14 anos, no caminho das aulas de dança contemporânea. O abuso aconteceu em um ônibus. "Esse homem dizia 'Vou te encontrar no ônibus. Eu era muito pequena. Morava no bairro e tinha que ir até o centro. Como eu ia sozinha, não fui mais", contou em entrevista ao Universa em 2022. "Fiquei com medo e contei para a minha mãe, mas não tinha muito o que fazer."

Shantal Verdelho

Em uma entrevista concedida em 2020 à Glamour Brasil, a influenciadora digital revelou que foi vítima de abuso sexual aos sete anos. O autor do crime era um motorista que a levava para a escola quando morava em Porto Velho, capital de Rondônia.

O homem era segurança de um banco que ficava perto da casa onde morava, e era pago pela mãe para levar Verdelho para a escola por passar no local no caminho. "As coisas começaram devagar, aos poucos. [...] Demorei um pouco para sacar. 'Isso não é nada, deve ter sido sem querer, passou a mão sem querer'. Enfim, ele começou a passar a mão sempre que trocava a marcha do carro. De passar a mão nas minhas pernas foi para as minhas partes íntimas. Subiu a mão para o short. A evolução demorou dias para acontecer."

Verdelho afirmou ainda que não tinha coragem de contar o que acontecia para os pais: "Fiquei com medo de contar por ele ser adulto, ter mais credibilidade e de que pudesse fazer algo contra minha família." Ela também afirmou que se prontificava para sentar no banco da frente para proteger a irmã. Por fim, ela levou a situação para a mãe quando o homem a fez segurar um pau de madeira no caminho, enquanto freava e acelerava o carro.

Luiza Brunet

Em 2020, a empresária e atriz contou ao portal Universa que sofreu abuso sexual aos 13 anos, quando trabalhava como empregada doméstica no Rio de Janeiro. Ela afirmou que o autor do crime, que tinha em torno de 50 anos, era um vizinho da casa de sua patroa e frequentava o local.

"Não sabia que ninguém podia tocar o meu corpo. Estamos falando do final da década de 1970, de uma menina do interior", afirmou Brunet. "Ele sabia quando eu ficava sozinha em casa. Entrava e ia direto onde eu dormia. E batia na porta. Não consigo e nem quero lembrar o que ele falava, mas ele me encostava na parede e eu ficava imóvel. E me cheirava e colocava a mão no meu peito e dentro da minha calcinha. Me lembro de um gemido também. Não houve penetração", narrou.

No mesmo ano, Brunet afirmou que quebrar o silêncio fez bem para ela, que desenvolveu traumas de ser mãe depois do ocorrido. "Depois que comecei a falar, me senti mais leve porque é muito ruim guardar um fato como esse durante tanto tempo. Vejo que agora as meninas estão se encorajando [a denunciar o crime]", disse.

Luana Piovani

Em 2015, a atriz se abriu pela primeira vez no programa de Xuxa Meneghel sobre um abuso que sofreu na infância. "Tenho minha história e nunca contei para ninguém porque nunca tive coragem. Agora você me pergunta por que eu nunca contei pra ninguém. Não sei, Xuxa! Eu tinha sete anos e foram várias vezes", afirmou na ocasião.

Anos depois, em 2022, Piovani se abriu um pouco mais sobre o assunto. Ela contou que os abusos eram cometidos por um vizinho, quando ela tinha entre oito e nove anos. "Aconteceu duas ou três vezes. Na época, achava que tinha algo errado, desconfiava que aquilo não era certo. Porém não era algo que achava que tinha que pedir socorro, contar para a minha mãe", afirmou em entrevista à emissora de TV SIC, de Portugal.

Por mais que tenha relutado em levar o assunto a público, ela trabalhou para superar o acontecimento em psicoterapia e psicanálise.

Pitty

A cantora contou em um programa da MTV, em 2003, que foi abusada por uma empregada que trabalhava em sua casa. Pitty ainda revelou que ainda era criança quando a funcionária a levava ao banheiro e ficava passando a mão por seu corpo.

Como denunciar abuso sexual infantil

  • Disque 100: o canal recebe denúncias anônimas de violações de direitos humanos;
  • Ligue 180 - Central de Atendimento à Mulher: o número de telefone recebe denúncias anônimas, inclusive de violências sexuais contra crianças e adolescentes. Também é possível denunciar pelo WhatsApp (61) 9610-0180;
  • 190 - Polícia Militar: deve ser acionada quando a criança ou adolescente corre risco imediato;
  • 192 - Samu: para quando há necessidade de socorro urgente;
  • Delegacias especializadas: é possível se dirigir a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM). Se não houver no seu município, é possível fazer boletim de ocorrência em uma delegacia de polícia convencional;
  • Ministério Público;
  • Conselho tutelar: neste caso, os conselheiros vão até a residência verificar a ocorrência, e podem chegar com amparo policial e requerer abertura de inquérito;
  • Profissionais de saúde: em hospitais e postos de atendimento, médicos, psicólogos e enfermeiros são alguns profissionais que podem notificar suspeita de violência sexual compulsoriamente. Neste caso, a polícia e o Conselho Tutelar podem ser notificados.

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