Andrea Bocelli vem a BH nesta 6ª e comenta relação com o Brasil: ‘nunca me senti estrangeiro’ | O Tempo
 
MÚSICA CLÁSSICA

Andrea Bocelli vem a BH nesta 6ª e comenta relação com o Brasil: ‘nunca me senti estrangeiro’

Tenor italiano conversou com exclusividade com O TEMPO sobre as três décadas de carreira e diz se sentir em casa no país

 
 
 
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Quando colocar os pés no Estádio do Mineirão nesta sexta-feira (17) para dar início à turnê que celebra seus 30 anos de carreira, o tenor italiano Andrea Bocelli mal perceberá a travessia de cerca de 9.000 km que separam a Itália do Brasil. Isto é, obviamente pode haver um mal-estar com o fuso horário ou o cansaço próprio de uma viagem longa. Mas é certo é que ele se sentirá em casa. “No Brasil, é um fato, nunca me senti estrangeiro”, assegura, em entrevista a O TEMPO por e-mail.


A estreia relação com as terras tupiniquins é conhecida e perpassa a carreira do artista que tem 47 álbuns, dentre coletâneas, obras de estúdio e produções ao vivo. O tenor já realizou cinco turnês em solo brasileiro e escolheu o país para comemorar seu aniversário de 60 anos, em 22 de setembro de 2018. “Não é por acaso que no Brasil vivi alguns dos momentos mais gratificantes da minha carreira e celebrei, alguns anos atrás, meu sexagésimo aniversário”, relembra. 


Mais do que executar um trabalho, portanto, ele sente um verdadeiro amor emanado pela plateia durante as apresentações e pretende devolver o afeto em igual medida. “Minha relação com o Brasil é mais do que afetuosa e sólida. Percebo, a cada vez com gratidão e alegre surpresa, que sou um artista amado. E é um amor que retribuo com entusiasmo. Estou entusiasmado em poder voltar a esta terra, onde – como tenho enfatizado tantas vezes – sinto o mesmo calor que poderia encontrar em casa”, celebra. 

Bocelli, a propósito, diz lembrar com clareza da passagem por Belo Horizonte. Ele esteve na capital em novembro de 2011, quando cantou gratuitamente para um público de mais de 80 mil pessoas reunidas na praça da Estação, no centro da cidade.

“Lembro-me perfeitamente desse concerto, e com emoção intacta. Guardo no coração o eco do calor humano, do afeto que sempre recebi em sua terra. Naquele caso, milhares de pessoas acamparam com tendas, dezenas de horas antes do evento. E junto com minha esposa, ao chegarmos, fiz questão de passar entre as pessoas, por aqueles acampamentos improvisados, para cumprimentar e, principalmente, agradecer”, recorda.

À época, o tenor cantou ao lado de Sandy, experiência esta que repetirá na turnê, que, após BH, segue para o Rio de Janeiro (19), desembarca em Brasília (21) e chega ao fim em São Paulo (25 e 26). A parceria entre músico e cantora começou em 1997, quando gravaram juntos o sucesso das rádios “Vivo por Ella.” 

“Admiro essa artista desde que ela era apenas uma criança (mas seu talento marcante e eclético já era evidente desde então). Lembro-me com muito prazer quando cantamos juntos ‘Vivo por Ella’ e também quando fiz um dueto com ela na Itália, em Portofino, em minha estreia na sua língua, com uma música que amo especialmente, ‘Corcovado’. Estou muito feliz por poder voltar a dividir o palco com ela”, espera.


Além de Sandy, outro convidado dos palcos é Matteo Bocelli, de 26 anos, um dos três filhos dele (o tenor tem outros dois, Amos, de 29 anos, e Virginia, de 12), com quem gravou o sucesso “Fall On Me”, reproduzido mais de 116 milhões de vezes no YouTube. Poder fazer música com os filhos é, para o tenor, como receber “um presente extra da vida.” “Todos eles estudaram música, mas Matteo é quem escolheu seguir os passos do pai, tornando-se efetivamente um colega. Veronica [Berti, mulher de Bocelli e madrasta de Matteo] e eu somos seus fãs convictos!”, derrete-se. 


“Nesses primeiros anos de carreira, Matteo trabalhou com rigor, conseguindo identificar sua própria expressão e estilo. Acredito que ele amadureceu muito e soube demonstrar ao público, tanto na Europa quanto nas Américas, seu talento e personalidade, para além do sobrenome desafiador que carrega”, evidencia, destacando que chegou preveni-lo sobre os perigos da fama.

 “Quando, anos atrás, ele expressou o desejo de tentar a profissão artística, eu o alertei, fazendo-o entender o quão difícil e às vezes efêmero é o ambiente do show business. Mas hoje posso dizer que estou feliz com sua escolha, porque percebo que ele realmente encontrou, na música, seu caminho”, orgulha-se o tenor.

No palco junto de Bocelli ainda estarão a soprano lírico romena Cristina Pasaroiu, a violinista norte-americana Caroline Campbell e músicos da Orquestra e do Coral Jovem do Estado e o Coral Jovem do Estado de São Paulo, que estarão sob a batuta do maestro Carlo Bernini. 

Juntos, executarão tanto músicas pop eternizadas na voz de Bocelli quanto peças do repertório lírico do tenor. “No programa, está uma seleção de trinta anos de carreira, com amadas canções pop e obras-primas operísticas, além, é claro, de algumas homenagens à maravilhosa tradição musical de vocês”, adianta.


Há 30 anos conduzindo o público pela mão


Em seus 30 anos de carreira, o tenor Andrea Bocelli conquistou o feito notável de fazer as massas se apaixonarem pela música clássica, mesclando o erudito ao pop. A receita conquistou o público de tal maneira, que o italiano vendeu mais 90 milhões de discos ao longo dos anos. O reconhecimento também vem da indústria da música. Bocelli tem o nome gravado em uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood, ganhou três Classical Brit Awards e foi indicado ao Grammy em seis ocasiões. 


“Eu tentei fazer a minha parte em prol de uma causa que sempre me foi cara. Espero ter contribuído um pouco para tornar conhecido, pelo mundo, um gênero que considero ser uma mina inesgotável de beleza e emoção. A ópera é, por sua natureza, popular e universal, mesmo que ainda hoje haja quem a considere elitista (uma insinuação falsa e antihistórica). No entanto, eu mesmo verifiquei como, quando conduzido pela mão, qualquer público, independentemente da idade e da latitude, está disposto a descobrir juntos um repertório maravilhoso, capaz de oferecer alegria e exaltação saudável”, acentua.


Para Bocelli, é papel dos artistas levar a música clássica para além das quatro paredes de uma casa de concerto. “Embora não seja inclinado, em princípio, às misturas na música, acredito que a lírica, mesmo quando apresentada em arenas, pode ter um forte impacto no público, incluindo o dos mais jovens. É importante que qualquer um possa abordar esse mundo sem apreensão. Cabe a nós, profissionais, dar o primeiro passo, saindo dos teatros e levando a lírica para as arenas, praças, televisão: indo ao encontro dos neófitos e permitindo que experimentem a força revolucionária do melodrama”, diagnostica.


Quando fala de sua vocação, Bocelli reitera a sua fé nos céus. Católico fervoroso, seu último álbum, “A Family Christmas” (2022), reúne 26 canções religiosas executadas ao lado de seus filhos Matteo e Virginia Bocelli. “Meu maior compromisso foi e continua sendo cultivar, não dispersar e colocar a serviço do próximo um talento – o da capacidade expressiva e comunicativa da minha voz – que Deus me deu e do qual não tenho mérito algum. O desafio é não decepcionar as expectativas, que a cada ano que passa se tornam maiores, e continuar tendo a honra de fazer parte da trilha sonora da vida de tantas pessoas. Estou feliz por sempre ter me inspirado nos valores em que acredito e que aprendi com meus pais. A arte nasce da busca pela verdadeira beleza, que potencialmente está em todas as coisas e que está fatalmente ligada ao bem”, elabora.


Celebração pelos 30 anos continua


Concomitantemente à turnê pelos 30 anos de carreira, Andrea Bocelli conta que está em andamento com um “grande projeto fonográfico.” “Trata-se de um álbum dedicado a uma forma musical que amo e frequento desde sempre, a do dueto. Será, eu acredito e espero, uma bela surpresa: uma produção pela qual tenho grande apreço, solicitada ao longo dos anos um pouco por todo lado pelos fãs, e que finalmente, em outubro, se tornará realidade”, revela, sem entrar em detalhes sobre as parcerias.


Por ora, aos 65 anos, Bocelli nem pensa em parar. “A agenda já está apertada para os próximos anos e espero continuar, enquanto Deus me der a oportunidade, a cantar, nos teatros e em estúdio, e a colaborar com meus colegas pelo mundo. Mas minha prioridade hoje é poder oferecer aos amigos brasileiros uma ocasião especial para viverem juntos uma noite de boa música e positividade”, promete, ressaltando uma “esperança de sempre.” “Se os espectadores voltarem para casa após um de meus shows um pouco mais serenos, com um sorriso nos lábios, então sentirei que alcancei meu objetivo”, arremata.


SERVIÇO

Andrea Bocelli - 30 anos de carreira

Quando. Hoje, às 21h.

Onde. Estádio Mineirão (avenida Antônio Abrahão Caran, 1.001, São José)

Quanto. De R$ 4.620 (inteira, no setor Platinum) a R$ 1.897 (meia-entrada, no setor Esmeralda), no site Eventim

 

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