Jardim Cinema: Michael Hoffman - “A Última Estação” / “The Last Station”

sábado, 18 de maio de 2024

Michael Hoffman - “A Última Estação” / “The Last Station”


Michael Hoffman
“A Última Estação” / “The Last Station”
(Alemanha/Grã-Bretanha/Russia – 2009) – (112 min. / Cor)
Christopher Plummer, Helen Mirren, Paul Giamatti, James McAvoy, Kerry Condon.

Michael Hoffman, o cineasta de “Restauração” / “Restoration” e “O Clube do Imperador” / “The Emperor’s Club”, oferece-nos em “A Última Estação” / “The Last Station” o relato do último ano da vida do escritor russo Leo Tolstoi, numa época em que Tolstoi depois da celebridade alcançada com os seus romances, decide dedicar-se a criar um movimento utópico, para lutar contra a miséria e a injustiça de que era vítima o povo russo pelas políticas do Czar, criando uma aldeia comunitária perto da sua casa, ao mesmo tempo que na capital tinha diversos seguidores, entre os quais se destacava Vladimir Chertkov (Paul Giamatti) que, apesar de se encontrar em prisão domiciliária, mantinha contactos com o escritor; ao saber que este precisava de um novo secretário, decide enviar-lhe o jovem Valentin Bulgakov (James McAvoy), ao mesmo tempo que lhe pedia que ele lhe enviasse relatórios sobre tudo o que se passava na residência do célebre escritor.


O principal objectivo de Vladimir Cherktov (Paul Giamatti) era conseguir que Leo Tolstoi (Christopher Plummer) cedesse em testamento os direitos autorais da sua obra ao povo russo. O tímido Bulgakov (James McAvoy) parte assim rumo à sua missão, mas ao chegar ao seu destino irá descobrir que o escritor se encontra sempre rodeado pela imprensa ávida de notícias, para além de um biógrafo que escrevia incessantemente tudo o que via e escutava, sendo também uma espécie de confidente do célebre escritor para grande terror da esposa de Tolstoi, que odiava de forma aberta os membros do movimento criado pelo marido, discordando por completo das suas opções politicas, surgindo assim uma terrível luta entre ambos, que irá levar à partida/fuga de Tolstoi da casa que compartilhava com a esposa Sofya Tolstoi (Helen Mirren), após 48 anos de matrimónio e de 13 filhos gerados pelo amor que nutriam um pelo outro.


Com a chegada do revolucionário Vladimir Cherktov, entretanto libertado, à residência do escritor russo, fica bem visível para todos as razões que o levaram até ali: obter por escrito de Leo Tolstoi a cedência dos direitos de autor da sua obra ao povo russo. Já o tímido secretário Bulgakov irá tornar-se confidente do escritor, percebendo rapidamente os objectivos dos líderes do movimento tolstoiano nesse ano de 1910.


Leo Tolstoi irá deixar a esposa e a casa onde vivia, partindo com os líderes do movimento revolucionário para o sul da Rússia, numa longa e terrível viagem de comboio, que o irá obrigar a recolher-se numa estação, antes de chegar ao seu destino, porque se encontrava gravemente doente. Iremos assim assistir aos últimos momentos da sua vida nesse lugar, sempre com a imprensa em seu redor, ao mesmo tempo que Sofya Tolstoi, a sua esposa, tentava por todos os meios ver o marido doente, que nunca deixara de ama.


Michael Hoffman em “A Última Estação” / “The Last Station” oferece-nos a sua visão do movimento utópico criado pelo escritor russo e as suas contradições, veja-se a forma como agem os membros da comunidade, vigiados e controlados por terceiros em nome da ideologia, havendo como não podia deixar de ser essa “ovelha tresmalhada do rebanho” chamada Masha (Kerry Condon) por quem Bulgakov se irá apaixonar, ao mesmo tempo que nos relata a luta de Sofya Tolstoi para proteger o legado do marido, surgindo como uma espécie de observador isento dos acontecimentos. Mais tarde também Bulgakov se irá tornar escritor, como todos sabemos. A forma como nos é descrita a manipulação de Leo Tolstoi, já fraco e doente, por parte de Vladimir Cherktov é memorável, colocando sempre a ideologia acima dos sentimentos e vendo em Sofya uma inimiga aristocrática a abater, não olhando a meios para atingir os seus fins.


“A Última Estação” / “The Last Station” possui uma direcção de actores magnífica, sendo comoventes as interpretações de Christopher Plummer e Helen Mirren, ambos indigitados para o Oscar, ao mesmo tempo que James McAvoy se revela um actor a seguir, enquanto Paul Giamatti nos oferece o seu melhor desempenho de sempre. Ao vermos este filme ficamos certamente a conhecer um pouco mais esse genial escritor russo chamado Leo Tolstoi, que nos deixou obras imortais como “Guerra e Paz” e Anna Karenina”.

Rui Luís Lima

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