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O que mudou em Itaquera 10 anos após abertura da arena do Corinthians

Inauguração da arena do Corinthians completou 10 anos, com a promessa de transformar infraestrutura urbana e economia em Itaquera

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1 de 1 Imagem mostra pessoas caminhando - Metrópoles - Foto: William Cardoso/Metrópoles

São Paulo — A inauguração da Neo Química Arena completou 10 anos nesta semana e, desde então, provocou uma série de mudanças em seu entorno na zona leste da capital paulista, uma região altamente adensada e que por décadas foi escanteada pelos gestores públicos.

De um terreno praticamente abandonado às margens da Radial Leste a palco da abertura da Copa do Mundo de 2014, o estádio do Corinthians virou epicentro de transformações na paisagem de Itaquera, embora o impacto econômico esteja aquém das necessidades do bairro e das promessas feitas antes de sua construção.

O projeto do estádio corintiano foi anunciada em setembro de 2010, para celebrar o centenário do clube de maior torcida em São Paulo. Em 10 de maio de 2014, a arena foi oficialmente inaugurada com partidas amistosas entre ex-jogadores do Corinthians — o primeiro jogo oficial aconteceu oito dias depois.

Para receber a nova casa alvinegra, Itaquera mudou (veja abaixo).

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Além do estádio em si, as principais obras de infraestrutura urbana ocorreram no viário. Um túnel ao lado da estação do metrô, viadutos ao redor da arena e uma passarela sobre a Radial Leste — hoje, completamente depredada, embora ainda seja muito usada pelos pedestres e, indevidamente, até por motos.

No terreno que abrigaria o “Polo Institucional de Itaquera” ao lado da arena, estão em funcionamento a Faculdade de Tecnologia (Fatec) e a Escola Técnica (Etec), do governo do estado. Não recebeu, por exemplo, o Fórum previsto para ser construído no local em meio ao pacote de obras. Perto dali, há o Parque Linear do Rio Verde.

O shopping que fica no raio de um quilômetro do estádio cresceu em 10 anos, ganhando 98 novas lojas com seus respectivos postos de trabalho. O número de frequentadores aumentou 15% e a direção afirma que a arena sempre foi vista “como uma oportunidade”.

O mercado imobiliário também viu multiplicar por três o número de lançamentos residenciais. De 768 unidades em 2014, saltou para 2.247 hoje. O valor do metro quadrado também aumentou, de R$ 5.249 para R$ 7.125.

Economia

As mudanças ainda não foram suficientes para resolver um velho problema do bairro. A falta de emprego, que obriga moradores a se deslocarem para outras regiões da cidade, continua a ser um nó em Itaquera.

O desenvolvimento de um novo eixo econômico no bairro foi promessa antiga, passando pelos ex-prefeitos Gilberto Kassab (PSD) e Fernando Haddad (PT).

Incentivos fiscais e promessas de melhorias na infraestrutura urbana estiveram entre as ofertas apresentadas à iniciativa privada, que nunca comprou a ideia. Em novembro de 2021, por exemplo, o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), voltou a ofertar uma série benefícios ao empresariado para desenvolver a ZL.

A Prefeitura diz que hoje houve um aumento de 28% no número de empresas nos distritos de Itaquera, Parque do Carmo, José Bonifácio, Cidade Líder e Artur Alvim nos últimos 10 anos. Saiu de 46,7 mil, em 2014, para 60 mil, em 2024.

Para quem vive no bairro, a situação ainda não é a ideal. A nutricionista Lilia Freitas, de 43 anos, chegou a ter esperança de que, com a construção do estádio do Corinthians e os investimentos públicos, a iniciativa privada se interessasse por expandir suas atividades no bairro. Entretanto, diz que grandes empresas não foram instaladas e que só o shopping trouxe mais vagas de emprego no entorno da arena. O custo de vida, porém, subiu. “As coisas ficaram mais caras, como o aluguel”, diz.

No período pré-Copa do Mundo, havia a promessa de que 50 mil vagas de emprego seriam criadas na zona leste para minimizar os deslocamentos diários em direção à região central da capital paulista. O efeito não foi tão perceptível, tanto que a própria filha da nutricionista, Isabela, de 22 anos, conseguiu emprego como recepcionista somente na Avenida Paulista, na região central da cidade.

Quem para diante das catracas da Estação Corinthians-Itaquera do Metrô no início da noite vê o movimento intenso de retorno ao bairro da zona leste. Um dos passageiros é o advogado José Wellington Pessoa Setubal, de 25 anos, que era um adolescente à época da inauguração da arena e, hoje, trabalha na região central.

“Querendo ou não, aqui não é um centro econômico. No centro de São Paulo é que temos mais oportunidades de emprego”, diz Setubal, que há seis anos trabalha a mais de 20 km do lugar onde mora na ZL.

“Era tudo matagal”

Da vista de seu pequeno bar na Avenida José Pinheiro Borges, cerca de 500 metros do estádio, a comerciante Francisca Maria de Souza, de 54 anos, acompanhou de perto as mudanças no local. “Quando cheguei aqui, era tudo matagal”, diz a moradora de Itaquera há 25 anos.

Segundo Francisca, o principal impacto foi na economia local. Ela menciona o Shopping Itaquera, que foi ampliado após a construção do estádio, como um dos fatores positivos. “Tudo perto da gente”, afirma. A comerciante conta que a clientela aumentou na última década, principalmente nos dias de jogos.

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Na vizinhança logo acima, na Rua Guaiquiçá, a aposentada Josefa dos Campos Souza, de 64 anos, celebra a proximidade ao estádio do Corinthians, time pelo qual seu neto é “fanático”. Ela mora no bairro há mais de 40 anos, desde quando a rua “era toda de barro”, lembra.

Na visão da moradora, as casas do bairro valorizaram desde a inauguração da arena. A transformação imobiliária do bairro é visível na região. A paisagem começa a ser cercada, aos poucos, por prédios — muitos deles ainda em construção. Novos apartamentos são anunciados a partir de R$ 250 mil.

E como o futebol sempre reserva boas histórias para além do campo, o morador mais antigo e com a melhor visão do estádio entre os entrevistados pela reportagem torce contra o time da casa. No bairro desde 1961, o aposentado José Rosário, de 77 anos, vestia a camisa do São Paulo quando conversou com o Metrópoles.

José vive com os filhos e seus quatro cachorros na Rua Biri. Sobre a ironia de morar “ao lado” do estádio do rival, ele afirma que é “tranquilo”. O aposentado pontua a grande quantidade de obras que se iniciaram no bairro desde a abertura da arena, e que algumas delas “quebram”, por conta das fortes chuvas.

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Ainda no entorno da arena, mas do lado oposto, o mecânico Sandro Coelho trabalha há duas décadas na região. De acordo com ele, o trânsito na entrada da comunidade 3 Coco, próxima ao bairro Cidade Líder, vizinho de Itaquera, piorou com o advento da arena. “Muito trânsito, o espaço ficou estreito”, diz.

Sandro ainda observa que manter um negócio na região ficou mais caro. “Os aluguéis ficaram mais caros. Qualquer lojinha ficou de R$ 2 mil para cima [o aluguel do ponto]”, afirmou o mecânico, que só frequenta o bairro para trabalhar.

O que diz a Prefeitura

A Prefeitura de São Paulo afirma que a construção do estádio foi fator importante para criar um novo vetor de desenvolvimento para a zona leste da cidade, “gerando forte impacto econômico e social para toda a região”.

Também cita que estão em andamento as obras de construção do novo Terminal Satélite Itaquera, “que beneficiará cerca de 430 mil passageiros diariamente”.

A administração municipal diz também que trabalha na implantação de dois reservatórios para controle de cheias na região de Itaquera, um no Parque do Carmo e outro no Parque Linear do Rio Verde.

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