Adeus, metrossexuais. Olá, “babygirl men”: os fofinhos são os novos sex-symbols – NiT

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Adeus, metrossexuais. Olá, “babygirl men”: os fofinhos são os novos sex-symbols

A expressão tanto serve para descrever um "miserável anti-herói de 40 anos", como jovens que cultivam a fluidez de género.
Fazem suspirar a Geração Z (e não só).

Harry Styles, Jacob Elordi, Timothée Chalamet, Nicholas Galitzine, Barry Keoghan, Paul Mescal, Barry Keoghan, A$AP Rocky,  mas também Andrew Garfield, Pedro Pascal ou Oscar Isaac. Sem esquecer os ídolos da K-pop, claro.

A lista é extensa e continua a crescer. Afinal, o que têm estes homens em comum? Se não integra a Geração Z, nem passa horas a fazer scroll pelos feeds das redes sociais, provavelmente ainda não está familiarizado com o “babygirl men”.

A expressão não tem uma tradução literal, mas se tivesse, seria qualquer coisa como “homens-menina”. Confuso? Nós explicamos: é usada para descrever um homem heterossexual, que não tem uma personalidade tradicionalmente masculina, é ligeiramente efeminado — e muito atraente. A descrição passou a fazer parte da chamada “gíria da Internet” o ano passado, mas ninguém sabe ao certo quem a cunhou.

Os arqueólogos do ciberespaço apontam que o termo “babygirl” foi usado para descrever um homem pela primeira vez em 2017. Surgiu numa publicação no Wattpad [uma rede social de nicho, “para leitores e autores, onde pode ler histórias originais, interagir ou publicar um e-book”] e a popularidade não foi imediata. Porém, foi fazendo o seu caminho em sites de comunidades de fãs (fandoms), onde era utilizado para caracterizar personagens masculinos.

Acabou por chegar ao Twitter (atual X) e em 2021 tornou-se viral. O salto para o mainstream aconteceu no final de janeiro desse ano, quando Jacob Elordi apareceu no programa de comédia “Saturday Night Live” da NBC.

“Sim, ele é muito babygirl”, concluiu o comediante Bowen Yang sobre o protagonista de “Saltburn”. A piada não pretendia ser insultuosa, mas fofinha. Embora o discurso na Internet seja tipicamente virulento, a expressão “babygirl men” não tem sido usada de forma pejorativa.

Antes de ganhar popularidade para descrever atores ou personagens masculinos, a palavra “babygirl” era usada sobretudo como forma de tratamento carinhoso numa relação romântica — equivalente a “bebé”, por exemplo.

O que significa “babygirl men”?

A resposta rápida é (quase) tudo e o seu contrário. Tanto pode descrever um homem jovem, atraente, sexy, vulnerável, submisso como alguém de meia-idade, taciturno, rezinga e sem noção. É complicado. O significado é ambíguo, tem várias camadas de interpretação — e a culpa é, em parte, do TikTok (mas já lá vamos).

A definição mais consensual de “babygirl” é “um homem um pouco ingénuo e muito fofo, mas de uma forma levemente submissa”, explica a revista “Rolling Stone”. Alguns críticos sublinham que pode ser “ofensivo e humilhante”, pois aparece muitas vezes aparece associado à expressão “submissive and breedable”, ou seja, um “babygirl men” seria alguém “submisso e indicado para procriar”.

Os defensores da expressão, por seu lado, argumentam que “é uma forma positiva de feminizar os homens, destacando qualidades apreciadas pelas mulheres”. Mas o que torna um homem numa “babygirl”? Os critérios são vagos, mas costuma apresentar determinadas características físicas, como “olhos melosos, porte dengoso”, e, sobretudo, alguma (bastante) androginia.

 

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“É atraente e sexy, mas não de uma forma ameaçadora ou dominadora. É alguém que evita a masculinidade tóxica em favor da sensibilidade e da compreensão”, descreve a revista “Out”. No fundo, é um homem que “não tem medo de cultivar o seu lado feminino”.

O cantor Harry Styles é frequentemente apontado como um dos melhores exemplos, quer pelos seus looks que desafiam padrões de género (que incluem vestidos e unhas pintadas), como pela sua postura gentil, empática e brincalhona.

Um “homem-menina” é mais do que um metrossexual (termo usado nos anos 2000 para descrever homens que vivem em áreas urbanas e têm interesses semelhantes aos tradicionalmente associados a mulheres ou homens gays, como moda ou beleza). O conceito “babygirl men” é mais abrangente e inclui determinadas características de personalidade, como a timidez, a ingenuidade, a sensibilidade ou a ternura, que se refletem num visual específico.

“Basicamente, os metrossexuais abriram caminho para que os ‘babygirl men’ pudessem correr”, resume a analista de tendências Manèle El Zoghlami, em declarações ao “Jing Daily”.

Fenómeno de moda

A expressão “babygirl men” pode ser considerada um elogio à “masculinidade com um toque feminino”. Sublinha e valoriza uma nova forma de ser, estar, mas também de se apresentar, com uma estética muito própria. São homens que se sentem confortáveis ​​o suficiente na sua própria pele para se apropriarem de elementos tradicionalmente associados ao sexo feminino. E fazem-no com toda a naturalidade, como “se nunca tivessem feito outra coisa na vida”.

As marcas de luxo, sempre atentas às mudanças das marés, apanharam imediatamente a onda. Todas se querem destacar na passadeira vermelha e a aposta na reconfiguração de peças desenhadas originalmente para as mulheres tem sido uma estratégia vencedora. Quando uma celebridade masculina aparece com uma criação que desafia os padrões de género tradicionais, as manchetes estão garantidas.

Harry Styles na capa da “Vogue” de vestido Gucci e blazer; Timothée Chalamet, com um colar de pérolas Vivienne Westwood na estreia de “Bones & All” ou com uma versão top de um vestido transparente de Tom Ford na estreia de “Wonka”; Oscar Isaac com saias de pregas em várias estreias e apresentações; Jacob Elodi apanhado pelos paparazzi com uma das suas (muitas) it bags de marcas como Valentino, Bottega Veneta, Louis Vuitton, Chanel, Fendi ou Celine; A$AP Rocky de saia preta de couro no palco do Wireless Festival 2022; Pedro Pascal com uma versão top de um vestido Bottega Veneta nos Globos de Ouro; Drake de ganchos cor de rosa ou Barry Keoghan com um fato Dolce & Gabbana composto por um colete curto sem mangas e calças largas de cintura subida na estreia da série “Masters of the Air” — são apenas alguns de exemplos.

Drake
Os ganchos de Drake deram muito que falar.

A tendência ganhou uma enorme visibilidade quando chegou à indústria do entretenimento do Ocidente, mas começou do outro lado do mundo, mais concretamente no universo da K-pop. “Os ídolos masculinos do K-pop são um catalisador da estética efeminada, fluida de género e a sua ascensão meteórica global também teve uma grande influência nas noções de beleza masculina em todo o Ocidente”, sublinha a “Jing Daily”.

A “masculinidade suave” permitiu-lhes conquistar uma alargada base de fãs femininas muito jovens, sobertudo pré-adolescentes e adolescentes. “Faz parte do charme deles [ídolos do K-pop]” — e com os “babygirl men” acontece o mesmo, acrescenta.

Desconstrução e ironia

Não conhecia a expressão, mas já está pronto para a adotar? Pense duas vezes antes de começar a teclar. Como frequentemente acontece com os epifenómenos da Internet, também a expressão “babygirl men” começou a ser subvertida assim que se tornou viral.

Um “homem-menina” pode ser também um “miserável anti-herói de 40 anos”, rezingão, taciturno, sem noção— mas muito sexy e atraente. Exemplos? Walter White de “Breaking Bad”, Kendall Roy de “Succession” ou Joel (personagem de Pedro Pascal) de “The Last of Us”.

No fundo, é alguém com ar de quem “cometeu atrocidades, mas por algum motivo ainda parece ter necessidade de proteção” — como um bebé. Apesar de ser um homem com um lado tóxico, há ali “uma oportunidade para surgir uma versão mais saudável da masculinidade. Se irá acontecer é outra questão, mas o potencial existe”, descreve a “POPSugar”.

Resumindo: é um homem que parece uma menina, mas com quem todas as mulheres querem dormir. Estranho? Talvez. Ambíguo? Também. “Os ‘babygirl men’ têm camadas sobre camadas de ironia”, conclui o “The Guardian”.

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