'Nova' Porto Alegre para 10 mil pessoas
tragédia no sul

"Nova" Porto Alegre para 10 mil pessoas

Prefeitura da capital gaúcha planeja erguer estrutura na região do Porto Seco, com abrigos provisórios, comércio e escola. Barragens estão sendo monitoradas pela Defesa Civil para evitar agravamento ainda maior do desastre

Ideia da prefeitura da capital é remover parte dos desabrigados de Porto Alegre e da Região Metropolitana para uma região pouco afetada pelas cheias -  (crédito: Mauricio Tonetto/Secom/GRS)
Ideia da prefeitura da capital é remover parte dos desabrigados de Porto Alegre e da Região Metropolitana para uma região pouco afetada pelas cheias - (crédito: Mauricio Tonetto/Secom/GRS)

A prefeitura de Porto Alegre estuda a construção de uma "cidade provisória" para abrigar cerca de 10 mil pessoas na região do Porto Seco, na Zona Norte da cidade. A "nova" capital gaúcha receberá os afetados pelas enchentes enquanto os bairros são reconstruídos. O projeto teria ajuda do governo federal e contaria com 5 mil construções provisórias, além de uma infraestrutura comercial e escola. A princípio, a segurança será realizada pelas Forças Armadas.

A região escolhida para a "nova" Porto Alegre é sede do Complexo Cultural de Porto Seco, onde estão instalados 10 galpões das escolas de samba da cidade. Segundo o projeto, essa estrutura receberia as construções provisórias onde os desabrigados ficariam. Procurada para detalhar o projeto, a prefeitura da capital gaúcha disse ao Correio que "o assunto ainda está sendo tratado internamente".

No balanço de ontem na Defesa Civil, a tragédia deixou 149 mortos e 112 desaparecidos. São 538 mil desalojados e aproximadamente 79,4 mil pessoas estão em abrigos.

A população continua sofrendo com o vaivém das águas nos rios e bacias hidrográficas. Segundo a Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do estado (Sema-RS), o lago Guaíba chegou aos 5,23m — na segunda-feira a marca estava em 5,05m. Os últimos dados do Serviço Geológico do Brasil (SGB) mostraram que cinco dos oito principais rios e lagos gaúchos estão acima da cota de inundação — inclusive o Guaíba e a Lagoa dos Patos (veja quadro abaixo).

O Guaíba recebe as águas dos rios Jacuí, Taquari, Sinos, Caí e Gravataí, e muitos deles permanecem acima da cota de inundação. O Jacuí — que corresponde a 84,6% da água do Guaíba — está na marca dos 14,25m, mais que o dobro da sua cota de inundação (7,5m). O rio banha Eldorado do Sul, que teve cerca de 80% da população afetada pela enchente.

O rio Sinos chegou a 6,67m, conforme medição feita na cidade de São Leopoldo — uma das mais afetadas pelas cheias, desabrigando mais de 100 mil pessoas.

Rios Rio Grande do Sul
Rios Rio Grande do Sul (foto: Valdo Virgo)

A Lagoa dos Patos, que alcança Porto Alegre, chegou a 2,5m, mais de 100% acima da cota de inundação. As cidades que a circundam devem ser inundadas nos próximos dias, segundo o professor de ecologia da Universidade Federal de Rio Grande (UFRGS) Marcelo Dutra.

No caso do rio Uruguai, a medição feita no município de Uruguaiana, detectou o nível da água 3,75m acima da cota de inundação. Porém, a realizada em Garruchos mostrou que o rio estava 2,5m abaixo da cota.

Geadas

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu dois alertas de perigo de geada para o Rio Grande do Sul. Apesar de não incluir Porto Alegre no caminho da baixíssima temperatura, o aviso se aplica à Região Metropolitana da capital.

Segundo o Inmet, o sul da Lagoa dos Patos deve ter mínima de 4°C na manhã de hoje. Na Grande Porto Alegre e nos arredores do Guaíba, os termômetros devem marcar mínimas de 6°C a 7°C. A MetSul Meteorologia adverte que o tempo aberto e vento causarão maior resfriamento noturno.

Barragens

As barragens estão sendo monitoradas de perto para que um possível rompimento não aumente o drama da população afetada pelas inundações. Porém, de acordo com o governo do estado, duas estão na iminência da ruptura — a Salto, da Usina Hidrelétrica de Bugres, em São Francisco de Paula, e a Santa Lúcia, em Putinga.

A prefeitura de São Francisco de Paula, município banhado pelo rio Caí — que subiu 5m acima da cota de inundação nos últimos dias —, alertou a população para que evacue a região devido ao risco de desmoronamento sobretudo das moradias próximas à barragem. Outras seis estão em nível de alerta: 14 de Julho, em Cotiporã e Bento Gonçalves; Dona Francisca, em Nova Palma; Salto Forqueta, em São José do Herval-Putinga; Capané, em Cachoeira do Sul; São Miguel, em Bento Gonçalves; e Saturnino de Brito, em São Martinho da Serra.

E parte da indenização paga pela mineradora Vale às vítimas da tragédia do rompimento da barragem de Brumadinho será direcionada ao Rio Grande do Sul. Ao todo serão destinados R$ 2,2 milhões. O repasse foi anunciado pela Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem da Mina Córrego do Feijão (Avabrum).

A maior parte (R$ 2 milhões) será repartida entre o governo do Rio Grande do Sul e o Fundo de Reconstituição de Bens Lesados, gerido pelo Ministério Público Estadual. Os R$ 200 mil restantes serão doados para a Associação dos Familiares e Sobreviventes da Boate Kiss, em Santa Maria, que está arrecadando recursos para apoio às vítimas das chuvas. (Com Agência Estado)

*Colaboraram Maria Beatriz Giusti, Marina Dantas e Pedro José, estagiários sob a supervisão de Fabio Grecchi

 

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postado em 15/05/2024 03:55