'Descobri um tumor cerebral após três médicos falarem que não era nada', conta gerente de marketing
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"Estava saindo de uma depressão forte e, por conta dos medicamentos que tomava, fui fazer um check-up para ver se estava tudo bem com o meu corpo. No exame de sangue, entretanto, três hormônios vieram muito baixos. Levei de volta para o médico e ele me disse que deveria ser estresse.

Fiquei com aquilo dentro de mim e decidi ir em outro médico. No consultório, ele me perguntou se eu não gostaria de fazer uma reposição hormonal, mas fiquei na dúvida. Chegando em casa, comecei a pesquisar justamente sobre reposição hormonal e acabei entrando no ChatGPT (ferramenta de inteligência artificial) para perguntar quais eram as possíveis causas dessa disfunção que os meus exames apresentaram. Era mais curiosidade do que preocupação porque tinha ficado com uma pulguinha atrás da orelha.

Eu estava me ouvindo, não sei se o meu corpo ou a minha intuição, mas uma das possíveis causas apontadas pelo ChatGPT seria um tumor na hipófise [uma glândula localizada na parte inferior do cérebro]. Eu não tinha sintomas, nunca tinha tido nenhuma convulsão, então quando contei para a minha psicóloga ela me questionou se eu não estava procurando um problema que não existia. Ainda assim, não tirei esse pensamento da cabeça.

Decidi procurar um terceiro médico, meu psiquiatra, que falou para fazermos uma tomografia para ver se 'dava alguma coisa' — e deu. Dois anos antes, eu tinha realizado o mesmo exame que já apontava algo anormal. É até estranho porque sempre checo todos os resultados, mas por algum motivo eu não tinha visto esse.

Fiz uma ressonância magnética e, finalmente, me consultei com um oncologista recomendado pelo meu psiquiatra, que por sua vez, disse que o tumor tinha um aspecto benigno, mas que precisava realizar outros exames e, provavelmente, fazer uma cirurgia para retirá-lo, porque ele poderia começar a comprimir meu cérebro. De fato, fiz mil outros exames e, graças a Deus, o câncer não tinha espalhado para o resto do meu corpo.

Maria Fernanda Miguel, a gerente de marketing conta como descobriu um tumor no cérebro com a ajuda do ChatGPT — Foto: Arquivo Pessoal
Maria Fernanda Miguel, a gerente de marketing conta como descobriu um tumor no cérebro com a ajuda do ChatGPT — Foto: Arquivo Pessoal

Procurei, então, um neurocirurgião que foi muito tranquilizador e parceiro, escutou todas as minhas perguntas e sempre me recebeu numa energia positiva, o que contribuiu muito para me acalmar. Apesar de levantar suspeitas, o ChatGPT errou. Diferentemente do que havia me dito, eu tinha, na verdade, um tumor localizado no lóbulo frontal direito, área que está conectada às emoções e aos sentimentos. Muito provavelmente, o tumor estava lá há mais de dez anos.

Só contei para a minha família o que estava acontecendo depois que fiz o PET-SCAN [exame de diagnóstico por imagem capaz de detectar tumores em todos os lugares do corpo], porque é assustador demais contar que tem um tumor na cabeça. Quando descobri que não tinha mais nada em nenhuma outra parte do corpo, aí relaxei e me convenci de que tudo daria certo no final.

Precisei de um tempo para processar tudo e pedi três meses aos médicos para realizar a cirurgia. Mas tinha uma coisa que me deixava confusa. Os profissionais me diziam que era um procedimento simples e eu ficava me perguntando ‘Como? Você vai abrir a minha cabeça, cortar meu crânio e tirar um pedaço do que tem lá dentro’. E eles confirmam que seria fácil. Ficava com essa sensação de quem alguém estava escondendo alguma coisa de mim.

Durante estes meses tive um boost de vitalidade. Nunca achei que fosse morrer, mas estava numa fase que sentia necessidade de aproveitar a vida, aproveitar tudo, me deu um ânimo que não abria espaço para tristeza.

No dia 21 de janeiro, depois de uma noite supertranquila, entrei no centro cirúrgico, com a plena certeza de que nada de errado iria acontecer. Metade era intuição. A outra metade era pela tranquilidade que os médicos me passaram.

Quando acordei, a primeira coisa que eu pedi foi um espelho para ver como estava meu cabelo, estava super preocupada com o quanto eles teriam que tirar para acessar o tumor, mas eles foram muito legais e tiraram só um dedinho que hoje em dia não dá nem para ver.

Na biópsia, veio a confirmação de que o tumor era benigno e eu poderia seguir a minha vida normalmente. Aí me veio um sentimento de introspecção. Eu pensava em tudo o que eu tinha passado, que poderia ser muito mais sério e agora estava tudo bem. Que loucura. De fato, ninguém estava me enganando. Agora, consigo respirar com tranquilidade.

Decidi dividir a minha história porque imagino o quanto outras pessoas, principalmente mulheres, têm sintomas e não são levadas a sério. Eu tive a sorte e a condição de poder investigar, mas o que eu quero dizer é: advogue por você, pela sua saúde. É importante escutar o próprio corpo e encontrar um médico que te ouça."

A internet e as tecnologias relacionadas à inteligência artificial ainda não são capazes de entregar diagnósticos precisos para doenças. Para se fechar um quadro, é preciso de exames específicos, consultas com especialistas e, por vezes, até mesmo uma equipe multidisciplinar. Portanto, caso apresente qualquer sintoma semelhante ao da história narrada, procure um especialista.

Entenda o diagnóstico

Na sequência, a médica Diana Santana, neurocirurgiã do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, esclarece alguma das principais dúvidas sobre o tema.

Quais são as possíveis causas da formação de um tumor cerebral, mesmo que benigno?
As principais causas da formação de tumores cerebrais são fatores relacionados à genética. Na grande maioria das vezes são mutações pontuais e da própria pessoa, ou seja, não relacionadas a síndromes familiares e geneticamente hereditárias. A única causa externa comprovadamente relacionada à formação de tumores cerebrais são as radiações ionizantes, algo muito raro e pouco provável hoje em dia.

A cirurgia para a remoção do tumor cerebral é a única forma de tratamento? Quando é indicada e quais são as outras opções disponíveis?
A indicação de cirurgia existe, principalmente, nos casos relacionados a tumores grandes e que estejam causando sintomas clínicos no paciente, como alteração hormonal ou quadro relacionado à apatia. Pacientes que têm tumores pequenos nessa região e que são pouco sintomáticos podem ser tratados apenas com o acompanhamento clínico, fazemos exames de imagem sequencial, seriado, com uma frequência que vai ser determinada individualmente e, a depender do caso.

Existem, ainda, casos que podem ser tratados com radiocirurgia, que é uma modalidade de cirurgia feito através de radiação, sem cortes e muitas vezes com uma única seção. Mas todos esses casos precisam ser analisados individualmente, então é o neurocirurgião que vai determinar qual vai ser o melhor tipo de estratégia de tratamento.

Disfunções hormonais, aquelas detectadas em exames de sangue, podem estar relacionadas aos tumores cerebrais, conforme sugeriu a hipótese do chatGPT?
O cérebro é o grande maestro do nosso corpo. Dentro dele, existe uma região chamada de hipotálamo, que estimula a região da hipófise, a glândula-master do nosso organismo. Essa glândula produz diversos outros tipos de hormônios que vão estimular a produção de outros hormônios secundários no nosso corpo. A depender dos tumores que estão localizados ali, na sua proximidade, e por consequência, podem produzir alterações da função e da produção hormonal.

*Em depoimento à jornalista Carolina Merino. A entrevista foi condensada e editada para melhor compreensão.

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