Neste artigo, e no espírito de aumento do conhecimento acerca das abelhas, apresentamos uma pequena colecção de factos interessantes sobre estes inconfundíveis voadores.

1. Nem todas as abelhas são insectos sociais

Tal como as formigas e as térmitas, as abelhas são normalmente apresentadas como modelos de insecto social por excelência. Todos já nos deparámos com explicações, em maior ou menor detalhe, sobre o funcionamento de uma colmeia, com a abelha-rainha no centro e uma série de obreiras não-reprodutoras a assegurar as várias funções necessárias à sobrevivência do grupo.

O que é menos conhecido é que, embora isto efectivamente se aplique à nossa conhecida Apis mellifera, esta não é a realidade da maior parte das espécies de abelha. Na verdade, a maior parte dos milhares de espécies de abelha existentes – mais de 90% das espécies conhecidas, na verdade – é solitária. Ou seja, vive sozinha, sem qualquer tipo de estrutura social, e não produz mel. Um exemplo de uma espécie deste tipo existente no nosso país é a abelha-carpinteira Xylocopa violacea.

Xylocopa violacea
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A Xylocopa violacea, uma das maiores abelhas europeias, escava os seus ninhos em madeira morta.

2. As abelhas-do-mel têm CINCO olhos 

Uma particularidade da anatomia das abelhas-do-mel Apis mellifera (assim como de outras, mas não todas, espécies) que lhe pode ter escapado é que estas possuem, para além dos dois olhos complexos que são facilmente visíveis nas laterais da cabeça, um conjunto de três olhos, denominados ocelos. Ao contrário dos outros, estes dispõem de uma única lente cuja função é ajudar a abelha a usar a luz do sol para orientação. Outra curiosidade: as abelhas conseguem reconhecer o rosto humano

3. Existem cerca de 700 espécies de abelhas descritas para Portugal –   algumas delas endémicas

Existem no mundo mais de vinte mil espécies de abelhas – como o título de um recente filme premiado espanhol bem lembra. Destas, mais de 700 estão descritas para Portugal, e mais esperam descrição, uma vez que ainda há grandes falhas de prospecção neste grupo no nosso país, particularmente no interior. A maior parte distribui-se pelas famílias Apidae (a que inclui Apis mellifera), Megachilidae (as abelhas corta-folhas), Andrenidae (as abelhas-mineiras) e Halictidae (as sweat bees, abelhas do suor), todas com mais do que 100 espécies presentes em Portugal.

Destas, só pouco mais de meia dúzia são espécies endémicas no nosso país: é o caso da Colletes dinizi, Camptopoeum baldocki, Dasypoda michezi, Flavipanurgus fuzetusProtosmia lusitanica. Esta última é conhecida através de um único exemplar, uma fêmea recolhida nas margens da Ribeira do Vascão. Outro exemplo de singularidade é a mais recentemente descrita Hoplitis halophila. Curiosamente, todas estas espécies foram descritas depois de 1999, o que leva a crer que é perfeitamente possível que mais ainda se “escondam”, à espera de um esforço de amostragem adequado.

4. A maior parte das abelhas não morre depois de usar o ferrão

Muitas vezes, o uso do ferrão por uma abelha é considerado, na prática, a sua sentença de morte. Isto é verdade para a abelha-do-mel. Neste caso, o ferrão tem uma forma serrada que faz com que este fique cravado no alvo depois do ataque da abelha, com a abelha que o usou a morrer pouco depois da terrível ferida que sofre ao ver esta estrutura arrancada do seu corpo.

O mesmo não se aplica à generalidade das espécies solitárias, em que não existe um incentivo evolutivo para morrer pela colónia, uma vez que não existe sequer uma colónia. Ao contrário das abelhas-do-mel, em que os indivíduos com ferrão são não-reprodutores, a melhor maneira para uma abelha solitária perpetuar os seus genes é reproduzir-se. 

5. Numa colónia de Apis mellifera, algumas das abelhas são literalmente mais do que irmãs 

Numa colónia, a única fêmea reprodutora é a rainha. E sendo o sistema de determinação sexual das abelhas haplodiplóico, um dos sexos (no caso, o macho) desenvolve-se a partir de ovos não fecundados, herdando apenas uma cópia de cada cromossoma (é portanto haplóide, tendo um número de cromossomas n). Já os ovos fecundados dão origem a fêmeas (diplóides, ou seja, com um número de cromossomas 2n, duas cópias de cada um) que não se reproduzem. Devido a esta particularidade, algumas das abelhas, se filhas do mesmo macho, cujos gâmetas são todos idênticos entre si, partilharão em média 75% do seu ADN, em vez dos normais 50% entre irmãos. São assim uma espécie de super-irmãs, mais geneticamente relacionadas entre si do que com qualquer um dos progenitores.

Appis malifera
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A imagem da abelha-rainha no centro e uma série de obreiras não-reprodutoras a assegurar as várias funções necessárias à sobrevivência do grupo numa colmeia entrou no nosso imaginário colectivo como símbolo de cooperação, mas não nos conta a história de uma vasta quantidade de espécies solitárias.

6. A representação das abelhas na cultura popular é multifacetada

Nas artes, a representação das abelhas segue geralmente um de dois caminhos. Ora, são apresentadas como seres aprazíveis e benevolentes, ou até como modelos de comportamento – é o caso da famosa Abelha Maia ou de Barry B. Benson, protagonista de Bee Movie. Ora, constituem uma ameaça – em filmes de terror como o infame O enxame, de 1978, The Deadly Bees, de 1969, ou numa cena de tortura no remake do filme The Wicker Man, de 2006. Também na série Ficheiros Secretos, as imagens de abelhas portadoras de varíola e de vírus alienígenas são recorrentes. 

Adicionalmente, as abelhas aparecem na cultura popular de forma simbólica. No filme O Espírito da Colmeia, de Victor Erice, as colmeias que o pai da protagonista mantém simbolizam a falta de humanidade do regime franquista. Já em The Hive, da albanesa Blerta Basholli, a colmeia representa o espírito de interajuda de várias mulheres viúvas de homens caídos na guerra do Kosovo que, mesmo sob o olhar reprovador de uma comunidade patriarcal, se unem para construir o seu próprio negócio e se tornarem independentes economicamente.

Em Portugal, Uma Abelha na Chuva, livro de Carlos de Oliveira adaptado ao cinema por Fernando Lopes, desafia o leitor a imaginar uma abelha a tentar voar na chuva como metáfora de uma crise conjugal irresolúvel e de um país oprimido por uma ditadura cinzenta. Mais recentemente, e lá fora, as abelhas continuam a enxamear páginas de literatura, em The Bees, de Laillana Paul, uma distopia escrita do ponto de vista de uma abelha, ou em Abelhas Cinzentas, de Andrei Kurkov, recentemente editado em Portugal e que conta a história de um apicultor na Ucrânia dos nossos dias.