CXXI - A MORTE DOS AMANTES
Teremos leitos plenos de essências ligeiras,
Divãs assim profundos como
mausoléus,
E flores muito estranhas sobre prateleiras,
Pra nós desabrochadas sob
mais lindos céus.
Pondo em uso à porfia as chamas derradeiras,
Os nossos
corações serão dois fogaréus
Que irão reverberar suas luzes sem véus
Em nossas
duas almas, imagens parceiras.
Numa noite de rosa e de azul transcendente,
Trocaremos lampejo único e ardente,
Como um longo soluço pejado de adeus;
E
então, mais tarde, um Anjo, entreabrindo as portas
Irá reanimar, fiel e
sorridente,
Os espelhos opacos e as chamas já mortas.
- As flores do Mal,
Charles Baudelaire.