O avivamento wesleyano e a classe operária inglesa

 

 

Odilon Massolar Chaves

 

  

 

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Tradutor: Google

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Odilon Massolar Chaves é pastor metodista aposentado, doutor em Teologia e História pela Universidade Metodista de São Paulo.

Sua tese tratou sobre o avivamento metodista na Inglaterra no século XVIII e a sua contribuição como paradigma para nossos dias.

Foi editor do jornal oficial metodista e coordenador de Curso de Teologia.

É escritor, poeta e youtuber.

Toda glória seja dada ao Senhor

 

 

ÍNDICE

 

  

INTRODUÇÃO 

A INGLATERRA NO SÉCULO XVIII 

Contexto social

Contexto político

Contexto religioso

Wesley no contexto social-político-religioso da Inglaterra

O impacto do avivamento metodista

Diferentes avivamentos no meio do povo metodista

A consequência do avivamento metodista: compromisso social

O combate à pobreza 

Criação de escolas para o povo

A luta pela melhoria das prisões

A luta contra a escravidão

A contribuição do avivamento metodista

Contribuição do metodismo ao cristianismo na Inglaterra

Contribuição do metodismo à sociedade inglesa

A participação metodista na formação da classe operária inglesa 

Joseph Arch, fundou a união nacional de trabalhadores agrícolas

George Edwards fundou a união nacional dos aliados e trabalhadores agrícolas

Edward Bates Cowey, pregador e presidente da associação de mineiros Yorkshire

Samuel Finney, presidente da federação dos mineiros North Staffordshire

Motivados e movidos pela fé e amor  

 

INTRODUÇÃO  

 

O avivamento metodista no século XVIII, na Inglaterra,  e a formação da classe operária inglesa estão interligados.  Sem o avivamento, os metodistas não teriam sido resgatados, restaurados, capacitados e estimulados para fazer o bem ao próximo. 

João Wesley colocou os pilares e o metodismo contribuiu para a formação da classe operária inglesa. Ele conseguiu unir piedade e misericórdia.  Conseguiu estimular o amor ao próximo e a Deus dentro da ênfase da perfeição cristã, cuja marca principal é o amor a Deus e ao próximo. 

Citamos muitas opiniões de historiadores e líderes de diversas Igrejas sobre o avivamento metodista, que é considerado ainda hoje um modelo de avivamento. 

Reconhecidamente, na formação da classe operária inglesa houve uma participação efetiva de líderes leigos metodistas. A vida e o exemplo de cada um criando e liderando sindicatos são confirmações do título deste livro.[1]

 

O Autor 

 

A INGLATERRA NO SÉCULO XVIII 

 

        É o século na qual a economia inglesa se transforma no centro da economia mundial; o século no qual o império colonial inglês se constituí no império dominante e na qual se acham as bases da industrialização inglesa.”[2]

        (Franz Hinkelammert)

 

       Para compreendermos melhor as ideias e práticas de Wesley e do metodismo inglês, abordaremos de um modo geral a Inglaterra no século XVIII. Abordagem descritiva, não analítica, com o intuito de contextualizar o tema em apreço. Contudo é importante termos consciência de que isso é uma tarefa difícil. Como afirmou o professor metodista Duncan Alexander Reily “Caracterizar um século é tarefa árdua e arriscada.”[3]

      Mas é fundamental entendermos como o metodismo nasceu, se desenvolveu e realizou sua missão em meio à revolução social, religião e política da época.

      Não podemos escrever a história de uma Igreja sem levar em conta os fatos sociais em que ela surgiu. Vamos ver o contexto social, político e religioso.

Contexto social

        A partir da física de Isaac Newton (1642-1727), centrada na lei da gravitação universal, que tornou compreensível os movimentos de todas as partes do mundo físico, e da psicologia de John Locke[4] (1632-1704), a qual parecia desvendar os mistérios da mente humana, o século XVIII é conhecido como o Século das Luzes. Acompanhou o Iluminismo o conceito de religião natural, elaborado por Edward Herbert (1583-1648) e o Deísmo, sendo o livro de Mattew Tindal (1657-1733), Cristianismo tão velho quanto a criação (1730), conhecido como a bíblia dos deístas.[5]

        Uma das consequências da expansão do iluminismo no fim do século XVI e início do século XVII foi o desenvolvimento do racionalismo na religião.[6]

       “O conhecimento recente de antigas civilizações e de outras religiões ampliou os horizontes humanos e os confrontou com outras culturas que não a cristã. A prova da verdade para Locke era a razoabilidade, no sentido de conformidade com o senso comum. Compreendia ele a moralidade como o conteúdo principal da religião.”[7]

        Alguns filósofos passaram também a combater o cristianismo existente na Grã-Bretanha. Historiadores liberais como conservadores são quase unânimes em afirmar que o iluminismo[8] despertou uma crítica ao cristianismo e aos diversos relatos de milagres na Bíblia.

       “Toland, o superficial, combatia o Cristianismo por todos os meios que tinha ao seu alcance multiplicando seus livros e sofismas, e levando seus discursos inflamatórios tanto às tabernas como aos salões nobres. O elegante conde de Shaftesbury atacava fortemente a revelação divina (...). O fanático Woolston nos seus Discursos sobre os milagres, obra cuja venda chegou, segundo se diz, a trinta mil exemplares, atacou com violência os relatos dos evangelhos, declarando que não passavam de mitos e lendas (...”).[9]

      Com o Iluminismo veio também a Revolução Industrial, que substituiu as ferramentas pelas máquinas e a energia humana pela energia motriz. No aspecto positivo da Revolução Industrial, a invenção da máquina de fiar e tecer trouxe grande desenvolvimento.

       “Com a invenção de máquinas mais eficientes de fiar e tecer, e com a aplicação da força (primeiro da água, e, depois de James Watt [1736-1819], do vapor) para propulsionar essas máquinas, nasceu o sistema de fábricas (substituindo a fabricação caseira que dominava até então) e divorciando a  indústria do solo.”[10]

        Foram várias as invenções ocorridas durante o século XVIII, que levaram o país de agrícola a industrial. “James Watt (1736-1819) patenteou a primeira máquina de fato a vapor, em 1769. James Hargreaves (?-1778) tirou patente, em 1770, da máquina de fiar. Richard Arkwright (1732-1792) inventou o fuso mecânico, em 1768. Edmund Cartright (1743-1823) inventou, em 1784, o tear. Josias Wedgwood (1730-1795) de 1762 em diante tornou efetivas suas olarias de Staffordshire.”[11]

       Com essas mudanças, a Inglaterra tornou-se uma grande potência, o entreposto central do comércio mundial.[12] No começo do século XVIII, ela obtém o monopólio da comercialização têxtil de algodão hindu.

       Como o maior produtor era a Índia, a Inglaterra passou a comprar a lã para revendê-la. Proporcionou modernização e a utilização de diversas pessoas como mão de obra barata:       “Grandes massas de operários, e mesmo de crianças, são colocadas a serviço do ferro, do carvão de pedra e da grande indústria têxtil.”[13]

         Ao ultrapassar a Holanda, depois da metade do século XVIII, a Inglaterra  passa a deter a hegemonia econômica mundial, quando foi parte integrante de um processo contínuo de expansão, restruturação e reorganização financeira da economia mundial  capitalista.[14] Ela deixa de ser subordinada e se transforma:“(...) na nova dirigente e organizadora da economia  capitalista mundial.”[15]

       Franz Hinkelammert, durante o Primeiro Encontro de Teologia Protestante, na Costa Rica, entre 6 e 11 de fevereiro de 1983, afirmou: “Que representa o século XVIII para a Inglaterra? É o século na qual a economia inglesa se transforma no centro da economia mundial; o século no qual o império colonial inglês se constituí no império dominante e na qual se acham as bases da industrialização inglesa.”[16]

       A crescente necessidade de matéria prima implicou numa mudança na estrutura agrária inglesa. A produção de alimentos deu lugar à produção de lã. Os grandes latifundiários transformaram suas fazendas em produtoras de lã. Os fazendeiros começaram a ocupar as terras cedidas aos agricultores para integrá-las às suas fazendas e transformá-las em fazendas de lã, utilizando menos mão de obra levando a expulsão de grande número de camponeses de suas terras.[17]

         A desapropriação das terras proporcionou uma crise social enorme, que afetou grande parte da população trazendo desemprego em massa.

         Segundo o historiador marxista inglês Edwards Thompson:  “Na agricultura, os anos entre 1760 e 1820 foram a época de intensificação dos cercamentos, em que os direitos a uso da terra comunal foram perdidos numa vila após a outra; os destituídos de terras e, no sul, os camponeses empobrecidos são abandonados às expensas dos granjeiros, dos proprietários de terras e dos dízimos da Igreja.”[18]

         Muitos passaram a vaguear pela cidade procurando onde ficar. Para o historiador Christhoper Hill, a realidade social na Inglaterra, no final do século XVII, era alarmante:  “(...) por baixo da aparente estabilidade da Inglaterra rural, dos vastos e plácidos campos abertos que cativam o olhar, havia portanto a fermentação e mobilização dos invasores de florestas, dos artesãos e pedreiros itinerantes, de desempregados de ambos os sexos em busca de trabalho, de atores, menestréis e jograis ambulantes, bufarinheiros e charlatões, ciganos, vagabundos, vadios, concentrando-se principalmente em Londres e nas grandes cidades.”[19]

         Uma contradição enorme na Grã-Bretanha que passou a ter a hegemonia mundial, mas que vivia  grave crise social:       “A expansão comercial, o movimento de fechamento das terras comunais, os inícios da Revolução Industrial - tudo ocorreu à sombra da forca. Os escravos brancos deixavam nossas costas para as plantações americanas e depois para a Terra de Van Dieman, enquanto Bristol e Liverpool enriqueceram com os lucros da escravidão branca; e os proprietários de escravos das plantações das Índias ocidentais transportavam sua riqueza para antigas linhagens genealógicas no mercado casamenteiro de Barth. Não é um quadro agradável. Nas profundezas, policiais e carcereiros apascentavam nos pastos do crime: o pagamento por assassinatos de encomenda, o dinheiro embargado pela justiça, o comércio de álcool para suas vítimas. O sistema de recompensa proporcional à gravidade do crime, oferecidas pela captura de ladrões, incitava-os a aumentar o delito dos acusados. Os pobres perdiam seus direitos na terra e eram tentados ao crime pela sua pobreza e pelas medidas preventivas inadequadas; o pequeno comerciante ou.” mestre de ofícios eram tentados à falsificação ou a transações ilícitas por temor à prisão por dívidas (...).”[20]

       Para o historiador inglês Edward Thompson, a Revolução Industrial foi catastrófica para o povo: “O povo foi submetido, simultaneamente, à intensificação de duas formas intoleráveis de relação: a exploração econômica e a opressão política. As relações entre patrões e empregados tornaram-se mais duras e  menos pessoais (...).”[21]

       Segundo o metodista Francis Gerald Ensley, no século XVIII, a conduta moral de uma grande parte era irregular, na Inglaterra: “A moral era baixa, como resultante. Os estadistas proeminentes eram incrédulos e distinguiam-se pela conduta irregular, enquanto as massas pobres eram ignorantes e brutais num grau de difícil descrição.”[22]

         Entre os problemas sérios na sociedade inglesa, o historiador metodista Duncan Alexander Reily cita alguns e afirma que havia imoralidade ente os altos oficiais do governo; o jogo havia se tornado quase um passatempo; o alcoolismo era um problema tremendo; a recreação era bárbara em geral; o roubo de todo tipo era comum, etc.[23]

         Como consequência de toda uma insatisfação social, a lei era odiada e desprezada. O movimento de resistência à lei tomava a forma de atos individuais e de insurreições esporádicas. O povo inglês era conhecido pela sua turbulência e o povo de Londres pela sua falta de respeito.[24]  Diversos motins surgiram por questões sociais e econômicas: “(...) ocasionados pelos preços do pão, pelos pedágios e portagens, impostos de consumo, 'resgates', greves, nova maquinaria, fechamento das terras comunais, recrutamentos e uma série de outras injustiças.”[25]

       Motins famosos por causa de alimentos foram os registrados na Feira do Ganso em Nottingham, 1764, e ficou conhecido como o "Grande Motim do Queijo", quando queijos inteiros rolaram pelas ruas. Na mesma cidade, houve o motim provocado pelo alto preço da carne, em 1788. O povo arrancou as portas e venezianas dos açougues,  que foram incendiados.[26]

Contexto político

       A situação política na Inglaterra, no século XVIII, era tranquila, em comparação ao século anterior, quando houve guerra civil[27] e o rei Carlos I foi destituído e morto em 9 de fevereiro de 1649.[28]

         A partir de 1688, o sistema político inglês caminhou para a política de clientela, que consistia na manipulação dos favores e ameaças. Os favores consistiam em salvar uma pessoa da cadeia ou forca.[29]     “Os conflitos políticos e religiosos do século anterior não somente produziram cicatrizes, mas deixaram ainda feridas abertas a sangrar. A tirania Stuart somente terminou com a guerra civil e morte do rei(1649), A Comunidade de Cromwell (1649-1660) e a expulsão final de James II pela Revolução Protestante de 1688, causaram ódios, derramamento de sangue, o exílio ou morte de muitos homens de caráter e capacidade, em todos os partidos, e o consequente empobrecimento da nação.”[30]

         A ilha da Grã-Bretanha, no século XVII, e, consequentemente, parte do século XVIII, apresentava um quadro peculiar na corte: “Na Inglaterra do século XVII era elegante ir ao hospício de Bedlam ver os pobres lunáticos; no teatro isabelino e especialmente no do rei Jaime são frequentes as máscaras de loucos dançando. Bobos da corte, ou bobos de casas aristocráticas, fazem parte desse panorama mais amplo; é de se perguntar se eles seriam sempre tão espirituosos como os de Shakespeare, embora não haja dúvida de que eventualmente alguns homens muito sagazes representavam o papel de bobo para ganhar a vida.”[31]

         A situação política volta ao normal quando o príncipe Charles é derrotado em abril de 1746.[32]

        A partir de meados do século XVIII, a Grã-Bretanha passa a deter a posição central na economia mundial. Segundo o economista e político italiano Giovanni Arrichi, isto ocorre no contexto do ciclo sistêmico de acumulação.[33] O ciclo genovês vai do século XV ao início do século XVII; o ciclo holandês, do fim do século XVI até decorrida a maior parte do século XVIII; o ciclo britânico, da segunda metade do século XVIII até o início do século XX.[34]

       A Grã-Bretanha disputava com a França a supremacia mundial.  Quando ela venceu a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), estava encerrada a luta com a França pela supremacia,[35] contudo, não ainda mundial.

       Segundo Giovanii Arrighi, isso se deu após a perda da colônia na América. Os norte-americanos haviam vencido os ingleses com o apoio dos franceses em aliança com os holandeses. Posteriormente, houve retaliação britânica à Holanda após a Guerra da Independência dos EUA causando  assim a aniquilação do  poderio marítimo holandês com as consequentes perdas em seu império nas Índias Orientais. Em consequência, uma crise que vinha minando o mercado financeiro de Amesterdam, desde 1760,   roubou-lhe a posição central na economia mundial, que passou à Grã-Bretanha.[36]    

        Para Giovanni Arrighi, a Inglaterra/Grã-Bretanha ‘tornou-se’ uma ilha poderosa através de um árduo processo bissecular de ‘aprendizagem’ sobre como transformar uma desvantagem geopolítica fundamental, na luta continental pelo poder diante da França e da Espanha, numa vantagem competitiva decisiva na luta pela supremacia comercial no mundo.[37]

        Havia dois partidos políticos na Inglaterra do século  XVIII.  “O partido Tory era conservador, enquanto o partido Whig era favorável a reformas e ao progresso; era liberal com preocupações sociais.”[38]

      O fato é que a Inglaterra do século XVIII, politicamente foi  tolerante, em relação ao século anterior onde houve constante luta.[39] Mas os nervos de muitos estavam abalados pela catástrofe política do século anterior.[40] Havia um governo monárquico, que tinha uma certa tranquilidade em governar com o partido Tory.[41]

        Contudo, a fermentação social trouxe dificuldades para o Governo, quando surgiram as turbas, que lutavam pelos seus direitos, como a turba de Londres, em 1760, que ficou fora do controle das autoridades: “Num certo sentido, era uma turba de transição, em vias de se tornar uma multidão radical autoconsciente; o fermento da Dissidência e da educação política entrava em ação, dando ao povo uma predisposição para assumir a defesa das liberdades populares, desafiando as autoridades, em 'movimentos de protesto social, onde o conflito subjacente dos pobres contra os ricos’ (...) é claramente visível.”[42]

        Esses protestos assumiam um tom republicano e revolucionário, quando o povo dizia slogans como: Maldito seja o Rei! Maldito seja o Governo! Malditas sejam as Justiças![43]

        A última grande ação de uma turba, no século XVIII, ocorreu em 14 de julho de 1791, em Birmingham, quando reformadores da classe média comemoravam a tomada da Bastilha, na Revolução Francesa. Naquela noite, e nos três dias seguintes, casas de cultos, lojas e casas foram saqueadas e incendiadas, especialmente os dissidentes ricos foram as principais vítimas.[44]

Contexto  religioso

      O surgimento do protestantismo na Inglaterra teve origem em uma disputa do rei Henrique VIII com a Igreja de Roma. De "defensor da fé", título que recebeu do Papa por defender o catolicismo contra os escritos de Lutero, o rei da Inglaterra passou a ser visto como um herege pela atitude de se separar da Igreja Católica e assumir a liderança como "cabeça da Igreja" na Inglaterra.[45]

        “O Parlamento da reforma (1532-35) estabeleceu uma forma Erastina de governo, isto é, eles proclamaram Henrique VIII como cabeça tanto da Igreja como do estado na Inglaterra (pelo Ato de Supremacia) e constituíram a Igreja da Inglaterra como a religião oficial do estado e uma parte integrante da estrutura política.”[46]

         Com o rei Eduardo VI, a Igreja Anglicana adotou o Livro de Oração Comum, em 1549, e os 42 Artigos de Religião (depois mudados para 39 Artigos).[47] Em 1595, Richard Hooker escreveu Of The Laws of Ecclesiastical Polity (Das leis do estabelecimento Eclesiástico) promovendo uma exposição da estruturação e da doutrina da Igreja.[48]

         Os protestantes que não estavam vinculados à Igreja do Estado, eram conhecidos com dissidentes ou não-conformistas (mais tarde conhecidos como Igrejas Livres).[49]  Entre 1553-1558,[50] a Inglaterra foi governada por Maria Tudor. Durante esse período, muitas pessoas se exilaram e sofreram influência do protestantismo em Genebra, Zurique e Frankfort. Após sua morte, voltaram com um protestantismo mais radical, zeloso e que tinham a Bíblia como autoridade por excelência superando toda pretensão da Igreja de ser a intérprete ou ter a sua custódia.

         Pelo desejo que tinham de purificar a Igreja passaram a ser chamados de puritanos.   “Queriam banir dos ofícios o que criam ser um remanescente de superstição romanista e desejavam para cada paróquia um pregador zeloso, espiritual. Em particular, eram contrários às vestes clericais (...) opunham-se ao ajoelhar para receber a Ceia do Senhor, dizendo que tal atitude implicava adoração da presença física de Cristo; combatiam o uso de alianças no casamento, tendo-o como continuação do conceito do matrimônio como um sacramento; fazer o sinal da cruz no batismo, como superstição.”[51]

         A partir do puritanismo e com o apoio de simpatizantes, como professores da Universidade de Cambridge, as ideias separatistas se desenvolveram. Um dos líderes do puritanismo foi Thomas Cartwright (1535 ?-1603).[52]

         Eles e seus companheiros puritanos se opunham à separação da Igreja oficial da Inglaterra. Queriam introduzir a disciplina e as práticas puritanas e esperar as reformas do governo. Alguns não quiseram esperar tal mudança. Eram os separatistas, dentre os quais se encontravam os adeptos da política congregacional.[53]

       “Os separatistas insistiam em que os ministros deviam ser eleitos pela congregação de seus fiéis e pagos por contribuições voluntárias destes (...). Defendiam a tolerância para todas as seitas protestantes, repelindo a censura eclesiástica e todas as formas de jurisdição eclesiástica, em favor de uma disciplina interna às congregações, sem o aval de nenhuma sanção coercitiva (...). O seu programa implicaria em destruir a Igreja nacional, deixando a cada congregação a responsabilidade de seus negócios e havendo apenas um tênue contato entre as diversas congregações (...).” [54]

         Mais tarde, então, surgiram os chamados, não-conformistas, dissidentes ou Igrejas-Livres. Estes incluem os Congregacionalistas ou Independentes, os Batistas e os Presbiterianos, por um lado, com os Quacres e os Unitários por outro lado.[55]

         Os Puritanos tinham uma forte influência pietista.   “Os puritanos frequentemente portavam uma preocupação tipicamente calvinista, a promoção da piedade individual, a qual se tornou, então, característica de muitos não-conformistas.”[56]

         Quem não pertencia à Igreja oficial sofria os efeitos do Código Clarendon (1661-65)[57] e da Lei de Provas (1672),[58],cujo objetivo era forçar a uniformidade religiosa na Inglaterra. Eram impedidos de exercerem o poder político e ainda tinham que pagar dízimos para o sustento do culto anglicano.[59]

        A maior parte dos ingleses vivia, no século XVII, em um mundo mágico. Para eles, Deus e o demônio intervinham diariamente - um mundo de feiticeiras, fadas e encantamentos.[60]

         O fato é que durante os anos de 1640 a 1650 surgiram movimentos sectários, na Inglaterra: “Alguns deles como os Levellers e os Diggers, formaram seitas tanto religiosas como políticas. Outros fortemente demonstraram tendências milenáristas (relativo ao milênio), especialmente os Homens da Quinta Monarquia. Ainda outros revelaram inclinações místicas, tais como os Seekers e os Finders.”[61]

         Dentre as seitas estavam os Ranters, grande parte dos quais eram artesãos: “(...) um bom número dos seus partidários foi recrutado entre artesãos itinerantes, que se viram libertos durante a Revolução das peias que caracterizavam o sistema de trabalho interior - homens que não tinham amarras e estavam prestes a romper com a tradição.”[62]

       Os Ranters não formavam, necessariamente, uma congregação que se reunia para cultos: “(...) grande população móvel e itinerante de pequenos cottagers expulsos de sua terra, alguns camponeses, outros artesãos, que lentamente iam sendo atraídos pelas grandes cidades, onde se sentiam como estranhos, dispostos assim (às vezes) a se integrarem em grupos religiosos que rapidamente se radicalizavam.”[63]

       Para eles, o juízo final era coisa inventada e a vida após a morte não existia:[64] “(...) vinda de Cristo significa a vinda aos homens por intermédio do seu espírito. Quando ele assim integrar nos corações dos homens, estes não precisarão mais de socorros tão baixos a eles ministrados de fora.”[65]

       A Lei de 9 de agosto de 1650 contra as blasfêmias visava especialmente os Ranters. As penas eram severas: seis meses de reclusão, banimento em caso de reincidência e morte  se o banido se recusasse a deixar o pais ou retornasse clandestinamente.[66] Os blasfemadores foram tratados com rigor pelo Exército e obrigados a deixarem suas fileiras, como Joseph  Salmon. “Já que os ranters nunca tiveram qualquer organização, ao que sabemos, é difícil afirmar que fim levou a massa dos fiéis depois que foram detidos seus líderes, em 1650 e 1651.”[67]

       Uma outra seita chamava-se Anabatista ou ainda Familistas ou Membros da Família do Amor. O familismo foi difundido na Inglaterra graças a um marceneiro itinerante de origem holandesa – Christopher Vittels.

       “A principal doutrina anabatista era que as crianças não deviam ser batizadas. A aceitação do batismo - isto é, a recepção na Igreja – tinha de ser o ato voluntário de um adulto. Isso claramente subvertia o conceito de uma Igreja Nacional, à qual todo inglês, toda inglesa pertencia; ao invés desta, propunha a formação de congregações voluntárias por aqueles que acreditavam ser os eleitos. Logicamente, um anabatista tinha de objetar ao pagamento de dízimos, os dez por cento dos ganhos de cada um que, pelos menos teoricamente, serviam para sustentar os ministros da Igreja estatal. Muitos anabatistas recusavam-se também a prestar juramentos, pois não admitiam que uma cerimônia religiosa servisse para finalidades judiciais e seculares; outros rejeitavam a guerra e o serviço militar (...). O nome veio a ser usado num sentido pejorativo genérico, para referir-se àqueles que, creditava-se, opunham-se `ordem social e política vigente.”[68]

       Os familistas ou membros da Família do Amor eram seguidores de Henry Niclaes, nascido em Munster, em 1502, que pregou que o céu e o inferno haviam de se encontrar nesse mundo.

       Existiram ainda outras seitas, como a dos grindletonianos. Foi a única seita inglesa que deve o seu nome a um lugar e não a uma pessoa ou a um conjunto de crenças (...).[69] 

       A congregação de fiéis desenvolveu diversas heresias. Entre elas, afirmavam:  “(1) Devemos confiar mais num ímpeto que nos venha do espirito do que no próprio Verbo; (2) é pecado crer no Verbo (...) faltando um ímpeto do espírito(3) o filho de Deus afetado pelo poder da graça desempenha tão perfeitamente cada um dos seus deveres, que seria pecado ele pedir perdão por qualquer falta que cometesse, tanto quanto à forma como quanto ao fundo (...).”[70]

         Mas de todos esses movimentos um dos mais notáveis produtos das guerras civis na Inglaterra foi os Quacres, chamados também de Sociedade dos Amigos. [71]   Seu fundador foi Jorge Fox (1624-1691), que procurava ansiosamente a realidade espiritual, o que aconteceu em 1646. “Daí lhe veio a firme convicção de que toda criatura recebe do Senhor uma porção de luz e que se esta ´Luz Interior´ é seguida, ela seguramente leva à Luz da Vida e à verdade espiritual.”[72]

         Contrário ao formalismo, sua crença se baseava na imediata inspiração do Espírito Santo. Os elementos externos eram condenados. Os sacramentos são verdades interiores e espirituais. Os títulos artificiais, como Rei, Juiz deviam ser rejeitados. A guerra é ilícita e a escravidão incompatível.[73]

         Eles viviam em extrema vigilância do comportamento dos membros. Os Quacres foram perseguidos, mas o Ato de Tolerância, em 1689, trouxe liberdade. Fox morreu em 1691. [74]

         Grande importância também tiveram as Sociedades no desenvolvimento da religiosidade na Inglaterra.

           As sociedades adquiriram grande importância na Inglaterra, no século XVII. Elas procuravam preencher o vazio espiritual do povo inglês. Em certo sentido, elas se pareciam aos collegia pietatis de Spener. Eram compostas, especialmente, por participantes da Igreja oficial.

           “Iniciadas por Anthony Horneck, na década de 1670, as sociedades religiosas eram também formadas de pequenos grupos de leigos, que representavam uma fusão quase espontânea de moralismo e devoção, zelosos de promoverem a real santidade (...).”[75]

             As sociedades tinham a função de promover a verdadeira santidade, mas também promoviam algumas causas de caridade, combatendo a pobreza e o analfabetismo, por exemplo.[76]  Acreditavam que a solução para a mudança da sociedade era a mudança individual de cada pessoa. Por essa razão promoviam o esforço individual de uma vida de piedade.[77] Não tinham preocupação com a evangelização e crescimento.

        Mais tarde, surgiram outros grupos, como a Sociedade para a Reforma de Costumes, em 1691. “Preocupada com a moralidade da vizinhança, esta sociedade foi designada para encorajar e ajudar os magistrados a executarem seus deveres no cumprimento das leis a respeito de ofensas morais, especialmente ´profanação e devassidão.”[78]

       Outra sociedade surgiu - A SPCK (Sociedade para a Propagação do Evangelho). Esta sociedade  procurou atacar o que considerou a raiz do problema: a ignorância. A SPCK procurou desenvolver canais para a educação do povo. “O programa da SPCK consistia principalmente em estimular o estabelecimento de escolas de caridade para ensinar os pobres, promovendo a disseminação de bibliotecas de empréstimo e visitando os presos para dar-lhes instrução e livros, além de prestar-lhes assistência religiosa.”[79]

           Os sermões eram, geralmente, sobre as virtudes morais.         Segundo o historiador Mateo Lelièvre, a Inglaterra apresentava um aspecto sombrio em sua religiosidade. Ele cita  Montesquieu:  “Não há religião na Inglaterra; quatro ou cinco membros da Câmara dos Comuns frequentam a missa ou o culto oficial. Se por ventura alguém falar em Deus, todos riem.”[80]

              A Igreja Anglicana era quase sem expressão na vida do povo: “Conservadora sem ser teológica. Pensava-se pouco em problemas doutrinários. A religião, como se ensinava na Igreja Anglicana, significava obediência moral ao desejo de Deus.”[81]  Havia homens sábios e talentosos na Igreja Anglicana, no século XVIII, como os teólogos Guilherme Sherlock, Daniel Waterland, o bispo Butler e o cônego Prideaux, mas seus sermões eram meras dissertações sobre assuntos morais, que eram lidos em tons frívolos e superficiais.[82]

Wesley no contexto social-político-religioso da Inglaterra

        O fato é que muito do que o metodismo praticou foi incorporado ou adaptado por  Wesley, como as Sociedades. Os próprios antepassados de João Wesley foram influenciados pelas Sociedades, especialmente pela SPCK (Sociedade para a Propagação do Evangelho) e ele próprio ganhou livros quando foi como missionário para a Geórgia.

       “Em 1700, Samuel Wesley tentou organizar uma pequena sociedade religiosa em Epworth, construída nos moldes das sociedades de Londres. Livros e panfletos foram pedidos a SPCK.”[83]

          Os metodistas, posteriormente, deram grande ênfase à educação dos pobres, apoio aos presos, evangelização, ênfase na santidade, etc, fruto das influências das  sociedades da época.

         O próprio pai de Wesley tinha no projeto da sociedade de Epworth a criação de escolas para os pobres, distribuição de folhetos visando a edificação pessoal, etc.[84]

         Wesley tinha consciência sobre o valor das sociedades metodista. Falava delas até num tom de supremacia: “(...) não há sociedade religiosa nenhuma debaixo do céu, que não exige dos homens para serem admitidos nela, senão o desejo de salvar as suas almas. Olhai ao vosso redor, não podeis ser admitidos na Igreja ou Sociedade dos Presbiterianos, Anabatistas, se não aceitardes as mesmas opiniões deles, e vos conformardes com a mesma adoração. Só os Metodistas é que não insistem em que tenhais as mesmas opiniões, mas pensam e deixam pensar. Nem impõem qualquer modo de adoração (...).”[85]

       “A participação nas sociedades era aberta a todos quantos desejassem fugir da ira vindoura. A Sociedade reunia-se semanalmente, sendo que a oração, a exortação, e o cuidado mútuo eram os principais componentes da vida comum. O alvo principal era auxiliarem-se mutuamente a alcançar a sua própria salvação.”[86]

        Em 1743, Wesley criou as Regras Gerais das Sociedades Unidas [87] para controlar as atividades das sociedades. A escolha da sociedade para o movimento metodista foi acertada. “Em 1768, o Metodismo possuía quarenta circuitos e 27.341 membros. Dez anos mais tarde, havia crescido para sessenta circuitos e 40.089 membros. Em 1798, o Metodismo tinha 149 circuitos com 101.712 membros.”[88]

         Quando Wesley iniciou seu ministério, as tendências no pensamento e na vida religiosa na Inglaterra, no início do XVIII, eram preocupantes, segundo o historiador Walker Welliston:       “O racionalismo penetra todas as classes de pensadores religiosos, de modo que mesmo entre os ortodoxos o cristianismo se assemelhava mais a um sistema de moralidade apoiado por sanções divinas.”[89]

         Em relação à política, Wesley foi conservador, fiel ao Rei.  Na tentativa de restauração da dinastia Stuart[90], houve um episódio envolvendo os irmãos Wesley. Rumores indicavam uma ligação deles com o pretendente à coroa, o Príncipe Charles, o Belo, que estava na França.  Eram suspeitos de serem jacobitas,[91] partidários de Stuart. E isso significava ser perseguido e agredido violentamente por parte do povo.[92]

        Segundo Glen Williamson, Susana Wesley era uma jacobita. Provavelmente, esse fato levava Wesley a ser identificado como partidário dos Stuarts: “Susana, cujas simpatias sempre se voltaram para os Stuarts, suplantados por Guilherme e sua rainha em 1688, era uma jacobita confirmada. Para ela, o príncipe de Orange era um usurpador da coroa.” [93]

        Carlos Wesley foi acusado de orar para que o Senhor trouxesse de volta o Príncipe banido. Ele foi inocentado pela justiça e aproveitou para demonstrar sua lealdade à coroa. [94]

        “Wesley achou melhor escrever ao rei, em nome dos metodistas, uma mensagem de lealdade (...).”[95]

        Quando o príncipe Charles invadiu a Escócia, em 1745, Wesley foi para Newcastle para ficar junto ao seu povo.

       “(...) Em contato com o prefeito e afirmou seu leal apoio, declarando com clareza: 'Eu exorto todos os que me ouvem a fazerem o mesmo, e em suas diversas situações a se manifestarem como súditos leais que, enquanto temerem a Deus, não poderão honrar senão ao rei.”[96]

       Samuel e Susana Wesley, pais de João e Carlos Wesley, foram leais à coroa inglesa, portanto, apoiavam o partido Tory. Wesley seguiu aos seus pais,[97] embora a sua consciência social o levasse à atitudes contrárias ao partido Tory em relação à liberdade religiosa, à guerra, ao contrabando, à escravidão, à produção e comércio de bebidas.[98]

       Apesar de citar o metodismo como um grupo religioso que serviu de base para o surgimento de sentimentos de esperança e de solidariedade entre os operários, Edward Thompson coloca Wesley como muito conservador em questões políticas:

       “A certo nível, pode-se reconhecer sem a menor dificuldade o caráter reacionário – na verdade, odiosamente subserviente – do wesleyanismo oficial. As poucas intervenções políticas ativas de Wesley incluíram panfletos contra o dr. Price e os colonos americanos. Raramente deixou passar a oportunidade de impor a seus seguidores as doutrinas de submissão (...).”[99]

      Contudo, Wesley foi sensível às necessidades dos excluídos e questionador da situação social do povo. Em 1759, ele comentou sobre a difícil situação dos presos que estavam em Knowle: “Andei a pé até Knowle, boa milha distante de Bristol, para visitar os prisioneiros franceses. Mais de mil e cem, segundo fomos avisados, estavam reunidos num pequeno espaço, sem cousa alguma em que deitar, senão colchões de palha, e sem cobertores; para se cobrirem só tinham alguns trapos, quer de dia quer de noite, portanto, morreram como se fossem ovelhas atacadas de morrinha. Fiquei horrorizado; à tarde preguei sobre Êxodo 23:9 ´Não oprimirás o peregrino; pois vós conheceis o coração do peregrino, visto que fostes peregrinos na terra do Egito.” [100]

        Em seu tempo, aumentaram as injustiças sociais e o desemprego. Em seu diário, João Wesley comenta, em 1772, sobre um grande desemprego como nunca se tinha visto antes:      “Descobrindo que muita gente estava sem emprego, e consequentemente em necessidades, por causa de uma crise no comércio, crise tão grande como nunca houvera igual lembrança do homem (...).”[101]

        Mesmo tendo sofrido com os motins, quando foi perseguido por questões religiosas,[102] Wesley elogiou a ação de uma turba por agir sem violência, em James Town: “(...) estivera em atividade durante todo o dia; mas sua preocupação era apenas com os açambarcadores do mercado, que tinham comprado trigo em toda parte, para matar de fome os pobres e carregar um navio holandês, que estava no cais; mas a turba trouxe-o todo de volta para o mercado e vendeu-o pelos comerciantes ao preço comum. E isso fizeram com toda calma e compostura imagináveis, sem atacar nem ferir ninguém.”[103]

           A aceitação das mensagens de Wesley e de seus companheiros, especialmente pela classe mais pobre, se deu  porque  elas atingiram suas necessidades: “Foi esta combinação de piedade e misericórdia que deu à espiritualidade wesleyana a sua vitalidade e ministério.”[104]   Steve Harper, por isso, define a espiritualidade wesleyana como espiritualidade social.[105] Ela surgiu da ênfase de Wesley nos Atos de Piedade e Obras de Misericórdia.

 

O IMPACTO DO AVIVAMENTO METODISTA

 

“Deus derramou abundantemente Seu Espírito sobre nós.”[106]

                                                 (João Wesley)

 

         O avivamento[107] do século XVIII, na Inglaterra, ocorrido entre os metodistas é considerado paradigma[108] para algumas pessoas.[109] Ele teve como consequência a solidariedade aos necessitados, especialmente aos operários.  

         Em um dos seus sermões, Wesley disse: “Mas quantos há neste país cristão que trabalham e suam e afinal não têm senão que lutar contra a tristeza e a fome?” [110] Para muitos estudiosos e líderes evangélicos, o Movimento Metodista  impediu a Inglaterra de ter uma revolução semelhante a que aconteceu na vizinha França, em 1789.[111] 

           Avivamento e compromisso social caminharam sempre juntos no metodismo do século XVIII. As experiências espirituais na vida de Wesley foram diversas ao longo de toda caminhada, mas duas foram fundamentais: o coração aquecido, em 24/05/1738, e o derramamento  do Espírito Santo, em 01/01/1739.[112] Por outro lado, a ação do Espírito Santo trouxe compromisso com os necessitados: “Já na primeira conferência anual (1744), ao estabelecer algumas regras práticas para aliviar a situação dos mais necessitados, aponta nessa direção: ‘Até que tenhamos todas as coisas em comum, cada membro trará, uma vez por semana, honestamente, tudo que possa para um fundo comum.”[113]

        João Wesley, em seu sermão O Cristianismo Bíblico, pregado em 24 de agosto de 1744, em Oxford, comenta sobre os motivos da manifestação do Espírito Santo a todos os cristãos, entre eles, após realizar mudança  interior,  levar a andar no trabalho de amor: “Conceder-lhes ( o que ninguém pode negar seja essencial a todos os cristãos, em todos os tempos), a mente que havia em Cristo; os santos frutos do Espírito, os quais, não os tendo alguém, esse tal não lhe pertence; teve em vista enchê-los de ‘caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade (Gál, V:22-24); dotá-los de fé (talvez esta ideia melhor se expresse pelo termo fidelidade), com humildade e temperança; habilitá-los a crucificar a carne, com suas feições e cobiças, suas paixões e desejos; e em consequência da mudança interior, assim assegurada, preencher toda justiça exterior, ‘andar como Cristo também andou na ‘obra da fé, na paciência da esperança, no trabalho de amor’ (! Tes.I:3).[114]

         Neste capítulo pretendemos mostrar que o metodismo participou profundamente na transformação social inglesa porque viveu o Evangelho integral de Jesus Cristo. Ele procurou suprir às necessidades espirituais e sociais, especialmente dos excluídos pela revolução industrial.

O desenvolvimento da ação do Espírito Santo no movimento metodista

         O mover[115] do Espírito no meio do povo chamado metodista,  na Inglaterra,  não foi um fato único e isolado. Houve simultaneamente outros avivamentos em algumas partes do mundo.[116]

         O dia 13 de agosto de 1727 é conhecido como o dia do renascimento da Igreja Moravia.[117].Quando era realizado um ofício, os presentes foram marcados por um forte poder espiritual.

         Por volta de 1730, aconteceram os chamados reavivamentos em Gales e na Escócia, que antecederam a Wesley.[118] Na América, a partir do fim de 1734, Jonathan Edwards foi o líder no chamado "Primeiro Grande Despertamento.”

       “O movimento de maior influência e o mais transformador na vida religiosa da América no século décimo oitavo foi o Grande Despertamento – reavivamento que teve muitas fases e se estendeu por mais de cinquenta anos.”[119]

         Não se pode também atribuir a João Wesley a realização do avivamento metodista na Inglaterra. Havia um mover do Espírito em diversos lugares e sua ação em meio ao povo metodista aconteceu com diversos líderes. Ele foi, sim, o principal líder do movimento metodista.  Segundo Duncan Alexander Reily: “Wesley percebia que os diversos movimentos, a  saber: os morávios, no continente da Europa, os metodistas, na Grã-Bretanha, Jônathas Edwards e outros na Nova Inglaterra (América do Norte) realmente perfaziam uma única obra de Deus.”[120]

         Foi George Whitefield quem despertou Wesley para as pregações ao ar livre aonde milhares vinham participar e onde houve diversos derramamentos do Espírito. Wesley o viu pregar no dia 1º de abril de 1739 para trinta mil pessoas em Rose Green. Ele logo passou a pregar também no "campo".[121]

         O fato de não estar dentro de um ambiente litúrgico rígido da Igreja Anglicana trouxe maior liberdade às pessoas e ao Espírito Santo.

         A experiência de 24 de maio de 1738[122] trouxe a Wesley a segurança da salvação, mas a experiência do poder de Deus,  na madrugada da  vigília iniciada,  no  dia 3l de dezembro do mesmo ano, trouxe a Wesley profunda reflexão sobre o derramar do Espírito Santo.

       “Tais demonstrações da obra do Espírito levaram Wesley a refletir sobre sua própria condição e, em poucos dias, teve novamente uma oportunidade de escrever notas de autorreflexão.”[123]

       A ação do Espirito Santo passou a fazer parte da vida diária de Wesley. Em 1749, ele registrou em seu Diário: “Preguei (como de costume), às cinco horas e às quinze, com convicção e poder do Espírito.”[124]

      Dez anos antes, em 1739, Wesley escreveu alguns versos num volume de Hinos e Poemas Sagrados onde ele revela sua necessidade do poder do Espírito Santo e do amor de Deus:

“(...) Senhor, fortifica-me com o poder do Teu Espírito,

Posto que sou chamado pelo Teu grande nome

Em Ti todos os meus pensamentos errantes se unem,

De todas as minhas obras seja Tu o alvo;

O Teu amor me assista toda a vida

E a minha única ocupação seja o Teu louvor (...)”. [125]

        Segundo Heitzenhater, tais experiências levaram Wesley a auto-reflexão e a registrar que tinha dúvidas sobre si em relação ao amor, paz e alegria. Em sua avaliação, o cristão é alguém que tem o fruto do Espírito. Nesse sentido, ele não se considerava um cristão.[126]

         A partir de 1739, Wesley presenciou uma constante ação do Espírito no meio do povo. Estiveram presentes em suas pregações milhares de pessoas: Blackheath (12.0000); Moorfields (20.000); Gloucester (7.0000); Parque de Kensington  (20.000).[127]

       Após longa experiência com as pregações e com as sociedades metodistas, seu conceito, em 1761, era: “(...) onde não se encontra o poder de Deus, o trabalho enfraquece.” [128]

        Multidões vinham ouvir as pregações dos metodistas. Em 20 de maio de 1752, Wesley registrou em seu Diário:      “Preguei em Beddick a grande multidão de Coliers ( mineiros de carvão), ainda que chovia durante a pregação.”[129]

         A teologia e os métodos de Whitefield e Wesley passaram a ser atacados pela imprensa local, mas o pai de Metodismo passou a ter consciência de que Deus o havia chamado para pregar além das fronteiras da paróquia.[130]

         As sementes do avivamento estavam brotando no meio do povo chamado metodista de uma forma que Wesley e os primeiros metodistas não haviam pensado ou experimentado antes. Com o avivamento, muita gente simples do povo passou a frequentar as sociedades metodistas.[131]

         Nas pregações de Wesley e Whitefield começaram a haver manifestações físicas. Alguns caiam no chão. Outras pessoas gritavam, choravam, gemiam. Até autoesbofeteamento e mordidas  ocorriam.[132]

         Certa ocasião, um quaker estava perto e muito desgostoso pela dissimulação daquelas criaturas. Ele estava mordendo os lábios e franzindo a testa quando caiu como que fulminado por um raio.[133]

         Wesley e os metodistas foram chamados de entusiastas,[134] ou seja, pentecostais, para os dias de hoje. Wesley não aceitava essa acusação. Ele orava a Deus para livrar as pessoas dos gritos, que revelavam que sua alma estava em profunda agonia.[135]

         As manifestações passaram a ser algo natural nos cultos em que Wesley e Whitefield pregavam. Certa vez, Wesley foi impedido de pregar em Epworth e o pastor local pregou um sermão o acusando de entusiasta.[136] Alguém convidou Wesley para voltar ali e pregar às 6 horas da manhã. Ele ficou no lado oriental do templo, sobre o túmulo do seu pai e pregou durante uma semana no mesmo lugar.

       “Neste local, algumas vezes, suas voz era abafada pelo choro e clamor dos ouvintes e diversos caíram como se estivessem mortos. Ele disse: Meu pai trabalhou aqui durante quase 40 anos; mas houve pouco fruto. Eu sofri também entre este povo, e parecia que os meus esforços eram feitos em vão, mas os frutos aparecem agora.”[137]

           Os que eram alcançados pelo mover do Espírito Santo estavam dependentes de Deus: o povo simples, sofrido, que vivia miseravelmente. Eram os mineiros, os criados, os tecelões desempregados, as crianças pobres, etc. Eles experimentaram a graça de Deus e eram transformados. [138]

         Para Wesley:   “O mesmo Espírito que conduz o pecador arrependido a Cristo e lhe permite confessar  ´Jesus é Senhor´ (1Co 12.3) faz-nos não apenas andar uniformemente como Cristo andou (1Co 11.1) como também ter o mesmo sentimento que nele houve, a saber, o de esvaziar-se a si mesmo e identificar-se com  a nossa humanidade, nossa  miséria, nosso pecado e nossas contradições, a  fim de nos remir (...).”[139]

         Os avivamentos aconteciam em momentos de orações ou pregações. Não era algo programado. Em abril de 1739, houve um reavivamento em Bristol.[140] Em 1750, o reavivamento metodista era reconhecido na Inglaterra.[141]

         Em 31 de maio de 1767, Wesley registra em seu Diário sobre um grande avivamento ocorrido  em Cork: “Estive aqui quando a chama do avivamento estava mais alta, e preguei ao ar livre, no centro da cidade e no lado sul, perto do quartel, e diversas vezes em Blackpool, que fica ao norte. Mais e mais interessados, e houve aqui avivamento maior do que em qualquer outra parte do reino.” [142]

         No Diário de Wesley e outros livros encontramos o relato de diversos acontecimentos relacionamentos ao Espírito Santo no meio do povo metodista:

         A descrição de Wesley sobre ação do Espírito Santo revela a evidência do fruto do Espírito no movimento metodista. O avivamento se tornou parte da identidade metodista. Numa das reuniões, em 13 de outubro de 1747,  a chama do amor marcou a vida dos presentes:  “(...) uma chama de amor se manifestou de tal maneira como nunca se tinha visto antes.”[143]

         Em outra reunião, em 9 de fevereiro de 1750, o fruto do Espírito descrito por Wesley foi a alegria: “(...) a voz de louvor subiu ao trono de Deus, e foi grande o nosso regozijo perante o Senhor.”[144]

         Já na reunião de 18 de fevereiro de 1750, uma semana depois, houve a experiência com o poder de Deus: “Hoje, também, onde nós nos reunimos, Deus manifestou Seu poder.”[145]

         A ação do Espírito proporcionava a mudança do caráter. Não era apenas a evidência dos dons espirituais, como em 28 de abril de 1762, quando houve transformação nas pessoas presentes: “Deus derramou abundantemente Seu Espírito sobre nós. Muitos ficaram cheios de consolação (...) Deus restaurou o homem à luz da Sua face, e deu à jovem moça a convicção clara do Seu amor.”[146]

          Junto com o avivamento vinham também os problemas como resultado de extravagâncias. Nos exageros do avivamento de 1762, em Londres, Wesley afirmou que o joio foi semeado por Satanás entre o trigo, após ele se ausentar.

            Em 10 de julho de 1767,  Wesley mostra em seu Diário que a manifestação do Espírito acontecia também pela oração. Deus não era indiferente ao clamor dos metodistas:  “(...) Deus respondeu às nossas orações. Parecia que as portas do céu foram abertas.”[147]

         Em algumas ocasiões, como em 9 de outubro de 1768, as orações eram incessantes para Deus manifestar sua graça. Havia uma certeza de que Deus era poderoso e misericordioso para os atender: “(...) não cessaram de clamar a Deus enquanto não foram atendidos. Deus lhes transbordou o coração de alegria.”[148]

         Os metodistas oravam também por um avivamento específico, como Wesley revela que aconteceu, em 19 de maio de 1769: “(...) oramos por avivamento no trabalho do Senhor (...) desta feita Deus tocou o coração do povo, e até o coração daqueles que estavam mortos no pecado.”[149]

         Wesley descreveu a mudança que o Espírito do Senhor realizou em suas vidas e, consequentemente, nas fábricas:       “Não mais impudicícia ou profanação foram encontrados, pois Deus havia colocado uma nova canção em seus lábios, e as blasfêmias se transformaram em louvor.”[150]

         Diversos metodistas experimentaram o poder do Espírito. Wesley, como cita a madame Guyon: “Creio que ela não era somente uma boa mulher, mas até mesmo virtuosa em grau eminente, profundamente consagrada a Deus e muitas vezes favorecida por comunicações extraordinárias com o Espírito Santo.”[151]

         Alguns dons do Espírito Santo eram evidenciados no meio do povo metodista. João Wesley dizia que o dom de curar é um dom que havia sido destinado a permanecer na Igreja.[152] Ele dizia também que Deus dava sonhos divinos, êxtases e  visões para fortalecer e animar aos que creem.[153]

       Thomaz Walsh registra em seu diário, em 08/03/1750, que o Senhor lhe deu um idioma desconhecido, achegando sua alma a Ele de um modo maravilhoso.[154]

        Wesley, contudo, teve dificuldades com alguns pregadores na questão dos dons espirituais. Ele pediu ao pregador George Bell para deixar de falar em línguas como sendo de Deus.[155]

        Em 1788, disse que observava há quase setenta anos os profetas que profetizam coisas terríveis. Para Wesley, eles eram levados pela vã imaginação e raramente se convenciam de seus erros. [156] Wesley fala do misticismo como sendo um veneno.[157]

Diferentes avivamentos no meio do povo metodista

         O avivamento se tornou uma marca do metodismo. Wesley, contudo, também observou um "entusiasmo selvagem" entre o avivamento genuíno.[158] Ele se pautou sempre pelo equilíbrio e fundamentação bíblica. Fora disso, Wesley não tinha dúvidas de questionar. Foi assim com George Bell, que pregava o fim do mundo para 28 de fevereiro de 1763. Ele se separou dos metodistas.[159]

         Mas, no meio dos exageros, Wesley também presenciou diversas manifestações do poder do Espírito. Em 1784, ele encorajou o avivamento na Inglaterra dizendo: “A quem verdadeiramente esses são os símbolos de nossa missão, prova de que Deus nos enviou. Sessenta mil pessoas volvendo suas faces para o céu, e muitas delas se regozijando em Deus, seu Salvador.” [160]

         Apesar de alguns verem o Metodismo entrando em um período de tempestade e tensão, Wesley comparava a obra do Espírito entre os metodistas ingleses com o reavivamento realizado por Jonathan Edwards na  América, quando houve  uma forte ação do Espírito Santo.[161]

         Um dos reavivamentos que impressionaram Wesley foi o de Weardale, em 1772. Entre as semelhanças com os outros  reavivamentos estão: "seu surgimento inesperado, rápido progresso, grande número de conversões, emoções violentas que ocorreram, e o povo simples que o liderou", mas também  Wesley  percebeu  que  haviam  diferenças:   “Este era um verdadeiro reavivamento do trabalho, não um começo; o povo foi despertado e justificado em tempo muito mais curto; um número muito maior foi convertido; o número de visões e revelações fatalmente falsificadas pelo diabo foi bem menor; e o grupo de liderança incluía três pregadores itinerantes que foram renovados em amor (...).”[162]  

         Se Wesley não promovia encontros de avivamento, não se pode deixar de registrar que ele sabia de sua importância. No princípio, em 1739, Wesley viu diversas manifestações do poder de Deus, que ele descrevia as pessoas como sendo:       “(...) fulminadas, feridas pela espada do Espírito, tomadas de fortes dores, feridas no coração ou caíam de joelhos.” [163]

         Houve muitas críticas a Wesley e ao Movimento Metodista.[164] Mas essas pessoas atingidas pelo poder de Deus eram aliviadas pela oração e encontravam a paz.[165]

         Neste período, nas colônias inglesas na América, também estava havendo avivamento. Foi o chamado "Primeiro Grande Despertamento". Começou com Jonathan Edwards, em 1734. Logo depois, chegou George Whitefield que teve uma grande participação e o avivamento se espalhou por diversos lugares até por volta do ano de 1758. Mais tarde, Wesley compararia a obra do Espírito nos metodistas, na Inglaterra, com os reavivamentos de Jonathan Edwards, na Nova Inglaterra.[166]

         A ação do Espírito de Deus acontecia em diversos lugares, especialmente onde haviam corações humildes, submissos ao Senhor, que viviam nos limites da miséria e só esperavam em Deus.[167]

         Pentecoste era uma expressão utilizada por Wesley para falar da vinda do Espírito Santo. Apesar de toda a ação Espírito que acontecia, ele declarou em 1762: “O dia de Pentecostes não chegou ainda na sua plenitude; mas não duvido que venha (...).”[168]

         O progresso da obra missionária foi um fruto reconhecido por Wesley que revela a chegada do Pentecoste. Ele sabia que o Espírito poderia realizar coisas maiores. Neste  mesmo ano, Wesley disse:  “Nosso Pentecoste finalmente chegou’, disse em 1762, ao contemplar os progressos da obra missionária. Somente em Londres, mais de 400 membros das sociedades testificaram que foram libertos de todo pecado. Em Liverpool, a sociedade passou por uma verdadeira metamorfose em sua perfeição.”[169]

          O avivamento era resultado do trabalho espiritual que as sociedades desenvolviam na busca da perfeição cristã. O avivamento havia começado mesmo em 1761 e o objetivo era buscar a santidade.

        “O grande avivamento que apareceu  no âmbito das sociedades em 1761 era a melhor prova de que elas levavam muita a sério essa missão”.[170]

         Wesley estava feliz com o que presenciava. Era o coroamento de todo um trabalho. Ele disse: “Aprouve a Deus derramar Seu Espírito em todas as partes, tanto na Inglaterra como na Irlanda, e de uma maneira tal que nunca sequer vimos antes, pelo menos nestes últimos vinte anos.”[171]

          O avivamento em Dublin foi o mais notável para Wesley. Teve início com um pregador chamado João Manners, pessoa singela e sem eloquência, mas que parecia destinada a essa obra. João Wesley descreveu o que viu: “Essa gente está tomada pelo fogo divino; nunca presenciei dias como o domingo passado. Enquanto orava na sociedade, o poder de Deus tomou conta de nós completamente, e alguns exclamavam em voz alta, ‘Senhor, já posso crer.” [172]

         Wesley presenciou a chama do avivamento não somente entre os jovens e adultos, mas também entre as crianças por volta do ano de 1781.[173] Em Epworth, a industrialização havia instalado quatro fábricas de fiar e tecer. Diversas crianças foram empregadas. Algumas delas entraram por acaso em uma reunião de oração e foram tocados no coração.

       “Alguns deles entrando por acaso em uma reunião de oração foram tocados no coração. Seus esforços entre os companheiros mudaram então as condições em três fábricas.”[174]

         Wesley ficou entusiasmado também com a Escola Dominical, que atendia especialmente as crianças. Ele acreditava que era uma das formas de expandir o avivamento. Ele deu todo apoio ao jornalista Roberto Raikes, quando ele deu início ao atendimento aos meninos e meninas que andavam pela rua e incentivou aos metodistas que sempre ensinassem às crianças.[175]

        Mas, afinal, o avivamento era algo que  deveria somente acontecer naturalmente ou deveria ser propagado?

         Como característica do metodismo, Wesley entendeu que o avivamento deveria ser propagado. Em 1787, ele escreveu a um de seus pregadores que havia organizado uma Escola Dominical e disse:  “Parece que essas escolas serão um meio poderoso de que Deus se valerá para propagar um avivamento religioso no país.” [176]

         Nisto tudo vemos que o metodismo foi uma expressão dinâmica da espiritualidade, em seu início, onde a ação do Espírito Santo foi fundamental: “A expressão de uma espiritualidade dinâmica pessoal e comunitária. A plenitude da manifestação do Espírito na vida da pessoa e da comunidade testifica o lugar fundamental do Santo Espírito no movimento. Ele não seria apenas o Consolador, mas o Sustentador, o Fortalecedor, o Inspirador, o que nutria todos no caminho da verdade, o que possibilitaria a experiência da graça, o recebimento do dom e o frutificar da nova vida.”[177]

A consequência do avivamento metodista: compromisso social

        “Refletindo hoje sobre o caso de uma pobre mulher que sofre continuamente de dor no estômago, pude observar a negligência indesculpável da maioria dos médicos nos casos dessa natureza. Prescrevem drogas e mais remédios sem saberem um jota da natureza de tais desordens. Não a conhecendo, não podem curar, embora possam matar o paciente. De onde vem a dor dessa mulher (ela nunca teria dito coisa alguma, se não fosse perguntada)? Ela vem do desgosto pela morte do seu filho. De que adiantaria o remédio enquanto permanecer a tristeza? Por que então não consideram todos os médicos até onde as desordens físicas são causadas ou influenciadas pela mente, e por que não pedem a assistência de um ministro para os casos que fogem à sua alçada?"[178]

         Wesley nasceu numa Inglaterra doente. Alguns autores chegam a afirmar que a Inglaterra estava à beira de uma revolução semelhante a que aconteceu na França em 1789,[179] ou seja, três anos antes de Wesley falecer.

       “Foi um século, cuja poesia não tinha romance, cuja filosofia não tinha penetração, e cujos políticos não tinham caráter; século de luz sem amor, cujos próprios méritos eram da terra, terrenos.” [180]

         A influência do Metodismo foi vital para mudar a situação vigente na Inglaterra. Wesley não foi um reformador de estruturas e nem via o indivíduo como agente de transformação social, mas sua contribuição, dentro da visão da época, foi fundamental para mudar a situação social. Alguns se entusiasmam tanto que chegam a colocar o metodismo  até como o remédio para aquela época na Inglaterra: “O evangelho de Wesley era o remédio para aquele século enfermo. Não somente abrasou corações, esclareceu inteligências, expulsou temores, acalmou os nervos, repreendeu pecados específicos e estimulou o amor ao próximo, mas expressou-se em atos de caridade.”[181]

         Desde o princípio, Wesley estava interessado numa pergunta:

       “Você ama e serve a Deus?” [182]

         Wesley tinha um cristianismo prático. Não lhe agradava um avivamento enclausurado. O avivamento deveria levar a um compromisso social. A fórmula de Wesley era: Avivamento traz santificação,[183] que é igual a amor perfeito.[184] O amor perfeito inclui amar a Deus e ao próximo.[185] Em seu sermão Os quase cristãos, pregado em Santa Maria, Oxford, em 25 de julho de 1741, Wesley afirma que aquele que é totalmente cristão, além de amar a Deus, ama também ao próximo: “A segunda coisa em que implica o ser totalmente cristão é o amor ao próximo.”[186]

        Conforme o tema desta tese, o mover do Espírito Santo e a santificação, necessariamente, deveriam trazer atos concretos de amor a Deus e ao próximo.

       “Visto que a santificação é amor, ela é necessariamente santificação social. Por mais que Wesley pareça, algumas vezes, concentrar-se na experiência do indivíduo na vivência de sua santificação, o horizonte da santificação sempre é o da comunidade; o esforço pela comunhão perfeita com Deus inclui o reto relacionamento com os outros homens.”[187]

         Em 1742, Wesley escreveu sobre O Caráter de um metodista, cuja marca principal era o amor a Deus e ao próximo. Wesley começa este texto dizendo o que não são as marcas de um metodismo: “As marcas distintivas de um metodista não são as suas opiniões de qualquer sorte. O seu assentimento a este ou aquele esquema de religião ou o seu abraçar de qualquer grupo particular de noções ou o seu esposar o julgamento de um ou outro homem, estão completamente fora de discussão.”[188]

          Mas qual é, então, a marca? Wesley pergunta e responde que a sua principal marca  de um metodista é o amor:  “Um Metodista é alguém que tem o amor de Deus em seu coração, pelo Espírito Santo que lhe foi dado; é alguém que ama ao Senhor seu Deus, ‘com todo o seu coração, com toda  a sua alma, com todo o entendimento e força’(...). Ele faz o bem a todos, amigos e inimigos, ao próximo e ao estranho, e isto em todas as espécies: não só aos seus corpos, vestindo os nús, dando de comer a quem tem fome, mas muito mais do que isto, procurando o bem de suas almas, de acordo com os dons que vêm de Deus (...).”[189]

        Heitzenhater interpreta o que Wesley afirma sobre as marcas de um metodista: “A ação filantrópica dos metodistas, muitas vezes, foi a nível pessoal. João Wesley procurou envolver a comunidade na expressão de atos de misericórdia. Ele dizia que as pessoas que se enriquecem devem proporcionalmente aumentar seus atos de misericórdia, caso contrário, serão avarentos.” [190]

        Uma das formas de levantar dinheiro para ajudar aos necessitados era através de "pregações de caridade".[191]

        Uma hipótese para a ênfase metodista nas obras de caridade:  sua origem pode ter sido nas próprias Sociedades. Ao ajudar os necessitados, os membros da Sociedade pretendiam melhorar seu nível de vida espiritual.[192]

       “As sociedades religiosas, na tentativa de ajudar a melhorar essa situação, acharam necessário assumir uma atitude apologética que sustentasse programas tais como o desenvolvimento das escolas de caridade, destacando, com muito cuidado, que tais escolas não eram o berço de descontentes ou revolucionários (...).” [193]

       Em termos teológicos, contudo, a visão de Wesley para que ajudássemos o necessitado pode ser encontrada em seu sermão O Mordomo Fiel  escrito em 1768. Para ele, somos despenseiros da alma, corpo, bens materiais e dos vários talentos dados por Deus. Baseado em Lucas 17, Wesley afirma que um dia o Juiz nos julgará: “Foste consequentemente, um benfeitor geral da humanidade, alimentando o faminto, vestindo o nu, confortando o enfermo, abrigando o forasteiro, consolando o aflito, segundo suas várias necessidades? Foste os olhos do cego, os pés do estropiado? Foste o pai dos órfãos e o marido da viúva? E trabalhaste por levar a efeito todas as obras de misericórdia, como meio de salvar as almas da morte?” [194]

         Eis algumas das atitudes de Wesley e dos metodistas diante dos problemas sociais:

O combate à  pobreza

         A revolução industrial no século VXIII trouxe grande desemprego entre o povo. Wesley tinha uma visão social razoável para a sua época. Ele não culpava os pobres pela sua situação social e sim a falta de alimento, emprego, ganância, etc.[195]

         Wesley acreditava que a questão da pobreza poderia ser resolvida através da santificação do mundo: “(...)’virá o tempo em que o cristianismo predominará e cobrirá toda a face da terra’, quando cessarão guerras, ódios e desconfianças, que nos separam, desaparecerão; injustiça e pobreza serão banidas e a justiça regerá o mundo. Esta meta elevada sempre deve estar na base de nossos esforços e deve ser a medida de nossas expectativas, em vista dos dons que Deus nos concedeu.” [196]

        Esta esperança de Wesley vinha de sua piedade e do seu messianismo.[197]

         Em 1783, Wesley registrou em seu Diário:  “Notando a pobreza profunda de muitos dos nossos irmãos, resolvi fazer o que podia para aliviá-los. Falei pessoalmente com alguns que estavam em boas condições, e recebi quarenta libras. Depois de indagar, quais eram as pessoas mais necessitadas, eu as visitei de casa em casa.”[198]

         Era difícil a situação da classe operária, na Inglaterra. Ela era nova e não tinha dos patrões o devido reconhecimento do seu valor. Muitos camponeses perderam suas terras e passaram a andar pelas cidades. [199]

         Como se devia esperar, os que pertenciam à classe dos ricos viviam bem. Eles gastavam seu tempo em jogos e em reuniões sociais, onde imperava a imoralidade. Portanto, os ricos não tinham tempo para pensar na situação das demais classes.[200]

        Não faltou em Wesley a nota profética relativa aos graves problemas sociais. Segundo José Miguez Bonino,  ele rechaça as explicações tradicionais sobre as causas da pobreza. Denuncia a privatização, que deixa milhares de camponeses desempregados na Inglaterra.

       “ Wesley se  manifestou, de modo particular em seu tratado ´Thoughts on the Present Scarcity of Previsions` (work, 11/53 ss): Ali, Wesley não se limita a comprovar a terrível situação em que se encontra, senão que rechaça as explicações tradicionais da pobreza como destino ou como consequência de preguiça ou vício. Tais explicações, diz ele, são ´perversas e diabolicamente falsas´. Denuncia a privatização da propriedade (énclousure laws´) que deixa milhares de camponeses sem terra.” [201]

        A explicação inovadora, segundo Bonino, foi exatamente a denúncia da privatização da propriedade que deixava milhares desempregados.

         Um fator fundamental para aumentar o número de desempregados  e, consequentemente a pobreza, foi a revolução industrial ocorrida na Inglaterra no último terço do século dezoito, que a transformaria de país agrícola em industrial. [202]

         Esta revolução trouxe vantagens ao país, mas tirou também o pão-de-cada-dia de muitos que fabricavam à mão. Quando acontecia uma nevada, como em 1740 em Bristol, muitos acabavam na miséria.  Ele incentivava os metodistas de mais posses que ajudassem os empobrecidos. Como resultado, nessa ocasião, mais de cento e cinquenta pessoas por dia eram alimentadas. [203]

        Quais foram as atitudes de Wesley num país em que as massas pobres eram ignorantes e brutais num grau de difícil descrição? [204]

        Podemos dizer que, pelo menos de quatro maneiras, Wesley tentou resolver o problema da pobreza:

         João Wesley levantou ofertas para os que estavam desempregados. Em seu diário ele diz:  “Levantamos uma coleta em nossa congregação em prol dos tecelões que estavam sem emprego. A coleta importou em quarenta libras.”[205]

         Wesley solicitou aos metodistas que assumissem um compromisso de ajuda contínua aos menos favorecidos. Os metodistas procuravam fazer a sua parte:

       “O dinheiro levantado nas sociedades era usado, em parte, para a caridade local. Os stewards da sociedade de Londres distribuíam sete ou oito libras por semana para os pobres.” [206]

         Em 1741, Wesley percebeu que um grande número de pessoas da Sociedade Unidade de Londres carecia de meios de vida. Sua atitude foi:

       “(...) fez um apelo à Sociedade para que cada um contribuísse, se eles fossem capazes, com um penny (mais ou menos) por semana para um fundo de auxílio aos pobres e doentes, e que também trouxessem roupas das quais pudessem dispor, para serem distribuídas (...).”[207]

         Wesley e outros metodistas construíram orfanatos, asilos e lares para viúvas dentro da ética social metodista.[208] Uma destas pessoas foi Maria Bosanquet que gastou toda sua herança na manutenção de um orfanato e de um posto de caridade. [209]

            Os metodistas criaram "a casa dos pobres". [210] Eram duas casas alugadas perto da Fundição[211] para viúvas e idosos. Haviam cerca de doze pessoas. Em 1763, um grupo de mulheres  (Sarah Crosby, Sarah Ryan, Mary Bosanquet) organizou uma escola e um orfanato em Leytonstone.[212]

         A caridade metodista era grandemente uma filantropia pessoal. À Miss March, Wesley determinou:

           “Vá e veja o pobre e doente em suas pobres choupanas. Tome a sua cruz, mulher! Lembre-se da fé! Jesus foi adiante de você e irá ao seu lado.” [213]

         Wesley reconhecia que nem sempre era algo agradável o trabalho junto aos pobres, como a sujeira e outras circunstâncias desagradáveis. Em carta posterior, ele lhe pediu que:  “(...) visitasse os pobres, as viúvas, os doentes, os órfãos em sua aflição; sim, embora eles não tenham nada que os recomende a não ser que foram comprados com o sangue de Cristo. É verdade que não é agradável à carne e ao sangue. Há milhares de circunstâncias geralmente ligadas a isso que chocam a delicadeza de nossa natureza, ou antes, a nossa educação. Mas as bênçãos que se seguem a esse trabalho de amor irão mais do que equilibras a cruz.”[214]

          Empréstimo foi uma solução que Wesley encontrou para trazer novas oportunidades às pessoas que passavam por grandes dificuldades financeiras.[215]

       “Wesley estabeleceu em julho de 1746 um fundo de empréstimos, iniciando a empresa com somente 30 libras esterlinas. Mas o fundo proporcionou a muitos uma chance, dando-lhes um novo começo de vida.”[216]

         Houve problemas na área de empréstimo e algumas pessoas  procuraram levar vantagem ou depois, simplesmente, viravam suas costas à igreja. Foi o caso de James Lackington. Conseguiu um empréstimo de cinco libras. Ele teve grande sucesso em seus negócios, contudo dois anos depois de ter recebido o empréstimo, ele deixou os metodistas. [217]

         Wesley procurou arranjar emprego para os pobres. Considerou mais importante arranjar emprego do que dar esmola. Procurou ainda escrever e orientar sobre medicina caseira. Escreveu Medicina Primitiva:

       “(...) Wesley expandiu o programa de assistência médica entre seu povo. Fascinado pelas doenças e curas desde os dias de Oxford, Wesley estava convencido, há muito tempo, ‘por inúmeras provas’ de que os médicos regulares prestam muitíssimo poucos benefícios (...). Ele havia estocado remédios nas três principais casas de pregação por cerca de um ano e publicado uma pequena coleção de receitas medicinais. Agora ele havia conseguido um cirurgião e um farmacêutico para o auxiliarem em ‘um tipo de experiência emergencial, a distribuição regular de remédios.”[218]

        Apesar de verificar falhas no atendimento médico, Wesley não pretendia substituí-los. Ele havia conseguido um cirurgião e um farmacêutico para o auxiliarem.[219] Wesley não queria ir além de sua capacidade.[220]

        “(...) sua intenção era ajudar aqueles que tivessem uma doença crônica e não aguda, e enviar todos os casos difíceis e complicados para os médicos.”[221]

         Wesley então, não foi indiferente à situação da pobreza que reinava na Inglaterra. A sua participação foi em termos concretos. Ele não culpava os pobres dizendo que eles eram preguiçosos, mas sim a ganância dos que tinham muito. A ação metodista junto aos pobres  era resultado da ênfase no amor ao próximo. Entre as marcas de um metodista está: “(...) ele ama ao seu próximo como a si mesmo e a cada homem como a sua própria alma. Seu coração está cheio de amor à humanidade e para com cada filho do ’Pai dos espíritos de toda a carne’. Nenhum obstáculo é ao seu amor o fato de um homem lhe ser desconhecido, mesmo que este seja um tipo cuja vida ele desaprove, pois paga o ódio  com boa vontade. Ele ama até mesmo os seus inimigos, sim, os inimigos de Deus, os maus e todos os ingratos.”[222]

Criação de escolas para o povo

         Quase não havia preparo escolar na Inglaterra.[223] Praticamente, só os ricos estudavam. Isto se fez, inclusive, sentir entre os próprios pregadores metodistas. Por isso Wesley se preocupou em criar escolas para os filhos dos pregadores metodistas, um grupo de sessenta e três pregadores.

       “Havendo na América nessa época somente oitenta e três pregadores metodistas. Nenhum deles, com exceção do Dr. Thomas Coke, havia estado num colégio, ou mesmo no que seria chamado agora, uma escola secundária rudimentar. Todos eram desesperadamente pobres financeiramente.” [224]

        Diante desta situação, quais foram as atitudes de Wesley?

       Wesley criou escolas para os pobres e para os filhos dos pregadores metodistas. Entre essas escolas estão "A escola da Fundação de Londres", "A Casa dos Órfãos em Bristol" e a "Escola Kingswood"  que os metodistas abriram para os filhos dos mineiros de Kingswood.[225]

          Whitefield, além de ser avivalista e um grande pregador do metodismo, também se preocupava com o trabalho social. Foi ele quem fundou a Escola Kingswood e um orfanato na Geórgia. [226]

         Em 4 de janeiro de 1758,  Wesley registrou em seu Diário:     “Cheguei a Kingswood, e fiquei contente por causa da escola, que é finalmente o que já eu há muito queria que fosse: uma benção a todos que residem nela, e a todos os metodistas.”[227]

        Wesley observou que haviam falhas no sistema educacional da Inglaterra, mostrando assim que tinha uma atitude crítica diante do mundo em que vivia. E is um resumo das falhas que ele encontrou:

1) As escolas eram mal localizadas,

2) As crianças piores corrompiam as melhores,

3) A instrução religiosa era falha,

4) As disciplinas eram mal escolhidas,

5) Havia defeitos na pedagogia. [228]

         Neste período, o jornalista Robert Raikes criou a Escola Dominical para educar as crianças pobres que andavam fazendo arruaça pelas ruas aos domingos. Nesta escola, Raikes administrava Matemática, Geografia e Religião, entre outras coisas. Wesley prontamente apoiou tal idéia e a empregou nas sociedades metodistas. Tudo indica, inclusive, que a Escola Dominical de Ana Ball, membro da Sociedade Metodista em High Wycombe, foi iniciada quatorze anos antes da de Roberto Raikes.[229]

        Assim vemos que Wesley  não foi também indiferente a situação educacional na Inglaterra. Seu compromisso social compreendia também as escolas.

        Quando encontrava problemas nas escolas, Wesley demonstrava preocupação. Em 1781, ele disse sobre a Escola de Kingswood: “Quanta preocupação esta escola me tem dado por estes trinta anos! Faço planos, mas quem é que vai executá-los! Eu não sei; o Senhor me ajudará!”[230]

        E quando Wesley observou o progresso na Escola de Kingswood, ele disse, em 1786: “Achei tudo como eu queria: as regras estão sendo observadas e o comportamento das crianças demonstra que estão sendo governadas com sabedoria.”[231]

A luta pela melhoria das prisões

Não havia condição de um ser racional viver nas prisões da Inglaterra, pois faltava quase tudo: água, luz, higiene. Não havia também a intenção de reformar os réus, reabilitando-os como cidadãos úteis.[232]

Outro fator ainda contribuía para piorar a situação dos presos: o carcereiro, não tendo um salário estipulado pelo governo, tirava o que podia dos que estavam encarcerados.[233]

Quais foram as atitudes de Wesley ante o problema dos cárceres?

Expressar amor aos excluídos, como resultado da ação do Espírito Santo e da santificação, mas Wesley não agiu sozinho. Foi William Morgan quem sugeriu inúmeras vezes a Wesley visitar os presos na Prisão do Castelo.

 “Morgan tinha estado desenvolvendo uma ampla área de atividades beneficentes, já há algum tempo: ensinando as crianças órfãs, cuidando dos pobres e idosos, visitando prisões.” [234]

           Os irmãos Wesley visitaram a Prisão do Castelo com Morgan pela primeira vez em 24 de agosto de 1730 e passaram a visitar, pelo menos, uma vez por semana. Morgan foi o planejador  de grande parte do trabalho social dos metodistas. [235]

        Semanalmente, João Wesley visitava as prisões levando roupas, remédios, alimentos e também um conforto espiritual. Isto começou com o Clube Santo: em agosto de 1730, pela influência de Morgan, começaram a visitar os encarcerados em Oxford[236] e, praticamente, continuou por toda a vida de Wesley.

        A conversão de carcereiros pela pregação metodista foi outro fator importante para o melhoramento dos cárceres. Um dos carcereiros convertidos foi Dagge. Eis um resumo e adaptação de uma carta de Wesley, sobre a transformação que este carcereiro teve na prisão:

       “1) A cadeia passou a ficar limpa, pois cada preso ficou com responsabilidade de limpar a cela;

2) Não houve mais brigas, pois o carcereiro resolvia logo com os presos as controvérsias que surgiam;

3) O roubo praticamente deixou de existir nas prisões, pois os presos sabiam que seria restrita a sua clausura se roubassem;

4) Não foi mais permitida a embriaguez, embora o carcereiro pudesse tirar lucro disto;

5) A prostituição acabou, pois foi tomado o procedimento de separar as mulheres dos homens nas prisões;

6) A ociosidade foi evitada, pois providenciavam-se ferramentas para os presos trabalharem;

7) O domingo era observado. Os detentos não se divertiam nem trabalhavam aos domingos. Eles participavam do culto público;

8) Passou a haver uma preocupação com a vida espiritual do preso.” [237]

          O Metodismo, através do avivamento e sua ênfase social influenciou também pessoas que tinham grandes responsabilidades administrativas no país. Um dos influenciados foi João Howard, que era uma espécie de secretário de segurança. Ele dedicou sua vida à reforma das prisões procurando dar ao preso condições dignas de um ser humano. [238]

        Wesley, então, não foi omisso diante dos problemas dos presos. Ele participou ativamente da vida dos encarcerados e transformou estas prisões de uma maneira indireta.

A luta contra a escravidão

        O comércio de escravos negros era algo considerado normal pelo povo inglês. O povo era, praticamente, indiferente a esta situação e os ricos prosperavam às custas do sofrimento do escravo.

        Wesley agiu energicamente contra tal procedimento de um governo cristão, que permitia a existência da escravidão na Inglaterra. Em 1774, Wesley escreveu um livro chamado Pensamento Sobre a Escravidão. Assim ele se expressa nesse livro: “Metade da riqueza de Liverpool é derivada da execrável soma de todas as vilanias comumente denominadas comércio de escravos. Desejo por Deus que o comércio de escravos nunca mais seja estabelecido. Que nunca mais roubemos e vendamos nossos irmãos como animais, nunca mais os assassinemos aos milhares e dezenas de milhares.”[239]

        Outra atitude de Wesley foi apoiar os grandes líderes do país, que lutavam para acabar com a escravatura. Um dos líderes foi Guilherme Wilberforce para quem Wesley escreveu, entre outras coisas, o seguinte: “Meu caro senhor: a  não ser que o poder divino o tenha levantado para ser um athanasius contra mundum, não posso ver como poderá o senhor terminar sua gloriosa empresa, opondo-se àquela execrável vilania, que é o escândalo da religião, da Inglaterra e da natureza humana. A não ser que Deus o tenha verdadeiramente levantado para esta obra, o senhor será consumido pela oposição dos homens e dos demônios, mas, se Deus for pelo senhor, quem lhe dará conta? São eles todos juntos mais fortes que Deus? Oh! Não se canse de fazer o bem. Continue, em nome de Deus, e com a força do seu poder, até que a escravidão americana, a mais vil que já houve sob o sol, se desvaneça diante desse poder. O servo que o estima, João Wesley.”[240]

        A consciência cristã não percebia, na época de Wesley, que a escravidão era um crime e era algo condenado por Deus, pois Ele quer restaurar a dignidade humana e o Evangelho é libertador, restaurador. Essa consciência não existia nem em Whitefield que quatro anos antes de morrer deixara em testamento numerosos escravos de suas fazendas na Geórgia com a condessa Lady Huntingdon. [241]

          A oposição à escravidão não foi uma atitude isolada de Wesley. A Conferência Anual de 1780 reconheceu que a escravidão é contrária às Leis de Deus.[242]

         Portanto, avivamento e compromisso social sempre estiveram juntos no movimento metodista, na Inglaterra, no século XVIII. O metodismo atraiu também a burguesia,[243] mas avivamento e a pobreza estavam interligados.

       “À medida que o avivamento metodista  se espalhava pelos subúrbios pobres das cidades inglesas, no começo de 1740, as novas sociedades metodistas começaram a ficar cheias de mineiros, criados e muitas outras pessoas de classe trabalhadora que vivia nos limites da miséria, senão em calamidade.”[244]

         Foi assim, na década de 40, no século XVIII, bem como no final da vida de Wesley, nas décadas de 80 e 90, na luta contra a escravidão. O avivamento atraia o povo simples e o coração cheio de amor proporcionava solidariedade aos excluídos da sociedade.


A CONTRIBUIÇÃO DO AVIVAMENTO METODISTA

 

           “A Inglaterra foi poupada da revolução a que as contradições de sua política e economia poderiam ter conduzido, pela influência estabilizadora da religião evangélica, particularmente o metodismo.”[245]

   (Elie Halévy)

 

Contribuição do metodismo ao cristianismo na Inglaterra

           Uma boa parte da liderança mundial dos evangélicos considera o metodismo de Wesley como paradigma para o avivamento e como modelo de Igreja para hoje.

          Oswaldo Smith, avivalista internacional, chegou a afirmar: “Como resultado de minhas leituras, estou certo de que os metodistas primitivos estavam mais próximos da experiência apostólica do que qualquer outro grupo de pessoas que conheço.”[246]

        No livro Identidad Pentecostal, uma publicação do Clai (Conselho Latino Americano de Igrejas), um pentecostal Gabriel O. Vaccaro inclui o metodismo dentro do que ele chama de “Movimento da fé apostólica” ao dividir em quatro períodos a história da Igreja:

“a) Estabelecimento da Igreja  (Período Apostólico);

b) Apostasia da Igreja (até a idade média);

c) A reforma da Igreja (Lutero);

d) A Restauração da Igreja (sob Wesley).”[247]

        Este autor pentecostal propõe ainda a seguinte periodização para o desenvolvimento da história da Igreja:

“a) Período que vai até Constantino;

b) Com os séculos de obscuridade (que para os historiadores pentecostais chega até Lutero);

c) A partir de Wesley, avivamento pentecostal, batismo do Espírito Santo e exercício dos Dons Espirituais na igreja.”[248]

        Para ele, o metodismo é um divisor de águas na história da Igreja, especialmente, inaugurando a ação da Igreja numa perspectiva pentecostal.

        O bispo Roberto Mac Alister, fundador da Igreja Nova Vida,  numa expressão de fé e dentro de uma idéia messiânica, chegou a falar que será um avivamento semelhante ao do metodismo primitivo que salvará o Brasil: “A única coisa que poderia salvar o Brasil seria um reavivamento espiritual, tal como se verificou na “Inglaterra do século 18, o que provocou uma substancial mudança na vida pública quando uma consciência metodista mexeu com todas as camadas da sociedade, desde o padeiro até o parlamentar.”[249]

        Maria Isaura Pereira Queiróz afirma que as crenças messiânicas pressupõem a necessidade de salvação terrena e levam à concepção do reino ideal que um enviado instalará no mundo.[250]

Contribuição do metodismo à sociedade inglesa

        O metodismo na Inglaterra é visto por diversos autores como um modelo. Por mais que isso possa ser um triunfalismo dos metodistas,  algo de extraordinário aconteceu na Inglaterra, para que Paul (David) Y. Cho, pastor da Assembleia de Deus, a maior igreja local do mundo, na Coréia do Sul, chegasse a dizer:      “A pregação dos irmãos Wesley salvou a Inglaterra de  mergulhar numa revolução como a que a França experimentou no século XVIII.”[251]

       O país vivia num caos. Era chamada a "nação selvagem". A revolução industrial trouxe progresso, mas também proporcionou desemprego.[252]

        Para o historiador marxista inglês Edward Thompson, o metodismo serviu à burguesia e ao proletariado: “(...) o metodismo obteve o maior êxito em servir simultaneamente como religião da burguesia industrial (apesar de compartilhar este terreno com outras seitas heterodoxas) e de amplos setores do proletariado. Não pode haver dúvida sobre a profunda devoção de muitas comunidades da classe operária (incluindo igualmente mineiros, tecelões, operários industriais, marinheiros, ceramistas e trabalhadores rurais à Igreja metodista).”[253]            

        Apesar de Wesley não atacar efetivamente as estruturas sociais, o avivamento metodista não foi alienante e não serviu à burguesia e nem ao proletariado. Ele proporcionou uma ativa participação nas questões sociais lutando pelos presos, escravos, meninos e meninas de rua, desempregados, víciados , etc.

        O jurista e economista alemão Maximilian Karl Emil Weber (Max Weber) toca nesse tema, ao comentar sobre o revival metodista: “O poderoso revival do Metodismo, que, em fins do século XVIII, precedeu o florescimento da indústria inglesa pode ser comparado com uma dessas reformas monásticas.”[254]

        Weber, contudo, mostra que a conversão no metodismo não era somente seguida por um piedoso gozo da comunidade de Deus, à maneira do pietismo emocional de Zinzendorf. Para ele: “A emoção, uma vez despertada, era dirigida para uma luta racional pela perfeição. Assim, o caráter emocional de sua religiosidade não levou a um cristianismo sentimentalista interior, do tipo do pietismo alemão.”[255]

        Essa é uma das contribuições do metodismo. Para Wesley, a razão assistida pelo Espírito Santo é fundamental na vida cristã.

        A questão da terra tão discutida nos dias de hoje era uma preocupação de Wesley. Ele questionava a estrutura social vigente, que aumentava a pobreza.

       “Mas por que a terra está tão cara? Porque, pelas razões acima, a aristocracia não pode viver de forma que está acostumada, sem aumentar a sua renda, o que a maioria só  pode fazer aumentando os aluguéis. Assim, o posseiro, pagando mais aluguel pela terra, precisa ganhar mais pelos produtos. Isto por sua vez, aumenta o preço da terra e assim a roda gira.”[256]

             O metodismo participou na reforma dos costumes. O próprio Wesley comenta em suas pregações sobre a situação da sociedade inglesa e dos membros da Igreja Anglicana.

       “Todos os que se chamam “membros da Igreja da Inglaterra” estão cordialmente empenhados na oposição às obras do diabo e combatendo contra o mundo e a carne? Ai! Não podemos dizer isto. Temo que, ao contrário, a maior parte deles sejam o mundo.”[257]

        Em vez de combater os males, eles próprios estavam vivendo segundo o mundo, isto é, segundo o povo que não conhece a Deus para qualquer propósito de salvação.[258] Wesley afirmou isso em seu sermão “A reforma dos costumes”, em 30 de janeiro de 1763, na capela de West-Street, Sevendials. Em seu sermão, Wesley fez um histórico do surgimento da Sociedade para a Reforma dos Costumes, em Londres, no século XVII.

       “Incrível soma de bem foi feito por essa Sociedade, durante perto de quarenta anos. Mas, depois, tendo a maior parte dos membros fundadores ido a receber sua recompensa, os que lhes sucederam se tornaram fracos no espírito e abandonaram o trabalho; de modo que, poucos anos faz, a Sociedade se extinguiu, sem que qualquer remanescente permanecesse no reino.”[259]

        Um novo grupo havia surgido, em agosto de 1757,  disposto a ressuscitar a Sociedade para a Reforma de Costumes.

        Para eles, os grandes problemas eram:   “(...) se fez menção da grande e abusiva profanação daquele dia sagrado, por parte de pessoas comprando e vendendo, mantendo o comércio aberto, bebendo pelas tavernas, permanecendo de pés ou assentadas nas ruas, nas estradas ou nos campos, vendendo suas mercadorias como nos dias comuns; especialmente em Moorfields, que então se enchia desses transgressores todos os domingos, da manhã à noite.”[260]

   Entre as providências que o grupo tomou, estão: (...) enviaram petições a S. Excia. O Lorde Maior e ao Tribunal de Aldermen; às Justiças com sede em Hick´s Hall e às de Westminster; e receberam de todas essas venerandas cortes o maior encorajamento no sentido de prosseguirem na obra.”[261]

        Depois comentaram a ideia com várias pessoas de posição eminente e ao corpo de clérigos, assim como a ministros de outras denominações na cidade de Londres e Westminster e seus arredores.[262]

        O grupo fundador da Sociedade distribuiu milhares de panfletos dando instrução às autoridades policiais e demais oficiais locais explicando seus deveres para executarem as leis. No começo de 1758, deram informações aos magistrados daqueles que profanavam o dia do Senhor.

       “Por esse meio eles limparam as ruas e os campos dos transgressores notórios que, sem qualquer respeito a Deus e ao rei, vendiam suas mercadorias de manhã à noite. Em seguida passaram a uma empresa mais difícil: evitar a bebedeira no dia do Senhor.”[263]

        O grupo foi censurado, insultado e ofendido. Não só pelos que bebiam, mas também pelos donos das tavernas que obtinham lucro com as bebidas. [264]

          Depois de conseguir impedir que as bebidas fossem vendidas, a Sociedade se voltou para os diversos tipos de jogadores. Segundo Wesley: “(...) que faziam da exploração dos jovens e dos inexperientes o seu comércio, despojando-os de todo o seu dinheiro. Depois de os terem reduzido à miséria, frequentemente lhes ensinavam o mesmo mistério de iniquidade.”[265]

        Outra ação da Sociedade foi acabar com as casas de prostituição processando-as de acordo com a lei. Muitas das mulheres que se prostituíam ficaram agradecidas por saírem dessa situação. Wesley fala da sabedoria da Divina Providência ao fazer surgir o Asilo Madalena onde as mulheres que não tinham moradia pudessem ficar. Nesse local, elas  foram recebidas com ternura e viveram em conforto.[266]

        Em seu sermão, Wesley faz um balanço da quantidade de pessoas que foram levadas à Justiça pela Sociedade entre agosto de 1757 a agosto de 1762: 9.596.[267]

        Eram cento e sessenta pessoas que participam da Sociedade para a Reforma de Costumes sendo cerca de vinte relacionadas a Whitefield, cerca de cinqüenta relacionadas a Wesley; cerca de vinte à Igreja Estabelecida e cerca de setenta eram dissidentes.[268]

        Sua visão sobre a importância dessa ação da Sociedade era:

       “Na proporção em que se promove a justiça de toda espécie, avança, pois, o progresso nacional.”[269]

          A ação da Sociedade não devia ser através da violência e nem da intimidação. Para Wesley, os membros deveriam ser escolhidos pelo seu caráter. Ele realça como importante a fé, coragem, prudência, humildade, doçura, simplicidade e mansidão, etc. Para ele, somente assim a Sociedade será eficiente.[270]

       “O que acrescenta doçura ainda maior ao trabalho e à dor é o amor cristão a nosso próximo.”[271]

        Nem todos historiadores e teólogos viram em Wesley e no metodismo do século XVIII um movimento transformador.

       “Segundo Richard Niebuhr, os irmãos Wesley – forjadores do movimento wesleyano – repensaram o conceito de Reino (de Deus) pelo símbolo do céu e viram o pecado como relaxamento e um vício individual e não como uma opressão ou um desajuste social.”[272]

        Thompson condenada o autoritarismo de Wesley e ainda  os cultos wesleyanos como tendo aspectos negativos:

       “O termo é desagradável, mas é difícil não ver no metodismo desta época uma forma ritualizada de masturbação mental. Energias ou emoções ameaçadoras para a ordem social eram liberadas em inocentes e esporádicas festas de confraternização, vigílias, reuniões mensais ou campanhas renovacionistas.”[273]

        Apesar disso, Thompson cita o metodismo como uma força que conseguiu atrair os operários e lhes dar uma esperança:

       “Mas foi Wesley - ultraconservador em política e sacerdotal em questões de organização - o primeiro a  chegar aos 'pobres de Cristo', quebrando o tabu calvinista com  a simples mensagem: 'A única coisa a fazer é salvar almas.”[274]

         Para ele, Wesley  conseguiu seu sucesso por ser organizador, administrador das sociedades. Conseguiu combinar nas proporções exatas democracia e disciplina, doutrina e emotividade.[275]

          Os dados, contudo, revelam um Wesley com uma visão da importância da Igreja ser comunitária (sociedades). Em termos sociais, o metodismo procurou atender também aos necessitados e pobres. Thomas W. Madron afirma: 

       “A velha fundição de Londres, por exemplo, transformou-se num verdadeiro crisol de projetos – casa de misericórdia para viúvas, escola para meninos, dispensário para enfermos, bolsa de trabalho e agência de emprego, cooperativa de crédito e agência de empréstimo, sala de leitura e igreja.”[276]

            Segundo vários teólogos e historiadores, entre eles, o bispo Sante Uberto Barbieri, a luta de Wesley contra a escravidão cooperou para o seu fim na Inglaterra:  “A abolição da escravidão, na Inglaterra, foi o resultado do avivamento metodista e da filantropia que inspirou por causa da ênfase que João Wesley dava à doutrina da salvação universal e da igualdade de todos os homens perante Deus.”[277]

        Segundo ele, foi devido à doutrina e disciplina metodista que infundiram nos líderes do proletariado e da burguesia uma inclinação para a ordem, contra a violência.[278]

        Edward Thompson concorda com a afirmação sobre a disciplina,[279] mas  vê esse resultado como negativo, pois impossibilitou de acontecer a revolução inglesa ao proporcionar aos operários a resignação.[280]

         Já o historiador francês Elie Halévy (1870 -1938), no livro História do Povo Inglês no século XVIII, sustentou que a Inglaterra tem uma dívida com o metodismo, pois foi poupada de uma revolução semelhante à acontecida na França em 1789:

       “A Inglaterra foi poupada da revolução a que as contradições de sua política e economia poderiam ter conduzido, pela influência estabilizadora da religião evangélica, particularmente o metodismo.”[281]

        O próprio Edward P. Thompson  argumentou favoravelmente à participação do metodismo no processo revolucionário inglês, apesar da Conferência Wesleyana, que sob a liderança de Wesley era autoritária, pois ele só aceitava as mudanças após serem consumadas. Mas, segundo ele, a contribuição do metodismo é inegável. Ele afirma: “Mas, a outro nível, é-nos conhecido o argumento de que o metodismo foi indiretamente responsável por um aumento na autoconfiança e capacidade de organização do operariado.”[282]

        Thompson cita ainda autores, como Wearmouth, que fazem uma leitura favorável ao metodismo na formação da classe operária inglesa.[283]

 

A PARTICIPAÇÃO METODISTA NA FORMAÇÃO DA CLASSE OPERÁRIA INGLESA 

                 

         Com o avivamento metodista, diversos leigos foram resgatados, restaurados pelo Espírito Santo e se sentiram motivados para serem líderes de células, pregadores e lideraram escolas para os pobres, orfanatos e exerceram ministérios de visitação, oração, etc.

        No princípio, poucos pastores estiveram com Wesley até porque ele não pretendia criar uma nova Igreja e sim espalhar a santidade bíblica, reformar a Igreja Anglicana e a nação. É a vocação que Wesley acreditou que Deus havia chamado os metodistas.

       Muitos líderes leigos surgiram a partir do exercício da liderança, especialmente em Bands (células) e Sociedades (igreja local). Nas células, os leigos estavam acostumados, inclusive, a arrecadar dinheiros para os que estavam desempregados. Eles eram responsáveis pela vida espiritual dos participantes.

       Importante lembrar que Wesley pregava nas minas de carvão para os operários e que João Nelson, considerado o príncipe dos pregadores metodista, era pedreiro.

       Era um período de desorganização da sociedade. Muitos perderam suas terras, casas, empregos e caminham pelas cidades e campos sem um rumo, sem uma identidade. Tudo isso causado pela Revolução Industrial inglesa.

       “Especialmente com a Revolução Industrial, pois na medida em que avançavam as novas técnicas e as formas de organizações industriais, recuavam os direitos sociais e políticos”.[284]

        Com a necessidade de organização do povo para reivindicar seus direitos, diversos metodistas tomaram a iniciativa ou foram chamados para organizar ou liderar sindicatos.

        O historiador marxista inglês Edward Palmer Thompson, no seu livro “A formação da classe operária inglesa”, afirmou que “a hierarquia estritamente organizada da igreja metodista, diz Thompson, ensinou aos trabalhadores uma coisa ou duas sobre a organização de grupos de pessoas, que eles utilizaram muito bem no movimento trabalhista posterior”.[285]

        Dentre esses líderes leigos que participaram efetivamente na organização da classe operária estão:

Thomas Hepburn, um dos pioneiros do sindicalismo

 

         Ele viveu entre 1795-1864. Nasceu em Durham de Pelton, Inglaterra. Seu pai morreu em um acidente de mineração deixando uma viúva e três filhos.

        Hepburn começou a trabalhar na mina de carvão Urpeth aos oito anos. Recebeu uma educação escassa, mas era uma criança inteligente. Lia a Bíblia desde pequeno e se preocupou com a educação a vida toda. Aproveitava cada oportunidade para estudar.

        Uniu-se aos metodistas primitivos e, em 1822, ele se tornou um pregador leigo. Pregou contra os males da embriaguez e apelou para confiarem em Deus. Assim desenvolveu a capacidade de persuasão, organização e de falar em público.

       Hepburn se casou em 1820. Em seguida foi para uma mina de carvão em Jarrow e depois para a mina de carvão Hetton. Em 1830, procurou reanimar uma união de mineração.

       No início de 1831, liderou reuniões de massas em que queixas foram expressas e medidas tomadas para formar a união dos mineiros.

        Em agosto de 1831, foi eleito como seu organizador. Os mineiros foram vitoriosos obtendo redução das horas de trabalho. Hepburn trabalhou duro para manter os homens juntos, moderados e cumpridores da lei. Em 1832, houve uma ruptura na união com violências. Foi destituído e procurou vender chá para sustentar a família.

        Em 1844, quando a grande greve de mineração começou, alguns mineiros imploraram a Hepburn para liderar, mas ele recusou. Depois de anos de dificuldades, foi trabalhar em uma mina de carvão, na Felling, até 1859.  Doente, faleceu em 1864.

         Em 1875, uma lápide foi erguida sobre seu túmulo exaltando sua liderança para obtenção de horas de trabalho mais curtas e uma melhor educação para os mineiros. É reconhecido como um dos pioneiros do sindicalismo.

        Em 1874, Hepburn foi incluído em um pequeno grupo de líderes trabalhistas primeiros para emissão de selos postais comemorativos. A Comunidade Acadêmica Thomas Hepburn, em Felling, é nomeada em sua honra.[286]

George Loveless, mártir de Tolpuddle

 

        Ele viveu entre 1797-1874. Nasceu na aldeia de Tolpuddle, em Dorset, Inglaterra, onde trabalhou como lavrador. Era respeitado como líder comunitário e pregador wesleyano. Em 1834, casou-se com Elizabeth (Betsy), com quem teve três filhos. Era um metodista convicto e temente ao Deus justo.

      Vendo seus salários diminuírem a cada ano, George e cinco companheiros formaram a Sociedade de Amigos de Operários Agrícolas. Liderados por George, em 9 de dezembro, durante uma cerimônia, os membros fundadores juraram respeitar as regras da Sociedade. Todos eram metodistas.

       Em 22 de fevereiro de 1834, foram denunciados por um fazendeiro e considerados culpados de terem feito reuniões ilegais. Na prisão, tiraram as roupas e rasparam a cabeça. O juiz os condenou a trabalhar sete anos para fazendeiros na Austrália. A dura sentença provocou indignação e protesto. Eles haviam se tornado heróis populares, e 800 mil assinaturas foram coletadas para a sua libertação. Em Londres, cerca de 25 mil trabalhadores protestaram nas ruas. Lord John Russell apoiou o protesto. Em março de 1836, o governo foi obrigado a mudar as sentenças.

      Uma vez livres, George e quatro dos mártires emigraram para o Canadá, onde George ajudou a construir a Igreja Metodista em Siloé.  Seu irmão, James Loveless, era pregador metodista e se tornou líder metodista em Ontário, Canadá. Seu jardim se tornou famoso pelas begônias. John Standfield foi para o Canadá e se tornou prefeito de East London, onde tinha um hotel e uma loja e fundou o coral Bryanston. Thomas Standfield foi para o Canadá.

         Os “Mártires de Tolpuddle” contribuíram para o orgulho do sindicalismo na Inglaterra. No centenário, em 1934, foi erigido um memorial na aldeia e foi fundado o Museu Tolpuddle Martyrs.  Em 2008, Andrew Norman escreveu A história de George Loveless e os mártires de Tolpuddle.[287]

Joseph Arch, fundou a União Nacional de Trabalhadores Agrícolas

 

         Ele viveu entre 1826-1919. Nasceu em Barford, Warwickshire, Inglaterra. Era filho de um trabalhador rural.

        Em 1847, Arch se casou com Mary Anne Mills. Entrou para a Igreja Metodista Primitiva e se tornou pregador. Muitos de seus sermões abordaram os problemas financeiros de trabalhadores rurais. Em 1872, um grupo de homens buscou sua ajuda para formar um sindicato de trabalhadores rurais.

        No início dos anos 1870, os trabalhadores começaram a protestar contra os baixos salários e as condições de vida adversas. Arch usou seu treinamento como pregador e se tornou líder de trabalhadores agrícolas.

         Em 1872, fundou a União Nacional de Trabalhadores Agrícolas.   Foi  seu presidente até 1896, quando foi dissolvida. Entre os objetivos estavam aumentar os salários, diminuir o número de horas de trabalho normais e melhorar as habitações. Em dois anos, a União tinha mais de 86 mil membros, mais de um décimo da força de trabalho agrícola da Grã-Bretanha.

       Após 1884, quando a participação na União começou a declinar, Arch se voltou para a política. Em 1885, exerceu o primeiro de vários mandatos como membro do Parlamento (1885-1886, 1892-1900). 

        Foi o primeiro trabalhador agrícola membro da Câmara dos Comuns. Em 1893, Arch foi nomeado membro da Comissão Real para os Idosos Pobres.

       Desempenhou um papel fundamental na obtenção do voto para idosos pobres na Lei de Reforma de 1884-1885.[288]

 

George Edwards fundou a União Nacional dos Aliados e Trabalhadores Agrícolas

 

        Ele viveu entre 1851-193. Nasceu em Marsham, Norfolk, Inglaterra. Era filho de Thomas, um pobre ex-soldado que trabalhava como operário agrícola. Thomas roubou alguns nabos de um campo e foi condenado a 14 dias de trabalho duro. Sem renda para a família, foi levado com os irmãos para o reformatório Aylsham, onde foi separado da mãe.

        Com seis anos, foi trabalhar assustando corvos nos campos. Devido à necessidade de trabalhar, ele nunca foi à escola. Entrou numa Igreja Metodista Primitiva e se converteu.

        Ele se casou aos 22 anos com Charlotte Corke e não tiveram filhos. Decorava diversas passagens bíblicas e aprendeu a ler sob a instrução de Charlotte. 

       George dizia que a Escola Dominical foi a única escolaridade que teve. Logo foi reconhecido como pregador local. Sua fé cristã o levou a lutar para melhorar as condições sociais e econômicas das pessoas.

       Em Norfolk, entrou para a União dos Trabalhadores Agrícolas. Em 1906, fundou a União Nacional dos Aliados e Trabalhadores Agrícolas, com mais de 3 mil associados, e foi o secretário-geral. Conseguiu elevar os salários dos trabalhadores agrícolas.

         Foi e leito para o Conselho do Condado de Norfolk, em 1914, e tornou-se magistrado. Em 1918, ele se tornou vereador. Foi eleito em 1920 para o Parlamento e voltou à Câmara dos Comuns em 1923. Foi nomeado cavaleiro em 1930.

          Mudou-se para a cidade de Fakenham, onde frequentou a Igreja Metodista Memorial Buckenham. Quando faleceu, as ruas ficaram cheias, as lojas foram fechadas, uma banda tocou seus hinos, as escolas estiveram presentes, bem como sindicatos, políticos e religiosos.[289]

 

         Edward Bates Cowey, pregador e presidente da Associação de Mineiros Yorkshire

 

       Edwars viveu entre 1839-1903. Era também conhecido como Ned Cowey. Nasceu em Longbenton, um distrito de North Tyneside, Inglaterra. Aos sete anos, começou a trabalhar em minas de carvão locais.

       Em 1858, ele e seus colegas quebraram o acordo de práticas de trabalho, e por isso ficaram numa “lista negra”. Trabalhou por um tempo no mar, mas voltou a Monkwearmouth, onde mais uma vez fez esforços para melhorar as condições de trabalho.

       À procura de trabalho, em 1871, Cowey foi para Sharlston, em West Yorkshire, onde se filiou à Associação dos Mineradores West Yorkshire (Wyma), que presidiu de 1873 a 1881.

       Em 1881, foi formada a Associação de Mineiros Yorkshire (YMA), com 50 mil membros filiados, e Cowey foi nomeado seu primeiro presidente. A YMA foi o maior e mais poderoso sindicato de mineiros do país.

       Cowey queria educar os homens em princípios sindicais e não em “negócios especulativos”. Ele foi um dos fundadores da Federação dos Mineiros da Grã-Bretanha, em 1888, e membro de seu comitê executivo até sua morte.

       Foi membro da Comissão Parlamentar do Trades Union Congress da Grã-Bretanha (1893-1903). Cowey lembrou certa vez: “Senhores, houve uma grande melhora da classe a que pertenço nos últimos 50 anos [...]. Eu, como menino, e todos os meninos naquele dia, trabalhávamos na mina 12, 14, 15, 16 horas por dia. O Trades Sindicalismo operou uma mudança, mesmo com os capitalistas deste país”.

        Cowey era pregador leigo da Igreja Metodista Primitiva. Ele presidiu a YMA de 1881 até a sua morte, em 1903.[290]

Samuel Finney, presidente da Federação dos Mineiros North Staffordshire

 

        Samuel Finney viveu entre 1857-1935. Nasceu em Talke, uma aldeia no condado de Staffordshire, Inglaterra. Com sete anos, começou a ajudar o pai nos fornos.

        Aos dez anos, começou a trabalhar em Talke Colliery, e tinha apenas 12 anos quando foi trabalhar na mina. Pertencia à Igreja Metodista Primitiva. Era pregador local, professor da Escola Dominical, líder da classe e visitava doentes.

         Aos 24 anos, considerou a possiblidade de entrar para o ministério pastoral, mas “as circunstâncias não eram favoráveis”.   Em 1881, foi eleito presidente da Federação dos Mineiros North Staffordshire, cargo que ocupou por 24 anos.

        Em 1884, ele se casou com Mary Ellen e tiveram quatro filhas. Samuel elogiava a esposa, dizendo que “ao lado de encontrar o Salvador, ela deve ter o crédito por tudo de bom que eu tenho sido capaz de alcançar”.

        Em 1893, Samuel se mudou para Burslem para ajudar o sindicalista e metodista Enoch Edwards em seu trabalho como agente e secretário da Federação de Mineiros North Staffs.

       Samuel era membro do Conselho de Borough Stoke-on-Trent, uma cidade em Staffordshire, e atuou como magistrado. Foi eleito membro do Parlamento para North West Staffordshire em 1916.     Em 1918, quando o eleitorado foi abolido, tornou-se membro do Parlamento para a nova circunscrição Burslem, que ocupou até 1922, quando se aposentou.

        Era sagaz nos negócios. Foi sempre generoso em sua estimativa dos outros. Seu humor seco salvou muitos em situações embaraçosas, e os seus juízos, obtidos após meditação e pensamento sério, eram muito respeitados.[291]


MOTIVADOS E MOVIDOS PELA FÉ E AMOR

 

        Edward Thompson estava certo sobre a influência metodista na formação do operariado na Inglaterra. A história comprova essa afirmação. Mas o que estava por trás da ação metodista na formação da classe operária inglesa não era uma fuga do mundo e nem uma submissão à burguesia ou ao proletariado da época, como disse Thompson,  mas sim, partiam  da visão de que eles eram mensageiros de Deus para espalhar o Seu amor em meio a tanto sofrimento e injustiça.

       Mostrando esse propósito, Max Weber afirmou que a conversão no metodismo não era somente seguida por um piedoso gozo da comunidade de Deus, à maneira do pietismo emocional de Zinzendorf. Para ele: “A emoção, uma vez despertada, era dirigida para uma luta racional pela perfeição. Assim, o caráter emocional de sua religiosidade não levou a um cristianismo sentimentalista interior, do tipo do pietismo alemão.”[292]

        Foram motivados ainda pela necessidade de santificação que incluía a fé, obras de piedade e obras de misericórdia. O alvo de todo metodista sempre foi alcançar a perfeição, cuja marca maior é o amor a Deus e ao próximo. Eles foram motivados pelo amor.

        Vamos lembrar que Wesley levantou ofertas para os que estavam desempregados. Em seu diário ele diz: “Levantamos uma coleta em nossa congregação em prol dos tecelões que estavam sem emprego. A coleta importou em quarenta libras.”[293]

        Wesley solicitou também aos metodistas que assumissem um compromisso de ajuda contínua aos menos favorecidos. Os metodistas procuravam fazer a sua parte: “O dinheiro levantado nas sociedades era usado, em parte, para a caridade local. Os stewards da sociedade de Londres distribuíam sete ou oito libras por semana para os pobres.” [294]

          Foram movidos e motivados pela fé e amor. Wesley disse: “Nossa capacidade de amar o próximo e oferecer benevolências de qualquer tipo também não é possível sem a nossa fé e amor abundantes em Deus. Isso é repetido diversas vezes nos ensinamentos do Apóstolo. Paulo escreve: 'Amados, se Deus nos amou também devemos nos amar uns aos outros”.[295]

          O metodismo criou escolas para os pobres; criou orfanato para crianças órfãs; lutou pela melhoria das prisões; lutou contra a escravização; deu oportunidade aos leigos e às mulheres de ministrarem. A liderança metodista inicial era composta pela maioria de leigos. O metodismo de Wesley abriu as portas para os que se sentiam desgarrados e excluídos pela Revolução Industrial e pela Igreja Anglicana. Eles se encontraram como parte do povo do coração aquecido.

        “A doutrinação a partir da educação nas escolas dominicais, da educação (alfabetização) aos pobres, que antes eram completamente desamparados no que se refere à salvação e a disseminação de dogmas do trabalho, juntamente ao sentido comunitário de reunir os diversos setores do operariado em prol de uma cooperação e ao sentimento de angústia espiritual proporcionado pela contrarrevolução, fizeram com que o metodismo avançasse junto a um radicalismo e tivesse uma grande adesão das classes operárias desamparadas.”[296]

        A experiencia com o amor de Deus; a participação efetiva dos leigos nas Sociedades Metodistas, especialmente na Festa do Amor; a capacitação pelo Espírito Santo e a possibilidade de participar de um grupo onde a pessoa era valorizada, fez com que muitos reencontrassem sua identidade e encontrassem seu espaço na sociedade ao fazerem parte do povo chamado metodista.

        “O metodismo possui, desta forma, grande impacto no operariado, pois rompe com as tradições intelectuais e democráticas da antiga Dissidência e a partir de uma ideia puritana, disciplina o trabalhador, pregando normas de boa conduta e do valor do caráter (...)”.[297]

        Segundo Thompson, o “Metodismo e suas capelas abertas ‘ofereciam aos desarraigados e aos abandonados da Revolução Industrial uma espécie de comunidade de substituição(...)”.[298]

         Os leigos deixavam o ritualismo estéril do anglicanismo e encontravam apoio, força e restauração nas reuniões, cultos e vigílias regadas pelo mover do Espírito Santo onde o amor de Deus era derramado nos corações. Eles passaram a se sentir como reais filhos e filhas de Deus.

      “Essas pessoas naturalmente gravitaram com a mensagem fervorosa, calorosa e libertadora da religião ‘nascida de novo’ de Wesley e sua organização livre e democrática em pequenos grupos e sociedades de ajuda mútua.”[299]

        O povo carente e oprimido encontrava consolo e restauração nos cultos. Em 1762, Wesley disse: “Deus derramou abundantemente Seu Espírito sobre nós. Muitos ficaram cheios de consolação (...) Deus restaurou o homem à luz da Sua face, e deu à jovem moça a convicção clara do Seu amor.”[300]

       A disciplina metodista também contribuiu grandemente para as pessoas passarem a entender a importância de serem disciplinadas e organizadas.

        As normas de conduta eram ensinadas e isso fez também grande diferença. Os convertidos eram ensinados a não praticar o mal e sim a fazer o bem. Wesley estabeleceu as Regras Gerais: não praticar mal algum; fazer todo o bem possível; observar todos os preceitos de Deus relativos ao culto a Ele devido.

        Foi desse jeito que o metodismo contribuiu efetivamente para a formação da classe operária inglesa com os pilares estabelecidas por Wesley e seus companheiros de ministério.

 

 

 



[1] O livro “Wesley e a formação da classe operária inglesa” é parte da minha tese de doutorado pela Universidade Metodista de São Paulo.

[2] “Las Condiciones económico-sociales Del Metodismo em la Inglaterra Del Siglo XVIII” (Franz Hinkelammert apud Departamento Ecuménico de Investigaciones, 1983, p.21).

[3] REILY, Duncan A. História Documental do Protestantismo no Brasil. São Paulo, ASTE, 1984, p.9.

[4] Manfred Marquardt afirma que Wesley “aparentemente (...) estava imbuído de uma tendência contemporânea pelo empirismo e seguiu Locke em sua abordagem sobre as questões do conhecimento” (Redescobrindo o Sagrado. São Paulo: Editeo, 2000, p.18).

[5]  REILY, Duncan A. História Documental do Protestantismo no Brasil. Ibidem, p.9.

[6] WALKER, Welliston. História da Igreja Cristã. 2 v. ASTE, São Paulo, [s.ed], [s.d], p.190.

[7] Ibidem, p.190.

[8] Manfred Marquartd, entretanto, adverte: “Essas referências às atitudes afirmativas e críticas de Wesley, a respeito do iluminismo e do lugar da razão, podem nos fazer cautelosos contra julgamentos precipitados acerca desse movimento filosófico, como sendo a fonte de todo o declínio moral e da perda das crenças religiosas em nossas sociedades seculares ou pós-modernas”  (Redescobrindo o Sagrado, Ibidem, p.18). 

[9]WALKER, Welliston, Ibidem, p.11.

[10] Ibidem.

[11] Ibidem, p.203.

[12] ARRIGHI, Giovanni. O  longo século XX. Editora Unesp, 1997, p.215.

[13] BONINO et al. Luta pela vida e Evangelização. Ibidem, p.246.

[14] ARRIGHI, Giovanni, Ibidem, p.214.

[15] Ibidem.

[16] “Las Condiciones económico-sociales Del Metodismo em la Inglaterra Del Siglo XVIII” (Franz Hinkelammert apud Departamento Ecuménico de Investigaciones, 1983, p.21).

[17] Ibidem.

[18] THOMPSON, Edward P.  A Formação da Classe Operária Inglesa.  2 v. Paz e Terra, 1987, p.22.

[19] HILL, Christopher. O mundo de ponta-cabeça.  São Paulo: Companhia Duas Cidades, 1991, p.65.

[20] THOMPSON, Edward P., Ibidem, 1 v. p.64.

[21] ______.  2 v. p.23.

[22] ENSLEY, Francis Gerald. João Wesley, o Evangelista. São Paulo, Junta Geral de Educação cristã, 1960, p.10.

[23] REILY, Duncan Alexander. Metodismo brasileiro e wesleyano. São Paulo: Imprensa Metodista, 1981, p.148-53.

[24] THOMPSON, Edward P. 1 v. Ibidem, p.64.

[25]  Ibidem, p.64-5.

[26] Ibidem, p.67.

[27] HILL, Christhoper, Ibidem, p.83.

[28] Ibidem,  p.337.

[29] Ibidem, p.333.

[30] JOY, James Richard. O despertamento religioso de João Wesley. Instituto Metodista Bennett, 1996, p.94.

[31] Ibidem, p.269.

[32] Ibidem.

[33]Para Gionanni Arrighi os ciclos sistêmicos de acumulação são definidos como compostos de uma fase de expansão material seguida por uma fase de expansão financeira  (O longo século XX. São Paulo:Editora Unesp, 1997, p.90).

[34] Ibidem, p.6

[35] Ibidem, p.51.

[36] Ibidem, p.163.

[37] Ibidem.

[38] BONINO et al. Luta pela Vida e Evangelização. Ibidem, p.34.

[39]  Ibidem, p.36.

[40] JOY, James Richard, Ibidem, p.95.

[41] BONINO et al. Luta pela Vida e Evangelização. Ibidem, p.34.

[42] THOMPSON, Edward P, 1 v. ibidem., p.73.

[43] Ibidem.

[44] Ibidem, p.77.

[45] WALKER, Welliston, Ibidem, p.82.

[46] HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.4-5.

[47] Ibidem, p.6.

[48] Ibidem, p.9.

[49] REILY, Duncan A., Ibidem, p.12.

[50]JONES, D.M.Lloyde. Os Puritanos. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1993, p. 254.

[51] WALKER, Welliston, Ibidem, p.139.

[52] Ibidem, p.140.

[53] Ibidem, p.141.

[54] HILL, Christopher. Ibidem, p.52-3.

[55] VIDLER, Alec R. A Igreja numa era de revolução. Lisboa: Editora Ulisséia Limitada, 1961, p.137.

[56] HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.17.

[57] No reinado de Carlos II,na Inglaterra, várias “provisões visavam a por os puritanos fora da Igreja” (WALKER, Welliston, ibidem, p.155). “Pelo Primeiro Ato do Conventículo, de 1664, as penalidades para quem comparecesse a um ofício não de acordo com o Livro de Oração e frequentado por cinco ou mais pessoas da mesma família eram: multa, prisão e deportação definitiva. Pelo ‘Ato das Cinco Milhas’, de 1665, era proibido a quem quer que fosse ‘em ordens sacras ou pretensas ordens sacras’ ou alguém que tenha pregado num ‘conventículo’, e não haja feito juramento condenando a resistência armada ao rei e assegurado não intentar ‘nenhuma alteração de governo quer na igreja quer no Estado morar num raio de cinco milhas de uma cidade incorporada ou dentro da mesma distância do lugar onde exercera o ministério” (Ibidem, p.155).

[58] “Todos os que tinham funções militares ou civis, com poucas exceções, vivendo dentro de trinta milhas de Londres, eram obrigados a tomar a Ceia do Senhor conforme o rito da Igreja da Inglaterra ou o perder seus postos” (Ibidem, p.156).

[59]  WALKER, Welliston, Ibidem, p.141.

[60] HILL, Christopher, Ibidem, p.99.

[61]  WALKER, Welliston, Ibidem, p.160.

[62] HILL, Christopher, ibidem, p.204.

[63] Ibidem.

[64] Ibidem, p.207.

[65] Ibidem.

[66] Ibidem, p.208.

[67] Ibidem, p. 225.

[68] Ibidem, p. 43-4.

[69] Ibidem, p.94.

[70] Ibidem, p.95.

[71] WALKER, Welliston, Ibidem, p.160.

[72] HILL, Christopher, Ibidem, p.95.

[73] WALKER, Welliston, Ibidem, p.160-1.

[74] Ibidem.

[75]  HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.21

[76] Ibidem, p.23.

[77] Ibidem.

[78] Ibidem, p.24.

[79] Ibidem., p.24.

[80]“Notes Su L' Anglaterre” (Monstesquieu apub Lelièvre, 1997, p.11).

[81] VIDLER, Alec R. Ibidem,  p.36.

[82] LILIÈVRE, Mateo. João Wesley – Sua vida e obra. São Paulo: Editora Vida, 1997, p.16.

[83] HEITZENHATER, Richard P., Ibidem p.27.

[84] Ibidem, p.29.

[85] WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, op. cit, p.210.

[86] HARPER, Steve, Ibidem, p.66.

[87] O motivo para Wesley organizar as sociedades era que os convertidos precisam ganhar alimento imediato. Para ele, a pregação não poderia produzir espiritualidade madura e muitos se perdiam ou ficavam adormecidos. (Ibidem, p.64-65). Steve Harper cita livro de Samuel Emerick – Spiritual Renewal for Methodism (Nashville:Methodist Evangelistic Material, 1958), p.2 – onde Wesley diz: “Eu estava convencido do que nunca, de que pregar como um apóstolo, sem ajuntar os que são despertados, e sem treiná-los os caminhos de Deus, era como conceber filhos para o assassino” (HARPER, Steve, Ibidem, p.65).

[88] Ibidem.p.65.

[89] WALKER, Welliston, Ibidem, p.203.

[90] Segundo Heitzenhater, “a restauração da monarquia sob Charles II (convidado a voltar para o trono pelo próprio Parlamento) significava o restabelecimento também da Igreja. A monarquia dos Stuart, considerando-se autorizada por ‘direito divino’, seguiu o ritual tradicional de auto-autorização através de uma série de atos do Parlamento (..) (HEITZENHATER, Richard P., ibidem p.13). Charles I havia sido executado “diante de uma multidão ávida por vingança. Charles foi ao encontro da morte com tal graça e dignidade que, dez anos depois, após uma década sem monarquia e sem uma Igreja estabelecida, mesmo as forças revolucionárias que formavam o Parlamento reconheceram que a Inglaterra estaria melhor com a antiga forma de governo do que nas condições precárias, tanto políticas, como religiosas, que Oliver Cromwell havia tentado dirigir (..) ( Ibidem, p.13).

[91] A expressão Jacobitas  vem de Henry Jacob (1553-1625). Ele foi pastor em Oxford, depois foi para a Holanda. Em 1600 foi pastor de uma igreja composta de exilados ingleses. Em 1604, escreveu Razões extraídas da Palavra de Deus e dos melhores testemunhos humanos que provam a necessidade de reformar a nossa Inglaterra. Em 1610, publicou  Divino Princípio e a Instituição da Verdadeira, Visível e Ministerial Igreja de Cristo. Em 1611, Jacob publicou outro livro onde afirma que ´o governo da Igreja  sempre deve ser com o consentimento do povo´ (JONES, D.M.Lloyd, Os Puritanos, Ibidem, p.159-180). Juntamente com outros teólogos “formularam os princípios da posição independente ou congregacional não separatista, da qual proveio o moderno congregacionalismo. Empenhados em evitar a separação da Igreja da Inglaterra, trabalharam a favor de um sistema nacional de igrejas congregacionais estabelecidas” (WALKER, Welliston, Ibidem, p.146). Henry fundou uma igreja em Southwark, 1616, a primeira congregacional que ainda existe Ibid., p.146). Os partidários de James, que fugiu para a França onde esperava a oportunidade de voltar ao trono inglês, passaram a ser chamados de ”Jacobitas”. (HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.16)”.

[92] JOY, James Richard, Ibidem, p.95.

[93] WILLIAMSON, Glen. Susana. Miami, EUA: Editora Vida, 1988, p.144.

[94] HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.151.

[95] Ibidem.

[96] Ibidem, p.161.

[97] Ibidem.

[98] Ibidem, p.37.

[99] THOMPSON, Edward P, 1v. ibidem, p.42.

[100] WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley. Ibidem, p.108-9.

[101] Ibidem, p.110.

[102]Os motins contra Wesley e os metodistas foram, muitas vezes, incentivados por párocos. Contudo, em 1789, quando João Wesley voltou a Talmouth, depois de quarenta anos, aonde chegou a ser preso por um motim imenso, agora todos olhavam para ele com amor e bondade (Trechos do Diário de João Wesley. Ibidem, p.56-63).

[103] THOMPSON, Edward P, 1 v. Ibidem, p.67.

[104] HARPER,Steve, Ibidem, p.78.

[105] Ibidem, p.79

[106] WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, ibidem, p.105.

[107] Max Weber usa a expressão poderoso revival  para falar do movimento metodista no século XVIII, na Inglaterra (A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, Ibidem, p.125).

[108] Segundo Kuhn, o paradigma é ’um modelo ou padrão aceito’ que orienta a montagem de um quebra-cabeça, servindo para solucionar problemas considerados importantes pela comunidade que o adota” (CASTRO, Clóvis Pinto de et al.Novos Paradigmas. Ibid, p.32). Nesse sentido, o avivamento metodista é um padrão para o verdadeiro avivamento bíblico para os dias de hoje.

[109] MAC ALISTER, Robert. Boletim do bispo Roberto.  [s.ed], dezembro de 1987.

[110] BURTNER, Robert; CHILES, Robert. Coletânea da Teologia de João Wesley, ibidem, p.246.

[111]“ Num tom apologético, alguns ” historiadores concordam que, embora o século XVIII fosse para a Europa continental uma época de dissolução, para a Inglaterra, pelo contrário, foi o momento de benéfica mudança, que regenerou a vida de uma nação e iniciou uma era inteiramente nova (...). Essa regeneração da Inglaterra foi, em especial, obra do metodismo, e assim reconhece a história eclesiástica” (LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p. 371). O francês Edmundo Scherer chama o metodismo de o ‘movimento que transformou a face da Inglaterra’ (Ibidem, p. 372).

[112] Para Nadir Pedro dos Santos, um dos líderes do Movimento de Renovação Espiritual, na década de sessenta e um dos fundadores da Igreja Metodista Wesleyana, em 1967, no dia 24 de maio, Wesley teve a experiência da justificação e no dia 1º de janeiro, ele teve a experiência da santificação (Retalhos de um Pastorado Itinerante. Cromosete Gráfica e Editora Ltda, 1997, p.59-0).

[113] BONINO et al. Luta pela vida e evangelização, Ibidem, p.29.

[114] WESLEY, João. Sermões de Wesley. 1.v, ibidem, p.83.

[115] Wesley utiliza a expressão ”Movidos pelo Espírito Santo” (BURTNER, Robert; CHILES, Robert, Ibidem, p.20.)

[116]REILY, Duncan Alexander. “João Wesley e o Espírito Santo” em História, Metodismo, Libertações, Ibidem, p.15.

[117] HEITZENHATER, Richard P. Ibidem, p.198.

[118] Ibidem,  p.97.

[119] WALKER, Welliston, Ibidem, p.216.

[120]REILY, Duncan Alexander. “João Wesley e o Espírito Santo” em História, Metodismo, Libertações, Ibidem, p. 15. A expressão “campo” significa pregar fora do templo.

[121] Ibidem, p. 99.

[122] Experiência citada e comentada no Capítulo 2.

[123] HEITZENHATER, Richard, Ibidem, p. 90.

[124] WESLEY, João. Trechos do diário de João Wesley. Ibidem, p.82.

[125] ______.______. Explicação clara  da perfeição cristã. Ibidem, p.13-4.

[126] Ibidem.

[127] LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p. 79.

[128] WESLEY, João. Trechos do diário de João Wesley, ibidem, p.115.

[129] Ibidem, p.73.

[130] LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p. 86.

[131] HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 127.

[132] REILY, Duncan Alexander. “João Wesley e o Espírito Santo” em História, Metodismo, Libertações, ibidem, p. 20.

[133] FISCHER, Harold A. Avivamentos que avivam. Livros Evangélicos, 1961, p. 101.

[134] O Bispo Joseph Butler foi um dos que chamou os irmãos  Wesley e Whitefield de “ entusiastas” (REILY, Duncan Alexander. “João Wesley e o Espírito Santo” em História, Metodismo, Ibidem, p. 19).

[135] Ibidem.

[136] Quando havia prática contrária ao ensinamento bíblico, Wesley não deixava de orientar ou até repreender aos que agiam assim, mesmo sendo pregadores, como aconteceu com George Bell, que marcou o fim do mundo para 28 de fevereiro de 1763. Ele acabou deixando o metodismo, juntamente com Maxfield. Wesley chegou a mandar Bell a parar de falar em línguas (HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 209-0).

[137]  FISCHER, Harold A. Avivamentos que avivam. Ibidem, p.102.

[138]  HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 90.

[139] REILY, Duncan Alexander. “João Wesley e o Espírito Santo”  em História, Metodismo, Libertações, Ibidem, p. 18.

[140] HEITZENHATER, Richard, Ibidem,98-9.

[141] Ibidem, p.181.

[142] WESLEY, João.Trechos do diário de João Wesley, ibidem, p.156.

[143] Ibidem,  p.97.

[144] Ibidem, p.101.

[145] Ibidem, p.103.

[146] Ibidem, p.105.

[147]______.Trechos do diário de João Wesley,  Ibidem, p.99.

[148] Ibidem.

[149] Ibidem.

[150] Ibidem.

[151] LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p. 302.

[152] BAILEY, Keith. Cura Divina. Editora Betânia, 1988, p. 200.

[153] WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem, p. 134.

[154] CONDE, Emílio. Pentecoste para todos. CPAD, 1985, p. 35.

[155] HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.210.

[156] WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem, p.211.

[157] Ibidem.

[158] HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.277.

[159]George Bell foi repreendido por Wesley e saiu do movimento metodista, juntamente com Maxfield  e alguns seguidores (HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.210).

 [160] Ibidem, p.293.

[161] Ibidem, p.293.

[162] Ibidem, p.249.

[163] Ibidem, p.100.       

[164] Ibidem, p.100-1.

[165] Ibidem, p.100.

[166] Ibidem, p.293.       

[167] Ibidem, p.127.

[168] WESLEY, João, Ibidem, p.130.

[169] LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.217.

[170] Ibidem, p.216.

[171] Ibidem, p.217.

[172] Ibidem, p.218.

[173] HEITZENHATER, Richard P., Ibidem,  p. 277.

[174] Ibidem.

[175] WALKER, Welliston., Ibidem, 224.

[176] Ibidem, p.299.

[177]LEITE, Nelson Luis Campos. As Marcas Básicas da Identidade Metodista, [s.ed],1993, p.10.

[178] BURTNER, Robert; CHILES, Robert. Coletânea da Teologia de João Wesley, ibidem, p.252

[179] Edward P.Thompson afirma que o metodismo talvez tenha inibido a revolução (A Formação da Classe Operária Inglesa. 2 v. Ibidem, p.264). Já o historiador francês Elie Halévy (1870 -1938), no livro História do Povo Inglês no século XVIII, afirma que a Inglaterra têm uma dívida com o metodismo porque ele impediu a Revolução semelhante a da França, em 1789.

    [180]JOY, James Richard. O Despertamento Religioso de João Wesley, Ibidem, p. 96.

[181] Ibidem, p.97.

[182] “O amor de Deus está no coração da tradição wesleyana. Ele é a base de sua teologia, é o ímpeto para sua missão, e é a razão de sua organização”  (HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 321).

[183] WESLEY, João. Trechos do diário de João Wesley. Ibidem, p.130.

[184] ______. Explicação clara sobre a perfeição cristã. Ibidem, p.52, 130.

[185] Ibidem, p.52.

[186] ______. Sermões de Wesley. 1 v, Ibidem, p.53.

[187] KLAIBER Walter;  MARQUARDT, Manfred, Ibidem, p.302.

[188] WESLEY, João. As marcas de um Metodista. São Paulo: Imprensa Metodista, [s.d], p.1

[189] Idem.

[190] HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.252.

[191] Ibidem,  p.127.

[192] HEITZENHATER, Richard P., Ibidem., p.23.

[193] Ibidem, p.23-4. A SPCK (Sociedade para a propagação do Evangelho) procurou desenvolver canais para a educação do povo nos princípios cristãos. Samuel Wesley, pai de João e Carlos Wesley, organizou uma sociedade em Epworth. Livros e panfletos foram pedidos a SPCK. A Sociedade era composta por 12 pessoas, modelo que Wesley seguiu mais tarde com seus amigos em Oxford. (HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.25-8).

[194] WESLEY, João. Sermos de Wesley. v.2, ibidem, p.509.

[195] Em 1773, em Pensamentos sobre a presente escassez de alimentos, Wesley “culpa a carência de alimento e habitação a um ciclo de ganância entre os que ´têm`, e não a preguiça dos que não ´têm`. Ele declara mais particularmente que a causa do problema pode ser reduzida a ´destilação’ (NT –  isto é, fabricação de bebidas alcoólicas), imposto e luxo” (Ibidem, p. 253).

[196] “Viver a graça de Deus” (WIilliams apud  Marquardt, 2000, p.310).

[197] O messianismo de Wesley é abordado no Capítulo 2.

[198] WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley. Ibidem, p.111.

[199] HILL, Christopher, Ibidem, p.65.

[200] REILY, Duncan Alexander. Metodismo brasileiro e wesleyano, Ibidem, p.149-0.

[201]BONINO, José Miguez. Metodismo: releitura latino-americana [s.ed], Unimep-Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, 1983, p. 9. Nas páginas seguintes, as ações de Wesley contra a pobreza são destacadas.

[202] REILY, Duncan Alexander, Ibidem, p.153.

[203] WALKER, Welliston. História da Igreja Cristã. 2  v. São Paulo: ASTE, 1967, p. 203.

[204]ENSLEY, Francis Gerald. João Wesley, o Evangelista, Ibidem, p.109.

[205] WESLEY, João. Trechos do diário de João Wesley, Ibidem, p.109.

[206] HEITZENHATER, Richard P.Ibidem, p.253.

[207] Um "penny" significa um centavo de libra esterlina (HEITZENHATER, Richard P. Ibidem, p.128).

[208] “Essa ênfase particular em ‘amar o próximo’ e seguir o exemplo de Cristo (que ‘andou por toda a parte fazendo o bem’, Atos 10:38), continuou a caracterizar o metodismo, quando ele entrou no reavivamento” (Ibib., p.125).

[209]BARBIERI, Sante Uberto. Estranha Estirpe de Audazes, Ibidem, p.151.

[210] HEITZENHATER, Richard P.,  Ibidem, p.167.

[211] “A Fundição se tornou o quartel general de Wesley em Londres. As depend6encias da reconstrução incluíam: (A) os apartamentos de Wesley, (B) seu escritório, (C) um sino batendo diariamente às 3 horas da manhã para os cultos matinais e às 4 horas da tarde para as orações vespertinas, (D) a entrada principal, (E) a entrada para o salão de pregações, (F) uma habitação para familia, pregadores, etc, (F) sala de aula, sala para os grupos, (H) estábulo, (I) cocheira e quintal” (HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.109).

[212] Ibidem.

[213] Ibidem, p. 252.

[214] Ibidem, p.252.

[215] Ibidem, p.166.

[216] REILY, Duncan Alexander.  A Influência do Metodismo Revolução Social  na Inglaterra no século XVIII., Ibidem, p. 8.       

[217] HEITZENHATER, Richard P., op. cit, p. 251-2.

[218] Ibidem, p.166.

[219] Ibidem.

[220] Ibidem, p.166-7.

[221] “Entre os seus primeiros casos estava um verdadeiro teste para seu método. William Kikman, de setenta e um anos, um tecelão que sofria de uma ‘tosse muito aborrecida’ desde os onze anos. O medo de Wesley era que, se falhasse nesse caso, os outros se sentiriam desencorajados a voltarem lá. O xarope receitado curou a tosse em dois ou três dias, sendo Wesley cuidadoso em não assumir o crédito dessa cura, atribuindo tudo ao poder de Deus” (Ibidem, p.167).

[222] WESLEY, João. As marcas de um Metodista, Ibidem, p.4-5.

[223] “Em 1715 havia em todo o Reino Unido somente 1.193 escolas primárias, freqüentadas por 26.920 alunos” (LILIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.14).

[224] LUCCOCK, Halford, ibidem, p. 65. Thomás Coke nasceu em 1747, no País de Gales, e recebeu diploma de doutor em leis. Em 1784, foi nomeado por Wesley como Superintendente do Metodismo na América. Título, posteriormente, mudado para Bispo.Idem, p.107-1.

[225] ROY, James Richard, ibidem, p. 80.

[226] HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 121.

[227] WESLEY, João.Trechos do Diário de João Wesley. Ibidem, p.64-5.

[228] REILY, Duncan Alexander, Ibidem, p. 9.

[229] LUCCOCK, Halford, Ibidem, p. 86.

[230] WESLEY, João.Trechos do Diário de João Wesley. Ibidem, p.66.

[231] Ibidem, p. 66.

[232] REILY, Duncan Alexander. A Influência do Metodismo Revolução Social  na Inglaterra no século XVIII, Ibidem,  p. 11.

[233] REILY, Duncan Alexander, Metodismo brasileiro e wesleyano, Ibidem, p.164.

[234] HEITZENHATER, Richard P., ibidem, p.40.

[235] Ibidem.

 [236] WALKER,  Welliston, ibidem, p. 206.

[237] REILY,  Duncan Alexander.A Influência do Metodismo Revolução Social  na Inglaterra no século XVIII, Ibidem Ibidem, p. 13.

[238] NICHOLS,  Robert. História da Igreja Cristã. Casa  Editora Presbiteriana, 1954, p. 193.

[239] LUCCOCK, Halford, Ibidem, p. 31.

[240] Ibidem, p. 30.

[241] LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p. 283.

[242] BONINO et al. Luta pela vida e Evangelização, Ibidem, p. 50.

[243] BARBIERI, Sante Uberto. Aspectos do metodismo histórico. Editora Unimep, 1983, p.15.

[244] HEITZENHATER, Richard P., op. cit, p.127.

[245] “The Birth of Methodism in England” (Halévy pub Bonino, p.32).

[246] SMITH, Oswald J. O Reavivamento de que Precisamos. [s.ed],1958, p.101. O autor aqui fala do metodismo wesleyano e não da nova denominação surgida, na Inglaterra, após a morte de Wesley.

[247] VACCARO, Gabriel O. Identidad Pentecostal. Clai, Quito, Equador, 1990, p. 51. O Secretário Geral do Clai, Felipe Adolf, afirma sobre Vaccaro: “el nos há permitido acercarnos a lo pentecostal desde uma perspectiva diferente, natural, auténtica” (Ibidem, p.7).

[248] Ibidem, p.252.

[249] MAC ALISTER, Robert. Boletim do bispo Roberto. [s.ed], dezembro de 1987.

[250] QUEIRÓZ, Maria Isaura Pereira de. Ibidem.

[251] CHO, Paul Y. Oração, a chave do avivamento. Editora Betânia, 1986, p. 12.

[252]“A Revolução Industrial havia trazido consigo uma abominável exploração dos trabalhadores, que se amontoavam, em número crescente, em bairros em que a aglomeração e o abandono tornavam insalubres e moralmente corrompidos”  (CAMARGO, Gonzalo Baéz, Ibidem.p. 55).

[253] THOMPSON, Edward P., Ibidem, 2 v. p. 232.

[254] WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais, 3 ed. 1983, p.125.

[255] Ibidem, p. 101.

[256] WESLEY, John. Pensamentos sobre a falta de alimentos. Lewiasham, 20 de fevereiro de 1773. In: Mosaico nº 4, 1993, p. 8-9.

[257] WESLEY, João. Sermões de Wesley. 2 v. São Paulo: Imprensa Metodista, 1981, p. 520.

[258] Ibidem.

[259] Ibidem, p.521.

[260] Ibidem.

[261] Ibidem.

[262] Ibidem.

[263] Ibidem, p.522.

[264] Ibidem.

[265] Ibidem, p. 523.

[266] Ibidem.

[267] Ibidem.

[268] Ibidem. Os que eram “dissidentes” não pertenciam à Igreja oficial da Inglaterra. O primeiro defensor realmente notável das idéias separatistas, na Inglaterra, foi Roberto Browne (1550-1633). Em 1581, ele criou, com seu amigo Roberto Harrison, uma congregação independente em Norwich ( WALKER, Welliston, ibidem, p.141-2).

[269] Ibidem. p.526.

[270] Ibidem, p.532-6.

[271] Ibidem., p.532.

[272] CONSEJO MUNDIAL DE IGLESIAS. Consulta com las Iglesias Pentecostales. Peru, 14 el 19 de noviembre del 1984, p. 19-0.

[273]THOMPSON, Edward P., Ibidem, 2 v. p. 248.

[274]______. Ibidem, 1 v. p. 36.

[275] Ibidem, p.38.

[276] “John Wesley on Economics” (Madron apub Bonino, p.26).

[277] BARBIERI, Sante Uberto. Aspectos do metodismo histórico. Editora Unimep, 1983, p.15.

[278] Ibidem.

[279] THOMPSON, Edward P., Ibidem, 2 v. p. 255.

[280] Ibidem, p. 264.

[281] “The Birth of Methodism in England”  (Halévy apub Bonino, p. 32).

[282] THOMPSON, Edward P., Ibidem, 2 v. p. 42.

[283] Ibidem, p. 43.

[284] https://www.webartigos.com/artigos/resenha-referente-ao-livro-a-formacao-da-classe-operaria-inglesa/135006

[285] https://stevereads.com/2017/10/19/ep_thompson_the_making_of_the_english_working_class/

[286]http://richardjohnbr.blogspot.com.br/2007/08/chartist-lives-thomas-hepburn.html
https://en.wikipedia.org/wiki/Thomas_Hepburn
http://en.wikipedia.org/wiki/Thomas_Hepburn
http://www.hettonlocalhistory.org.uk/documents/ThomasHepburn.pdf
http://www.durhamintime.org.uk/durham_miner/history_dma.pdf

[287]http://www.brh.org.uk/site/articles/tolpuddle-hutt-meerut-conspiracy/

http://www.workersliberty.org/node/3359

http://www.tolpuddlemartyrs.org.uk/index.php?page=the-story-of-george-loveless

http://adb.anu.edu.au/biography/loveless-george-2373

[289] Pesquisa: www.biblicalstudies.org.uk/pdf/anvil/14-1_036.pdf

http://www.myprimitivemethodists.org.uk/page_id__1417_path__0p3p127p.aspx

http://www.biblicalstudies.org.uk/pdf/whs/41-1.pdf

[290] Pesquisa: http://www.whatnextjournal.org.uk/Pages/History/Barnsley.html

http://www.biblicalstudies.org.uk/pdf/anvil/14-1_036.pdf

http://en.wikipedia.org/wiki/Edward_Cowey

http://en.wikipedia.org/wiki/Yorkshire_Miners'_Association

[291]Pesquisa: http://www.myprimitivemethodists.org.uk/category_id__127.aspx?path=http://ww.biblicalstudies.org.uk/pdf/anvil/14-1_036.pdf

[292] WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais, 3 ed. 1983, p.125.

[293] WESLEY, João. Trechos do diário de João Wesley, Ibidem, p.109.

[294] HEITZENHATER, Richard P., Wesley e o Povo Chamado Metodista, Editeo-Pastoral Bennett, 1996, p.253.