Sente que a IA está a mudar a forma como trabalha? Para estes seis profissionais de áreas diferentes sim (e profundamente) – Human Resources


Sente que a IA está a mudar a forma como trabalha? Para estes seis profissionais de áreas diferentes sim (e profundamente)

Está a Inteligência Artificial a destruir empregos como alguns previram? Nos EUA, dados estatísticos divulgados em Março mostram que 2,6% dos empregadores cortaram postos de trabalho devido à introdução da IA ​​generativa, e 2,8% criaram novos postos por causa disso. Mas, segundo o The Wall Street Journal, de formas subtis e não tão subtis, a IA generativa já está a mudar a forma como algumas pessoas trabalham.

Grandes modelos de linguagem, como o ChatGPT, e vários softwares específicos estão lentamente a ser incorporados nas tarefas diárias dos profissionais. Em alguns casos, as ferramentas ajudam-nos a realizar o seu trabalho melhor e mais rapidamente. Noutros, estão a obrigá-las a fazer o seu trabalho de forma diferente.

«Não é tanto “a IA vai ficar com os nossos empregos”, mas sim o facto de as funções estarem a ser reconfiguradas, com a IA como parceira, para ajudar as empresas e os colaboradores a trabalhar melhor e com mais eficiência, enquanto melhora a satisfação dos profissionais no trabalho», diz Keith Ferrazzi, chief executive da Ferrazzi Greenlight, que tem dado formação a gestores e equipas no uso de IA para redesenhar o trabalho. «Há muitas tarefas aborrecidas que temos de fazer nas nossas funções e o melhor da IA ​​é que ela realmente não se importa de as fazer.»

Eis algumas funções nas quais a IA está a ajudar os profissionais a fazer o seu trabalho de forma mais criativa e eficiente.

A médica de Boston

Como muitos médicos, Amy Wheeler lutou durante muito tempo com o que os profissionais da área chamam de “burnout de papéis”. O fardo de registar informações dos pacientes em processos e registos médicos tem sido um flagelo da profissão – tanto para médicos como para pacientes – e está a afastar as pessoas do sector, de acordo com investigadores e líderes hospitalares.

Agora, cerca de 450 médicos do Mass General Brigham – quase 10% dos médicos assistentes do sistema do estado de Massachusetts – estão a experimentar programas de IA generativa que ouvem as visitas dos pacientes e actualizam registos médicos. Os programas normalmente geram notas em minutos, e assim Amy Wheeler, médica de cuidados primários numa clínica em Revere, Massachusetts, pode revê-las quando a consulta ainda está “fresca” na sua mente.

As notas são «incrivelmente precisas», afirma, acrescentando que nenhuma requer edições significativas.

Por vezes, os pacientes ficam chocados ao descobrir que estão a ter uma conversa real com ela pois não está a escrever nada no computador durante a consulta. «Agora estamos a regressar ao ponto em que os médicos podem prestar cuidados médicos reais e não serem especialistas em TI e escritores e podemos dar às pessoas toda a atenção que elas merecem e precisam.»

O associado do escritório de advogados

Muitas das previsões iniciais sobre o impacto da IA ​​generativa no emprego centraram-se nos advogados: a IA pode examinar milhares de páginas de jurisprudência em instantes, assumindo potencialmente a tarefa principal atribuída aos advogados júnior pelos partners mais sénior.

Mas em algumas sociedades, os próprios advogados júnior estão a utilizar a IA para os ajudar a realizar esse trabalho, e os resultados podem ser benéficos tanto para o jovem advogado como para a empresa.

Isaac Sommers, associado do escritório de advogados Ropes & Gray desde 2022, diz que faz a sua pesquisa jurídica diária com mais eficácia porque usa a IA generativa como uma das suas ferramentas. A tecnologia também o ajuda a descobrir resultados de pesquisa mais úteis ao tentar, por exemplo, encontrar casos com um resultado específico.

Uma pesquisa tradicional pode revelar apenas casos contendo as palavras-chave sugeridas, diz Isaac Sommers. Mas um número maior de resultados mais úteis pode ser obtido fornecendo ao modelo de linguagem um pedido como: “Existe algum caso no Distrito Sul de Nova Iorque que aborde a questão XYZ no contexto ABC com um resultado específico?”, explica. Essa abordagem gera um número maior de resultados úteis, porque consegue identificar casos que contenham sinónimos de palavras-chave incluídas no prompt, quando usada com ferramenta de pesquisa jurídica.

Para Sommers, a IA proporcionou mais oportunidades para assumir casos adicionais e trabalhar mais estreitamente com parceiros e associados sénior e acredita que a IA está a alargar o seu trabalho, em vez de o eliminar. «O contributo humano é sempre necessário para rever e verificar qualquer resultado de uma ferramenta de IA», acrescenta.

O marketer

Em áreas como o marketing, a tecnologia está a ajudar a transformar tarefas como a redacção.

Dan Bettinger, gestor de marketing de produto em tecnologia, diz que o uso de grandes modelos de linguagem quase diariamente o ajudou a criar melhores copies, construir conteúdos para artigos e posts em blogs, e ter ideias e formas interessantes de abordar determinados tópicos «que talvez não tivesse visto». Também o está ajudar a fazer todas essas tarefas com mais eficiência. «Estou a economizar pelo menos uma hora por dia com o uso da IA», garante.

Bettinger, que fez um curso online de quatro dias sobre IA no ano passado para aprender mais sobre a tecnologia e como aplicá-la na sua carreira, dá ao modelo que usa instruções como “finja que é um director de marketing” ou “finja que é um redactor especialista”, para ajudar a redigir materiais com maior rapidez. Também usa a IA para ajudar a desenvolver scripts para apresentações de vídeo, analisar sites concorrentes para fins de SEO e resumir dados e pesquisas.

Também recorre à IA para fazer “testes de pressão” aos copies que escreve e consegue obter ideias adicionais e ver coisas que lhe escaparam. Antes da IA, esse tipo de testes exigiria o envolvimento com um focus group do cliente ou o envio de um survey para potenciais e actuais clientes, o que é lento, dispendioso e não pode ser feito para cada conteúdo, conta. «Usando um LLM, consigo fazer isso mais rapidamente e provavelmente mais eficazmente.»

O agente imobiliário digital

O trabalho de Alex Brown abrange dois campos complexos: software e transacções imobiliárias. Ele diz que o ChatGPT o ajuda a criar apresentações melhores para os grandes clientes da empresa.

«Tenho tendência a ser um pouco prolixo e isso ajuda-me a traduzir os meus rascunhos, que muitas vezes são extremamente detalhados, e condensá-los em algo mais digerível num ambiente de equipa ou grupo», revela o director sénior de uma empresa com sede em Austin.

Antes do ChatGPT, Brown demorava horas a escrever e editar esses documentos. «Muitas vezes dizem respeito a um tema complexo ou altamente técnico, que faço o meu melhor para descrever brevemente; no entanto, raramente consigo”, conta Brown, que fez um curso online para aprender mais sobre IA no início deste ano. «Muitas vezes a IA consegue a ajudar-me a condensar a extensão dessas peças sem perder o significado, o que considero bastante difícil.»

Em vez de ficar stressado, agora pede: «Aqui está o que escrevi, aqui está o que realmente estou a tentar dizer, reescreva isso em três parágrafos». O resultado? «Tenho de editar, mas são mais de estilo» do que de precisão, diz.

Um engenheiro de nuvem com deficiência visual

Durante anos, Raul Trevino, engenheiro de nuvem com uma doença ocular genética rara, usou um Mac com ferramentas de acessibilidade para fazer o seu trabalho. Para pesquisas online, um leitor de ecrã às vezes proferia palavras, mas algumas páginas da Web não suportavam a tecnologia que ele usava. Também foi um desafio encontrar o texto que queria ler em voz alta. «Cada página web é diferente e torna-se um pesadelo tentar descobrir informações.»

No ano passado, Trevino, que trabalha na ActivTrak, fabricante de software de análise da força de trabalho, começou a usar IA generativa. Além de o ajudar a ler, processar informações e tomar decisões com muito maior rapidez, a tecnologia proporcionou menos cansaço visual.

Agora Trevino diz à IA o que está à procura e a ferramenta fornece resultados instantaneamente de aparência e formato uniformes. «É transformador e muito mais simples. Sinto-me menos estressado.» E garante que o tempo economizado com o uso de IA no trabalho pode ser de horas ou um dia, dependendo do projecto.

O artista de Hollywood

Para alguns trabalhadores, actualmente a IA generativa representa mais uma ameaça do que uma oportunidade.

Sam Tung é um ilustrador e artista de storyboard que trabalhou em filmes e anúncios de grandes marcas. Os realizadores contratam Tung, de 37 anos, para pegar no seu conceito ou guião e desenhar uma sequência de imagens que se torna o modelo para o produto final, seja animado ou live action.

«Se és uma pessoa criativa e gostas de desenhar e escrever, é uma maneira de ganhar a vida de classe média», diz.

Tung e outros trabalhadores criativos em Hollywood têm-se preparado para o poder potencialmente destruidor de empregos da IA ​​generativa. Isso porque uma variedade de ferramentas agora pode criar conteúdo visual em segundos, em qualquer estilo. E estão a diminuir o gap de competências que há muito escapavam aos softwares, como desenhar mãos humanas mais realistas.

As ferramentas de IA foram treinadas em biliões de imagens, muitas delas sem autorização de direitos de autor, e esse suposto “roubo” é agora objecto de vários processos judiciais. Tung diz que já detectou pelo menos um realizador a enviar-lhe imagens geradas por IA como material de referência.

Para manter os robôs afastados e proteger os seus meios de subsistência, Tung e outros recorreram a um programa chamado Nightshade, desenvolvido pelo cientista de computação da Universidade de Chicago, Ben Zhao. O Nightshade altera as imagens ao nível do pixel para que pareçam normais aos olhos humanos, mas transmitam informações distorcidas aos modelos de IA. Isso fará com que um modelo treinado com várias imagens Nightshaded produza posteriormente resultados corrompidos.

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