A 'operação de guerra' da Oi para atender serviços essenciais afetados

Foto: Ricardo Stuckert / PR

Os impactos da catástrofe que se abate já há duas semanas sobre o Rio Grande do Sul no contexto das operadoras de telecomunicações mostra realidades bastante diferentes, quando olhadas sob a perspectiva das grandes teles nacionais com serviços fixos e móveis e dos pequenos operadores. Mas existe uma operadora que tem uma característica diferente de todas as demais nesse cenário de guerra que se instalou com as chuvas e com a enchente generalizada: a Oi.

Trata-se da única concessionária atuante no estado, responsável portanto pela manutenção dos serviços públicos essenciais de telefonia fixa e serviços de emergência. Também é uma das maiores operações de rede no atacado, com links que atendem boa parte dos outros provedores e empresas, além de uma operação de fibra residencial relevante, e da interconexão de voz para todos os demais provedores de telecomunicações. É ainda uma operadora que opera no modelo de rede neutra (ou seja, tem sua operação intimamente ligada à infraestrutura da V.tal).

Pontes danificadas: um dos principais desafios para a infraestrutura de telecom
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Em números: a Oi tem no Rio Grande do Sul 435 mil acessos de banda larga por fibra, 24 mil circuitos de dados para governos e empresas, 500 mil clientes de voz fixa e serviços de três dígitos para todos os serviços essenciais (como os números da Polícia, Bombeiros, SAMU, Defesa Civil, empresas de energia etc).

Quem está no comando da operação de recuperação das redes e operação é o gaúcho Gustavo Brambila, diretor de operações nacionais da Oi. "É um cenário de guerra, sem a menor dúvida uma operação de emergência que nunca nenhuma operadora precisou lidar", resume o cenário. 

Para Fabricio Bindi, head da operação residencial da Oi Fibra, trata-se de um evento sem precedente naquela que é uma das maiores operações estaduais da Oi. "Mais ou menos 10% de nossa base está no Rio Grande do Sul, e uma das maiores extensões da rede de fibra em que a gente opera. Isso é ruim pelo impacto, mas é positivo porque temos um grande contingente de colaboradores e equipamentos". 

Segundo Gustavo Brambila, diferentemente de todos os outros eventos em que a Oi atuou decorrente de emergências climáticas e catástrofes, como aconteceu em Pernambuco, Bahia, Santa Catarina, no próprio Rio Grande do Sul no ano passado, Petrópolis (RJ) e tantos outros episódios recentes, a situação atual tem algumas características especiais. O primeiro é a extensão da área de impacto, com mais de 350 municípios com impacto e calamidade pública gravíssima. Outra característica é a quantidade de dias com impacto climático severo.

"Estamos no 15º dia de operação e ainda não temos nem sinal de quando as coisas vão começar a melhorar", diz ele. E o terceiro fator é a quantidade de rodovias impactadas, o que tem relação direta não apenas com o dano à infraestrutura de telecom (muitas vezes as redes de fibra e cabos acompanham as estradas e atravessam pontes que foram rompidas) como, principalmente, a capacidade de socorro. Segundo Brambila, foram mais de 190 pontos de bloqueio, afetando praticamente toda a malha rodoviária do Estado.  

A resposta da Oi, como aconteceu em outros casos, começou pelo acolhimento das próprias equipes, já que muitos colaboradores das áreas de operação foram afetados. Mas em paralelo a empresa passou a operar em regime de emergência, com uma sala de situação que foi aberta no primeiro alerta de clima severo e não parou de operar desde então.

Sala de crise no primeiro dia

"A operação montada em sala de crise se dá em cooperação com nossos parceiros e fornecedores, e com as outras empresas do setor e outras salas de crise de governo. Parece ser uma coisa menor, mas faz toda a diferença em cenário de guerra para a gente dar o peso e a prioridade necessária, coordenando com os demais. A gente precisa fazer escolhas a todo instante e é necessário validar a visão de prioridade. Em muitas vezes uma decisão te joga para um lado, e todo mundo precisa saber o que está acontecendo", diz o diretor de operações. 

 "Essa sala opera em cooperação com as outras salas montadas pelas outras operadoras, pelo Poder Público, pelos bombeiros e Defesa Civil, e essa atuação coordenada é fundamental no processo de priorização e definição das ações", diz Brambila, lembrando em que é um cenário em que centenas de demandas igualmente importantes precisam ser atendidas ao mesmo tempo.

"A nossa primeira ação foi recuperar as rotas para os municípios, seja recuperando a rede quando necessário, seja redirecionando o tráfego por outras rotas de dados", diz ele. Além dos municípios, foi preciso fazer o mesmo para serviços críticos que dependiam da rede. "Há datacenters do governo, de empresas, serviços emergenciais, call centers cujo tráfego de voz e dados precisou ser redirecionado inclusive para outros Estados, porque eram serviços que não podiam sair do ar", explica Brambila.

Para os números de serviços públicos (chamados de tridígitos), foram mais de 300 intervenções, seja colocando os sistemas de volta em operação, seja ampliando a capacidade quando necessário. "Somos com certeza a operadora que mais atende esses serviços, que agora vivem um momento de altíssima demanda", explica o executivo.

Acesso em área de deslizamento no trabalho de recuperação das redes da Oi

Ao todo, desde que a crise começou, a Oi precisou lidar com 1,2 mil procedimentos operacionais críticos, seja de recuperação de rede, recuperação de serviços públicos, redirecionamento de tráfego para serviços essenciais etc.

A Oi em si não sofreu nenhum dano irreversível. Os principais centros de operação e escritórios da empresa ficaram preservados. Mas muitas centrais telefônicas nas cidades mais afetadas foram danificadas, assim como redes e backbones, mas nada que não pudesse ser recuperado.

"Tivemos que instalar a estação de novo, mobilizando, instalando os equipamentos, climatizando, mas isso foi feito sem problema. Montamos um corredor de abastecimento, para trazer os equipamentos, combustível, geradores e água para os sistemas, e estamos operando nesse regime, com o apoio dos nossos fornecedores de equipamentos e parceiros", explica. Nesse caso, a equipe da V.tal e da Oi operam de maneira coordenada e integrada.

No suporte aos clientes comerciais e serviços públicos, a Oi tem substituído as conexões de voz em redes legadas de cobre por soluções baseadas em IP e PABX virtual, de maneira transparente.

O próximo grande desafio

Mas como em todo o Estado, a preocupação começa a se voltar agora para a recuperação do estrago depois que a água baixar. É nesse momento em que os principais problemas na casa dos clientes devem aparecer. A Oi tem percebido boa parte da rede de banda larga em fibra inativa, o que se deve à falta de energia ou ao deslocamento necessário de quantidades expressivas de moradores das áreas alagadas para áreas de risco. 

Mas a estimativa da empresa é que serão necessárias substituições de algo entre 50 mil e 100 mil ONTs (terminais ópticos de banda larga) que ficam instalados nas casas e empresas afetadas.

Isso pode representar, no limite, um quarto da base de clientes de fibra da Oi no Estado, para se ter uma ideia. "Felizmente a gente tem equipamento em estoque e temos condições de rapidamente fazer essas instalações, e levar rede onde ainda for necessário", diz Bindi.

"Em situações normais, a nossa equipe técnica estaria dimensionada para novas vendas e instalações prioritariamente, e depois reparos. Hoje, com o cenário que está sendo enfrentado, o tempo dos técnicos passou a ser realocado para reparo, obviamente. Nesse cenário o foco não é mais o cliente novo. Mas temos que dar suporte a quem precisa de rede", explica o head da Oi Fibra.

A Oi está inclusive articulando com as autoridades e organizações assistenciais a instalação gratuita de links de Internet e pontos de WiFi gratuitos em todos os abrigos que hoje recebem centenas de milhares de desabrigados (ver matéria nesta edição).

Segundo Bindi, outra prática da empresa, a exemplo do que fizeram outras operadoras, foi tornar a vida da população mais simples nesse momento. "Postergamos as datas de vencimento de faturas e vamos suspender por até 4 meses o serviço para quem precisar sem custo. O que a gente não pode, nessa hora, é ser uma preocupação para a população", diz Bindi. "Mas é triste constatar que a situação é tão grave que mesmo essa demanda para resolver problemas tem sido baixa. Obviamente, esse é um momento em que as pessoas têm outra prioridade".

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