Como os diferentes fusos horários influenciam nos jogos da NBA | saúde | ge

Por Luis Fernando Correia

Clínico e intensivista com certificado em Inovação pelo MIT, ex-chefe da emergência do Samaritano, o Doc hoje se dedica à divulgação de temas ligados à saúde

Flórida, EUA


Nos Estados Unidos os jogadores de basquete da NBA viajam pelo país cruzando vários fusos horários. A pergunta que sempre ficou é: será que a diferença de fusos impacta o resultado dos jogos?

Denver Nuggets recebe o Minnesota Timberwolves para o jogo 5 dos playoffs do Oeste da NBA — Foto: AAron Ontiveroz/The Denver Post

Especialistas da Universidade Dokuz Eylül e da Universidade Técnica de Yildiz, na Turquia, avaliaram os resultados de mais de 25 mil partidas, que mostraram que treinadores e equipes de basquete de elite devem considerar os efeitos físicos e mentais das viagens com diferentes fusos horários, ao planejar e se preparar para as partidas. O estudo está publicado na revista científica Chronobiology International.

A pesquisa é baseada nas conquistas em casa e fora dos jogadores da liga americana de basquete (NBA) ao longo de 21 temporadas consecutivas.

Os atletas viajam com frequência para partidas nos cinco fusos horários dos EUA usados pelas equipes da NBA.

Os resultados mostram que há uma diferença de taxa de vitória de quase 10% melhor para os times da casa da área de fuso horário oeste (PDT), quando enfrentam equipes do fuso horário leste (EDT), em comparação com quando uma equipe do Leste, recebe uma equipe do Oeste.

Quando equipes do PDT jogam em casa contra equipes do EDT, o percentual de vitórias é de 63,5%. Já quando times do EDT recebem oponentes do PDT, esse percentual cai para 55%.

Além disso, os resultados mostram que as equipes ganham mais jogos em casa, quando os ciclos de sono-vigília dos jogadores - ligados ao ritmo circadiano (CR) - estão "à frente" do horário local. Isso significa que o relógio biológico fica fora de sincronia com o ambiente, o que pode levar a insônia, cansaço diurno e outros problemas. O relógio biológico precisa de 24 horas para se adaptar a cada mudança de fuso horário de uma hora.

Por exemplo, se os LA Lakers jogam uma partida fora de casa, em Miami (EDT), e depois retornam à Los Angeles (PDT) para um jogo em casa, sem muito tempo de adaptação CR (CR está à frente do horário local), os Lakers jogam com uma vantagem.

A conclusão da pesquisa é de que as equipes da NBA precisam se acostumar com o horário local, quando jogam fora de casa, para terem bom desempenho.

Segundo os autores do estudo, o desempenho anaeróbio poderia explicar porque as equipes domésticas, que viajam de Leste a Oeste, se saem melhor, já que esse tipo de atividade é crucial no treinamento de marcação e defesa e atinge o pico no fim do dia.

Quanto às equipes fora de casa, os autores afirmam que a fadiga de viagem é a mais provável culpada pelo mau desempenho do que as mudanças de fase na RC.

Os jogadores que têm tempo de descanso entre os jogos ou não viajaram pelos fusos para as partidas fora de casa são mais capazes de sincronizar o corpo com a hora local e, por isso, estão menos cansados e jogam melhor.

Uma limitação desta pesquisa é que os horários de deslocamento das equipes não são conhecidos. Como essa informação não estava disponível, não foi possível determinar quanto tempo as equipes permaneceram em qual cidade/fuso horário; o quanto se adaptaram ao UTC local; e até que ponto eles foram expostos a uma mudança de fase de RC com dados reais.

Para tanto, utilizou-se um modelo preditivo para os planos de viagem e adaptações de RC das equipes, seguindo as regras determinadas por pesquisas anteriores.

* As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do ge / Eu Atleta.

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