Parentes e amigos se despedem do ator Paulo César Pereio | Rio de Janeiro | G1

Por Maria Eduarda Barbosa*, g1 Rio


Atriz Cissa Guimarães no velório do ex-marido Paulo César Pereio — Foto: Maria Eduarda Barbosa / g1

Parentes e amigos se despediram nesta terça-feira (14) do ator Paulo César Pereio. Em tratamento de uma doença hepática avançada, ele morreu, aos 83 anos, na tarde de domingo (12), no Rio.

O corpo do ator foi velado, nesta manhã, no cinema Estação Net Rio, em Botafogo, na Zona Sul. A atriz Cissa Guimarães, ex-mulher de Pereio, chorou muito e foi consolada por amigos.

“Era corajoso, não tinha medo de dizer o que ele achava. Sou mãe dos filhos dele. É uma perda para todos nós, se perde um grande ator e um grande ser humano. Eu sinto uma certa viuvez. Uma viuvez talvez invisível, não sou mais casada com ele, mas ficam as lembranças maravilhosas do que a gente viveu, e isso é bem maior”, afirmou Cissa.

Corpo do ator Paulo César Pereio é velado em cinema do Rio

Corpo do ator Paulo César Pereio é velado em cinema do Rio

O primeiro a chegar ao velório, antes das 10h, foi o designer Thomaz Velho, um dos filhos do casal.

“Meu pai representou um homem incrível, meu primeiro amigo, eu diria… desde sempre. Um parceiro. Sempre me ensinou através da própria experiência, da maneira de viver dele, coisas raríssimas: espírito de companheirismo, aceitação a qualquer pessoa que esteja aqui agora. Meu pai é uma pessoa que eu tenho muitas lembranças incríveis e vou levar ele sempre comigo, onde quer que seja”, afirmou Thomaz.

Filho Thomaz Velho no velório do pai, Paulo César Pereio — Foto: Maria Eduarda Barbosa / g1

Muito emocionado, o ator João Velho, outro filho de Pereio, falou sobre o quanto o pai foi uma pessoa cheia de nuances e muito amorosa.

“Eu sempre uso a palavra pra ele que é ‘idiossincrático’. Meu pai era uma pessoa que você nunca podia colocar ele em uma caixinha. Ele era muito presente na minha vida, nunca deixou dúvidas sobre o amor dele por mim. Sempre me ensinou muito sobre essas coisas que não se aprendem em lugar nenhum. Além da primeira camada dele de ‘eu sou rebelde’, que é boêmio, ele também era uma pessoa extremamente sensível, amoroso… era uma cebola com várias camadas”, disse João.

Ator João Velho no velório do pai, Paulo César Pereio — Foto: Maria Eduarda Barbosa / g1

João e Thomaz são filhos de Pereio com a também atriz Cissa Guimarães. O ator foi casado três vezes e deixou quatro filhos.

Em homenagem ao ator, o documentário “Pereio, eu te odeio” vai ser exibido nesta terça no Estação NET Rio.

O corpo de Pereio foi enterrado às 16h30 no Cemitério São João Batista, também em Botafogo.

Coroa de flores faz homenagem e lembra programa criado por Pereio — Foto: Maria Eduarda Barbosa / g1

Atriz Cissa Guimarães é consolada por amigos no velório do ex-marido Paulo César Pereio — Foto: Maria Eduarda Barbosa / g1

Amigos e familiares no velório de Paulo César Pereio — Foto: Maria Eduarda Barbosa / g1

Ator Tonico Pereira entre Thomaz e João Velho, filhos de Paulo César Pereio — Foto: Maria Eduarda Barbosa / g1

Corpo do ator Paulo César Pereio é velado no Rio — Foto: Maria Eduarda Barbosa / g1

Ícone de rebeldia

Paulo César Pereio nasceu em Alegrete, no Rio Grande do Sul, em 19 de outubro de 1940. Tem trabalhos marcantes na TV, no teatro e no cinema.

Considerado um ícone da rebeldia, atuou em mais de 60 filmes e trabalhou com cineastas importantes como Glauber Rocha, Hector Babenco, Arnaldo Jabor, Hugo Carvana e Ruy Guerra.

Pereio atuou em "Terra em transe", de Glauber Rocha, em "Toda Nudez Será Castigada" e em "Eu te amo", ambos de Arnaldo Jabor.

Também integrou o elenco de "Roda Viva", peça de Chico Buarque encenada por Zé Celso Martinez Corrêa no fim dos anos 1960.

Paulo César Pereio em cena da novela 'A Viagem', da TV Globo — Foto: TV Globo / Bazilio Calazans

Personagem controverso

Em entrevista concedida em 2010 ao jornalista Geneton Moraes Neto, na GloboNews, Pereiro afirmou que construiu a própria imagem pública de pessoa controversa.

"Construo este mito, para ser pouco incomodado. É uma espécie de self-art. Pereio, na terceira pessoa, é obra minha. Posso ser considerado no Brasil uma celebridade. As pessoas me reconhecem na rua. Mas posso me dar ao direito de sair sozinho por aí, subir morro, andar na banda podre e na baixa sociedade, tranquilamente. Sei como não ser vítima disso. Conheço atores brasileiros que têm de fingir que são outra pessoa para sair na rua”, disse o ator.

Sobre a convivência com Nelson Rodrigues, ele reunia histórias.

"Às vezes, Nelson ia ao meu camarim para fumar e tomar cafezinho escondido, porque tinha uma médica que não deixava. Mas ela não podia entrar nos camarins e ele podia. Aí ele ia no meu camarim e dizia barbaridades assim: ‘Pereio, todo canalha é magro!’. Respondi: ‘Isso é arbitrário!’. E ele: ‘Em 97% das vezes em que sou arbitrário, eu estou certo’. Ele deu 3% de gorjeta.”

Paulo César Pereio e Evandro Mesquita na série 'Juba e Lula' — Foto: TV Globo / Cedoc

Pereio afirmou que, ao longo do tempo, transformou-se em uma mais tranquila e equilibrada. Principalmente após os 60 anos.

"Não me lembro de ter sido tão equilibrado. O desequilíbrio sempre produz certa ansiedade. Tenho momentos de calmaria que são muito bons. Baboseiras de que minha infância foi uma coisa muito boa. A juventude só é boa porque a gente tem tesão e não brochou. Mas serenidade, tranquilidade e a ideia de momentos felizes passei a ter depois dos 60 anos. E tenho melhorado! Tenho muito orgulho de ter saúde, apesar de tudo o que fiz”, afirmou.

Paulo César Pereio como Da Mata em 'Partido Alto' — Foto: TV GLOBO / Nelson Di Rago

No documentário "Tá rindo de quê?", sobre o humor na ditadura militar, Pereio falou sobre a dificuldade para driblar a censura.

"Eu improvisava muito. Eu vou improvisar? Tem que dizer um texto enviado para a censura, carimbado, e tem que ser aquele texto. E qualquer improviso será castigado", disse Pereio.

Entre os trabalhos na televisão, Pereio atuou em "Partido Alto", "Roque Santeiro", "Mandala", "O Salvador da Pátria", "A Viagem" e "Duas Caras".

Conhecido pela voz grave, Pereio fez muitos trabalhos na publicidade.

"É um trabalho que eu levo muito a sério e considero tão artístico como qualquer outro. De vez em quando, os publicitários fazem obras de arte em 30 segundos. E acho que a publicidade influencia a linguagem de cinema e televisão", disse Pereio em entrevista ao programa TV Mulher, em 1981.

Mudança em 2020

Pereio vivia no Retiro dos Artistas desde 2020, no começo da pandemia de Covid-19. Em entrevista ao Jornal Extra, ele disse que deixou São Paulo e buscou a entidade no Rio de Janeiro para se sentir protegido.

"Estou aqui desde o começo da pandemia, dessa crise do coronavírus. Achei que vir para cá seria uma maneira de me salvar. Vim para sobreviver. Eu moro em São Paulo, tenho meu apartamento lá. Não teve outro jeito. Mas estou bem de saúde. Nunca na minha vida trabalhei por dinheiro. Trabalhei bastante e nunca fiquei nem estou na penúria. O fato de eu estar aqui pode dar a ideia de que o cara está retirado, mas não estou. Ando aqui com uma tranquilidade absoluta, o que eu não poderia fazer na rua. Aqui tenho comida, sou bem cuidado e estou protegido", afirmou Pereio.

*Estagiária sob supervisão de Janaína Carvalho

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