Doloroso, bonito e complicado: o melhor filme de mistério dos últimos três anos está na Netflix, e você certamente não assistiu Divulgação / Rise Pictures

Doloroso, bonito e complicado: o melhor filme de mistério dos últimos três anos está na Netflix, e você certamente não assistiu

É notoriamente complexo tentar enquadrar certos filmes em um único gênero cinematográfico, o que nem sempre é indicativo de uma qualidade excepcional ou de uma deficiência estética e narrativa evidente. Essa dualidade se reflete em como um filme pode ser visualmente impactante, oferecer uma trama coerente e ainda contar com uma direção e elenco excepcionais sem que isso necessariamente o torne superior. Inversamente, a diversidade de categorias às quais um filme poderia pertencer não implica uma falta de identidade artística ou uma recepção fraca por parte de diversos públicos. Um exemplo pertinente disso é “The Soul”, que surgiu como uma das revelações mais notáveis do ano até agora.

O filme dirigido pelo taiwanês Cheng Wei-hao apresenta uma narrativa que inicialmente pode parecer enganosa pela sua simplicidade. No enredo, o promotor Liang Wen-chao, interpretado brilhantemente por Chang Chen, e sua esposa, a policial Ah-bao, encarnada por Janine Chang Chun-ning em uma performance notável, investigam o homicídio de um magnata que comanda um vasto império empresarial asiático. O foco na trama não se prolonga neste ponto inicialmente, mas rapidamente é evidente que a família da vítima pode estar envolvida no crime.

A estética noir é um dos principais atrativos de “The Soul”, especialmente nas escolhas de cores frias como o azul-marinho e o cinza-chumbo, que, combinados com o efeito de névoa em algumas cenas, contribuem para uma atmosfera densa e enigmática, intensificando a intenção de Cheng Wei-hao de manter o espectador em constante estado de dúvida. A cena inicial, que mostra o local do crime, é emblemática no seu potencial de instigar o mistério, um dos elementos mais profundos e cativantes da narrativa.

Adaptado do romance de ficção científica “Soul Removal Skills” de Jiang Bo, o filme explora temas como rituais de magia negra, possessão demoníaca, reencarnação, avanços em biotecnologia e o rápido desenvolvimento da engenharia genética, suavizados pelo profundo amor entre Liang Wen-chao e Ah-bao, capaz de superar até o devastador câncer que acomete Liang. Este enredo é salpicado por uma série de reviravoltas surpreendentes que mantêm o espectador engajado.

Ambientado no ano de 2032, o filme explora uma realidade futura iminente, ressaltando o caráter especulativo do trabalho de Cheng Wei-hao, conhecido por manipular cronologias em suas produções. “The Soul” destaca-se por explorar uma sociedade crescentemente dependente de inovações tecnológicas enquanto gradualmente perde sua humanidade, uma crítica sutil à vulnerabilidade humana em face da tecnologia. O filme traz cenas poderosas que mostram a dedicação de Liang Wen-chao ao caso, apesar de sua própria luta contra uma doença implacável.

Chang Chen se destaca por sua capacidade de retratar um homem que luta contra a morte, mas se recusa a ceder facilmente. Após essa atuação, Chang foi imediatamente escalado para “Duna”, dirigido pelo renomado Denis Villeneuve. Embora em um papel menor do que o que o consagrou em “The Soul”, Chang continua a impressionar.

Com “The Soul”, Cheng Wei-hao solidifica seu status como um cineasta de grande talento, apoiado por atuações memoráveis como a de Chang Chen, que elevam o filme ao status de uma peça cinematográfica excepcional. Esta combinação resulta em uma experiência cinematográfica que se fixa profundamente na consciência do espectador.


Filme: The Soul
Direção: Cheng Wei-hao
Ano:  2021
Gêneros: Ficção científica/Mistério
Nota: 9/10