Para cientistas políticos, as principais incertezas sobre os impactos das eleições americanas sobre o Brasil envolvem a candidatura do ex-presidente Donald Trump, do Partido Republicano. Em clima de disputa acirrada a menos de seis meses para a eleição, em 5 de novembro, uma eventual vitória de Trump levaria à Casa Branca uma atitude mais protecionista e mais beligerante com a China, com um governo disposto a cortar impostos, sem preocupação com a situação fiscal do país, e a desmontar parcerias ambientais. Além disso, haveria uma relação pouco amistosa ideologicamente com o Brasil, agora sob o governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, cita a entrevista que Trump concedeu à revista Time, no fim de abril, como exemplo de como seria a nova versão do republicano, se eleito:
— O Trump de agora é um Trump pior, mais ressentido. Eu já imaginava isso, o que só se confirmou nessa entrevista que ele deu à Time. É um espírito de perseguição, um comportamento econômico muito mais deletério, protecionista em um grau muito maior.
À revista, o republicano cita o Brasil ao listar países que classifica como “difíceis de lidar comercialmente”, apontando a China como o pior entre eles.
— A principal mensagem de Trump é mais protecionismo, redução de imigração e um fiscal um pouco mais descontrolado. Com Biden também há uma questão fiscal descontrolada, Trump seria um pouquinho mais — avalia Christopher Garman, diretor executivo para as Américas do Eurasia Group, que prevê, para o Brasil, um cenário de maior inflação, com tarifas elevando preços, e pressão sobre os juros.
Relação com Lula
Outra preocupação é uma possível relação ruim entre Trump e Lula. Vale, da MB Associados, diz que uma eventual vitória do republicano tende a “empurrar” o Brasil para uma aproximação ainda maior com a China.
— Joga a gente mais para o colo da China. Se Trump ganhar, a guerra comercial e o protecionismo aceleram, há a tendência de a China olhar outros parceiros comerciais com mais voracidade.
Garman também prevê que, em caso de acirramento comercial, a reação chinesa poderia ser colocar tarifas sobre produtos agrícolas americanos, o que abriria espaço para as exportações do agro brasileiro.
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Já no caso da reeleição de Joe Biden, haveria aumento gradual do protecionismo, que tem aparecido em medidas como a Lei de Redução da Inflação e na decisão de quadruplicar o imposto cobrado na importação de veículos elétricos chineses.
* Para o Valor