Nicolas Cage sérá o 'Homem-Aranha Noir' na TV
Roberto Sadovski

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Opinião

Nicolas Cage em 'Noir' é o Homem-Aranha que a gente nem sabia que precisava

"Nicolas Cage é o Homem-Aranha." Achei que fosse pegadinha, até confirmar o fato: o ator mais pop do planeta vai encabeçar uma série live action inserida no universo do herói Marvel. "Noir" será ambientada na Nova York dos anos 1930, com o astro no papel de um detetive calejado preso a seu passado como o único super-herói da cidade.

Se a premissa soa estranhamente familiar, você acertou. O Homem-Aranha Noir foi uma das variantes dimensionais do herói, apresentado como um dos protagonistas da animação oscarizada "Homem-Aranha no Aranhaverso", de 2018. O longa trazia Miles Morales, adolescente que ganha poderes aracnídeos e salva a realidade com a ajuda de versões-aranha de outras dimensões.

Uma delas era justamente o Homem-Aranha Noir, que veio de um mundo pré-Segunda Guerra Mundial, brutalizado e sem cor, e ganhou a voz, claro, de Nicolas Cage. Como a nova série será produzida por parte do time de "Aranhaverso" —Phil Lord, Chris Miller e Amy Pascal— não descarto que possa haver alguma intersecção de projetos em algum ponto. Se é para ter um multiverso, então é melhor mergulhar de vez.

A CATRACA GIRA

É compreensível que alguns fãs mais conservadores do Aranha tenham torcido o nariz. Ampliar o escopo do personagem, contudo, é inevitável até mesmo pela natureza da produção audiovisual. Nos quadrinhos há mais de seis décadas, o Homem-Aranha teve o luxo de protagonizar histórias mensais com autores que puderam, entre acertos e erros, ramificar sua personalidade ao longo dos anos.

O cinema —e, agora, as séries em streaming— habitam outro cenário. Quando Sam Raimi colocou Tobey Maguire para subir paredes em "Homem-Aranha", de 2002, o fenômeno que o filme despertou se deve muito em parte a seu ineditismo. De lá para cá, o teioso apareceu em mais uma dezena de filmes —outros dois com Maguire, mais dois com Andrew Garfield e cinco vezes na pele de Tom Holland. A catraca gira e o público, por fim, exige renovação.

900 PERSONAGENS

O segundo fator nessa equação são os direitos do Homem-Aranha, que hoje seguem nas mãos da Sony. Embora exista um acordo com a Marvel para produzir suas aventuras no universo compartilhado do estúdio, é razoável assumir que os donos da bola não vão ficar sentados em cima de mais de 900 personagens associados à marca "Homem-Aranha".

Como resultado dessa expansão, tivemos duas obras-primas em animação, "Homem-Aranha no Aranhaverso" e sua continuação, "Através do Aranhaverso". Mas também tivemos empreitadas por vezes divertidas, outras vezes artisticamente equivocadas. Tom Hardy fez "Venom" e sua continuação, "Tempo de Carnificina", que não ofendem se você ainda estiver na puberdade —o ator agora trabalha em um terceiro filme.

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CADARÇOS DE TEIA

Menos sorte teve Jared Leto com o pavoroso "Morbius" e, recentemente, Dakota Johnson e o completo desastre "Madame Teia". Para este ano, o "universo do Aranha sem o Aranha" ainda reserva "Kraven, o Caçador", com Aaron Taylor-Johnson e Russell Crowe. Filmes genéricos que se aproveitam da muleta de uma marca poderosa. É do jogo.

Com "Noir", por outro lado, existe um conceito do Homem-Aranha nunca antes explorado, o que ganha pontos com a energia frenética de Nicolas Cage. É a primeira vez que o astro se compromete com uma série para a TV, e só não digo que também é o primeiro produto do Aranha na telinha porque tenho senioridade para dizer que assistia aos domingos a Nicholas Hammond disparando cadarços de sapato e escalando paredes como o Cabeça de Teia. Ah, a idade...

QUE VENHAM OS MEMES

Explorar uma propriedade intelectual é parte do trabalho de uma grande corporação, e até demorou para que a Sony capilarizasse seu ativo mais valioso. Além disso, super-heróis de época sempre tem um sabor diferente, especialmente quando suas aventuras são ambientadas justamente na época em que essa nova mitologia americana foi criada. Não sei mesmo como a Disney até hoje não bolou um crossover Capitão América/Indiana Jones/Rocketeer.

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Desde que "X-Men" inaugurou a era dos super-heróis no novo milênio, todo tipo de personagem, grande ou pequeno, especialmente das gigantes Marvel e DC, são vistos como uma nova série em potencial. A fadiga de seres superpoderosos certamente é real, mas produtos como "X-Men '97" provam que, com cuidado, é possível reacender o interesse em velhos soldados. Com Nicolas Cage à frente, "Noir" já sai à frente de todos os seus pares. No mínimo, teremos uma nova coleção de memes.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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