Após ano em Oxford, Paulo Nadanovsky divide experiências e aprendizados em sessão científica
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Após ano em Oxford, Paulo Nadanovsky divide experiências e aprendizados em sessão científica

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Publicado em:13/05/2024

Compartilhar aprendizados e vivências é importante não apenas para ampliar o conhecimento científico, mas também para inspirar outras pessoas. Com isso em mente, o pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) Paulo Nadanovsky apresentou aos seus pares atividades que desenvolveu e experiências que acumulou durante um ano na Universidade de Oxford, na Inglaterra. Durante uma sessão científica especial, na última quinta-feira (9/5), no Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde (DEMQS/ENSP), Nadanovsky detalhou quatro projetos aos quais se dedicou durante sua visita acadêmica à instituição inglesa. 

“Compartilhamos o mesmo departamento, os corredores, as salas de aula e tudo o mais, mas muitas vezes não sabemos exatamente o que nossos colegas estão fazendo. Isso dificulta colaborações que poderiam ser ótimas. Mas, mesmo que não gerasse colaborações, é importante que os colegas saibam o que os outros estão fazendo. Por isso, acho que esse encontro foi relevante”, explicou Nadanovsky ao comentar os benefícios de realizar uma sessão científica para compartilhar um pouco de sua experiência com outros pesquisadores. Ele acredita que falar sobre passagens por instituições no exterior também contribui para encorajar mais pessoas a buscarem esse tipo de vivência. “Mostrar como todo o processo ajuda a desmistificar um pouco e a incentivar outros colegas”, disse. 

Durante a sessão no DEMQS/ENSP, o pesquisador falou sobre o surgimento do interesse em passar um período na conceituada universidade inglesa. Ele lembrou da participação no primeiro curso sobre o Ensino de Medicina Baseada em Evidências no Brasil, liderado por David Nunan, de Oxford, e por Luis Eduardo Fontes, da Faculdade de Medicina de Petrópolis. O pesquisador da ENSP destacou que os planos para a viagem ganharam força após ter contribuído com a Oxford-Brazil EBM Alliance, uma união internacional de esforços pela Medicina Baseada em Evidências. No encontro de quinta-feira, Nadanovsky também relatou as dificuldades que antecederam a visita acadêmica. Inicialmente, a ida para Oxford estava prevista para 2020. No entanto, o planejamento foi frustrado pela pandemia de Covid-19. Mudanças causadas pelo Brexit e impactos da guerra na Ucrânia também atrapalharam o processo. Mas, após uma longa espera e diversos entraves burocráticos, a viagem finalmente ocorreu em dezembro de 2022, quase três anos depois do que fora planejado a princípio.

Ao lado da professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Ana Paula Pires dos Santos, Nadanovsky esteve até dezembro de 2023 em período sabático na Faculdade de Kellogg, em Oxford. Com David Nunan como preceptor, eles se dedicaram, principalmente, a estudos sobre tomada de decisões informadas na área da saúde, sobre excesso de diagnósticos e tratamentos em odontologia, além de terem atuado no apoio a estudantes universitários. 


O primeiro dos quatro projetos principais foi sobre comunicação de riscos. Para explicar esse tópico, Nadanovsky destacou que a prática baseada em evidências depende de uma comunicação clara e eficaz da informação estatística. Como não havia uma síntese recente e atualizada, neste projeto foi necessária a realização de uma revisão sistemática para avaliar o impacto da apresentação de estatísticas de saúde em vários formatos. Isso incluiu a compreensão, persuasão e processos de tomada de decisão tanto de profissionais de saúde quanto do público. Adicionalmente, foram realizados três SWARs (estudos dentro de uma revisão) com objetivos específicos de melhorar a metodologia de elaboração de pesquisa. Em meio a essas atividades, o pesquisador da ENSP passou a utilizar novas ferramentas de automatização parcial que auxiliaram nos trabalhos. Nadanovsky apresentou aos colegas do DEMQS todas as novidades das quais não tinha conhecimento antes do período que passou em Oxford. 

Neste primeiro projeto, a etapa inicial foi avaliar a integridade das pesquisas dos ensaios incluídos na revisão. Em seguida, comparar os resultados das avaliações de risco de viés com e sem avaliações de desequilíbrio inicial nos ensaios incluídos na revisão. O terceiro passo foi comparar duas abordagens de triagem (manual e semi-automatizada) para a inclusão de estudos na revisão. Tais esforços buscaram enriquecer a compreensão de estratégias de comunicação eficazes e considerações metodológicas nos cuidados de saúde baseados em evidências. 

A segunda iniciativa a qual Nadanovsky se dedicou foi o projeto Informed Health Choices (IHC), uma rede de pesquisadores dedicada ao desenvolvimento de recursos educacionais que ajudam indivíduos, especialmente crianças e adolescentes, a reconhecer alegações de saúde confiáveis e tomar decisões bem informadas sobre sua saúde. O pesquisador explicou que ele e Ana Paula estão envolvidos com o projeto desde 2019, principalmente traduzindo o material criado para escolas para o português brasileiro. Atualmente, com o apoio da ONG Todos Pela Educação, eles estão trabalhando no mapeamento do currículo escolar brasileiro para avaliar se o conteúdo do projeto IHC já está incluído e, caso esteja, em que medida. 

O terceiro e o quarto projetos centraram-se na odontologia, já que tanto Paulo Nadanovsky quanto Ana Paula são dentistas. Uma das iniciativas focou no excesso de diagnóstico e de tratamentos nesse campo. O pesquisador explicou o contexto desta situação problemática. Ele afirmou que houve uma redução da ocorrência de cárie a partir da década de 1970, o que teve um impacto na carga de trabalho dos dentistas e provocou redefinições das doenças dentárias. O tema foi apresentado na Preventing Overdiagnosis Conference in Copenhagen, na Dinamarca, em agosto de 2023. Neste mês, Nadanovsky publicou, com seus parceiros de estudo, um artigo no formato de ponto de vista num periódico de alto impacto da área de medicina, o The Journal of the American Medical Association (JAMA). O texto explora o tema questionando se todos os procedimentos odontológicos são clinicamente necessários, dadas as suas despesas e o acesso desigual ao tratamento entre alguns grupos socioeconômicos, raciais e étnicos. 


O quarto projeto buscou contornar outro excesso: o de informação. A iniciativa envolveu a criação de resumos de evidências em odontologia, uma espécie de sumário de fatos odontológicos chamado OHA! (Respostas de Saúde Bucal), uma ferramenta que visa auxiliar dentistas e pacientes no acesso às evidências mais confiáveis ??sobre a eficácia dos tratamentos odontológicos mais comuns. “Nosso objetivo era abordar a enorme quantidade de informações encontradas em revistas odontológicas e oferecer respostas sucintas. Embora algumas ferramentas estejam disponíveis, identificamos a necessidade de um repositório de informações odontológicas mais seletivo e fácil de usar. Durante nosso ano em Oxford, desenvolvemos os métodos para criar OHA! e produzimos cinco caixas de informações odontológicas”, explicou Nadanowsky. Ele destacou que “o OHA! publica efeito consolidado da intervenção e inclui só evidências de alta certeza”. Saiba mais sobre a iniciativa no podcast que o pesquisador gravou em Oxford.