Há um ditado mineiro que diz que excesso de esperteza engole o esperto. Mas o excesso de vaidade acaba com a esperteza e engole o homem. O caso clássico é do ex-presidente da Petrobras, Jen Paul Prates.
Já contei aqui a versão mais consistente sobre a saída de Prates: a falta de bom senso e a forma como se indispôs com Lula.
Vamos a mais algumas informações, para entender melhor sua personalidade, e como ela liquidou com sua carreira pública.
Prates surgiu na política como suplente de senador de Fátima Bezerra, pelo Rio Grande do Norte. Assumiu o senado quando Fátima foi eleita governadora do estado. Logo ali, a vaidade se tornou má conselheira. Julgou ter adquirido o direito de ser o candidato ao governo do estado nas eleições seguintes. Foi lhe dito que seria impossível: Fátima Bezerra era candidata natural à reeleição. Alegou então que o PT ficaria em débito com ele, que não tinha nem história nem biografia política.
Por falta de alternativas de Lula, tornou-se presidente da Petrobras, e logo se indispôs com o Ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, e com o Ministro-Chefe da Casa Civil, Rui Costa.
Como Rui barrava qualquer acesso a Lula, foi-lhe sugerido que, em alguma cerimônia em que estivesse com Lula, solicitasse pessoalmente um encontro. Foi o que fez. O encontro foi marcado para a manhã de uma sexta-feira. Mas Prates alegou que tinha compromisso no Rio de Janeiro, e não poderia comparecer. O cargo de presidente de uma das maiores companhias do mundo lhe subira à cabeça. Em nenhum momento entendeu que se tratava de um cargo político, não de um cargo institucional. E ele recusava um encontro com o presidente da República e, mais do que isso, com Lula.
Lula, como sabe qualquer pessoa que tenha acompanhado sua carreira política desde o Sindicato dos Metalúrgicos, tem horror à arrogância. Ali, Prates começou a traçar seu destino na Petrobras, que só poderia ser alterado se conseguisse entregar o que Lula queria: investimentos no país, estímulo às empresas nacionais e geração de emprego.
E não entregou. Aliás, os jornalistas que estão criticando Lula, por pretender direcionar os investimentos da Petrobras, deveriam, ao menos, entender o que ele pretende da empresa.
A Petrobras tem uma função pública e obedece às diretrizes do governo de plantão. Com Bolsonaro, sua missão era esvaziar os cofres da empresa em favor dos acionistas. Em 2022, a distribuição de dividendos superou o próprio lucro da empresa, em uma atitude que seria condenada em qualquer empresa privada. E a imprensa deixou por isso mesmo.
Prates desconsiderou todas as prioridades legítimas do governo. Mais que isso, queria utilizar os recursos da empresa em grandes negócios.
Estava claro que a Petrobras deveria se tornar uma empresa de energia. No ano passado, não construiu uma eólica sequer. Com empresas nacionais ociosas, Prates pretendeu montar uma parceria com a norueguesa Equinor, para projetos de geração de energia eólica em alto mar.
Especialistas apontaram o disparate.
As primeiras informações davam conta que o pacote com a Equinor permitiriam 14,5 GW de geração potencial, correspondendo a mais da metade dos projetos eólicos já existentes em terra, ao custo assombroso de US$ 70 bilhões.
Os especialistas indagavam: em um país com dimensões continentais e com um dos melhores ventos do mundo para a produção de energia em terra firme, faz sentido investir em eólicas no mar? E para gerar uma energia muito mais cara do que outras fontes renováveis.
Pior foi a maneira como decidiu enfrentar o lobby de Alexandre Silveira e Rui Costa, em favor do uso do gás para as termoelétricas. Prates foi aconselhado a não avançar nesse embate. Embora seja um dos políticos menos confiáveis do país, Silveira é uma peça com que conta Lula para o jogo político em Minas Gerais.
Além disso, Silveira e Rui Costa dispunham de um argumento matador. Quando se perfura um poço de petróleo, extrai-se petróleo e gás. Há várias maneiras de tratar o gás, dependendo das circunstâncias e da infraestrutura disponível. Se não se quer bancar o custo de levar o gás para a terra, pode-se queimá-lo, liberá-lo na atmosfera ou fazer uma reinjeção de volta ao poço. Prates optou pelka reinjeção do gás.
Foi sugerido a Prates um projeto campeão, que esvaziaria o discurso da dupla termoelétrica, Silveira e Costa: extrair o gás e propor a Lula uma Bolsa Gás equivalente ao Bolsa Família – já que o gás representa um custo alto para famílias de baixa renda. Ignorou todas as sugestões. Estava mais interessado em altos negócios, como a parceria com a Equinor, ou a recompra de parte das refinarias vendidas.
Não avançou um milímetro nas prioridades do governo, de reconstrução dos estaleiros nacionais – o que garantiria investimentos na indústria nacional e geração de empregos.
A pá de cal foi quando desobedeceu Lula e absteve-se de votar na assembleia da companhia que decidiu sobre os dividendos extraordinários.
Aí surgiu a alternativa Magda Chambriard. Antes de convidá-la, Lula ouviu Dilma Rousseff – com quem Magda já havia trabalhado -, que elogiou sua atuação, como executiva eficiente e disciplinada.
Aconselhado pela vaidade, Prates cometeu a última tolice, de anunciar que sairia atirando e se desfiliaria do PT. Ali acabou sua carreira política.
Correção
Prates solicitou a candidatura de senador, não se governador do Estado. Mas ela lhe foi negada.
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Isso!
E teria ou não teria o Haddad na história. Segundo a Folha, o Haddad ficou de fora do processo.
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2024/05/haddad-foi-excluido-do-debate-sobre-demissao-de-prates-em-operacao-montada-por-costa.shtml
Lula tem inimigos terriveis mas eles não fazem metade dos estragos dos aliados.
Quem escolheu Prates foi Lula.
Se o presidente da Petrobas nào consegue falar com o Presidente porque “Rui não deixa” , este governo faz água.
Vc com certeza não leu a reportagem ou não soube interpretar, o Rui, falou se quiser falar com o presidente marca pessoalmente, ele pediu a reunião, o Lula marcou e ele, não compareceu.tem gente que gosta de inverter a história
Nesse blá blá blá já se vai metade do governo Lula, já que os últimos seis meses ninguém presta atenção…..e está indo sem deixar saudades…
A sabedoria dos mineiros é embatível…..”a esperteza quando é muita, engole o dono”. Dito e feito!!!
Lula nomeou Prates por conta de “falta de opções”? serio isso?
Bem colocado. Funcionário de carreira tava em falta. Só me faltava essa.
Tá, tá certo.
O homem era vaidoso, mas se foi vaidade e a incapacidade dele em fazer da Petrobrás a menina dos olhos de Lula, como um instrumento indutor de desenvolvimento, como explicar a sucessora?
E pior, se esse traço já era conhecido, como colocaram ele lá?
As informações veiculadas no texto onão são, necessariamente, erradas, mas com certeza não foram os motivos centrais da queda.
Lembrete: foi o pré sal e a tentativa de uso autônomo das riquezas que alimentaram o golpe de 2016.
Rui Costa e Alexandre Silveira fizeram de tudo e mais um pouco para isso ocorrer impedindo qualquer contato com o Presidente Lula. Ora, o presidente da maior empresa do país impedido de falar com o Presidente e num verdadeiro “fogo amigo(diria inimigo)”??? Vaidade? O centrão ganhou mais uma vez, infelizmente.
Marcaram uma reunião entre ele (Prates) e o presidente (Lula), o primeiro não foi. Não entregou uma eólica em terra e quer fazer no mar???? Brasil é um país pequeno, daí a necessidade de ser marinha? Já vai tarde, espero que assuma alguém que utilize o potencial da Petrobrás para gerar riquezas ao país e não ao CEO.
Luis Nassif, gostei de ver como você vai a fundo nas informações . Aliás , sempre .
Essas coisas de bastidores, a frente não fica sabendo , mas me irritou profundamente ele se abster na votação dos dividendos extraordinários, pois os estabelecidos no Estatuto. De 45% dos lucros , já é demais . A Petrobrás tem que mudar o Estatuto , e proibir distribuição de dividendos extraordinários . Se os acionistas são investidores, e não sangue-sugas , deixar a empresas investir , estarão investindo no melhor negócio legítimo do Brasil .
Agora , a atitude do Prates não cumprir uma ordem do presidente, numa questão tão nobre , pra mim é traição.
Fez bem o Lula de despachá-lo .
Suma injúria insistir num encontro com a autoridade máxima do país e quando consegue diz que não vai. Quem ele pensou que era? Lula é popular, informal e amistoso, mas nem por isso deixa de ser autoridade. Nâo reconhecer isso é arrogância. Suma estupidez distribuir mais dividendos aos acionistas que o lucro da empresa. Nenhum negócio sobrevive sob essas práticas. Suma insensibilidade política e social optar por negócios de empresa estatal estratégica sem atentar para prioridade dos interesses nacionais e enfim, suma idiotice achar que o Lula iria indicar alguém para dirigir a Petrobrás sem falar com a Dilma.