O mercado absorveu bem, ainda que de forma moderada, a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), e o resultado foi uma recuperação discreta dos ativos brasileiros na sessão, com Bolsa em alta, dólar em baixa frente ao real e acomodação da curva de juros doméstica. O Ibovespa fechou o dia com ganho de 0,28%, aos 128.515,49 pontos, entre mínima de 127.961,78 e máxima de 128.964,68 na sessão, em que saiu de abertura aos 128.154,79 pontos.

Após ter iniciado a semana a R$ 18,4 bilhões, o giro financeiro subiu nesta terça para R$ 23,6 bilhões. Na semana, o índice da B3 acumula ganho de 0,72% e, no mês, avança 2,06% – no ano, cai 4,23%.

“O BC brasileiro está muito dependente da trajetória da política monetária americana. E, acompanhando o Fed, tem mostrado uma cautela maior. Por outro lado, lá na frente, quando os cortes do Fed começarem, o BC brasileiro vai ter que parar. Lá como aqui, os BCs estão dependendo de dados para atuar, e há questões importantes no Brasil, como a fiscal e a do Rio Grande do Sul, com efeitos para a inflação”, diz Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi).

“A visão de um cenário mais adverso e incerto foi compartilhada entre todos os membros do Comitê, assim como a necessidade da adoção de uma postura mais contracionista – o que ficou evidenciado também no tom do comunicado. A divergência, no entanto, teria vindo na avaliação dos custos de não seguir o guidance vis-à-vis a mudança de cenário”, aponta em nota a Guide Investimentos, referindo-se ao placar dividido na reunião do Copom na semana passada, em que cinco integrantes votaram pelo corte de 0,25 ponto porcentual na Selic e quatro, pela manutenção da redução de meio ponto que havia sido sinalizada no encontro anterior, em março.

Para Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe Warren Investimentos, a ata de maio mostrou que “as divergências são menores do que a leitura inicial do mercado após a divulgação do comunicado”. “A ala dissidente deu peso maior ao guidance de março”, levando em conta “o custo reputacional de não o seguir”, aponta o estrategista. Por sua vez, “a ala majoritária apontou que o cenário esperado não se confirmou, tendo em vista a desancoragem adicional das expectativas, a elevação das projeções de inflação, o cenário internacional mais adverso e a atividade econômica mais dinâmica do que esperado”, acrescenta.

Ainda assim, observa Goldenstein em nota, “percebe-se convergência do Comitê com relação à adoção de uma política monetária mais cautelosa e sem indicações futuras, o que pode ser interpretado como um orçamento total de redução de juros menor do que o considerado anteriormente”. Ele aponta também haver, entre os integrantes do Copom, “concordância” quanto ao “diagnóstico” de um cenário global incerto e, no plano doméstico, quanto à “resiliência da atividade e desancoragem das expectativas”.

“A ata contribuiu para atenuar as preocupações em relação a possíveis divisões entre os membros do colegiado, reforçando o consenso em torno da necessidade de ancorar as expectativas de inflação. Isso resultou em um alívio imediato nos vencimentos de contratos de juros, especialmente nos prazos mais longos, e influenciou na queda do dólar, elevando o Ibovespa a patamares mais favoráveis”, diz Marcelo Boragini, sócio e especialista em renda variável da Davos Investimentos.

Na B3, contudo, o viés de alta do Ibovespa na sessão foi muito limitado pelo desempenho de Petrobras (ON -2,74%, PN -1,80%), após o balanço trimestral divulgado na noite anterior, com queda do lucro. O dia foi levemente negativo para Vale ON, em baixa de 0,06%, mas em geral positivo para os grandes bancos, com Itaú (PN +1,09%) à frente. Na ponta perdedora do índice, destaque para Natura (-9,43%), após os resultados trimestrais, seguida por IRB (-3,82%), Petrobras ON (-2,74%) e Alpargatas (-2,73%). No lado oposto, Hapvida (+10,42%) e Embraer (+7,65%).

“As empresas em destaque foram as que divulgaram resultados após o encerramento do mercado, ontem. A Hapvida, em particular, atraiu considerável interesse por parte dos investidores – por outro lado, a Natura desapontou, apresentando resultados abaixo das expectativas em termos de receita, Ebitda e lucratividade, com destaque negativo para o desempenho da Avon dentro do conglomerado”, diz Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, chamando atenção também para Petrobras.

As ações da estatal figuraram entre as maiores quedas do dia, “provavelmente em consonância com as decepcionantes métricas de receita e Ebitda”, embora, operacionalmente, a empresa tenha mostrado uma performance sólida, observa Cruz, “mantendo custos de extração em níveis bastante baixos”, ainda que tenham subido ligeiramente no trimestre.

No quadro mais amplo, “houve uma certa volatilidade no pregão de hoje, com o Ibovespa chegando a mostrar alta mais firme. A ata do Copom trouxe mais clareza com relação à decisão da semana passada, mas os dados americanos divulgados hoje mantêm a incerteza com relação ao curto prazo para a dinâmica inflacionária nos Estados Unidos”, diz Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos, destacando também resultado um pouco mais fraco, abaixo da expectativa, para os números trimestrais da Petrobras.

Leitura nesta manhã sobre o índice de preços ao produtor (PPI) nos Estados Unidos, na véspera da divulgação dos dados mais aguardados, sobre a inflação ao consumidor (CPI) americano em abril, sugere a possibilidade de reversão na trajetória de queda dos preços na maior economia do globo, no momento em que os investidores monitoram de perto o Federal Reserve com relação ao momento em que os juros poderão começar a ser cortados por lá.

Em abril, o PPI avançou 0,5% ante março, acima da mediana das expectativas compiladas pela FactSet, de alta de 0,3%. O núcleo do índice de preços ao produtor também ficou acima do esperado para abril, em alta de 0,5% na margem, frente a previsão de consenso a 0,2% para o mês.