Este hotel abandonado há 70 anos é um dos locais mais incríveis de Portugal – NiT

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Este hotel abandonado há 70 anos é um dos locais mais incríveis de Portugal

Yvan Mendes, fundador da página “Viajar em Portugal”, visitou a unidade hoteleira e as termas que fecharam devido à radioatividade.
Fechou há 70 anos. Foto: Rafiki On Tour

Apaixonado por viagens e com mais de 40 países riscados da bucket list, Yvan Mendes tem uma missão importante nas redes sociais: mostrar o melhor de Portugal. Filho de pais e avós portugueses, nasceu em França, mas cedo emigrou para a terra natal da família. Viveu na Figueira da Foz até aos 18 anos, altura em que se mudou para Lisboa para estudar gestão. Hoje é gestor de marcas, mas passa os tempos livres a conhecer os recantos secretos de Portugal — e a partilhá-los com os seus seguidores.

Na altura da pandemia, quando todos estávamos fechados em casa, sem viajar, Yvan teve a ideia de promover o melhor do País e fundou, em 2020, o Viajar em Portugal, que já conta com mais de 120 mil seguidores no Instagram. “O objetivo era promover o melhor de Portugal e mostrá-lo segundo a minha perspetiva”, diz Yvan, de 36 anos.

Entre as deambulações encontrou, quase por acaso, aquele que considera “um dos lugares abandonados mais incríveis do País”. Chama-se Hotel da Serra da Pena, mais conhecido por Termas Águas Radium, e guarda toda uma história com “vários capítulos e muitas reviravoltas”.

“Conheci o local porque ia a caminho da aldeia de Sortelha e o edifício despertou-me a curiosidade. Quando se entra vê-se a receção com indicações, depois uma grande escadaria feita de granito que tem sido tomada por árvores”, recorda à NiT o jovem, que visitou o hotel abandonado no mês de março.

Ainda hoje é possível ver as colunas e as imensas janelas, mas o estado de abandono é inegável, com grande parte do edifício a ser consumido pela natureza. Porém, em tempos, este mesmo espaço foi um grande centro termal e um hotel com mais de 90 quartos, capaz de hospedar 150 pessoas no interior do País.

“É sem dúvida um local impressionante, porque o impacto da arquitetura de construção granítica, cheia de detalhes, relevos, lareiras, salas abandonadas é incrível. Mas depois vemos a natureza a voltar a tomar conta de tudo”, diz.

Apesar do estado atual, é um hotel “com uma história única”. É, também, o exemplo perfeito de que “o que em tempos foi considerado um grande luxo, pode de um momento para o outro simplesmente fechar.”

 
 
 
 
 
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Tudo começou na década de 1910, numa altura em que a exploração das minas de urânio estava a crescer. Era a partir deste elemento que era extraído o rádio, uma substância altamente radioativa que no início da década de 20 se acreditava ter poderes milagrosos — isto muito antes do desastre de Chernobyl.

A verdade é que, naquela altura, quase tudo era fabricado com rádio: cosméticos, tónicos, sais de banho e até chocolates. Acreditava-se que curava uma série de problemas físicos e mentais, desde o cancro à impotência sexual. Diz a lenda que um conde espanhol veio para esta zona com a filha, que sofria uma grave doença, e que foi curada graças às águas. Com este milagre, o conde, apelidado de D. Rodrigo, mandou construir um hotel termal.

Ninguém sabe ao certo em que ano abriu o Hotel da Serra da Pena, mas em 1922 foi obtido o alvará para a exploração de três nascentes junto às minas — cheias de elementos radioativos, alegadamente com poderes curativos. Nos anos seguintes, chegaram centenas de hóspedes ao edifício de granito com cerca de 90 quartos. A lista de tratamentos era infindável: compressas elétricas radioativas, aplicação de lamas também com rádio e até a utilização de um aparelho para lavagem do cólon, que recorria à utilização de 35 litros de água mineral. 

“Vendia-se até água das termas Radium para curar várias doenças em vários países”, conta Yvan. Em 1927, num congresso médico realizado em Lyon, França, as Águas de Radium foram consideradas das mais radioativas do mundo.  Por esta altura já se comercializava água engarrafada, e há quem diga que era um sucesso de vendas na Europa. “Água Radium dá saúde, vigor e força”, lia-se na publicidade da altura.

Nos anos 30, o espanhol foi-se embora e as termas foram vendidas aos ingleses. “Com os avanços científicos passou a acreditar-se que as águas eram radioativas e que faziam mal ao ser humano. Assim, num ápice, o que era um hotel de luxo passou a ser um local a não visitar”, explica. 

Quando a comunidade científica percebeu realmente os efeitos devastadores dos materiais radioativos, não havia volta a dar: a morte deste local estava anunciada. Os registos confundem as datas, mas terá sido na década de 50 que o hotel fechou de vez.

Todo o recheio que lá estava, assim como as torneiras, os chuveiros, as tubagens e até as loiças foram levadas. A triste sorte deste hotel manteve-se até aos dias de hoje, apesar das várias tentativas para o recuperar.

O complexo termal chegou a ser leiloada em 1985, mas sem efeito. Mais tarde, foi comprado por Ramiro Lopes, residente na Panasqueira, que em 2000 o venceu ao irmão, António Lopes, que tinha um plano ambicioso: reconverter o espaço num hotel de cinco estrelas, com um campo de golfe com 18 buracos e dois aldeamentos turísticos com 146 villas. O projeto foi aprovado por unanimidade pela Junta de Freguesia de Sortelha, mas nada aconteceu. Há mais de 60 anos que o Hotel Serra da Pena é apenas ruínas.

“Acho que o facto de ser localizado naquele local não ajuda uma possível reabertura. Não há comboios por perto, só intercidades. É uma localização remota, apesar das imensas valências históricas”, sublinha Yvan.

Carregue na galeria para conhecer o estado atual deste hotel abandonado no distrito da Guarda, entre Caria e a aldeia histórica de Sortelha.

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