Norberto Ávila

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Norberto Ávila
Nascimento 9 de setembro de 1936
Angra do Heroísmo
Morte 11 de maio de 2022
Lisboa
Cidadania Portugal
Alma mater
Ocupação dramaturga, escritor, tradutor

Norberto Gregório Ávila (Angra do Heroísmo, 9 de setembro de 1936Lisboa, 11 de maio de 2022)[1] foi um dramaturgo, romancista, contista e poeta português.[2] Também se dedicou à tradução e adptação de peças teatrais para representação em teatros portugueses.

Biografia[editar | editar código-fonte]

De 1963 a 1965 frequentou, em Paris, a Universidade do Teatro das Nações (Université du Théâtre des Nations / Institut International du Théâtre).[3][4]

Criou e dirigiu a revista Teatro em Movimento (Lisboa, 1973-1975), que, entre variada colaboração, publicou textos dramáticos integrais de Jacques Audiberti, Henry de Montherlant, Pirandello, Miguel Barbosa, Tankred Dorst e Strindberg.

Chefiou, durante quatro anos, a Divisão de Teatro da Secretaria de Estado da Cultura. Abandonou o cargo em 1978, a fim de dedicar-se mais intensamente ao seu trabalho de escritor, de que resultou a escrita de três dezenas de peças teatrais, três romances (dois deles ainda inéditos) e um livro de poemas.

Traduziu obras de Jan Kott, William Shakespeare, Tennessee Williams, Arthur Miller, Jacques Audiberti, Friedrich Schiller, Junji Kinoshita, Ramón María del Valle-Inclán, Rainer Werner Fassbinder, Eduardo Blanco Amor, José Zorrilla e Liliane Wouters. Adaptou à cena o romance O Bobo, de Alexandre Herculano, e, para marionetas, a obra D. Quixote e Sancho Pança, de António José da Silva.

Dirigiu para a RTP, a partir de novembro de 1981, uma série de programas quinzenais dedicados à atividade teatral portuguesa, com o título de Fila 1.[5]

As suas obras dramáticas, em grande maioria publicadas, têm sido representadas em teatros profissionais portugueses como o Teatro Monumental e Teatro da Trindade (Lisboa), Marionetas de Lisboa, Teatro Experimental de Cascais, Teatro Animação de Setúbal, Teatro Experimental do Porto, Teatro de Portalegre, Teatro A Oficina (Guimarães) e Centro Dramático de Évora, por exemplo, além de muitos grupos de teatro amador. As suas obras foram ainda encenadas em teatros da Alemanha, Áustria, Bélgica, Coreia do Sul, Croácia, Eslovénia, Espanha, França, Holanda, Itália, República Checa, Roménia, Sérvia e Suíça.

Em 2009, a Imprensa Nacional-Casa da Moeda publicou a coletânea Algum Teatro (20 peças de Norberto Ávila, em 4 volumes), cuja ordenação cronológica permite avaliar facilmente a evolução temática e estética do autor, umas vezes interessado em ficções dramáticas de fundo histórico, outras, na recriação dos grandes mitos (sejam eles da Grécia clássica ou da literatura ibérica), na elaboração de um teatro de inspiração popular ou de crítica social ou empenhamento político, ou mesmo de incitamento à evasão e à fantasia.

No dizer de Luiz Francisco Rebello (sem dúvida o mais autorizado especialista do teatro português[carece de fontes?]): "Pela diversidade e riqueza dos temas dramatizados, pela variedade e adequação dos modelos estruturantes, pelo saber oficinal, pela capacidade inventiva do jogo cénico, pela sábia dosagem do real e do fantástico, do humor e da emoção, do erudito e do popular, e pela articulação perfeita de tudo isto, a obra de Norberto Ávila, já internacionalmente consagrada, ocupa um lugar ímpar no quadro da dramaturgia portuguesa contemporânea."[6]

Embora outras peças suas (como A Ilha do Rei Sono e O Marido Ausente)[7][8] tenham tido oportunidade cénica em vários países, é incontestável que As Histórias de Hakim,[9][10][11] cujo número de encenações rondará a centena, continua a ocupar um lugar de privilégio na audiência nacional e internacional.[carece de fontes?] Já em agosto de 1978, sendo promissora a carreira de As Histórias de Hakim, a prestigiada revista mensal Theater Heute (de Hanôver) dedicava-lhe, e ao seu autor, grande parte de um dos seus números: reedição integral do texto dramático, complementada com artigos sobre encenações da obra em países de língua alemã, entrevista com o escritor, com dados bibliográficos e imagens de montagens em diversos teatros.

Em 2008, a Sociedade Portuguesa de Autores prestou-lhe homenagem com a sua Medalha de Honra. Em 2010, ano em que se completaram os 50 anos da sua estreia como dramaturgo representado, a Assembleia Legislativa dos Açores decidiu atribuir-lhe, nas celebrações do Dia dos Açores, a Insígnia Autonómica de Reconhecimento. A 10 de junho de 2011, foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem do Mérito.[12]

Obras editadas[editar | editar código-fonte]

Entre outras, é autor das seguintes obras:

Teatro
  • A descida aos infernos (1959). Peça estreada pela RTP, em 1966;
  • O homem que caminhava sobre as ondas (1959). Peça de estreia absoluta do dramaturgo levada à cena na Sociedade Dramática Eborense, Évora, 1960;[13]
  • O servidor a Humanidade (1962). Prémio Manuscritos de Teatro, 1962. Estreia do autor por uma companhia profissional no Teatro Popular de Lisboa (Estufa Fria), 1962;
  • O labirinto (1962);
  • A pulga (1965);
  • A ilha do Rei Sono (1965).[14]
  • Magnífico (I) (1965);
  • As histórias de Hakim (1966);[15]
  • A Paixão segundo João Mateus (1972 e 1978). 2.º prémio dos 30 Anos do Teatro Experimental do Porto;[16]
  • As cadeiras celestes (1975). 1.º prémio dos "50 Anos da Sociedade Portuguesa de Autores", (1975);[17][18]
  • O rosto levantado (1977 e 1978);[19]
  • O pavilhão dos sonhos (1979);
  • Viagem a Damasco (1980);[20]
  • Do desencanto à revolta (1982)[21]
  • Os deserdados da Pátria (1988);[22]
  • Florânia ou Perfeita Felicidade (1983).[23]
  • D. João no Jardim das Delícias (1985). Ed. Rolim, Lisboa, 1987. Peça estreada pelo Teatro Experimental de Cascais, 1988.[24]
  • Magalona, a Princesa de Nápoles (1986). Ed. SREC, Angra do Heroísmo, 1990;
  • O marido ausente (1988);[25]
  • As viagens de Henrique Lusitano (1989);[26]
  • A Donzela das Cinzas (1990);[27]
  • Uma nuvem sobre a cama (1990)[28][29][30]
  • Arlequim nas ruínas de Lisboa (1992). Comédia escrita a convite do Inatel. Estreada no Teatro da Trindade, Lisboa, 1992. Ed. Escola Superior de Teatro e Cinema, Lisboa, 1992;
  • Os Doze Mandamentos (1993). Comédia escrita a convite do Teatro de Portalegre, que a estreou em 1994. Ed. SREC, Angra do Heroísmo, 1994;
  • Fortunato e TV Glória (1995). Comédia estreada pelo Teatro Animação de Setúbal, 1998;
  • O Café Centauro (1996). Tríptico provinciano: Cavalheiro de Nobres SentimentosAs Invenções do DemónioAs Suaves Luvas de Londres. Ed. Novo Imbondeiro, Lisboa, 2002;
  • Salomé ou A cabeça do profeta (2000). Comédia escrita a convite do Teatro de Portalegre, que no mesmo ano a estreou;
  • Para além do Caso Maddie (2007);[31]
  • Memórias de Petrónio Malabar (2008).[32]
Romance
  • No mais profundo das águas (1993 e 1994).[33]
  • Frente à cortina dos enganos (2003 e 2004). Inédito.
  • A Paixão segundo João Mateus (2004 a 2006). Inédito.
Poesia
  • Percursos de poeta.[34]
Fotografia e texto
  • As fajãs de São Jorge (álbum).[35]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Nota biográfica.
  2. DRC. «Direção Regional da Cultura». Cultura Açores. Consultado em 25 de setembro de 2022 
  3. «Na Hora: Dramaturgo Norberto Ávila apresenta obra em Olhão na Semana da Casa dos Açores». Na Hora. 24 de outubro de 2010 
  4. Institut International du Théâtre (IIT) Arquivado em 30 de janeiro de 2016, no Wayback Machine..
  5. Carlos Enes[ligação inativa].
  6. REBELO, Luiz Francisco. Texto expressamente escrito para a apresentação do vol. IV de Algum Teatro, INCM, Lisboa, 2009, publicado na contracapa.
  7. PORTO, Carlos (in Diário de Lisboa): "A comédia de Norberto Ávila é não só um bom achado, como uma das suas melhores obras dramáticas, com um diálogo vivo, inteligente, carregado por uma ironia que o torna extremamente comunicativo, uma caracterização de personagens e situações bastante rica, ao mesmo tempo com imaginação e teatralmente verosímil [...]"
  8. LOPES, Fátima [...] (in Diário Popular): "O Marido Ausente é uma peça de Norberto Ávila, a quem se reconhecem excelentes qualidades de escritor-dramaturgo [...]. Um texto que revelava à partida enormes potencialidades [...] de uma riqueza admirável [...] consegue ser simultaneamente histórico-cultural e atemporal."
  9. SARAIVA, A. J. / LOPES, Óscar – História da Literarura Portuguesa: "...salientemos As Histórias de Hakim, [...] de Norberto Ávila, [...] cuja obra mereceu a internacionalização desde essa obra-prima." Porto Editora, 17.ª edição, 2008, p. 1126.
  10. CRUZ, Duarte Ivo – Repertório Básico de Peças de Teatro. Ed. Secretaria de Estado da Cultura, Lisboa, 1986. A propósito de As Histórias de Hakim, uma das peças do autor selecionadas e recomendadas: "Este belo poema dramático interessa a qualquer público – infantil ou adulto – pela sensibilidade da escrita, pela graça certeira da análise e pela eficácia das situações teatrais. Tenha-se presente a transformação sucessiva das personagens." (p 116).
  11. Ainda sobre As Histórias de Hakim, as opiniões de dois críticos teatrais alemães: "Peça sobre o poder e os limites da fantasia. Como é densa, emocionante e poética! Como é rica de sentido, plena de vivacidade e empenhamento!" (Juta Stossinger, Frankfurter Rundschau, 1976); "Uma peça cheia de acção, para transformar e incomodar. Em suma: uma boa aquisição para um repertório teatral." (Manfred Zelt, revista Theater der Zeit, Berlim, 1978). Citações de Luiz Francisco Rebello, 100 Anos de Teatro Português, Brasília Editor, Porto, 1984.
  12. «Entidades Nacionais Agraciadas com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Norberto Gregório Ávila". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 23 de julho de 2020 
  13. Edição do autor, Lisboa, 1960.
  14. Ed. Plátano Editora, Lisboa, 1977. Estreada em Paris (I Festival de Nanterre) em 1965; representada também em vários teatros portugueses e alemães.
  15. Quatro edições em Portugal e outras tantas na Alemanha. Representada em 14 países.
  16. Estreada pelo Teatro "A Oficina", Guimarães (1996). Ed. SREC, Angra do Heroísmo, 1983.
  17. SANTARENO, Bernardo (na declaração do júri que atribuiu o prémio da SPA): "...saudavelmente interveniente" [...] óptimo desafio para um encenador português [...]"
  18. MIDÕES, Fernando (no mesmo documento): "[...] o pleno domínio técnico de uma carpintaria hábil e rica, [...] a vivacidade do diálogo em sintonia com a boa definição das personagens, o encadeado de ritmo, de sons e de cores (sinal de coisa alegre e comunicante), o humor saudável, crítico e irreverente [...] e a simbiose difícil, mas sempre desejável, entre o prazer e a busca de intervenção activa no curso dos acontecimentos do tempo e do lugar em que a obra nasceu."
  19. 1.ª edição em Algum Teatro, INCM, Lisboa, 2009. Estreia no Centro Dramático de Évora (2009).
  20. Estreada pelo Grupo de Teatro Alpendre, Angra do Heroísmo, 1990. Ed. SREC, Angra do Heroísmo, 1988.
  21. Ed. Novo Imbondeiro, Lisboa, 2003 (conjuntamente com a peça Os deserdados da Pátria, com a qual forma um díptico).
  22. Ed. Novo Imbondeiro, Lisboa, 2003 (conjuntamente com a peça Do desencanto à revolta, com a qual forma um díptico).
  23. Escrita a convite do Teatro Experimental do Porto, que nesse mesmo ano a estreou. Prémio da Associação Portuguesa de Escritores. Ed. Signo, Ponta Delgada, 1990.
  24. SOBRINHO, Maria Manuela – Dom Juan e o Donjuanismo, ed. Fonte da Palavra, Lisboa, 2010. O capítulo dedicado a Norberto Ávila e à análise da sua tragicomédia D. João no Jardim das Delícias ocupa as pp 143–161.
  25. Comédia escrita a convite do Teatro de Portalegre, que a estreou em 1989. Traduzida em polaco, francês e italiano. Escolhida por um grupo de Sociedades de Autores para representar a dramaturgia portuguesa nas jornadas "Teatro Hoje", em 6 países (1991 a 1993). Edições Colibri, Lisboa, 1997.
  26. Peça estreada pelo Teatro de Marionetas " Lanterna Mágica", no Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa, 1990. Ed. SPA, Lisboa, 1991.
  27. Ed. SREC, Angra do Heroísmo, 1992. Estreada pelo Teatro Passagem de Nível, Alfornelos, 1999.
  28. Comédia escrita a convite do Teatro de Portalegre, que a estreou em 1991. Edições Colibri, Lisboa, 1997.
  29. ALVIM, João de Melo <(in Diário de Notícias): "Uma Nuvem Sobre a Cama é um dos textos deste profícuo autor […] onde o ritmo do diálogo, a economia das frases e o humor inteligente convidam de imediato à transformação em teatro."
  30. GONÇALVES, Maria Isabel Rebelo – "Uma Nuvem Sobre a Cama. Outro Anfitrião Português". Revista Humanitas, Universidade de Coimbra, vol. XLX (1993), pp 335–345. "A exemplificação apresentada está longe de esgotar o manancial cómico da peça, cujo espírito se nos afigura muito mais plautino do que o das outras recriações portuguesas, quer no cómico de situação, quer no cómico de linguagem. / Nada falta, pois, para fazer de Uma Nuvem Sobre a Cama uma verdadeira festa: porque festeja um tema de sempre; festa porque o Autor sabe usar festivamente a sua língua; festa, enfim, porque nos dá festa dentro da festa!".
  31. Peça escrita a convite do Teatro de Portalegre, que a estreou em 2008. 1.ª edição em Algum Teatro, INCM, Lisboa, 2009.
  32. Peça expressamente escrita para a revista Prelo, INCM, que a publicou no seu n.º 8 (maio-agosto de 2008).
  33. Ed. Salamandra, Lisboa, 1998.
  34. Prémio Natália Correia, 1999. Ed. do Autor, 2000.
  35. Ed. Câmara Municipal da Calheta, São Jorge, Açores, 1992.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.
  • Enciclopédia Verbo
  • Escenarios de dos Mundos : Inventario Teatral de Iberoamérica. Ed. Centro de Documentatión Teatral, Madrid, 1989. Na pág. 418 do tomo 4, nota biobibliográfica de Norberto Ávila.
  • João Afonso, Bibliografia Geral dos Açores. Ed. Secretaria Regional da Educação e Cultura, Angra do Heroísmo, 1985. As referências bibliográficas a Norberto Ávila ocupam as pp 272–278 do tomo I.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]